segunda-feira, 29 de maio de 2017

O Benfica voltou

A quebra de um ciclo negro

Agora sim, podemos considerar que o Benfica voltou a vencer de forma consistente e continuada. Foi esse o seu timbre durante largas décadas, mas infelizmente um período de desacerto irresponsável e criminoso na gestão levou a que estivéssemos 7 anos sem ganhar nada e 11 anos sem um campeonato. O jejum de títulos foi quebrado na época 2003/04 com a conquista da Taça de Portugal por Camacho (contra o Porto de Mourinho) e logo no ano seguinte chegaria o título de campeão. Esse título fica ligado a meu ver a três nomes; obviamente ao treinador, a velha raposa Trapattoni, ao nosso melhor jogador da altura, Simão, que fez uma época brutal, e a Luisão pelo golo decisivo marcado ao Sporting na penúltima jornada do campeonato.
No entanto esse título não teve continuidade. Depois de termos vencido a Supertaça no ano seguinte, enfrentámos nova seca de títulos e permitimos um novo "tetra" ao Porto.
Depois chegou Jorge Jesus e vencemos o campeonato com grande autoridade, impondo uma série de goleadas ao longo da época. Tínhamos uma grande equipa. Mas novamente não soubemos edificar sobre essa vitória e os três anos seguintes seriam de constantes desilusões, tendo-se permitido novo "tri" ao Porto. As taças da Liga atenuaram um pouco o sofrimento, mas só isso.
Finalmente com a presente conquista de 4 campeonatos podemos dizer que o ciclo negro está quebrado. O Benfica soube construir sobre as vitórias, conseguindo uma sucessão de títulos: 11 nos últimos 4 anos. Mas isto não acabou. Pelo contrário, no futebol cada ano é como se começasse do zero, pelo que o que se espera é que o ciclo virtuoso se prolongue. E as condições para tal existem.

Uma dupla dobradinha

Ao vencer a Taça o Benfica conseguiu a almejada dobradinha. A anterior aconteça há 3 anos, mas antes disso tínhamos que recuar até à época 86/87 para encontrar uma dupla vitória benfiquistas nas principais competições nacionais. De destacar também que em 2013/2014 conquistámos campeonato, taça e taça da Liga, vindo no ano seguinte a juntar-lhes ainda a supertaça. 
A dobradinha deste ano tem entretanto um significado adicional: é que ao conquistar o 36º título nacional, o Benfica dobra os campeonatos do Sporting (18). É isto - e só isto - que explica a razão pela qual o presidente do Sporting se lembrou este ano de querer juntar os campeonatos de Portugal à contabilidade dos campeonatos nacionais. Recorde-se que esta competição era disputada no sistema de eliminação, pelo que foi assimilada à Taça. Não há qualquer razão aparente para o desejo do presidente do Sporting. O que ficaria o Sporting a ganhar atendendo a que venceu esta competição (disputada nos anos 20 e 30 do século passado) o mesmo número de vezes que Porto e apenas mais uma do que o Benfica? Aparentemente nada. No entanto se esses títulos fossem contabilizados como campeonatos o Benfica já não dobraria, como agora fez, o número de campeonatos do Sporting.

Reforço do estatuto de clube com mais títulos

O Benfica é o clube com mais campeonatos e mais taças, num total de 62. Porto (43) e Sporting (34) estão a uma grande distância. No entanto, na contabilidade total o Porto está bem mais perto, tendo inclusivamente a dada altura chegado a ultrapassar o nosso clube, algo que só nos últimos anos conseguimos reverter. Há uma causa principal para isto: o Porto tem um número astronómico de supertaças - 20, contra apenas 6 do Benfica. Também em termos europeus o Porto tem mais títulos: 7 contra 2 do Benfica (a Taça Latina vencida pelo nosso clube continua a não ser contabilizada por alegadamente não ser uma prova oficial).
Assim o total de títulos (que em agosto de 2013 nos dava uma destantagem para o Porto 69-74) indica neste momento 80 para o Benfica contra 74 para o Porto. 



quarta-feira, 24 de maio de 2017

A ilusão do video-árbitro

A FIFA cedeu à pressão das tecnologias e permitiu a introdução do vídeo-árbitro no futebol profissional.


Benfica e Guimarães serão no domingo as cobaias nacionais para este exercício que alguns iluminados acham que será a salvação do futebol, mas sobre o qual tenho as maiores reservas.


