sexta-feira, 23 de agosto de 2013

De 2010 agora - da euforia ao desalento

Em 2009/10 Jesus sucedeu a Quique Flores e cumpriu o que prometera: pôs a equipa a jogar o dobro. Algo de muito especial aconteceu nessa época pois as contratações foram excelentes: Javi Garcia, Ramirez, Saviola foram todos contratados essa época, ao passo que Coentrão regressou ao clube. Todos eles foram titulares indiscutíveis e desempenharam papéis importantes na conquista do título.

Os benfiquistas estavam nas nuvens: a equipa jogava bem, goleava, entusiasmava e dava espectáculo. Na Luz havia enchentes consecutivas e o ambiente era frenético.

Parecia que passava um furacão pelo futebol português: depois de vários anos de vitórias cinzentas de um Porto monocórdico e enfastiante, que muitas vezes contava com ajudas arbitrais claras, havia agora uma equipa que jogava um futebol atacante, vistoso, emocionante. Até penaltys e expulsões essa equipa tinha a seu favor - algo por regra apenas "concedido" ao Porto. Algo tinha mudado - de um ano para o outro.

Dois pequenos pontos ensombraram porém a época: o facto de, apesar de toda a qualidade, apesar da avalanche de futebol ofensivo, só na última jornada (e a custo) o Benfica se ter sagrado campeão; e uma suspeita de que nos grandes jogos (sobretudo fora de casa), Jorge Jesus poderia claudicar. O Benfica nessa época perdeu em Braga e perdeu no Porto na penúltima jornada (desperdiçando a possibilidade de ser campeão no reduto adversário), ainda por cima a jogar muito tempo contra 10.
De igual forma o Benfica foi eliminado pelo Liverpool nos quartos de final da Liga Europa, tendo ficado a impressão de que poderia ter feito mais não fossem algumas opções no mínimo duvidosas como a colocação de David Luiz a defesa esquerdo.

No ano seguinte estas sombras tomaram conta do Benfica. Sem Ramirez e Di Maria a equipa não era a mesma. Um jovem treinador sem provas dadas destruíra completamente Jorge Jesus na sala de imprensa e viria a desmantela-lo igualmente dentro de campo com uma goleada de 5-0. Mas ainda não era tudo...

Os benfiquistas como eu ficaram revoltados e acharam que JJ tinha que sair na sequência dessa humilhação, mas Vieira não viu as coisas dessa forma, JJ tinha e merecia crédito pelo que fizera no ano anterior. Para mais, JJ conseguiu com uma serie de vitorias colocar o Benfica de novo no caminho dos títulos: numa semana discutia a presença em duas finais - Taça de Portugal e Liga Europa. É então que o impensável acontece: o Benfica é consecutivamente eliminado da Liga Europa pelo Braga; deixa o Porto sagrar-se campeão invicto na sua própria casa e, como se isto fosse pouco, ainda consegue ver-se eliminado da final da Taça de novo na Luz pelo Porto, apesar de ter uma vantagem de 2 golos ao intervalo (0-2 no Porto).

Nos anos seguintes foi o que se sabe, desbaratar 5 e 4 pontos de vantagem (algo de inédito nas anteriores edições do campeonato) nas ultimas jornadas. Num dos casos a 3 jornadas do fim. Foi perder mais taças (num dos casos "conseguindo" perder com um Guimarães de II Liga) e uma final da Liga Europa (ainda assim o maior feito desde 2010).

O padrão está a vista e claramente não é vencedor. O padrão é justamente o de ser completamente incapaz de vencer, de se manter firme, frio e não falhar nos momentos capitais. Quantos mais anos serão precisos para que alguns o entendam? Quantas mais derrotas, quantas mais humilhações teremos que sofrer? 

Mas atenção, este padrão não é atributo exclusivo (se calhar nem sequer primordialmente) do treinador. Os 12 anos anos passados bem o demonstram. Na realidade, o padrão do treinador e o do presidente são neste momento semelhantes, quase idênticos. Se os deixarem continuar, na próxima epoca poderão ser campeões (algo que apresentarão como feito extraordinario) - apos o que com toda a probabilidade passarão novamente 4 anos sem ganhar nada para alem de umas taças da Liga. Ah e pelo meio emprestam-se uns farinhas para o Dubai e contratam-se pizzis para reforçar o plantel do Espanhol. O importante e contratar extremos, adaptar laterais e estar nas decisoes. Os titulos sao pormenores - afinal de contas, nao e por os perder que as epocas deixam de ser "brilhantes".

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

No futebol não há explicações

O futebol é uma coisa bastante simples que por vezes complicamos.

Ganhar equivale a ter sucesso, perder é ter insucesso. Não há volta nenhuma a dar a isto.

Defender que a "valorização de jogadores" pode servir como um critério de sucesso é discutível, pretender que isso possa servir de substituto de vitórias é insultuoso para um benfiquista. Somos o Benfica, não somos o Paços ou o Estoril.

As infra-estruturas de um clube são importantes enquanto permitem criar condições para o sucesso, não servem, não podem servir, para encobrir ou substituir o insucesso desportivo. O Benfica chegou a não ter casa própria e sobreviveu a esses tempos, porque a sua identidade e espírito de vitória se mantiveram bem fortes.

