segunda-feira, 16 de abril de 2012

O Benfica precisa de uma estrutura - parte II

No anterior post viajei sucintamente pelos últimos 30 anos de futebol em Portugal em busca das causas da hegemonia portista e do declínio do Benfica.
Considerei que sobretudo nos falta identidade e estrutura organizativa. Desenvolverei agora mais estas ideias.
Antes porém, uma rápida conclusão da panorâmica histórica que no anterior post esbocei.
Depois de João Santos e Jorge de Brito chega ao Benfica Manuel Damásio. Se Jorge de Brito terá (apesar de todo o dinheiro que injectou no clube) deixado dívidas, Damásio deixou atrás de si o deserto.
Com este Presidente o Benfica entrou numa nova fase de descaracterização: a devastação completa da cultura clubística e a depauperação da qualidade futebolística do plantel. Com Artur Jorge ao comando, foi realizada uma destruição completa do plantel do Benfica campeão (vencedor por 6-3 em Alvalade) onde constavam Rui Costa, João Pinto, Rui Águas, Isaías, Vitor Paneira, César Brito, Mozer, Schwartz, Veloso, Kulkov, Mostovoi entre outros.
Com Damásio o Benfica passou a entreposto de jogadores (até da Parmalat...), situação que se prolongou durante o mandato de Vale e Azevedo. Só com Vieira na presidência, Camacho primeiro, Fernando Santos depois e finalmente Jesus reconstruíram uma base de jogadores com alguma coerência entre si e alguma identidade como equipa.
Mas continuamos a falhar. Porquê?
Em primeiro lugar, porque a hegemonia do Porto é de tal ordem que o Porto ganha quase por inércia. Para vencer, sobretudo pelo facto das arbitragens serem o que são, o Benfica tem que ser consideravelmente superior ao seu rival.
Em segundo lugar, porque, para além de identidade (algo que Jesus conseguiu até certo ponto) e cultura de vitórias (que se vai construindo com estabilidade e espírito vencedor), o Benfica carece de  organização.
Uma organização que dê condições de estabilidade mental aos seus jogadores e técnicos, escudando-os  das polémicas e do ruído lateral e poupando-os ao desgaste desnecessário que nesta altura todos evidenciam. Que incuta os valores e o espírito do clube. Que permita um maior equilíbrio nos plantéis (com jogadores à Benfica, mais jogadores portugueses e soluções para as diferentes posições - não é admissível não haver hoje um substituto para Maxi). Que assegure que existe uma continuidade entre diferentes treinadores.

O Benfica não tem neste momento um director para o futebol. Rui Costa é um grande benfiquista mas está desaparecido em parte incerta. Luis Filipe Vieira não pode, nem sabe, desempenhar esse papel. No Porto, para além de Pinto da Costa, existe um Reinaldo Teles. No Sporting um Luis Duque (e um Carlos Freitas). No Benfica para além de Rui Costa existem António Carraça, Shéu e Lourenço Pereira Coelho. Nenhum deles tem perfil para desempenhar as funções necessárias para dar estabilidade ao futebol do Benfica e o tornar vencedor numa base regular.
Caso contrário, as vitórias serão sempre episódicas e acontecerão mais por demérito dos adversários do que por mérito próprio. Pior, arriscamo-nos, como neste ano, a que mesmo quando o adversário não mantém a qualidade habitual não sejamos capazes de ganhar.
A saída de Veiga, com todos os seus defeitos, não foi compensada. Naquele ano houve uma equipa vencedora - Veiga, Trapattoni, Álvaro Magalhães. No primeiro ano de Jesus houve muito futebol e jogadores excepcionais (como se vê pelos clubes para onde sairam, Real Madrid e Chelsea), o que permitiu disfarçar as deficiências. Que agora estão à vista de todos.
Com um Director para o futebol competente, o Benfica seria nesta altura campeão. Assim arrisca-se a demitir o treinador no fim da época e a voltar a partir do zero - sem resolver o problema de base.

1 comentário:

  1. O Benfica para alem de nao ter um lider carismático nao tem um director desportivo competente. O rui costa apenas desempenha essas funções por ter sido um grande jogador.

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