A primeira experiência ocorreu, recorde-se no mundial de clubes e a trapalhada foi completa: o jogo a ser interrompido para "voltar" a uma situação que ocorrera minutos antes, ninguém sem saber muito bem o que fazer, os jogadores a manifestarem veementes protestos. Dir-se-á que com a prática as coisas melhorarão mas eu estou convencido de que algo mudará no futebol para pior e vou explicar as razões para tal.

Um dos argumentos normalmente apresentados em favor do vídeo-árbitro é a sua utilização no râguebi e no futebol americano. Se estes desportos o usam e com "sucesso", então o futebol está a ser retrógrado em não introduzir a análise das imagens para avaliar os lances.

Mas será que a comparação faz sentido? A meu ver não. O futebol americano é um desporto completamente desinteressante para a maioria dos europeus pelo facto de estar sempre parado. Joga-se alguns segundos, há uma placagem ou um passe perdido e o jogo é interrompido para novamente organizar as linhas. Cada jogo demora horas. O râguebi, sendo um jogo mais movimentado, não é no entanto comparável ao futebol na velocidade do jogo. Existem formações espontâneas e formações ordenadas (incluindo os lançamentos laterais) nas quais a bola está parada durante largos segundos e a velocidade média dos jogadores não se compara ao futebol. Para perceber a diferença de dinâmica dos dois jogos basta pensar que para 15 jogadores de râguebi existem apenas 10+1 no futebol. Ao que acresce que o campo de futebol é maior. No râguebi a progressão é feita através de jogadores que correm com a bola (e só a podem passar para trás), ao passo que no futebol a bola pode ser passada rapidamente para a frente e a longas distâncias. 

Consequentemente o futebol é um jogo muito mais rápido do que o râguebi, a que acresce que tem uma maior percentagem de jogo jogado (eliminando os tempos mortos). Enquanto no râguebi o jogo jogado é em média cerca de 45%, no futebol este valor sobe para quase 60% (números médios nos jogos internacionais). Isto para já nem falar do futebol americano. Aí o tempo de jogo diminui para uns míseros 11 minutos... Ao longo de um jogo que se prolonga por 4 horas... Isto pode ser um sucesso para os patrocinadores que têm tempo televisivo quase inesgotável mas dificilmente o será para os espectadores.

As consequências são as seguintes: se no râguebi, um jogo já de si lento, o impacto da paragem para revisão dos lances pelo vídeo-árbitro pode ser relativamente diluído, no futebol esse impacto será muito maior, representando uma quebra importante no ritmo de jogo. Às paragens de jogo para assistência aos jogadores (paragens que desagradam muito aos espectadores) acrescentar-se-ão  timeouts arbitrais. A fluidez e o ritmo de jogo serão fortemente afectados. O impacto negativo para o jogo enquanto tal poderá ser brutal.


Acresce que o vídeo-árbitro, ao contrário do que pensam os seus grandes partidário, não resolverá os problemas da arbitragem e não eliminará as polémicas. 


Por todas estas razões tenho as maiores dúvidas de que este sistema venha a melhorar o futebol. Pelo contrário. A não ser que sejam introduzidas regras muito claras e que o recurso ao sistema seja apenas excepcional, para corrigir ou impedir erros flagrantes, há um risco grande do vídeo-árbitro vir a estragar o futebol tal como o conhecemos e apreciamos.

Concentração

Nos últimos dias foram múltiplas as notícias negativas contra o Benfica. Afinal, há que dar um pouco de ânimo aos nossos adversários: um deles acabou de despedir o treinador que supostamente ia trazer de volta o "somos Porto", o outro tem um treinador pago a peso de ouro que já só se quer ir embora mas o seu presidente não o deixa. Ambos investiram fortemente nos plantéis para não ganhar nenhum título. Ambos andaram a reclamar que o Benfica era ajudado pelos árbitros e no fim do campeonato nem mesmo ajudados eles pelos árbitros foram capazes de fazer coisa alguma.

Dá-se assim a coisa espantosa de que antes ainda da época acabar já temos os nossos adversários a prometer que vão ser campeões... Foi o caso de Layun e de Piccini... 

Entre as estórias negativas mais reportadas destacam-se o castigo de Samaris e a recomendação de um inquérito a Rui Vitória. Adenda: Isto para já nem falar sobre a alegada investigação da "Sábado" aos negócios de Luis Filipe Vieira e os rumores das saídas de quase todos os jogadores do plantel mais o treinador.