Os museus são importantes (o Benfica tem museus há muitas décadas) mas são-no porque existem taças para colocar no seu interior.

Em suma, no futebol - e sobretudo no Benfica - o sucesso mede-se apenas por um factor: numero de vitórias.

No futebol os resultados falam por si - não há lugar para explicações. Quem não os consegue deve sair. 

É tão simples quanto isto. Não vale a pena tantos perderem tanto tempo a tentarem explicar o inexplicável.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Andam a gozar com o Benfica


Não vi o jogo, pelo que só agora me apercebi de algo que considero a gota de água: Mitrovic, Steven Vitoria e Lizandro Lopez - 3 contratações para o lugar de defesa central e nenhum deles foi convocado, ficando no banco... Jardel.


Isto é demais. Os benfiquistas têm que se manifestar para colocar um ponto final neste desmando, nesta vergonha, neste lesar descarado dos interesses do Benfica. Para mim acabou, LFV e JJ têm que sair do Benfica.

domingo, 18 de agosto de 2013

O esperado e infelizmente o costume

Ja vi que as desculpas continuam. Nao contem comigo para tal.
Ha algum tempo que venho dizendo que o rumo esta errado e que se nao conseguem colocar o Benfica no lugar que ele merece (que nao e o 2), se devem afastar e dar o lugar a outros. Mas nao facam de nos parvos, nao venham com mais justificações e desculpas.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Baix(íssim)as expectativas

O campeonato está prestes a começar e as expectativas são das mais baixas de que me lembro em toda a minha vida de benfiquista apaixonado. 
Anos de desilusões a fio, agravadas pelo penoso final da época passada, a tal levaram. Sei que muitos, provavelmente a maioria dos benfiquistas, se encontra num estado de espírito semelhante.
Talvez nunca na história do Benfica tenhamos sido tão "castigados" como nas épocas passadas pelas vitórias sucessivas dos nossos rivais, obtidas de toda a maneira e feitio e agravadas com "ironias", indirectas e insultos extra-desportivos aos quais já nem reagimos, tal o nosso estado de desânimo.
A história do "acreditar", do "apoiar", dos "vídeos motivacionais", do "somos realmente grandes" já não pega. Não foi por falta de apoio, de acompanhamento, de crença dos adeptos que a equipa deixou de conquistar títulos nos últimos anos. Também já não volto a dar para o "peditório" dos árbitros: alertei em tempo (tal como numerosos outros blogs) para o que se passava nos corredores do poder e a direcção do Benfica não foi capaz de resolver o problema. Não serão certamente os blogs a mudar este estado de coisas. Se quem dirige não o consegue fazer, não pode também ao fim de vários anos desculpar-se perante os sócios e adeptos com este argumento. Se é incapaz para o fazer admita-o e tire daí as devidas conclusões. Outra possibilidade é que os dirigentes do Benfica não achem que este seja um problema. Olhando para as declarações dos treinadores e dirigentes nos últimos anos, vemos que foi o Porto quem mais se queixou, o que diz muito do que se passa. De uma forma ou de outra, é inútil insistir mais nesta tecla.
Os dados estão lançados.
A pré-época foi má e as expectativas são baixas. 
Quem sabe se esse não poderá ser um factor positivo. Afinal de contas, mesmo quando não acreditamos, temos que nos agarrar a alguma coisa. Temos que procurar sempre transformar o negativo em positivo e não o contrário. 

VIVA O BENFICA.

domingo, 11 de agosto de 2013

Benfiquismo demente

Faz-me uma confusão tremenda passar por alguns blogs, sobretudo o "Planeta Benfica" (que faz uma resenha diária de artigos publicados na imprensa acerca do Benfica) e verificar que qualquer opinião, análise ou comentário que aponte qualquer defeito ou questione minimamente algumas opções do futebol do Benfica mereça de imediato um chorrilho de insultos.
Os autores das opiniões (muitas vezes benfiquistas!) são desde logo apelidados de "avençados" (esta é a preferida), "jornaleiros", "submissos", "andrades", "corruptos", "amestrados" e uma série de outros insultos mais baixos.
Isto não é um fenómeno exclusivo da blogosfera benfiquista, importa dizê-lo. Por alguma razão (provavelmente o anonimato), a internet é o lugar onde vão desaguar muitas das frustrações e maus fígados da sociedade. Mas o próprio Facebook, onde muitos têm perfis razoavelmente preenchidos, também é palco destas "exibições".
Há muito tempo porém que isto me faz confusão. Naturalmente que há jornalistas com agendas muito próprias que merecem ser denunciados (com um mínimo de civilidade, de preferência).
Se Gobern foi despedido por ser benfiquista e fugazmente festejar um golo, muitos comentadores portistas, que muito a custo o disfarçam, mereceriam certamente o mesmo tratamento.
Aliás tenho aqui diversas vezes criticado esses jornalistas e a falta de objectividade e imparcialidade de muitos comentários.
 
