terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Treinadores e tácticas

Desde que Jorge Jesus chegou ao Benfica que jogamos com dois pontas de lança/avançados (Saviola é mais um segundo avançado do que um homem para jogar sozinho na frente).
O Benfica joga num 4-4-2 ofensivo, ou num 4-1-3-2. Digo isto sem pretensões de rigor excessivo.
O que eu quero dizer é que a equipa é por regra constituída por 4 defesas, um médio defensivo, um ofensivo, dois extremos e dois avançados. Os laterais são bastante ofensivos.
Por outro lado sei, porque o próprio já o disse explicitamente, que JJ compreende os riscos desta táctica mas que defende que a matriz ofensiva é congénita ao Benfica e que os adeptos desejam e exigem tal matriz, futebol atacante, golos e o espectáculo daí adveniente.
Aliás há uma coisa que os benfiquistas devem recordar para perceber melhor isto: no Belenenses, JJ era super defensivo e mesmo no Braga havia uma consistência defensiva grande. Jesus sempre se distinguiu (antes de chegar ao Benfica) por dar essa consistência e segurança às suas defesas. Cheguei a ver o Belenenses jogar em Munique contra o Bayern e perder por apenas 1-0.

Por outro lado, eu sempre achei que o 4-3-3 era um sistema mais seguro. O meio campo tem sempre 3 jogadores e quando a equipa defende pode ainda derivar os extremos para o centro do terreno fechando muito os espaços à equipa adversária. Por outro lado, nos desdobramentos ofensivos os médios aparecem muitas vezes no ataque confundindo a defesa que não sabe bem quem são os opositores directos. Por outro lado, o 4-3-3 permite uma coisa que os outros sistemas dificilmente conseguem: colocar 3 jogadores numa faixa, o lateral, o extremo ou ala e o interior. Numa época o Guimarães fez isto com muito sucesso com José Carlos, Paneira e Capucho.
Isto sou eu que observo e digo, na minha visão um pouco simplista, admito-o das tácticas.

Aqui há uns anos atrás deu ideia de que o chamado 4-4-2 em diamante era uma táctica ainda melhor, porque juntava o melhor de dois mundos: criatividade e vocação ofensiva (mantendo os dois pontas de lança) e um meio campo não já com 3 mas com 4 jogadores, conseguindo o aparentemente impossível: ter superioridade numérica no meio contra equipas que jogassem em 4-3-3. Parecia a quadratura do circulo.
Lembro-de de que por exemplo o Milão jogava nesse esquema, jogando com Gattuzo, Pirlo, Rui Costa e Seedorf.
A questão é que para poder jogar num tal sistema, sem que os jogadores se atropelem no meio campo e sem afunilar todo o jogo pelo meio, são necessários intérpretes de uma qualidade verdadeiramente excepcional.

O 4-3-3 acaba assim por ser um sistema mais simples de adoptar e com resultados semelhantes. É por isso o preferido da maioria dos treinadores e está implementado no Porto, por exemplo, há bastante tempo.

Como exemplo de um 4-4-2 mais conservador, ainda assim extremamente eficaz e incrivelmente ofensivo, temos o do Manchester United. É um sistema mais de duas décadas, que, se alguns especialistas tivessem razão deveria ser completamente previsível mas que continua a "dar" títulos.
Acontece porém que o 4-4-2 do Manchester é mais conservador do que o do Benfica no sentido dos dois jogadores do meio serem mais defensivos, ou de contenção como agora se diz, dos que o do Benfica. Acresce que nalguns jogos (foi o caso do último com o Liverpool), Fergusson optar por um sistema mais próximo de um 4-2-3-1.

Isto dá um pouco que pensar.