Relativamente ao castigo, é evidente que Samaris agride o adversário mas 4 jogos é manifestamente exagerado. Em momento nenhum o grego colocou em causa a integridade física do seu adversário. Não estamos propriamente a falar de uma mão puxada atrás para magoar o adversário, de um murro dado pelas costas ou de uma cabeçada para magoar. Que eu saiba o adversário não ficou propriamente lesionado com a acção de Samaris, aliás mal esboçou uma reacção. Perigosa sim foi a cotovelada de Slimani na época anterior, dada na nuca do mesmo Samaris e à traição. Para esta acção de Samaris "valer" uma suspensão de 4 jogos, essa agressão deveria ter valido 8.


Mas nada disto espanta. Esperava-se que com toda a histeria dos dirigentes e comentadores dos clubes aliados sporto, e a complacência ou apoio de muitos media, algo deste género pudesse acontecer. Afinal de contas o Benfica já andava a ganhar "demais", sendo importante impor-lhe uma derrota. Ficaram assim os adeptos do sporto com o seu "tetra"- 4 jogos de castigo para Samaris. Eles têm sempre um ódio de estimação. Durante muitos anos foi Maxi (que agora passou a ser um menino de coro e uma vítima...), Luisão (que continua a ser) e agora é também Samaris.

O importante porém para o Benfica é a concentração para a final da Taça de Portugal. É muito importante conquistar este troféu, não apenas porque se trata de uma competição central da história do futebol português mas também para consolidar o presente ciclo de vitórias. E é certo que não será um jogo fácil. O Guimarães certamente que terá tirado ilações da goleada sofrida na Luz duas semanas antes e apresentará seguramente um plano de jogo destinado a frustrar as nossas intenções atacantes.

Por tudo isto será importante o Benfica estar focado exclusivamente no jogo de domingo e ser capaz de entrar em campo com uma grande atitude e mentalidade para conquistar mais um troféu. É importante dar continuidade e consistência a este ciclo de vitórias.

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Quatro vezes Benfica

O desejado Tetra chegou, com mérito e justiça.
É verdade que o Benfica não foi tão dominador ao longo da época como aconteceu no passado recente mas acabou em beleza com a demolição do Vitória de Guimarães num sábado de festa como nem os mais optimistas antecipariam. Foi realmente uma exibição de luxo aquela com que o Benfica se despediu da Luz na época 2016/2017.

Tudo parece agora mais ou menos normal e até quase previsível. Mas quem imaginaria há 4 anos atrás que hoje íamos estar nesta posição?

Dia 11 de maio de 2013 o Benfica entrou em campo no estádio do dragão como líder e com a possibilidade de se sagrar campeão nessa jornada. Aos 92 minutos sofreu um golo estranho que, a uma jornada do fim, o retirou da liderança que mantivera ao longo de todo o campeonato. O Porto seria tricampeão na jornada seguinte. Depois veio a derrota na final da Liga Europa novamente aos 92 minutos e seguidamente a derrota na Taça de Portugal, contra o Vitória de Guimarães já perto do final do jogo. As três derrotas foram por 2-1. Foi uma época de pesadelo. Quem imaginaria que a partir daí se iniciaria um ciclo de vitórias como o actual?

Na época 2013/2014 o Benfica voltou a entrar com o pé esquerdo. Tudo parecia perdido, ou a caminho disso. No entanto as coisas começaram a encarrilar e acabaríamos mesmo por ser campeões em 2014. O momento decisivo, o toque a reunir, foi paradoxalmente o desaparecimento do King. Jogando menos de uma semana depois na Luz contra o Porto o Benfica venceu categoricamente o Porto por 2-0 com golos de Rodrigo e Garay. Um mês depois, novamente na Luz, venceríamos de forma igualmente clara e inequívoca o Sporting pelo mesmo resultado, desta vez com golos de Enzo Perez e Gaitan. O campeonato chegaria logo em abril, a tempo de dar algum espaço para a preparação da eliminatória da meia-final da Liga Europa com a Juventus. Apesar de a ter vencido, o Benfica chegou muito debilitado à final por decisões arbitrais prejudiciais (por exemplo as expulsões de Enzo e Markovic (este no banco por suposto envolvimento numa confusão provocada pelos jogadores da Juve). Com três penalties por assinalar a seu favor, o Benfica acabaria derrotado no desempate por grandes penalidades. Mas a época não acabaria sem mais um troféu, desta vez a Taça de Portugal.