Mas isso é muito diferente de: 1) ver fantasmas por todo o lado; 2) achar que qualquer crítica ao Benfica visa prejudicar o clube; e, finalmente, entrar no insulto fácil e soez.
Até porque há de facto múltiplas razões para estarmos preocupados e vários motivos para criticar as opções técnicas e de liderança nos últimos meses (para não dizer anos) da vida benfiquista.
É ridícula a atitude de ver fantasmas por todo o lado, inimigos a cada canto, como é ridícula a pergunta, que tantas vezes vejo, de "mas quem é este senhor para vir dizer isto?". Ridículo porque quem está no espaço público, bem ou mal, atingiu uma certa notoriedade, ao contrário de quem faz os comentários nos blogs. Errado porque em vez de atacar o mensageiro, devia-se analisar a mensagem.
 
O Benfica atravessa um momento difícil. O fim da época passada foi muitíssimo doloroso e esta pré-época não correu bem. Há muita incerteza no plantel e opções mais do que duvidosas em matéria de contratações e dispensas. Percebe-se que exista uma certa desorientação entre os benfiquistas.
 
Mas para que haja uma verdadeira reflexão, importa começarmos a olhar realmente para os problemas que temos, ao invés de insultar quem os aponta. E isto aplica-se também ao "diálogo" entre "Vieiristas" e "oposição".

PS - a desvalorização da Supertaça não faz qualquer sentido. Se o Benfica tivesse ganho o Campeonato, como podia, e a Taça, como devia, teria estado ontem a disputar o troféu. Se o Porto tem mais Supertaças é não apenas porque tem ganho quase todos os campeonatos nos últimos anos mas também porque quando nãos os vence conquista por regra a Taça e disputa o troféu. Esta é a realidade, o resto é atirar poeira para os olhos das pessoas - e para isso não contem comigo.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Benfica - espectacularidade vs. eficácia

Um dos aspectos mais frustrantes do futebol do Benfica nos últimos anos é o fraco índice de golos face ao volume ofensivo.

Demasiadas vezes o Benfica tem um domínio quase avassalador, criando múltiplas jogadas ofensivas de qualidade, diversas oportunidades de golo e acaba por sofrer golos nas raríssimas ocasiões em que o adversário vai à nossa baliza.

É um problema que vem de longe mas que no segundo ano de Jorge Jesus se tornou mais agudo.

O ano passado esse mesmo problema levou a que perdessemos todas as competições em que estivemos envolvidos: contra o Porto dominávamos completamente o adversário quando sofremos inesperadamente o golo fatídico, contra o Chelsea deveríamos estar a vencer por pelo menos dois golos ao intervalo e contra o Guimarães sofremos em poucos minutos dois golos contra uma equipa que praticamente se limitara a defender o jogo todo.

Esta pré-época o "filme" já voltou a passar no jogo contra o São Paulo.

De alguma forma as equipas que jogam contra o Benfica sabem hoje que se conseguirem aguentar os primeiros 25 a 30 minutos sem sofrer golos têm hipóteses razoáveis de não perder o jogo. Em termos psicológicos isto começa a ser devastador para a equipa.

Ora sendo indiscutível que o Benfica joga bem, ataca muito, consegue dominar os jogos e cria oportunidades, impõe-se perceber onde residem as causas para este fenómeno.

Abaixo sintetiza alguns aspectos do jogo do Benfica que na minha óptica  estão a contribuir para este cenário indesejado.

Modelo e dinâmica de jogo

Comparando os jogos do Benfica com os do Porto no decurso da passada época, esta perplexidade aumenta.  Ao passo que o Benfica usava de uma velocidade quase vertiginosa,  o Porto jogava quase a passo. No entanto, em várias situações e com aparente facilidade, os jogadores do Porto apareciam na área adversária em situação de concretização e com espaço, ao passo que para o Benfica o conseguir requeria grande velocidade de execução e mesmo assim os espaços eram quase sempre reduzidíssimos. 

A meu ver isto deve-se em primeiro lugar aos modelos de jogo. O do Porto é mais posicional. Através da capacidade de se libertar com facilidade da pressão ofensiva dos adversários, o Porto tem uma grande competência a trocar e manter a bola com segurança. Consegue assim remeter os adversários para a sua área  e começar a partir daí a construir com calma os seus ataques, variando o seu jogo entre o centro e as faixas, procurando o momento certo para colocar bolas perigosas na frente. Nesta medida, o Porto consegue muitas situações em que os seus extremos aparecem em situação de um-para-um com os laterais adversários (situações em que Varela é perigoso), o que alterna com bolas directas para Jackson, jogador móvel e letal na finalização. Veremos se com Paulo Fonseca este modelo (tão criticado mas que deu resultados) se mantém ou desvirtua.

Já o Benfica me parece ter mais dificuldades em: a) sair com a bola controlada da defesa (não é por acaso que no ano passado foram tantas as bolas passadas para o guarda-redes, com as consequências que se conhecem), o que resulta numa menor qualidade na primeira fase da construção (como agora se diz) e numa menor capacidade de remeter o adversário a uma postura quase inofensiva; e b) trocar a bola com segurança e com sentido no meio-campo adversário. No Benfica isto é compensado com tabelas e combinações rápidas, que envolvem muitos passes (muitas oportunidades para perder a bola). Quando se consegue "desposicionar" e confundir os adversários, este modelo resulta e é espectacular. Quando não se consegue, ele resulta em muitas perdas de bola, cansaço da equipa e frustração.

Daqui resulta também, creio, a incapacidade do Benfica em segurar resultados. O Benfica só sabe jogar para a frente, quando quer trocar e manter a bola, começa a fazer passes sem sentido, a passar muitas bolas para trás e por regra acaba a sofrer um golo.

