quarta-feira, 8 de maio de 2013

Mourinho - para descontrair e distrair

Nos últimos 15 anos, a escolha do Real Madrid revelou-se desastrosa para muitos jogadores e treinadores.

Treinadores são aos pontapés: com excepção de Del Bosque e Capello (e, de alguma forma, Schuster), nenhum teve o sucesso esperado num clube tão monstruoso (32 campeonatos de Espanha, 18 Taças, 9 Taças dos Campeões e 2 UEFA, entre outros troféus).

A lista é demasiado longa e foi referida há dias por Mourinho.

Quanto a jogadores, muitos quase acabaram carreiras (até aí notáveis) no Real Madrid sem grande brilho.

Figo foi bom mas nunca atingiu o patamar que exibiu no Barcelona, o mesmo se podendo dizer de Ronaldinho; Beckam foi uma desgraça, Steve Mcmanaman quase nunca jogou, Cannavaro foi uma desilusão. A era dos galácticos foi patética: estrelas de milhões não apenas perdiam com eram goleadas por equipas de segundo e terceira linha.

A questão é que no Real Madrid o patamar de exigência é tremendo - talvez o mais elevado do mundo - e portanto um treinador ou um jogador têm mais a perder do que a ganhar em termos de reputação. Um jogador pode brilhar e destacar-se num clube médio ou até bom mas quando chega ao Real Madrid as coisas como que se invertem: o muito bom é o normal e tudo o que seja menos do que isso é visto como uma desilusão. Depois evidentemente que há a questão das estrelas e dos egos que tornam a gestão daquele clube mais difícil, gerando-se dinâmicas negativas difíceis de inverter.

Por estas e outras razões desde o início que achei muito arriscada a escolha de Mourinho como treinador do Real.

Mourinho está habituado a clubes que não são os principais dos seus países e a utilizar um discurso guerrilheiro para fomentar a união das suas "tropas" e a motivação contra o exterior.

Esse discurso não pega em Madrid.

Madrid é Castela, a principal força aglutinadora de Espanha, acusada de centralismo, de dominar o poder político, de condicionar e asfixiar as diversas regiões.

Em Barcelona Mourinho poderia resultar (se a história tivesse sido diferente) porque aí existe um espírito regionalista, uma bandeira e uma identidade que se afirma pelo "contra" alguma coisa.

Em Madrid não.

Além disso, o Real Madrid, como o nome indica, é um clube distinto, ligado à monarquia e à elite. Um discurso muito polémico, muito aguerrido, muito contra o "sistema" vigente, a apontar inimigos aqui e ali, não colhe e não cai bem num tal clube.

Em Londres, num clube que não era campeão há 50 anos e não tinha tradição vencedora em Inglaterra, Mourinho tinha tudo a ganhar - e ganhou-o, com excepção da Champions. Em Milão, num clube que nem sequer é o principal de Milão, quanto mais de Itália, Mourinho conseguiu um feito espantoso ao ser campeão europeu.

Mas em Madrid as coisas seriam sempre muito arriscadas: ganhar uma Champions seria bom mas normal, não a ganhar seria sempre um fracasso, dado o orçamento do clube e o facto de contar com Cristiano Ronaldo no plantel. Vencer o campeonato seria muito bom, dado a hegemonia do Barcelona nos últimos anos, mas ganhar só uma vez em 3 anos é pouco.

A verdade é portanto que Mourinho nestes 3 anos não trouxe ao Real Madrid nenhuma marca positiva face ao passado. Nem sequer se pode dizer que a equipa joga particularmente bem, apesar da qualidade dos intérpretes: tudo é muito aos repelões, por fogachos, não se vislumbrnado um modelo de jogo perfeitamente definido e muito menos um estilo atractivo. Mourinho sempre foi aliás demasiado "resultadista" para o meu gosto, tendo no passado tido a fortuna que tantas vezes faz a diferença entre ganhar ou perder.

Agora, quando a saída parece certa, Mourinho dispara em todas as direcções: depois da imprensa, são
agora os jogadores do Real Madrid os culpados pela situação: Casillas e Pepe. Note-se que eu não tenho dúvidas que Casillas pode ter criado um mau ambiente no balneário mas a verdade é que Mourinho deveria ter gerido a situação de outra forma, até tendo em conta que o jogador já ganhou tudo o que há para ganhar no futebol, o que prova à saciedade que qualidade não lhe falta.

Com Pepe então a situação é ainda mais insólita - tendo o jogador defendido Mourinho no passado, estranha-se que tenha agora feito estas declarações. Mas ainda assim a reacção de Mourinho foi desproporcional e insustentável: atacar daquela forma Pepe, dizendo que ele foi "atropelado" por Varane parece-me errado sobre vários pontos de vista, incluindo o da coesão do grupo e do ambiente entre os colegas (Pepe e Varane no caso). Antes já tinha havido casos com Sérgio Ramos (que não deve ser flor que se cheire) e Ronaldo.

Em suma, a tarefa de Mourinho era desde o início difícil e cheia de perigos para a sua carreira, mas a verdade é que Mourinho não foi capaz de dar a volta à situação, apesar de ter tido tempo para isso - este ano será o pior dos 3. Pior do que tudo, Mourinho sairá a mal de Madrid e não deixará saudades a ninguém (os próprios adeptos já não parecem estar com ele).

Se a escolha for o Chelsea, será de novo uma opção de grande risco: estes regressos onde se foi feliz não costumam dar grande resultado, como Camacho, por exemplo, demonstrou na segunda passagem pelo Benfica. Mourinho diz que em Inglaterra é amado, mas se isso é verdade é pelo que lá fez e pelos resultados que obteve e não em virtude de um qualquer crédito acumulado. Como o próprio sabe, para Abramovic o passado, mesmo o recente, não garante coisa nenhuma: quer ele, quer Di Matteo, este depois de realizar o sonho do milionário e fazer do Chelsea, que Villas Boas deixara em cacos, campeão europeu, foram despedidos no início de épocas que se seguiram a grandes sucessos.

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