quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Na direcção certa

As propostas do Sporting para alterações estruturais no futebol português, a começar pela arbitragem, vão, por aquilo que conheço, na direcção certa. De acordo com notícia de hoje do "Record", o Benfica, através de representante presente em reunião em Alvalade, terá concordado com a grande maioria das mesmas.
Aquilo que se precisa no futebol português é de completa transparência nos vários processos e de regras claras, que limitem ao mínimo as arbitrariedades. O edifício da arbitragem está, como temos dito, inquinado pelo sistema dos observadores e o próprio modo como são feitas as nomeações (critérios ou falta deles). Tudo isso tem que ser alterado, de forma a que existam formas objectivas de avaliar as arbitragens e que consequentemente os árbitros não estejam completamente dependentes (no que respeita ao sucesso da sua carreira) do centro de poder futebolístico, que tem sempre e muito marcadamente uma cor clubística.
O Porto não deseja mudar o actual estado de coisas pois não lhe interessa um sistema transparente, no qual exista lisura de processos e regras claras e justas. Ao Porto interessará sempre o actual sistema opaco, lamacento mesmo, no qual possa mover influências de bastidores para daí retirar proveitos, não apenas ao nível da arbitragem mas também da disciplina. Não se pode portanto contar com ele, aliás esta reforma terá que ser feita com a sua oposição.
É porém muito positivo que Benfica e Sporting (para além de um conjunto vasto de clubes das ligas profissionais) se estejam a entender. É sinal de que se caminha para um sistema transparente, no qual se possa confiar e no qual ninguém se sente à partida em vantagem ou prejudicado. Era importante que as massas adeptas de ambos os clubes manifestassem o seu apoio a esta forma de agir, pois do respectivo sucesso depende, em última análise, a viabilidade do futebol português. 
Jogos "fabricados", como tantas vezes são os do Porto, são autênticas machadadas no prestígio de uma competição e tornam mais difícil vendê-la, quer a nível interno quer internacional. Ora o futebol depende hoje muito da sua capacidade de financiamento, sobretudo através dos direitos televisivos, a uma escala global. O campeonato português é visto em França, nos EUA, no Brasil e nalguns países da arábia/golfo pérsico (isto não contando com o jogo semanal transmitido pela RTP-I), mas poderia e deveria estar ainda em mais. Não digo que pudesse ter a difusão do inglês, mas capitalizando na dimensão global da Língua Portuguesa, poderia certamente ter uma maior projeção. O futebol português, mais ainda agora com a consagração de Ronaldo, é conhecido e apreciado, podendo ser mais visto.
Para tal precisa porém de mais gente nos estádios, melhores e mais sãos espectáculos, para o que é imperativo acabar com o actual sistema bafio e doentio dos pintos da costa e lourenços pintos.  
Uma vez mudadas as coisas, no sentido das leis e regulamentos por si mesmos esvaziarem (em larga medida) o poder ilegítimo dos bastidores do futebol, haverá necessariamente que fazer uma grande renovação ao nível dos quadros, sobretudo toda a gente ligada à arbitragem, desde o senhor Vítor Pereira aos observadores e passando naturalmente por grande parte dos árbitros. Muitos fizeram a sua carreira graças a padrinhos e influências, por estarem lá a fazer o jogo de alguns, projectados pela comunicação social a píncaros que nunca mereceram. Tudo isso tem que acabar.
Não tenhamos dúvidas de que a BenficaTV foi um passo essencial para tornar possível a mudança. O poder do futebol português assenta muito na Olivedesportos, como o próprio António Oliveira, irmão de Joaquim, já assumiu publicamente. Este blog, que a certa altura, no auge das arbitragens clubísticas, decidiu "auto-suspender-se" por estar cansado de tanta batota e da apatia do Benfica, regressou justamente na sequência da não venda dos direitos televisivos à Olivedesportos por considerar esta decisão crucial para mudar o panorama futebolístico em Portugal. Fico muito satisfeito por ver que Sporting se juntou a esta luta e que pode haver finalmente vontade "política" para mudar as coisas para melhor. 

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Tanto quanto sei, as propostas vieram no jornal oficial do Sporting. Foram na altura referidas na imprensa, mas não sei onde poderão ser agora consultadas na sua totalidade. Envolvem as seguintes áreas: 1. Necessidade de alteração ao regime jurídico do praticante desportivo e do contrato de formação desportiva;
      2. Necessidade de alteração ao regime relativo à reparação dos danos emergentes de acidentes de trabalho dos praticantes desportivos profissionais;
      3. Treinadores
      4. Empresários
      5. Fundos
      6. Arbitragem
      (tanto quanto sei, o Sporting propõe o recurso a meios tecnológicos, transparência e participação dos clubes no processo classificativo dos árbitros, sorteio dos árbitros mediantes condicionalismos regulamentares e consagração do Estatuto do Árbitro);
      7. Fiscalidade
      8. IVA
      9. Legalização das Apostas "On Line"
      10. Violência e Segurança Associadas ao Desporto
      Objectivo: promoção do espectáculo, segurança e bom senso;
      11. Policiamento
      12. Órgãos Jurisdicionais e Justiça Desportiva
      (Também no sentido do profissionalismo, transparência e equidade).

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