Falta de verticalidade do jogo

Este aspecto está associado ao anterior. Quando se tem a bola controlada em espaços interiores do campo, com pouca oposição do adversário, é fácil ver as movimentações dos avançados e colocar bolas nas costas dos defesas. Quando tudo é feito em grande velocidade e esforço, é mais difícil consegui-lo. Por isso vimos o Porto conseguir várias vezes colocar bolas em Varela e Jackson que ficavam em posições já muito perigosas, de pré-finalização e no Benfica víamos múltiplas combinações junto à quina da área ou à entrada da mesma a não darem resultado. O Porto com dois/três passes muitas vezes cria situações de golo, ao passo que o Benfica por regra precisa de muitos mais. Naturalmente que isto tem a ver também com as características dos jogadores, pois marcar Jackson é mais difícil do que marcar Cardozo ou até Lima. Rodrigo é, sob este ponto de vista, um jogador que poderia trazer alguma coisa ao Benfica. 

Mau aproveitamento das oportunidades de golo

Também este aspecto pode estar associado aos anteriores, pois um jogador que vem já em esforço tem necessariamente menos discernimento do que um que está numa situação mais confortável. O cansaço (acumulado ou mais imediato resultante de um sprint) resulta sempre no desporto num menor rendimento. A ansiedade também é inimiga da frieza necessária para concretizar (assim como a falta de confiança). Não obstante, não creio que se faça no Benfica suficiente trabalho específico em matéria de finalização. Eusébio e Ronaldo estão entre os melhores rematadores portugueses de sempre. Quer um quer outro, após os treinos terminarem praticavam (pratica, no presente, no caso de Ronaldo) remates à baliza durante bastante tempo. Não apenas por isso, mas também por isso, conquistaram o lugar de topo.

Poucos remates de longe

Este aspecto está, necessariamente, ligado ao anterior (falta de treino), ao modelo de jogo (que privilegia trocas de bola e um futebol muito trabalhado e envolvente que por si mesmos são inibidores para o remate de longe) e também às características dos jogadores do Benfica. As contratações não privilegiam jogadores que tenham como característica rematarem bem e isso parece-me errado.

Aproveitamento quase nulo dos lances de bola parada

Muito do dito nos anteriores parágrafos se pode aqui aplicar e não repetirei. Não me parece que no Benfica exista presentemente a consciência de que muitos jogos se resolvem nas bolas paradas. Sobretudo os jogos mais fechados. No entanto bastaria lembrar como perdemos a Liga Europa para perceber como estes lances são fundamentais no futebol. Parece existir no actual Benfica a ideia de que perante tamanho volume de futebol ofensivo não se justifique estar a "perder" muito tempo a treinar cantos ou livres. No entanto isso parece-me novamente um erro tremendo. Lembro-me da quantidade de golos que o Benfica marcou de bolas paradas em 2009/10. Claro que isso depende dos cabeceadores que se tem. Mas depende também em larga medida da qualidade das bolas centradas. Vemos tantas equipas marcarem golos ao Benfica na sequência de livres laterais, por faltas completamente insignificantes a meio do nosso meio campo e nós com tamanho volume atacante não conseguimos praticamente marcar de bola parada? Algo não está bem. A excepção são os lançamentos de linha lateral, o que bem demonstra como treinar "lances estudados" é importante.

Conclusão

O tempo do treino não é ilimitado e claro que não é possível assegurar todas as vertentes do jogo. Há que fazer escolhas e percebo que Jorge Jesus privilegie algumas em detrimento de outras. As múltiplas oportunidades criadas são fruto de trabalho e mérito e exigem tempo de treino. São o resultado do mesmo modelo que na face oposta da moeda leva à tal ansiedade, à tal propensão para falhar. Nada tem só vantagens ou apenas desvantagens.

No entanto estou em crer que a falta de aproveitamento do Benfica das situações que cria é talvez o aspecto mais negativo, mais crítico dos últimos anos, ultrapassando mesmo em importância algumas falhas defensivas que aqui e ali ocorrem. É que quando não se marca, sofre-se como diz o adágio futebolístico. Quando uma equipa sente que o Benfica não marca apesar de todo o caudal ofensivo, começa a ganhar confiança e a sentir-se mais atrevida, ao passo que a nossa começa a duvidar de si própria. A nossa inabilidade em "matar" os jogos tem contribuído para muitos dissabores. Creio por isso ser imperativo dar outra atenção aos aspectos acima enunciados.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Cardozo - a novela continua

Tal como referi ontem, as palavras de Rui Gomes da Silva no "Dia Seguinte" já davam a entender que se preparava um golpe de teatro, uma volta de 180º: Cardozo afinal pode ser reintegrado.

É uma novela vergonhosa que está a enquinar completamente o ambiente à volta da equipa.

Como tenho dito, sobretudo nas últimas semanas, há um tremendo défice de liderança - e de competência - neste momento no futebol do Benfica. JJ não pode liderar pois a grande maioria dos adeptos só a custo o toleram, a estrutura foi esvaziada precisamente para dar plenos poderes a JJ que neste momento não tem credibilidade e o Presidente desapareceu há muito tempo. Só fala de questões estruturais.

