terça-feira, 10 de abril de 2012

As culpas próprias

A arbitragem de ontem foi apenas mais um capítulo de uma longa história que se vem escrevendo há vários anos.
Há muito que não acredito nos "erros" dos árbitros. Muito menos na sua honorabilidade. A maioria dos árbitros em Portugal não são sérios nem decentes.
Somos um país pequenino nos hábitos e nas mentalidades, onde o favor e a corrupção fazem parte do modo normal de fazer as coisas. O futebol é por regra um submundo sujo e violento onde se passam coisas que a maioria de nós não sonha. Escreverei aqui no futuro algumas das que sei se entretanto a desilusão não me levar a abandonar de vez estas lides.

Vejo futebol há muitos anos e há muitos anos digo que este jogo está viciado. Acreditamos sempre que as coisas vão mudar, mas ano após ano vemos que isso não acontece.

Ainda me lembro do que passou em 1991 quando o Benfica ganhou por 2-0 nas Antas com dois golos de César Brito. Agressões, cuspidelas e a necessidade de homens como Jorge de Brito terem que se refugiar em ambulâncias para sair dali vivos. Lembro-me bem dos Calheiros, dos Guímaros e da agência de viagem Cosmos. Lembro-me de José Pratas ter que fugir dos jogadores do Porto durante longos minutos. Lembro-me da batalha campal em Campomaior.

Uns anos depois é a vez de Hulk, Helton e Sapunaru agredirem a murro e pontapé, pessoas e equipamento no Estádio da Luz, depois de em campo terem perdido sem espinhas. No final ainda foram vítimas e o "túnel da Luz" o culpado. Se fosse ao contrário, nas Antas, não era o segurança que tinha ido parar ao hospital mas os jogadores do Benfica que sairiam de ambulância ou pior.

Entretanto continuaram as poucas-vergonhas com os árbitros, incluindo o caso de um que na véspera do jogo se desloca a casa do presidente do Porto para pedir aconselhamento matrimonial para o pai. Quando a polícia finalmente investigou e as provas foram apresentadas, um juíz tratou de as inutilizar.

Ontem voltámos a ver como as coisas são. Se o campeonato estava praticamente decidido desde sábado, quando Hugo Viana fez o que fez e a sorte mais uma vez protegeu o Porto, ontem ficou entregue. O que se passou em Alvalade tem que ser escalpelizado, porque não foi pouco. Não foi apenas um penalty gritante que TODOS os que assistiam ao jogo viram. Foi muito mais do que isso.

Não deixa porém de ser verdade que a partir do golo do Sporting, com nova intervenção directa e falseadora do árbitro, o Benfica se perdeu e poderia ter sofrido uma derrota bem mais pesada. Importa portanto olhar para dentro e perceber que algo está mal.

Importa analisar as culpas próprias.

Vieira

Há mais de um ano atrás, quando o Benfica perdeu por 5-0 nas antas esperei que alguém na direcção desse a cara, explicasse aos benfiquistas o que se passara e assumisse responsabilidades. Continuo à espera.

Quando, uns meses depois, perdemos as meias-finais da Taça em casa, após sofrer 3 golos em poucos minutos, perdemos as meias-finais da Liga Europa para um clube muito mais pequeno e deixámos o Porto ser campeão invicto e fazer a festa na nossa casa, continuei à espera que alguém assumisse responsabilidades por tamanho fracasso e desilusão.

Quando nesse mesmo jogo fizemos a vergonhosa e patética figura de apagar as luzes e ligar a rega, continuei à espera. A única coisa que ouvi sobre esse caso foi Jesus dizer que não era electricista.

A falta de liderança no Benfica é evidente. A meio da presente época Luis Filipe Vieira deu uma entrevista à RTP. Apresentou-se triunfal, quando nada estava ganho. Comprometeu-se a dar nova entrevista se o Benfica fosse à final da Liga das Campeões... Disse que o Benfica não falava de árbitros...
Desde essa entrevista assistiu-se ao descalabro que se conhece.

Vieira parece ter organizado o Benfica e apetrechado a equipa de muito bons jogadores. Herdou um Benfica muito frágil, depois de Vilarinho o ter salvo da vertigem e possível extinção da era Vale e Azevedo. Foi muito importante na construção do novo Estádio, dos mais modernos do mundo. O Benfica é hoje uma indústria, com um marketing impressionante e uma capacidade de gerar receitas ao nível dos maiores. É mesmo o maior em termos de sócios.

Vieira tem portanto méritos que têm que ser reconhecidos.

No entanto Vieira está a cometer erros que voltam a ameaçar o Benfica com o espectro da instabilidade e do desânimo. Vieira, para além de ser conivente e até parte do sistema, ao apoiar as estruturas que gerem o futebol português, a começar por Fernando Gomes (quando Fernando Seara se disponibilizara para concorrer à FPF), não tem capacidade de liderança para conduzir a equipa às vitórias.

Esse problema não parece ser resolúvel com o tempo e a experiência. Vieira está aliás há muitos anos no Benfica e já teria tido tempo de aprender se estas coisas se aprendessem.

O problema é porém o da alternativa. Enquanto não se perfilar alguém com a necessária fibra, coragem, frieza e visão para o lugar, um verdadeiro benfiquista que conheça e sinta os valores do clube, teremos que continuar com Vieira.

Sobre Jesus falarei de seguida.

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