Em 2014/15 o Benfica não entrava como favorito. Muitos jogadores haviam saído e o Porto, agora dirigido por Lopetegui, pelo contrário reforçara-se gastando muitos milhões. Foi uma época bastante sofrida, na qual o Benfica foi pragmático. A diferença foi feita por Jonas, na altura quase um desconhecido. Chegado a custo zero depois de dispensado pelo Valência onde não tinha grandes oportunidades, Jonas entrou na equipa apenas em setembro, depois do fecho do período normal de contratações (por ser um jogador sem contrato). Na recta final, o Benfica recebia o Porto na confortável posição de poder jogar para dois resultados. O Porto pelo contrário estava obrigado a ganhar para passar para a frente. O resultado foi um empate num jogo com pouco brilho. O título chegou precisamente há um ano, dia 17 de maio de 2015, quando empatámos em Guimarães e o Porto empatou no Restelo.

Depois veio a bomba da ida de Jorge Jesus para o Sporting e da ida de Maxi Pereira para o Porto. A época começava com incerteza e perdemos logo a Supertaça para os rivais em agosto. Depois veio a derrota na Luz para o campeonato em outubro. Humilhação, escrevi aqui. Nessa altura estava convencido, como muitos, de que Rui Vitória não era treinador para o Benfica. No entanto haviam alguns sinais positivos a que também aludi, antes mesmo desse derby desastroso, no sentido de que a equipa estava a melhorar: Nélson Semedo espantava a todos e Gonçalo Guedes começava a aparecer, ao passo que Jonas e Gaitan continuavam a demonstrar a sua classe. Mas voltámos a perder pontos e em novembro, já a 8 do Sporting no campeonato, voltávamos a perder, desta vez em Alvalade e para a Taça. Um jogo esquisito, que começámos a ganhar e acabámos por perder, com lances de arbitragem "complicados", resultando em lesões dos nossos jogadores, graves no caso de Luisão que partiu um braço. Mas ainda em dezembro as coisas começariam a melhorar com Sporting e Porto a começarem a perder pontos e o Benfica a voltar em encarrilar. O Sporting atacava-nos a toda a hora e momento, desde o seu presidente ao treinador, passando por otávios e inácios, e nós concentravamo-nos em nós próprios e no nosso trabalho. Em janeiro entrou Renato na equipa. Começámos a golear os nossos adversários e a fazer exibições de gala. Em fevereiro o Benfica perde com o Porto na Luz num jogo que deveria ter ganho - e teve oportunidades mais do que suficientes para tal. Mas a 5 de março vencemos em Alvalade e atingimos o 1º lugar para de lá mais não sair. Até ao fim do campeonato vencemos todos os jogos. Foi uma época inesquecível.

E depois chegou este ano. Novamente saíram jogadores importantes, como Gaitan, Renato Sanches e Gonçalo Guedes. O Sporting fez o maior investimento de sempre, contratando na Alemanha um jogador como Bas Dost (entre muitíssimos outros, vários "recambiados" logo em janeiro) e o Porto voltou também a investir muito, contratando Layun (estava emprestado), Alex Teles, Filipe e Soares (este em janeiro), para além de ter recebido Diogo Jota em empréstimo do Atlético de Madrid.
O Benfica esteve praticamente a época inteira na liderança, tendo apenas fraquejado um pouco na dobragem da primeira para a segunda volta, altura em que o Porto contratou Soares e teve por sua vez um impulso positivo.

O título é justíssimo e marca um inédito Tetra. Fica a faltar a disputa da final da Taça (para além do jogo "a feijões" com o Boavista) e a possibilidade de mais um importante troféu nacional. Isto para já, porque para o ano a ambição será seguramente a mesma, acrescida pela possibilidade de conquistar um ainda mais histórico Penta.



terça-feira, 2 de maio de 2017

Alerta máximo

Depois de uma exibição consistente em Alvalade, onde apesar do início desastroso o Benfica conseguiu um resultado menos mau, denotando maturidade; e do quase inacreditável empate do Porto em casa com o Feirense que nos permitiu manter a distância segura de 3 pontos; esperava-se que o Benfica pudesse fazer uma exibição convincente com o Estoril e se possível superar a diferença de golos relativamente ao Porto.

Infelizmente porém, o Benfica fez uma exibição surpreendentemente tremida, mostrando pouca consistência a defender, um meio campo muito pouco dominador e um ataque lento e perdulário. Valeu Jonas...