Face a este vazio, os media e comentadores vão fazendo todo o ruído, toda a especulação e o caso vai corroendo ainda mais a moral já baixa dos benfiquistas.

Sempre gostei do jogador e acho que nos faz uma falta tremenda. Não será fácil de substituir. No entanto, neste momento não existem de forma nenhuma condições para continuar. O ambiente é impossível e o próprio jogador quer sair. 

Perante isto ainda há benfiquistas que justificam esta inação da direção, como se este fosse um caso quase impossível de resolver. Mas querem que eu faça um desenho? É muito simples: a partir do momento que se decidia que o jogador ia mesmo sair, vendia-se à melhor proposta. Era abaixo do seu valor? Paciência!  

Se não era para sair, rapidamente se silenciava o ruído, se dizia que o caso estava a ser tratado internamente, se determinava uma sanção disciplinar, seguida de um pedido de desculpas do jogador e andava-se para a frente.

Isto é que não é nada!

O jogador está desvalorizado, está a ser maltratado e a ferida causada cada vez se torna mais funda, com o caso a servir como instrumento de pressão adicional sobre JJ.

Porque, lembro, JJ continua a ser o nosso treinador. E nessa medida, independentemente do que se diga e critique nos blogs, inclusivé este, ele tem que ser protegido pela estrutura e pela direção. Caso contrário está-se a lançar JJ às feras.

Como se não bastasse, o Benfica, ao mesmo tempo que começa a "plantar" nos jornais (e nas TV's) a ideia de que Cardozo pode afinal vir a ser reintegrado, faz críticas veladas ou explícitas ao jogador, numa política de sacudir as culpas do capote de quem decide. Ou seja, fala-se em reintegração mas ataca-se o jogador:


Por outro lado, segundo a mesma fonte, Tacuara «não se incompatibilizou apenas com o treinador», mas com o plantel, havendo «muitos jogadores que não perdoaram o facto de Cardozo ter apontado o dedo a companheiros», nomeadamente a André Almeida, que foi o lateral-esquerdo com o V. Guimarães, em detrimento de Melgarejo. 
Para os encarnados, Cardozo «está obcecado» com a oferta milionária do Fenerbahçe (admite-se que os turcos paguem mais de €3 milhões limpos, triplicando o salário de Tacuara), mas nada mudará a posição das águias: «Se não houver proposta que corresponda ao que o Benfica pensa que ele vale, não vai sair e será reintegrado.»

(A Bola).


Tudo isto é mau demais para ser verdade.


Rui G. Silva - "se não for vendido, Cardozo é reintegrado"

Eu sinceramente já nem sei o que dizer. A incompetência é tamanha que parece mentira.

E a época quase a começar...

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Ou alguém põe ordem no Benfica ou o descalabro é certo

Uma das coisas que sempre me fez confusão em Luis Filipe Vieira foi o seu "desaparecimento" em alguns momentos críticos da vida do clube, em que se impunha o exercício de uma verdadeira liderança.

Muito em particular houve dois momentos para mim marcantes: a humilhação por 5-0 no estádio do Porto e, nessa mesma época, a cena lamentável da rega e das luzes apagadas quando a nossa equipa não foi capaz de evitar que o seu adversário fosse campeão em sua casa. 

Nessas alturas LFV desapareceu completamente. Nunca houve uma explicação, uma palavra aos sócios, já nem digo um pedido de desculpas, mas pelo menos alguma assunção de responsabilidades por uma humilhação vergonhosa, por um lado, e por um acto indigno da grandeza do Benfica, uma cena patética e mesquinha que só deu aos adversários ainda mais motivos de chacota.

Sempre estranhei que LFV não tivesse aparecido nessas alturas e mostrado que um líder não se esconde nos momentos difíceis. Tudo continuou igual e no ano seguinte voltámos a perder tudo, tal como na época passada. A única diferença foram as críticas de LFV à arbitragem de Pedro Proença no 2-3 na Luz com o golo de Maicon em fora de jogo. Mas mesmo essa intervenção foi um pouco estranha porque surgiu num vazio: os problemas de arbitragem já vinham muito de trás (e continuaram depois) tendo Vieira apenas falado naquela ocasião - e inconsequentemente.

Tudo isto para dizer que a liderança de Vieira me começou a parecer logo aí falha. Nunca embarquei porém na retórica dos "85 % isto e aquilo", como se a culpa fosse dos sócios. Os sócios são livres de eleger quem entendem, só há que respeitar os resultados. Aliás, as questões colocam-se sempre em termos de alternativa: quem faria melhor do que Vieira? Bruno de Carvalho? Rangel? Tenham paciência...

O Benfica é uma instituição gigantesca que com uma liderança incapaz pode afundar qual titanic. Veja-se o Sporting: o que se seguiu à gestão de Soares Franco, que se criticava por conseguir apenas 2ºs lugares? O descalabro! Pensar que o Benfica está a salvo de algo semelhante é ser inconsciente, não conhecer a história das instituições e do Benfica em particular, que esteve há pouco mais de uma década à beira do abismo.

Tal não quer dizer que estejamos destinados a ser 2ºs (ou pior) e a reeleger Vieira até ao fim dos tempos. Quer dizer outra coisa muito mais séria: é preciso desde já perfilar-se uma alternativa CREDÍVEL.

