terça-feira, 10 de abril de 2012

Jorge Jesus

O dia está triste e cinzento, e assim se sentirão muitos benfiquistas, como é o meu caso.

É-me penoso escrever sobre Jorge Jesus. Sei que, tanto como nós, ele gostaria de ganhar. Sei que grande parte do que se passa não é responsabilidade sua.
Tenho respeito por quem tem convicções fortes e não teme dizer o que pensa.
No entanto, todos temos que perceber que os nossos egos não podem estar acima de tudo e temos que ter a capacidade de aprender com os erros. Temos que saber assumir responsabilidades.
Há portanto que escrever sobre Jorge Jesus.

Jorge Jesus chegou ao Benfica com a promessa de que colocaria os jogadores do Benfica a jogar pelo menos o dobro e com um discurso ambicioso.

No primeiro ano esteve à beira do sonho: a equipa jogava espectacularmente e a dada altura pensou-se que poderia vencer o campeonato, a Taça da Liga e a Liga Europa.
Conseguiu os primeiros dois objectivos mas ficou um amargo de boca pela eliminatória que pareceu mal perdida com o Liverpool (com a opção desastrosa de colocar David Luiz a defesa esquerdo) e a derrota nas antas num jogo em que poderíamos ter assegurado o campeonato. Houve também a eliminação para a Taça contra o Guimarães na Luz num jogo de grande infelicidade. Pelo meio ficaram algumas situações mal explicadas, como o aparente gozar com o treinador Manuel Machado entre outras cenas menos edificantes.

O balanço foi porém muitíssimo favorável, com os 4-1 ao Sporting ou o 3-0 ao Porto para a Taça da Liga a entrarem para a história recente do clube como dos jogos mais memoráveis numa época de goleadas e jogos arrasadores.

O Benfica apresentava uma tal força que se esperava conseguir finalmente quebrar a hegemonia do Porto e entrar numa nova era de sucessos.

Pura ilusão. Depois de derrotas em particulares e exibições para esquecer, o Porto consegue derrotar o Benfica na Supertaça. Isto com uma exibição lamentável do nosso clube e um golo que pareceu muito consentido por um guarda-redes que viria a ser um dos casos da gerência de Jesus: Roberto.

Essa derrota marcou a época. No Benfica é assim. Ao passo que noutros lugares se conseguem fazer das fraquezas forças e encontrar motivação nas derrotas e nas críticas, no Benfica de há uns anos para cá os contratempos desmoralizam e abatem a equipa.

O ano passado o Benfica foi muito prejudicado nas primeiras 6 jornadas de arbitragem que levaram o Porto a ganhar uma vantagem que não mais perderia. Mas, para lá disso, há algo de intrinsecamente desequilibrado nas equipas de Jesus, sobretudo de há dois anos para cá e desde a saída de Ramirez.

O Benfica produz um caudal de jogo atacante impressionante, tem posse de bola, cantos, livres e remates. No entanto na grande maioria das situações é quase inofensivo. Por outro lado, nas raras vezes em que as equipas contrárias atacam criam um tremendo perigo para a baliza do Benfica. Não sou treinador e não sei o que são as transições mas seguramente algo não está bem.

O Benfica inicia os jogos numa fúria atacante que impressiona. Mas quando não consegue marcar cedo percebe-se que psicologicamente se deixa abater, que a equipa contrária (por vezes fraca, fraquíssima) começa a ganhar confiança e a acreditar e que o jogo será extremamente difícil. Nessas alturas JJ bloqueia, coloca em campo mais avançados e normalmente acabamos por empatar ou perder os jogos.

Depois há a teimosia. Primeiro foi Roberto. Não vale sequer a pena recordar as exibições quase patéticas do guarda-redes espanhol. Agora é Emerson. Depois de exibições seguras de Capdevila contra o Porto e o Chelsea, depois de exibições lamentáveis de Emerson (sobretudo contra o mesmo Chelsea mas na Luz), Jesus volta a colocar este último em campo contra o Sporting. Não terá sido por ele que perdemos o jogo mas a teimosia de Jesus terá já causado um desgaste no balneário que poderá ser irreparável.

O campeonato perdeu-se em Guimarães. A dois jogos do confronto directo com o Porto uma vitória em Guimarães asseguraria que, na Luz perante os seus adeptos, o Benfica recebia o seu rival em primeiro lugar, já no último terço do campeonato.

Aí Jorge Jesus entrou em curto-circuito. Coloca Matic só no meio-campo (algo que já fizera em São Petersburgo, resultando na segunda derrota da temporada) e Rodrigo (visivelmente diminuído depois da entrada de Bruno Alves) a titular. No banco Jesus parece perdido: depois de uma primeira parte absolutamente vergonhosa faz a primeira substituição já só na segunda e depois guarda duas para... os descontos. Que Jesus estava perdido foi aliás coisa que se percebeu na entrevista após o jogo, quando diz que "ainda", note-se bem ainda, tinha dois pontos de avanço, pelo que quem vinha atrás é que se teria que preocupar.

O que me leva a uma outra consideração: Jorge Jesus tem, com raras excepções, falhado nos momentos decisivos, nos momentos em que se lhe pedia algo de diferente, de melhor, a capacidade de surpreender o adversário e começar a vencer o jogo tacticamente. É o contrário que se vê: em jogos decisivos como aconteceu com a Taça de Portugal no ano passado, a Liga Europa (em 2010 e 2011), os jogos com o Porto para o campeonato (ano passado e este ano na Luz) e por fim ontem em Alvalade (onde não se podia falhar), o Benfica baqueia. Isto para não falar da eliminatória com o Chelsea em que o medo de sofrer golos o levou a perder o jogo na Luz (apesar de não esquecermos obviamente a influência do árbitro no respectivo desfecho).

Como o Sporting ia jogar ontem era demasiado previsível. Tem jogado sempre assim desde que Sá Pinto chegou. Uma equipa que não assume o jogo e espera por um erro do adversário para marcar. Jesus colocou em campo dois avançados demasiados presos de movimentos (Rodrigo tenta mas nesta fase não consegue) e a equipa nunca teve a velocidade que necessitaria para ultrapassar uma defesa do Sporting que tem lacunas e joga acantonada lá atrás. O Benfica dos últimos jogos parece um touro a marrar insistentemente numa parede.

Por fim há o factor físico. Várias vezes quis acreditar que não fosse verdade mas ontem foi o próprio Jesus a admitir que há cansaço. Ora, se assim é, para quê esgotar a equipa em Londres quando a eliminatória estava praticamente perdida, fazendo 10 homens correr incansável e ingloriamente contra 11? Na própria Taça da Liga terá valido a pena jogar com o Porto praticamente na máxima força?

Para quê ir a todas se daí resulta ganhar apenas a mais insignificante (Taça da Liga)?

Jorge Jesus não chegou ontem ao Benfica. Em breve fará três anos desde que assinou. No entanto os erros, os tiros nos pés não são corrigidos. Nalguns casos as coisas agravam-se com a equipa e os adeptos a tornarem-se cada vez mais descrentes e o nosso futebol cada vez mais previsível, presa fácil de qualquer treinador que tenha algum olhinho táctico. Assim não, Jorge Jesus.

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