O que parece estar a acontecer com o Benfica é que contra as equipas pequenas o sistema está a funcionar muito bem mas em jogos mais difíceis ele está a emperrar. Contra o Porto a falta de controle do meio campo foi evidente. Aliás, há uma coisa em que JJ não aprendeu a lição do ano passado: a colocação de Lucho no jogo da época passada (muito avançado no terreno, a pressionar Javi Garcia) foi decisiva para emperrar o jogo do Benfica. Este ano aconteceu algo semelhante, com uma pressão intensa, mais em bloco, sobre os nossos defesas, que JJ não conseguiu contrariar durante toda a primeira parte. Aliás o erro duplo e indesculpável de Artur encontra ainda assim uma explicação nesse factor: muito pressionados e sem linhas de passe os nossos defesas viram-se muitas vezes obrigados a jogar para o guarda-redes. Isso criou um sentimento de grande insegurança desde o início e explica parte do "temor" que a equipa sentiu pelo adversário que pelo contrário era sempre muito confiante nas saídas da defesa, não temendo o 1 para 1 e conseguindo quase sempre o portador da bola ultrapassar (quase sem dificuldade) a nossa primeira linha de pressão.

O Benfica está neste momento a jogar sem nenhum "trinco" (o United joga com dois, embora obviamente eles tenham capacidade de passe e de sair com a bola) e apenas com um jogador mais vocacionado para tarefas defensivas. Mas há outro problema: é que com o quadro de jogadores que temos não se vislumbram muitas alternativas tácticas. Daquilo que se tem falado no Benfica é se devemos jogar com dois pontas de lança ou apenas com um. Mas se jogar apenas com um, a respetiva vaga não vai para um lugar no meio campo mas sim para um jogador de ligação meio-campo/ataque, como Aimar, Gaitan ou até, de certo modo, Rodrigo.

As alternativas seriam a meu ver os jovens Andrés. Ao lado de Matic eles podem eventualmente dar outra consistência ao meio campo que Perez nesta altura não parece garantir.

Enfim, são questões que JJ certamente estará a ponderar, até porque o jogo em Braga se aproxima e na segunda volta haverá um Porto-Benfica que poderá - aí sim - ser decisivo para a atribuição do título. Isto para já não falar da eliminatória contra o Bayer, equipa de alta rotação.
Uma última nota: a questão da renovação ou não de Jorge Jesus vai (penso) depender de como conseguir resolver esta questão e de ser capaz de vencer nos jogos mais importantes contra equipas da dimensão do Benfica. JJ conseguiu elevar o patamar de futebol do Benfica e o rendimento dos jogadores, daí resultando muito importantes vendas para os nossos cofres e uma consistente e sustentada luta pelo título. Mas em última análise o futebol são títulos e no Benfica isso é ainda mais evidente. Por outro lado, ainda que com todas as condicionantes conhecidas, os resultados com o Porto começam a ser curtos. Até por aí me parece que o jogo da segunda volta será decisivo. Tudo o que fique abaixo do título de Campeão esta época saberá a pouco e tornará a continuidade de JJ muito difícil.

1 comentário:

  1. Excelente texto. A tactica de JJ é excelente para ganhar jogos....mas dificilmente ganha campeonatos, a menos que faça alterações quando joga contra as melhores equipas.
    A meu ver a alternativa seria em jogos grandes jogar 4-2-3-1 em que a meio campo jogava Matic e André Gomes(ou Carlos Martins se durar pelo menos 70 min) com Aimar ou Gaitan à frente, mas no meio campo e com Enzo a extremo é o que melhor defende e claramente o Maxi precisa de ajuda pois está muito em baixo de forma.
    No ataque, nestes jogos, Cardozo tambem ia para o banco (como fez JJ na Champions deste ano), pois Cardozo marca golos mas descompensa muito a equipa atrás que assim defende apenas com 9 + Artur, aliás na Europa não se ve nas grandes equipas um jogador com as caracteristicas de Cardozo, ate porque o melhor avançado de sempre com caracteristicas semelhantes (Jardel) tambem o melhor que conseguiu ir foi para o Galatasaray.

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