LFV começa a dar sinais de desnorte, tal como JJ aliás. Com a pressão e o descontentamento dos adeptos a crescerem, o desnorte tenderá a aumentar na mesma proporção do nervosismo.

A tolerância para com JJ não diminuiu apenas devido ao final da época passada. A decisão de dar a JJ plenos poderes no futebol do Benfica contribui para aumentar a pressão e para o responsabilizar ainda mais por tudo o que corra menos bem. A aposta de Vieira nesta solução (contra a grande maioria da SAD) também o coloca a ele na linha de fogo.

O desnorte evidencia-se em várias (in)decisões que contribuem imenso para que o mal-estar aumente: 


  • a situação de Cardozo
  • a questão de Garay
  • a indefinição no plantel (sendo especialmente preocupante a possível saída de Matic)
  • as dispensas de Miguel Rosa e Miguel Victor, por um lado, e de Roderick, por outro (por razões diferentes, quase opostas)
  • as contratações de LOLO (e outros sem provas dadas, por contraposição àquelas dispensas)
  • a questão da lateral esquerda, que abrange a situação de Melgarejo (serve-deixa-de-servir, sai-não-sai) e de Cortez (dúvidas sobre se será mais um Melgemerson)
  • as cada vez mais atabalhoadas intervenções públicas de JJ
  • o saber-se de dispensas através de outros clubes e não do SLB
  • a questão Roberto.

Uma grande tempestade se forma no horizonte e ou LFV tira algum coelho da cartola (o que nesta altura já parece muito difícil) ou o fim do seu ciclo poderá estar para breve. Lembrem-se das cenas absolutamente lamentáveis da subida de JJ e da equipa das escadarias do Jamor e perceberão do que falo.

Neste momento, parece-me urgente que LFV tenha consciência do que se passa, designadamente que os benfiquistas começam a estar cansados de tanto desmando, e que ponha um mínimo de ordem na casa. Um MÍNIMO, para que as coisas não descambem completamente. No entretanto os benfiquistas que dispõem de alguma credibilidade, como por exemplo Bagão Felix, devem começar a encetar contactos para assegurar uma alternativa minimamente sólida. O poder não pode cair na rua. Caso contrário o desastre pode ser total.

Caso Roberto - credibilidade da direção ferida de morte

Por muitas voltas que se queiram dar ao assunto, por muita areia que se atire para os olhos das pessoas, por muito contorcionismo que alguns façam para explicar o inexplicável, a evidência impõem-se: a venda de Roberto foi fictícia ou falseada.

Roberto não foi vendido coisa nenhuma, foi uma manobra para enganar as pessoas. Aliás os sinais já eram bastante evidentes à data: logo o Saragoça, clube falido e gerido por uma comissão de gestão, perante a polémica face aos valores referidos, veio dizer que tinha contratado o jogador por apenas 86.000 euros.

Confirmado agora que não houve venda, confirma-se também que Luis Filipe Vieira tentou enganar os sócios e accionistas da SAD. Perante os valores envolvidos e perante outras trapalhadas ainda associadas ao negócio (a compra de 50% do passe de Pizzi para emprestar ao espanhol), considero que a credibilidade do LFV e, por arrasto, da direção está ferida de morte. Não mais poderá falar de transparência e mesmo de verdade desportiva sem ser completamente ridicularizado. Quando o principal inimigo do Benfica nos últimos anos fala de "milhões da treta", numa altura em que o negócio ainda não tinha sido desmascarado, e nos vemos obrigados a reconhecer que tinha razão, estamos mal.

LFV teve tudo para ter sucesso no Benfica: estabilidade directiva, falta de oposição credível, apoio esmagador por parte dos sócios. Em 2009 as coisas pareciam finalmente ir entrar nos eixos, com o Benfica a acabar novamente a época como campeão, a jogar bem e a levar os seus adeptos de volta à Luz, com grandes enchentes.

O ano seguinte era o ano decisivo: vencer de novo significaria quebrar finalmente o domínio do Porto, iniciar um novo ciclo no futebol português. LFV mostrou então falta de visão: deixou cair Hermínio Loureiro, deixou cair Ricardo Costa, apoiou Fernando Gomes, convencido de que este estava a mal com Pinto da Costa e iria ser um actor imparcial no futebol português e os resultados são os que estão à vista. As arbitragens chegaram, nalguns casos, a superar o que de pior se passou aquando dos anos do apito dourado. Desde esse fatídico apoio, o Porto perdeu um jogo para o campeonato, tendo o árbitro que apitou esse jogo sido saneado. Penalties ou expulsões contra o Porto tornaram-se uma impossibilidade física, ao passo que a favor basta o mais ligeiro pretexto.
 
Por estas razões e pela decisão de renovar com JJ, decisão que neste momento parece já ter sido um erro tremendo, LFV está numa posição muito frágil da qual já dificilmente recuperará.

domingo, 4 de agosto de 2013

Modelo esgotado

Infelizmente é a minha convicção. Ao fim de 4 anos continuam os mesmo problemas e as virtudes estão cada vez mais pálidas.

