Como todos saberão, o Benfica até 1979 não admitia estrangeiros no seu plantel.
É evidente que até 1974 Portugal não era só a "metrópole", incluindo as então colónias, sobretudo Angola e Moçambique, de onde vieram grandes jogadores. Destes destacam-se obviamente Eusébio, o melhor de sempre, assim como Coluna (ambos oriundos de Moçambique) e Jordão (Angola). Mas merece também uma referência Carlos Alhinho que jogou pelo Benfica entre 76 e 81 (depois de começar a carreira em Portugal na Académica e ter representado Sporting e Porto) e que era natural de Cabo Verde.
Os tempos são outros e compreende-se que, sobretudo depois da Lei Bosman (altamente negativa, a meu ver, para o futebol), o Benfica tenha que se adaptar à realidade futebolística europeia e contratar em mercados sul-americanos, onde existem muitos talentos a um custo ainda relativamente baixo. Este ano houve também uma aposta no mercado sérvio, que esperemos dê bons frutos.
O que já não se compreende é que os jogadores portugueses e os jogadores da formação praticamente tenham desaparecido do plantel.
Tudo deve ser feito com conta, peso e medida.
Estas reflexões vieram-me à mente a propósito de Bruma. Que grande jogador que ali está!
Já o ano passado mo pareceu e disse-o antes do jogo com o Sporting na Luz. Penso que não me enganei.
Bruma é do Sporting, que tem produzido inúmeros talentos nas últimas décadas, embora não os tenha sabido aproveitar.
Mas Miguel Rosa é do Benfica!
Será tão talentoso como o jovem sportinguista? Possivelmente não.
Mas tem outras características que deveríamos saber aproveitar: é raçudo, é determinado, é abnegado, é um jogador que sente a camisola, tem um potente remate.
Não deveria ele merecer uma oportunidade? Não deveria Jesus, à semelhança do que faz com jovens estrangeiros, algumas vezes contratados por avultadas somas, trabalhá-lo, melhorá-lo, fazê-lo crescer?
Parece-me evidente que sim!
Então porque não acontece isso? Começo a não ter respostas...
De igual modo, Miguel Vitor é um jogador que me custa ver deixar a Luz. Sempre que foi chamado, cumpriu! Isto, sem querer por uns contra os outros, é mais do que se pode dizer acerca de Jardel...
Miguel Vitor é português. É produto da formação. E saiu a custo zero.
Há opções que começo a não entender. Contra o Guimarães, na final da Taça, André Almeida fez de facto uma exibição miserável, a pior desde que está no Benfica. Desde o 1º minuto de jogo! Deixava sair as bolas junto à lateral, dominava-as deficientemente, não subia pelo seu flanco deixando Gaitan sem apoio. Porque não o tirou Jesus? Se não mais cedo, pelo menos ao intervalo? Porque o deixou em campo até ao momento fatídico daquele atraso que acabou por levar Artur a entregar a bola ao adversário, daí resultando o golo que mudou o jogo e levou a época ao descalabro final? Que ainda por cima teve como consequência a explosão de Cardozo que levará inevitavelmente à sua saída do Benfica (algo que poderá vir a ser altamente negativo)?
São coisas que não se percebem.
Miguel Vitor quase nunca comprometeu e apesar disso nunca foi opção. André Almeida fez uma excelente época mas num jogo em que estava claramente desinspirado o treinador não foi capaz de o substituir, com as consequências já descritas. Irá agora André ser ostracizado devido a essa insistência? Poderá o jogador ficar "marcado" pelo que se passou no Jamor. Espero que não, mas o risco existe.
Parece existir aqui algo de insistência em soluções que não são as melhores, de teimosia, que começa a prejudicar demasiado o clube.
É nesses momentos que o departamento de futebol tem que ter alguma capacidade de intervenção.
Neste momento, alguém teria que falar com o treinador e explicar que o Benfica precisa de ter jogadores portugueses, jogadores da formação, que não pode apostar exclusivamente em jovens estrangeiros, que há que dar oportunidades a quem as merece. Que, por outro lado, há que tomar as decisões sempre em defesa dos interesses do Benfica e não motivado por qualquer tipo de teimosia.
Por outro lado, há que parar de uma vez por todas com as constantes mexidas no departamento de formação. Entra Carraça, sai Carraça, entra Norton de Matos, sai Norton de Matos. Parece que estamos sempre a começar do zero. Para quando alguma continuidade na formação desde os escalões júniores à equipa sénior passando pela equipa B? Sem ela não poderá haver resultados.
Espero é que a vitória caia para cá, e que não desperdicem esta oportunidade de ouro!"