quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Benfica - espectacularidade vs. eficácia

Um dos aspectos mais frustrantes do futebol do Benfica nos últimos anos é o fraco índice de golos face ao volume ofensivo.

Demasiadas vezes o Benfica tem um domínio quase avassalador, criando múltiplas jogadas ofensivas de qualidade, diversas oportunidades de golo e acaba por sofrer golos nas raríssimas ocasiões em que o adversário vai à nossa baliza.

É um problema que vem de longe mas que no segundo ano de Jorge Jesus se tornou mais agudo.

O ano passado esse mesmo problema levou a que perdessemos todas as competições em que estivemos envolvidos: contra o Porto dominávamos completamente o adversário quando sofremos inesperadamente o golo fatídico, contra o Chelsea deveríamos estar a vencer por pelo menos dois golos ao intervalo e contra o Guimarães sofremos em poucos minutos dois golos contra uma equipa que praticamente se limitara a defender o jogo todo.

Esta pré-época o "filme" já voltou a passar no jogo contra o São Paulo.

De alguma forma as equipas que jogam contra o Benfica sabem hoje que se conseguirem aguentar os primeiros 25 a 30 minutos sem sofrer golos têm hipóteses razoáveis de não perder o jogo. Em termos psicológicos isto começa a ser devastador para a equipa.

Ora sendo indiscutível que o Benfica joga bem, ataca muito, consegue dominar os jogos e cria oportunidades, impõe-se perceber onde residem as causas para este fenómeno.

Abaixo sintetiza alguns aspectos do jogo do Benfica que na minha óptica  estão a contribuir para este cenário indesejado.

Modelo e dinâmica de jogo

Comparando os jogos do Benfica com os do Porto no decurso da passada época, esta perplexidade aumenta.  Ao passo que o Benfica usava de uma velocidade quase vertiginosa,  o Porto jogava quase a passo. No entanto, em várias situações e com aparente facilidade, os jogadores do Porto apareciam na área adversária em situação de concretização e com espaço, ao passo que para o Benfica o conseguir requeria grande velocidade de execução e mesmo assim os espaços eram quase sempre reduzidíssimos. 

A meu ver isto deve-se em primeiro lugar aos modelos de jogo. O do Porto é mais posicional. Através da capacidade de se libertar com facilidade da pressão ofensiva dos adversários, o Porto tem uma grande competência a trocar e manter a bola com segurança. Consegue assim remeter os adversários para a sua área  e começar a partir daí a construir com calma os seus ataques, variando o seu jogo entre o centro e as faixas, procurando o momento certo para colocar bolas perigosas na frente. Nesta medida, o Porto consegue muitas situações em que os seus extremos aparecem em situação de um-para-um com os laterais adversários (situações em que Varela é perigoso), o que alterna com bolas directas para Jackson, jogador móvel e letal na finalização. Veremos se com Paulo Fonseca este modelo (tão criticado mas que deu resultados) se mantém ou desvirtua.

Já o Benfica me parece ter mais dificuldades em: a) sair com a bola controlada da defesa (não é por acaso que no ano passado foram tantas as bolas passadas para o guarda-redes, com as consequências que se conhecem), o que resulta numa menor qualidade na primeira fase da construção (como agora se diz) e numa menor capacidade de remeter o adversário a uma postura quase inofensiva; e b) trocar a bola com segurança e com sentido no meio-campo adversário. No Benfica isto é compensado com tabelas e combinações rápidas, que envolvem muitos passes (muitas oportunidades para perder a bola). Quando se consegue "desposicionar" e confundir os adversários, este modelo resulta e é espectacular. Quando não se consegue, ele resulta em muitas perdas de bola, cansaço da equipa e frustração.

Daqui resulta também, creio, a incapacidade do Benfica em segurar resultados. O Benfica só sabe jogar para a frente, quando quer trocar e manter a bola, começa a fazer passes sem sentido, a passar muitas bolas para trás e por regra acaba a sofrer um golo.

Falta de verticalidade do jogo

Este aspecto está associado ao anterior. Quando se tem a bola controlada em espaços interiores do campo, com pouca oposição do adversário, é fácil ver as movimentações dos avançados e colocar bolas nas costas dos defesas. Quando tudo é feito em grande velocidade e esforço, é mais difícil consegui-lo. Por isso vimos o Porto conseguir várias vezes colocar bolas em Varela e Jackson que ficavam em posições já muito perigosas, de pré-finalização e no Benfica víamos múltiplas combinações junto à quina da área ou à entrada da mesma a não darem resultado. O Porto com dois/três passes muitas vezes cria situações de golo, ao passo que o Benfica por regra precisa de muitos mais. Naturalmente que isto tem a ver também com as características dos jogadores, pois marcar Jackson é mais difícil do que marcar Cardozo ou até Lima. Rodrigo é, sob este ponto de vista, um jogador que poderia trazer alguma coisa ao Benfica. 