São toques e mais toques e ninguém se decide a rematar à baliza. São muitos jogadores parecidos, virtuosos e tecnicamente evoluídos mas pouco objectivos. São bolas paradas inofensivas. É um domínio de jogo quase total e um volume de ataque imenso para poucos (neste caso nenhuns) frutos. O aproveitamento ataques/golos do Benfica deve ser dos mais baixos da Europa. O jogador mais perigoso e com mais sentido de baliza está proibido de se treinar (e pelos vistos sem sequer ter clubes interessados).

Na defesa nada melhorou. Qualquer equipa mediana nos marca golos, nem precisando de ir muitas vezes lá à frente. As bolas paradas defensivas continuam a ser um pesadelo, livres laterais então são meio golo. Na lateral esquerda o problema persiste pelo terceiro ano consecutivo.

A questão da baliza também não me parece resolvida.

30.000 (terão sido assim "tantos"?) é bem demonstrativo da pouca confiança com que os benfiquistas encaram a presente época.

Para terminar, o discurso de Jorge Jesus também me parece esgotado, pouco convicto, pouco credível. As suas explicações soam a desculpas sendo evidente que as mossas da época passada deixaram marcas.
 
Temo que se avizinhem tempos de muita contestação e instabilidade. Os cânticos por Cardozo mostram que existe uma insatisfação latente que espera apenas por um pretexto mais forte do que uma derrota na Eusébio Cup para se manifestar.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Quem sairá até ao fim do mês?

A menos de um mês do encerramento do mercado, o Benfica já conseguiu resolver alguns casos "bicudos" (Sidney, Kardec e alguns outros) através de empréstimos (nalguns casos com contrapartidas financeiras interessantes) mas ainda não vendeu nenhum jogador.

Entretanto já entraram 11 jogadores (um deles por empréstimo).

Não há porém ainda nenhuma venda, o que para um clube que - diz-se - terá que realizar 50 milhões começa a ser preocupante.

O caso Cardozo arrasta-se  mas aparentemente estará encaminhado (aparentemente o Benfica irá vender o jogador por 12+3 milhões). Para um jogador que fez tantos golos pelo Benfica é uma verba muito pequena. Aliás o Benfica pedia inicialmente 17 milhões, verba um pouco mais consentânea com o valor do jogador.

Garay já estava "vendido" ao Manchester United desde o ano passado (era o que constava) mas por alguma razão continua a não integrar o respetivo plantel.

Depois temos o caso de Gaitan que todos os anos vai sair, pois os dois clubes de Manchester estão loucos por ele, cada um oferecendo mais do que o outro, mas que acaba sempre (felizmente) por ficar.

Agora temos o caso Sálvio. De acordo com alguma imprensa, o internacional argentino tem vários interessados, desde o Arsenal até mais recentemente ao PSG, passando pelo Manchester City e o Tottenham. Existiria, diz-se uma proposta em cima da mesa de 32 milhões de euros do PSG depois do Arsenal ter oferecido 30. 

A mim custa-me a crer (sem por em causa a grande qualidade do jogador acho valores muito elevados) mas veremos. 

Na realidade a questão do "valor" nem sequer se coloca. Um jogador "vale" o que o mercado quiser pagar. 

Veja-se o absurdo da transferência de Gareth Bale, um jogador que ainda nem querer deu provas como já tinham dado Ronaldo, Figo ou Zidane aquando das suas transferências milionárias.


A serem verdade as notícias, com a venda de Sálvio por 30 milhões, números redondos, a de Cardozo por 15 e a de Garay por 10 (por metade do passe), entrariam 55 milhões de euros na tesouraria, mais 5 do que se diz ser necessário.

Nesta medida, não seria "necessário" vender Matic.

Como diz o seu empresário, interessados existem... pudera. Trata-se de um enorme jogador. Quem não gostaria de ter Matic (e tantos outros jogadores do Benfica)? Quase nenhum clube europeu desperdiçaria a oportunidade de ter os mais talentosos jogadores do Benfica no seu plantel. É tudo uma questão de dinheiro. Nesta medida, em relação a Matic a direcção do Benfica deve ter uma e apenas uma postura: o jogador só sai pela cláusula de rescisão.

Cardozo poderá ser substituível (o tempo o dirá), Garay é um grande jogador mas creio que o Benfica ultrapassará bem a sua falta, Sálvio é um extremo de enorme qualidade, um jogador de topo mas, pelo menos para consumo interno, o Benfica conseguirá substituí-lo com os jogadores que tem no plantel. Já Matic é um jogador que não tem substituto. A sua saída obrigaria à contratação de dois jogadores. É a meu ver o único inegociável do Benfica.

PS1 - já depois de publicado este post vejo que o Porto ofereceu 1,2 milhões a Jackson Martinez para este renovar por aquele clube, aumentando a cláusula de rescisão de 40 para 60 milhões. O Porto percebe que o jogador é insubstituível e pretende não apenas colocar-se a salvo da saída do jogador por 40 milhões (que acham pouco para a sua valia) como simultaneamente dar um prémio ao jogador para que este não fique tão frustrado por não poder sair e melhorar as suas condições financeiras. Considero esta gestão do caso correcta.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

A esperança para a próxima época

Já tenho neste espaço dito que a coisa mais engraçada das previsões é que muitas das vezes elas saem completamente furadas.

