terça-feira, 25 de junho de 2013

Meio campo do Benfica 2013/14

Como já assinalei anteriormente, o meio-campo do Benfica tem, ao longo dos 4 anos de comando técnico de Jorge Jesus, passado por várias versões.
A primeira versão foi a única campeã. Eis abaixo a equipa tipo desse ano.

Benfica versão 2009/10. 



Foi um modelo único e irrepetível, pois dependia muito das características e da qualidade dos intervenientes: da velocidade de David Luis, da capacidade de cobertura, pressing e ocupação dos espaços defensivos de Javi Garcia, do pulmão e dos equilíbrios gerados por Ramirez.

Este Benfica era tão forte - e tão rápido - que o jogo praticamente não se desenrolava no meio-campo. O Benfica asfixiava os adversários e estava a maior parte do tempo a atacar. As outras equipas quase se remetiam à defesa e a contra-ataques esporádicos. 

No ano seguinte, 2010/2011, saíram Ramirez e Di Maria (tal como Quim, substituído por Roberto). O esquema táctico manteve-se, mas apenas no papel pois a dinâmica era completamente diferente. As asas do Benfica campeão, Di Maria e Ramirez, tinham sido substituídas por Gaitan e Sálvio. Ora apesar destes serem bons jogadores, as características não eram as mesmas. Por um lado Gaitan, apesar de toda a sua qualidade e das suas arrancadas, não tem a velocidade de Di Maria e a capacidade de dar "esticões" como o seu compatriota. Por outro lado, Sálvio não fazia os equilíbrios defensivos que Ramirez fazia pelo que Javi Garcia começou a estar demasiado exposto, com a consequência do Benfica não conseguir ser uma equipa tão pressionante. Daí o aparecimento de César Peixoto na equipa (o que manifestamente não constituía uma solução para o grau de exigência em causa). Juntando Roberto a este quadro, estava preparada a receita para o desastre que aconteceu nos jogos em que o Benfica enfrentou adversários fortes, sobretudo fora de casa.

No ano seguinte, Jesus foi buscar Witsel, que inicialmente foi apresentado como um médio ofensivo. Muitos de nós benfiquistas pensámos que tal contratação era algo estranha, pois tínhamos já Aimar e Bruno César para o lugar, e o próprio Gaitan podia desempenhar tais funções. 

A verdade porém é que Witsel não veio propriamente substituir Aimar mas sim o esquema de jogo do Benfica, apesar de Jorge Jesus ter na altura afirmado que nada se alterara, apenas os jogadores. A realidade é que o meio-campo do Benfica passou a ter dois homens - Javi e Witsel. Com um Saviola cada vez menos produtivo, Aimar surgiu algumas vezes no apoio ao ponta de lança, Cardozo. Mas houve alguns equívocos, como Jara e, na defesa, Emerson.

Do esquema de 2009/10, que se pode classificar coma uma variante do 4-4-2 "diamante" com Javi a assumir as tarefas defensivas e Aimar as ofensivas e Ramirez a fechar no meio quando a equipa perdia a bola, passou-se a um 4-4-2 de pendor ofensivo mais convencional com os dois jogadores do corredor central a jogarem mais perto um do outro.

Esse esquema dos dois homens no meio não se alterou substancialmente com a saída dos dois titulares, já com o campeonato deste ano a decorrer. Com efeito, Javi foi substituído por Matic e Witsel por Enzo Perez. Sendo Matic mais tecnicista que Javi e Enzo mais esforçado e de maior rotação que Witsel, o Benfica teve um meio campo mais dinâmico, em que os dois jogadores se complementaram bem e alternaram nas subidas ao meio campo contrário, ao passo que no esquema anterior Javi era mais fixo e Witsel mais um médio de construção/equilíbrios.

Chegados a este ponto, estamos perante a possibilidade de Matic, face à extraordinária época que realizou, vir a sair. Por outro lado, Djuricic já está contratado, o que à partida parece apontar para um esquema mais parecido com o do primeiro ano.