Mau aproveitamento das oportunidades de golo

Também este aspecto pode estar associado aos anteriores, pois um jogador que vem já em esforço tem necessariamente menos discernimento do que um que está numa situação mais confortável. O cansaço (acumulado ou mais imediato resultante de um sprint) resulta sempre no desporto num menor rendimento. A ansiedade também é inimiga da frieza necessária para concretizar (assim como a falta de confiança). Não obstante, não creio que se faça no Benfica suficiente trabalho específico em matéria de finalização. Eusébio e Ronaldo estão entre os melhores rematadores portugueses de sempre. Quer um quer outro, após os treinos terminarem praticavam (pratica, no presente, no caso de Ronaldo) remates à baliza durante bastante tempo. Não apenas por isso, mas também por isso, conquistaram o lugar de topo.

Poucos remates de longe

Este aspecto está, necessariamente, ligado ao anterior (falta de treino), ao modelo de jogo (que privilegia trocas de bola e um futebol muito trabalhado e envolvente que por si mesmos são inibidores para o remate de longe) e também às características dos jogadores do Benfica. As contratações não privilegiam jogadores que tenham como característica rematarem bem e isso parece-me errado.

Aproveitamento quase nulo dos lances de bola parada

Muito do dito nos anteriores parágrafos se pode aqui aplicar e não repetirei. Não me parece que no Benfica exista presentemente a consciência de que muitos jogos se resolvem nas bolas paradas. Sobretudo os jogos mais fechados. No entanto bastaria lembrar como perdemos a Liga Europa para perceber como estes lances são fundamentais no futebol. Parece existir no actual Benfica a ideia de que perante tamanho volume de futebol ofensivo não se justifique estar a "perder" muito tempo a treinar cantos ou livres. No entanto isso parece-me novamente um erro tremendo. Lembro-me da quantidade de golos que o Benfica marcou de bolas paradas em 2009/10. Claro que isso depende dos cabeceadores que se tem. Mas depende também em larga medida da qualidade das bolas centradas. Vemos tantas equipas marcarem golos ao Benfica na sequência de livres laterais, por faltas completamente insignificantes a meio do nosso meio campo e nós com tamanho volume atacante não conseguimos praticamente marcar de bola parada? Algo não está bem. A excepção são os lançamentos de linha lateral, o que bem demonstra como treinar "lances estudados" é importante.

Conclusão

O tempo do treino não é ilimitado e claro que não é possível assegurar todas as vertentes do jogo. Há que fazer escolhas e percebo que Jorge Jesus privilegie algumas em detrimento de outras. As múltiplas oportunidades criadas são fruto de trabalho e mérito e exigem tempo de treino. São o resultado do mesmo modelo que na face oposta da moeda leva à tal ansiedade, à tal propensão para falhar. Nada tem só vantagens ou apenas desvantagens.

No entanto estou em crer que a falta de aproveitamento do Benfica das situações que cria é talvez o aspecto mais negativo, mais crítico dos últimos anos, ultrapassando mesmo em importância algumas falhas defensivas que aqui e ali ocorrem. É que quando não se marca, sofre-se como diz o adágio futebolístico. Quando uma equipa sente que o Benfica não marca apesar de todo o caudal ofensivo, começa a ganhar confiança e a sentir-se mais atrevida, ao passo que a nossa começa a duvidar de si própria. A nossa inabilidade em "matar" os jogos tem contribuído para muitos dissabores. Creio por isso ser imperativo dar outra atenção aos aspectos acima enunciados.

2 comentários:

  1. Metade dos problemas que disse para mim traduzem-se perfeitamente num nome: Gaitan. Pouco clarividente, prefere uma tabelinha ou "passe magistral" que em 70% das vezes falham, do que a solução mais simples. Quando uma jogada dá sucesso, ainda pior, porque nos próximos 3 ou 4 jogos, mais o jogador insiste em jogadas que deviam ser a excepção e não a regra. Contra o Estoril, por exemplo, foi absolutamente TÓXICO o efeito que o golo ao SCP causou. foram passes de calcanhar, trivelas mal feitas, desmarcaçoes idiotas, uma das quais resultou na perda de bola que originou o golo do Estoril. Não é responsável por TODOS os problemas do SLB, mas representa bem muitos deles.

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  2. Parabéns Frank pelo post c/o qual concordo, e tb em parte c/ o Kravin.Acrescento apenas q/ um dos erros do JJtem sido colocar alguns jogadores fora das posições onde rendem mais:

    Gaitan - Na ala esq. não resulta ( é melhor no meio)
    Djuricic - Não é 9,5 é 8,5 partindo de trás é + eficaz
    Markovic - Nas alas não rende tanto
    Silvio - Na esquerda é 0 a atacar
    Rodrigo - Rende mais só que c/ lima

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