Olhando para as pré-épocas do Benfica e do Porto até à passada semana, poderíamos apontar para um passeio do Porto no campeonato. O Benfica, fragilizado pelo final de época passada, pela contestação a Jorge Jesus (e a Vieira), pelas muitas dúvidas referentes à forma como estão a ser geridas as contratações e vendas, a instabilidade do plantel (possíveis saídas de Sálvio e Matic, peças centrais da nossa dinâmica de jogo), o não mostrar muito nos jogos de preparação, antes pelo contrário; todos estes factores geraram alguma insegurança e descrença de muitos benfiquistas em relação à próxima época.

Já o Porto parecia uma máquina imparável, ao vencer com facilidade os jogos na América do Sul e mostrar a habitual solidez, com as contratações e regressos a parecem apostas seguras e mantendo (apesar da saída de Moutinho) bastante consistência.

Claro que a pré-época não conta para a pontuação no campeonato ou o percurso ao longo da época nas outras competições mas os sinais evidenciados eram no sentido que acabei de referir.

No entanto os últimos jogos deixaram a meu ver alguns sinais positivos para as aspirações do nosso clube.

No tocante ao nosso principal adversário, aquilo que o jogo com o Celta de Vigo mostrou é que as alterações tácticas pretendidas por Paulo Fonseca estão longe de garantir que o Porto venha a ser mais (ou sequer tão) forte do que o ano passado.

É preciso ver que Vitor Pereira, que muitos benfiquistas não se cansam de dizer que é uma nulidade, soube, goste-se ou não, manter uma grande consistência na equipa e sobreviver às perdas de Falcão e Hulk. Com certeza que com muitos favores arbitrais, isso não está em causa. Mas ainda assim, a realidade é que em dois jogos com o Benfica na época passada, sem casos de arbitragem dignos de registo, não perdeu nenhum. Como aliás não perdeu nenhum na época anterior (para o campeonato), tendo vencido um deles com um golo em claro fora de jogo. Sem esse golo é porém de admitir que o resultado fosse um empate, o que ainda assim lhe permitiria manter a invencibilidade nestes duelos tão importantes para a decisão do campeonato.

Para mim Vitor Pereira não é portanto o incompetente que tantas vezes se retrata. Pelo contrário, na minha perspectiva, foi um treinador realista que conseguiu obter um rendimento muito aceitável de uma equipa que em dois anos consecutivos perdeu a sua "principal referência atacante" como agora se gosta de dizer.

Pereira manteve um modelo que já se encontra bastante enraizado no Porto e que é talvez o modelo mais consistente (embora também mais "conservador", menos ousado e de alguma forma previsível) do futebol. O meio campo de 3 com Fernando Moutinho e Lucho entendeu-se sempre muito bem e fez jogar o resto da equipa. Com poucas soluções alternativas, chegou para a concorrência.

Ora é neste modelo tão implementado no Porto que Paulo Fonseca vem mexer. Sabe-se que o actual treinador do Porto é um admirador de Jorge Jesus e que gosta de dar uma dinâmica ofensiva às suas equipas.

No jogo contra o Celta viu-se (esta é a minha análise), um Porto a tentar conciliar o inconciliável: um modelo conservador de 4-3-3 com um modelo ousado e atacante que implica dois avançados. O resultado disto é o desmontar do triângulo (os 3) do meio campo, pois Lucho acaba por jogar no apoio ao ponta de lança demasiado longe dos outros dois jogadores. Para o compensar (e manter a consistência defensiva que é a marca do Porto desde há muitos anos), Fonseca coloca os dois médios que sobram no meio numa posição muito recuada; dois trincos para simplificar. Estes dois jogam lado a lado, o que nem sequer me parece o mais adequado às características de Fernando.

Em suma, Fonseca, ao querer implementar as suas ideias de jogo poderá contribuir para fragilizar o que por regra é o grande trunfo portistas: a sua solidez defensiva, alicerçada num meio campo que é muito dominador. Poderemos ter no Porto (oxalá assim seja) o pior de dois mundos - fragilidades defensivas resultantes da aplicação de um modelo sem escola no Porto e a habitual pouca produção ofensiva da equipa.

A saída de Jackson seria neste contexto pouco menos do que catastrófica para o Porto. Se Moutinho e James ainda poderão ser substituíveis (veremos, o futuro o dirá) já a saída de Jackson, o homem que resolveu quase todos os jogos do Porto, teria como consequência inevitável uma queda da qualidade ofensiva da equipa. Disso não tenho dúvidas.

Já quanto ao Benfica, as coisas mantêm-se, grosso modo, como no ano passado. Há mais soluções, há mais banco e existem novas opções que a versatilidade de Markovic, Djuricic e Sulejmani permitem. Há também - e esta é a grande esperança que nasce com o jogo de ontem - um novo espaço para Rodrigo se afirmar e voltar a mostrar as qualidades que evidenciou antes da sua lesão. Na esquerda mantêm-se as dúvidas (Cortez continua a ser uma incógnita), ao passo que a permanência de Matic cada vez mais me parece uma condição necessária para termos esperança numa época de sucesso. Pelo que vi ontem, talvez a saída de Cardozo possa ser colmatada com as novas nuances tácticas que os sérvios permitem - TALVEZ - mas para que a consistência continue a existir, Matic, o cimento desta equipa tem que ficar. Caso contrário voltaremos quase à estaca zero e mesmo as eventuais fragilidades que o Porto possa exibir não serão aproveitadas.