Nesse esquema, Matic poderia desempenhar a função que Javi Garcia ocupou em 2009/2010 - mas Enzo não. No esquema de um playmaker atrás de dois avançados puros, é necessário um trinco. Mas mesmo essa solução, se não existir um Ramirez, será certamente insuficiente para defrontar adversários mais poderosos que nos criam outro tipo de dificuldades em termos defensivos e de ocupação do meio campo, que não se colocam quando jogamos com a maioria das equipas do nosso campeonato. 

É que o sistema de 4-4-2 diamante, que parece reunir o melhor de dois mundos (dois pontas de lança, um criativo e um meio campo de 4), para funcionar precisa de jogadores nas alas que tenham a capacidade de defender e mesmo juntar ao meio (como fazia Ramirez) quando a equipa não tem a bola, abrindo pelo contrário bem nos flancos quando a equipa ataca. Nem Sálvio, nem Ola John têm estas características em termos defensivos. Gaitan é o único dos que jogam nas alas que pode dar um pouco disso ao Benfica mas é um jogador de muitos altos e baixos.

A alternativa seria um meio campo idêntico ao deste ano (um 4-4-2 mais clássico com dois jogadores no meio) e Djuricic a fazer a ligação com o ataque, como aconteceu nalguns jogos na época 2011/2012. Mas sem Cardozo na frente, um esquema desses parece pouco acutilante em termos ofensivos... Além disso, ele recorda-nos o demasiado inofensivo modelo de Quique Flores.

Por outro lado, não parece crível que JJ venha agora adoptar um sistema diferente, por exemplo um 4-3-3, apesar deste se poder adaptar bem às características dos sérvios já contratados e dos extremos que temos (Sálvio, Ola John e Gaitan, caso continue).  Jesus não quererá no quinto ano passar a um novo modelo que implique deixar de jogar com dois pontas de lança, algo que tem sido a sua imagem de marca desde que chegou ao Benfica.

Muitas dúvidas subsistem portanto em relação à forma como o meio campo do Benfica se disporá para o ano. Uma coisa me parece porém certa: face a tanta incerteza, a presença de Matic no plantel da próxima época seria uma garantia não apenas de estabilidade como de fiabilidade e consistência. Ela permitiria várias soluções, desde um mais arriscado sistema em que apenas ele e Djuricic assegurariam o meio campo até  uma mais conservadora em que ele e Enzo manteriam os seus lugares e Djuricic poderia alternar com um dos avançados, por forma a manter o sistema de 4-4-2. Teremos que esperar para ver, mas espero que estas questões estejam já relativamente delineadas na cabeça de Jesus e que se comecem rapidamente (para além da questão do lateral esquerdo) a encontrar soluções para os diversos cenários possíveis.

3 comentários:

  1. Se o Porto usa um 433 o Benfica usa um 424 porque não se pode dizer que um James é um avançado e o Salvio um médio ;)

    O Jesus praticamente usou sempre o mesmo sistema mas com interpretes diferentes e por isso tem pequenas diferenças na sua aplicação.

    Um ponta de lança apoiado por um médio/avançado de ligação, dois extremos, dois médios um deles mais fixo e o outro volante, e o quarteto defensivo.

    Em 2009/10 o jogador chave foi o Ramires. Sem o Ramires nunca mais o sistema foi interpretado da mesma forma. E com o Aimar cada vez mais apagado, passou o Enzo a fazer o que o Ramires fazia mas numa zona interior quer na defesa como o Ramires, quer no ataque como o ramires não fazia ;)

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  2. Qualquer que seja o sistema táctico parece-me, pelo que tenho visto, que terá de "acomodar" desde logo Markovic, Djuricic, Enzo Pérez e Matic.
    Markovic é nitidamente um segundo avançado, bom no drible, no passe, rápido. Acho que faria uma grande dupla com um jogador como Cardozo, ou outro com caracteristicas idênticas.
    Lima e Markovic, dado que são ambos jogadores móveis cujo estilo de jogo não é jogar fixo de costas para a baliza a apoiar o jogo dos médios, não são a melhor parelha.
    A melhor dupla atacante teria de ser constituída por um desses jogadores e um jogador de área forte fisicamente (trocamos bem a bola mas não temos um jogador referência para os médios tabelarem e fazerem jogo interior.. e quando a bola é cruzada por vezes não está lá ninguém).
    Djuricic é o n.º 10 da equipa. Excelente jogador. Acho que é titular indiscutível.

