quinta-feira, 12 de abril de 2012

Vídeo-árbitro?

Não sou por princípio partidário da utilização das novas tecnologias no futebol. Confesso que não tenho propriamente razões objectivas que o justifiquem. Trata-se mais de um certo conservadorismo, receio de mudar, medo de que o jogo que tanto apreciamos possa ficar de alguma forma estragado.
Creio porém que é chegado o momento de ser feito um debate sério, racional e desapaixonado ao nível das instâncias decisoras do futebol sobre este assunto.

O futebol é o jogo no qual os pontos, neste caso os golos, são em menor número. O basquetebol, o andebol, e o voleibol têm dezenas ou centenas de pontos/golos ao passo que o râguebi, o hóquei (em todas as suas variantes) e, para citar também os desportos americanos, o basebol e o futebol americano, têm um número mais aproximado (embora superior) de concretizações do nosso futebol . Ainda assim o futebol é praticamente o único jogo no qual um golo pode ser - e é em muitos casos - decisivo. O golo é raro e daí ser comemorado mais efusivamente do que qualquer outra concretização em qualquer outro desporto.

Não há portanto nenhuma decisão arbitral em todo o mundo do desporto tão importante como o assinalar (ou não assinalar) de um penalty.

Há depois o caso das expulsões ou exclusões do jogo. Na maioria dos desportos a expulsão é uma coisa rara, punindo comportamento claramente anti-desportivo (agressão na maior parte dos casos). Nalguns jogos um jogador pode ser temporariamente excluído do jogo, ao passo que no basquetebol ao fim de 5 faltas um jogador é excluído até ao fim mas o treinador pode substituí-lo por outro.

No futebol, pelo contrário, a expulsão acontece inúmeras vezes, na esmagadora maioria por faltas banais ou alegados protestos, quando em situações semelhantes (por vezes até no mesmo jogo) outros jogadores não sofrem punição ou escapam apenas com um cartão amarelo. O poder discricionário do árbitro é tremendo. Acresce que ficar a jogar com menos um jogador é altamente penalizador para uma equipa: se está a perder dificilmente inverterá o resultado e se está a ganhar arrisca-se a empatar ou perder.

A conclusão é óbvia: os árbitros têm um poder no futebol que não têm em nenhum outro desporto e podem facilmente (por lapso, incompetência ou deliberadamente) influenciar ou mesmo inverter o que, em circunstâncias normais, seria o desfecho de uma partida.

Convém agora aqui referir um outro facto: o futebol é o jogo que mais espectadores tem no mundo, que mais paixões gera e que mais dinheiro movimenta.

Posto tudo isto, não será a altura de introduzir meios tecnológicos no futebol? Há situações que se resolveriam imediatamente, a começar pela a entrada ou não da bola na baliza. Por outro lado, um vídeo árbitro poderia apreciar os lances de foras-de-jogo ou penaltis.

O recurso ao vídeo é uma prática no râguebi e no futebol americano, apesar dos ensaios ou golos não terem a mesma importância do golo no futebol (mais raro e decisivo, como vimos). Não consta que tenham arruinado o jogo, muito pelo contrário. Tanto quanto consta, passou a haver menos suspeição e os jogadores e treinadores passaram a ter mais respeito pela figura do árbitro

De uma coisa estou certo. Em Portugal não existe outra forma de trazer transparência e um mínimo de justiça e verdade desportiva aos jogos. Neste momento o jogo está falseado e falseado continuará por muitos e maus anos até que medidas radicais sejam tomadas.

Uma última nota. Tanto quanto sei, está proibido pela FIFA o recurso a qualquer tecnologia e nenhuma Liga ou Federação as pode aplicar internamente. Há no entanto cada vez mais vozes a levantar-se contra esta postura e quem sabe se esta não será uma temática das próximas eleições naquele organismo. Seja como for, o mais importante é ter um debate sério. Aqui ficou o meu humilde contributo.

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