O Benfica teve já neste campeonato algumas hipóteses de dar o "cheque-mate" ao Porto e assegurar o Tetra. Uma delas foi no jogo em casa com o Boavista no fim da primeira volta. Nesse jogo estranho, no qual o Boavista marcou três golos irregulares (um em fora de jogo claro, outro em falta sobre André Almeida e outra resultando da cobrança de um livre que não existiu) em 20 minutos, nas únicas ocasiões nas quais o adversário se acercou da nossa baliza, ganhando o Benfica teria praticamente sentenciado o campeonato. Pelo contrário, depois desse empate desbaratámos a nossa vantagem, chegando a ter estado em posição de poder perder a liderança. Depois houve o jogo em casa com o Porto, no qual a vitória também teria praticamente arredado o nosso adversário da luta. Estivemos em vantagem, estávamos "por cima" no jogo, mas permitimos que o adversário entrasse na segunda parte a dominar e conseguisse o golo do empate.
Felizmente, nas outras "escorregadelas" como Paços ou Alvalade, o Porto também não se resistiu à pressão e acabou por claudicar em jogos que tinha todas as condições para - e mesmo a obrigação de  - ganhar. 

As circunstâncias são porém agora diferentes e não podemos mais contar com benesses alheias. O jogo do Porto em Chaves mostrou um adversário muito timorato que não criou as dificuldades que o Estoril nos criou (ou que o Feirense e o Setúbal criaram ao Porto noutra fase da prova). Se o Porto ganhar na Madeira (acredito que o Marítimo não facilitará mas isso não garante que possa "roubar" pontos ao Porto) o Benfica entrará em Vila do Conde sob forte pressão. É por isso bom que a equipa esteja preparada para esse cenário e que não exiba a tremideira que se viu nos dois jogos contra o Estoril (aflitivos mesmo na nossa incapacidade de controlar a posse de bola e o jogo). Não há razões para tal: o Benfica tem provavelmente a melhor equipa do campeonato e está numa posição privilegiada para ser campeão.

Também me parece no entanto que o mau jogo com o Estoril tem algumas causas, as quais podem ser de algum modo combatidas. Há, como já referi, um subrendimento do nosso meio campo: Pizzi quase não faz faltas para evitar o 5º amarelo, com isso perdendo capacidade de controlar os adversários, Fedja está a meu ver num mau momento de forma errando muitos passes e perdendo bolas nada normais nele e Sálvio, apesar de toda a sua classe, é neste momento quase um jogador a menos. É verdade que surge por vezes em zonas de finalização e nalgumas das jogadas mais perigosas da equipa, mas a quantidade de bolas que perde é aflitiva, criando instabilidade na equipa. Penso que já devia ter ido para o banco. Não tendo acontecido, ouviram-se na Luz fortes assobios que o argentino não merece mas que se compreendem pela insistência de Rui Vitória no jogador. Ainda por cima existem muitas alternativas, desde logo o "motorzinho" Zivkovic e o supersónico Rafa. Carrilho voltou a entrar mal no jogo e a mostrar que não deveria ser a primeira opção a partir do banco. Falta-lhe arranque, confiança e capacidade de enfrentar o um para um. Finalmente Jimenez mostra estar num momento de forma bem melhor do que Mitroglou. Digo isto não apenas pela falta de golos do grego (que tem sido muito importante ao longo da época) mas pela capacidade física do mexicano que muito pode contribuir para sermos uma equipa mais incómoda para os adversários, quer quando iniciam as suas jogadas ofensivas, quer quando são surpreendidos em contrapé.

Quanto ao resto, quanto às substituições defensivas de Rui Vitória (tirando um avançado para colocar Filipe Augusto), embora não me agradem e me pareça que convidam o adversário a atacar, a verdade é que têm dado resultado e quando assim é não há muito a dizer. Sobretudo numa fase tão delicada da época na qual já não há tempo nem para errar nem para mudar muita coisa. O Benfica deste ano é uma equipa resultadista, ao estilo Trappatoni. Ninguém se importará muito com isso - desde que no fim sejamos campeões. Para isso precisamos porém de jogar mais e melhor. Não podemos estar com o credo na boca nos três últimos jogos, sob pena de termos um final de época muito amargo. Não basta dizer que vamos ser humildes e encarar os jogos como finais e que nada está ganho. O Benfica precisa de jogar melhor, de mais confiança e de mais energia. E existem jogadores que têm estado no banco com capacidade de acrescentar nesses capítulos. Isto não é agoirar, é alertar para algo que, como penso que a maioria dos benfiquistas, é patente. Há que o perceber atempadamente pois, como referi, estamos na frente e temos todas as condições para ultrapassar a meta em primeiro. Não podemos é deixar tudo nas mãos da sorte ou até de uma decisão arbitral. Num momento elas podem-nos ser desfavoráveis e deitar tudo a perder. Em Vila do Conde é preciso que regresse o Benfica dominador que não dê hipóteses ao seu adversário.