segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Era difícil fazer melhor

Não estava particularmente optimista para este jogo. O Benfica partiu para ele com problemas em todos os sectores: na defesa estava fragilizado pela lesão de Júlio César na jornada anterior ao derby, no meio campo há alguns jogos que o decréscimo de rendimento de Talisca tornara claro que nos faltava solidez no sector, no ataque a lesão de Gaitan e a atroz forma em que Sálvio se encontra desde o jogo de Paços tornavam-nos uma equipa com poucas soluções. Por outro lado, como aqui atempadamente referi, o Sporting é uma equipa muito à imagem do seu treinador, muito competente, muito objectiva e  muito determinada. Para além disso, a realidade é que neste momento tem mais soluções do que o Benfica, exceptuando a defesa. Basta dizer que o Sporting apresentou Nani e Carrillo nos corredores, tendo Capel no banco e ainda Mané que também pode jogar por ali. O Benfica que nos últimos anos teve um a abundância enorme de extremos teve que jogar em Alvalade com Ola John que sinceramente me parece muito fraquinho e sem nenhuma solução alternativa no banco. Acabou por entrar Talisca que mostrou que pode jogar por ali mas claramente não é um extremo. Aliás o banco do Benfica para além do baiano tinha apenas Derley em termos de opções ofensivas (Gonçalo Guedes é um jovem da formação que tem qualidade mas que ainda não é para estas andanças), o que é muito pouco.
 
Face a isto, Jorge Jesus, que este ano está a esticar a equipa até onde é possível, adoptou a estratégia mais adequada às realidades. O jogo foi muito fraquinho, é verdade, mas não é possível fazer muito mais. A realidade é que do outro lado estava uma equipa com mais soluções no meio campo e também no ataque, sobretudo nos flancos. Isto claro, contando apenas com os que podiam jogar. Se Gaitan estivesse em condições, a história seria outra. Mas não podendo contar com o mágico argentino, entregar as tarefas de ataque a um insipiente Ola John e um desinspirado Sálvio, que insiste no individualismo, não dava muitas garantias. Jesus privilegiou assim a segurança defensiva e colocou - muito bem a meu ver - André Almeida ao meio, no lugar de Talisca, recuando Jonas para fazer a ligação entre o meio campo e o ataque. Jogar com Talisca e Samaris contra o meio campo de 3 do Sporting seria a meu ver suicida. Já na véspera do jogo eu comentava com um amigo que estava quase seguro de que André Almeida seria titular. Jogou bem e limitou imenso o jogo do Sporting. Maxi foi gigante (como é hábito, fazendo calar aqueles que insistem em criticar um dos melhores profissionais que jamais envergou a camisola do Benfica) e Eliseu não comprometeu, como eu estava seguro de que não faria. O lance em Paços foi um acidente que acontece a qualquer um.
 
O jogo parecia encaminhar-se para o empate a zero com um Benfica pouco perigoso no ataque e o Sporting também a não conseguir estabelecer períodos de pressão contínua nem conseguir criar oportunidades flagrantes. Diga-se aliás que o árbitro anulou uma das jogadas mais perigosas do jogo, um lance em que Jonas tinha a bola dominada dentro da área do Sporting, sem que ninguém tenha percebido porquê e sem que a realização tivesse dado uma única repetição do lance. Aliás para arrumar já este assunto, sublinho que Jorge Sousa, como aliás já é habitual, fez um jogo com poucos erros técnicos (aí pode-se dizer que esteve relativamente bem, ficando porém essa grande dúvida no lance de Jonas) mas com um critério disciplinar no mínimo discutível. Realmente os amarelos dados a Eliseu e Maxi são completamente injustificados, ao passo que Adrien (como também já é hábito) escapou ao cartão apesar das fortes pancadas que deu.

O empate que parecia inevitável foi desfeito aos 87 minutos, num lance que resulta de um ressalto primeiro e de uma recarga depois de uma boa defesa de Artur. A célebre frase feita de que quem joga para o empate acaba por perder parecia ir-se confirmar. O Benfica apelou porém às suas últimas forças e conseguiu na determinação e na raça aquilo que não conseguira na qualidade técnica. Num estádio em delírio perante a possibilidade de vencer o Benfica muitos anos depois, contra uma equipa altamente moralizada por uma sequência grande de vitórias para o campeonato, a crença e o esforço dos nossos jogadores depois de sofrer um golo já nos últimos minutos  para irem "buscar" o empate é algo que merece ser relevado.
 
Foi o possível com as limitações que temos nesta altura face às diversas lesões e momento menos bom de forma de alguns jogadores. O que a equipa mostrou em termos de querer deixa-me antever um desfecho positivo para este campeonato. É importante referir que este era o ano em que o Porto ia cilindrar e em que até o Sporting nos ia ultrapassar. Com lesões de Rúben, Sálvio primeiro, Gaitan e Júlio César agora (além da situação de Fedja), a saída de Enzo em dezembro, não sei como seria possível fazer muito melhor. Recorde-se da época passada para esta saíram "apenas" Rodrigo, Cardozo, Markovic, André Gomes, Garay, Siqueira e Oblak. Estamos 4 pontos à frente do segundo e se conseguirmos restabelecer a confiança que se perdeu um pouco em Paços e recuperar os lesionados, dificilmente perderemos o campeonato.
 
Uma palavra final para Artur. O que lhe fizeram é indecente. Valeu tudo para tentar desestabilizar o nosso guarda-redes. Mais uma campanha infame, a juntar às novelas da renovação de Jorge Jesus, da de Maxi, etc, etc. Tudo tem valido para atacar o Benfica. Mas Artur ontem mostrou a sua classe e a sua personalidade e saiu, como ele disse, com a cabeça erguida. Artur que, recorde-se, defendeu um penalty no jogo de abertura do campeonato na Luz, permitindo que viéssemos a vencer esse jogo por 2-0. Ontem fez um par de excelentes defesas. Foi bonito ver os colegas abraçados. Estes são os valores do Benfica e se formos fiéis a eles estaremos sempre mais perto de vencer. O Benfica é indiscutivelmente não apenas o maior. O Benfica é o melhor clube de Portugal. Ontem, apesar de não termos vencido o jogo como desejávamos e como venceremos certamente em muitas outras ocasiões, mostrámos mais uma vez que somos melhores em pequenas coisas que significam muito.

1 comentário:

  1. Para além da pressão indecente sobre o Artur muitos quiseram passar a ideia que quem estava obrigado a ganhar é quem segue na frente com vários pontos de vantagem. Mas como se vê agora ainda melhor, quem tinha a obrigação de ganhar era o Sporting mas que apesar do que alguns dizem teve mais medo de perder e não destapou a manta e por isso não criou grande perigo.

    O Sporting se ainda tem alguma esperança de ganhar o campeonato ou de ficar em segundo tem agora de ir tirar pontos no dragão. Senão ficam nesse momento se calhar a lutar para não cair para 4º...

    Já o Benfica que agora tem 4 e 7 pontos de vantagem (que neste momento são 5 e 8 devido à vantagem nos confrontos directos) só precisa de continuar a ser pragmático quando não consegue ser brilhante. E até agora o pior plantel dos 3 grandes (segundo alguns mas n é a minha ideia) está a fazer uma campeonato brilhante. E para isso muito conta o excelente balneário.

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