    Portanto, com estes jogadores talvez o melhor sistema seja precisamente o que usámos em 2009/2010, quando fomos campeões. O 4-4-2 losango.

    Matic seria o médio-defensivo. Enzo o box-to-box (parece-me perfeito para essas tarefas) e do lado esquerdo Gaitan. Djuricic o n.º 10 e na frente Markovic e o avançado que ainda não temos. :)

    Pois é, o jogador sacrificado seria Sálvio. A não ser que Enzo jogasse do lado esquerdo como box-to-box ou médio-interior e Sálvio do lado direito. Nesta hipótese o sacrificado seria Gaitan.

    Mais uma vez e admito que possa estar errado, o nosso plantel não é até à data tão equilibrado como poderia ser. Acho que nos falta o tal ponta-de-lança e um médio defensivo/centro de qualidade. Vamos aguardar.

    Viva o Benfica!




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  3. Qual o sistema táctico ideal para o Benfica este ano, 2013/2014?

    Aquele que melhor conjuga e potencia as características do onze mais forte que podemos apresentar.
    Pelo que tenho visto, Markovic, Djuricic, Matic, Enzo Pérez no meu entender são indiscutíveis nesse onze.

    Markovic é um segundo avançado, rápido, criativo, bom no passe. Uma espécie da Saviola 10 anos mais novo.
    Qual o jogador que escolheriam para o "complementar" na frente de ataque?
    Um jogador igualmente móvel como Lima ou um ponta-de-lança forte fisicamente que saiba jogar de costas para a baliza e apoie os médios ora tabelando ou sendo referência constante na área?
    Pois é, um jogador com as características de Cardozo seria o ideal do meu ponto de vista. Ainda que considere Lima um excelente avançado. Ou seja, Lima e Markovic não são a melhor dupla atacante que poderíamos ter do ponto de vista táctico.

    Djuricic é o maestro desta equipa. O organizador de jogo. Indiscutível no onze.

    Matic o médio-defensivo e Enzo o segundo médio, o box-to-box, o que garante o equilibrio do meio-campo.

    O médio/extremo esquerdo seria Gaitan.

    Portanto o sistema ideal, com a contratação do tal ponta-de-lança forte fisicamente e que tenha o jogo de costas para a baliza no seu ADN seria precisamente o 4-4-2 losango.

    O maior sacrificado seria infelizmente Sálvio, um grande jogador, a não ser que Enzo jogasse como médio-interior/box-to-box do lado esquerdo. Neste caso o sacrificado seria Gaitan.

    Parece-me que harmonia e a fluidez do jogo ofensivo seria conseguida desta forma, um pouco à semelhança de 2009/2010, ano em que praticámos o melhor futebol de que tenho memória. Não temos Ramires é verdade, um jogador nuclear nesse sistema. Mas temos Enzo que já provou conseguir desempenhar bem as funções dum box-to-box.. atacar e defender.

    Ou isto, ou o que não é crível passará a ser: o 4-3-3, com Lima como ponta-de-lança a fazer aquilo que sabe bem.. a movimentar-se, a descair para os flancos.. perdendo a equipa uma referência na área. Com os jogadores que temos é claro que também este sistema dará ou daria frutos.. mas penso que ficará sempre aquém do recurso ao 4-4-2 losango (atendendo aos jogadores que temos).

    O nosso plantel tem jogadores de enorme qualidade.. mas falta-nos mais um médio defensivo/centro de créditos firmados e o tal ponta-de-lança. Acho que tal não será novidade.

    P.S. Como bem sabemos, os melhores jogadores do mundo não fazem por vezes o melhor dos onzes, mas conseguem "disfarçar" melhor do que os maus jogadores um sistema táctico desadequado. :)

    P.S. 2 Peço desculpa por não falar na defesa.

    Saudações Benfiquistas.

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