Ronaldo chegou a Manchester, marcou nos primeiros jogos e pensou-se que tudo seria um mar de rosas. A passagem pela Juventus teria sido um erro de casting: uma equipa em perda, que não era capaz de o acompanhar e um estilo de futebol demasiado defensivo que não servia o seu perfil. Já em Inglaterra, com uma equipa de qualidade e um futebol ofensivo, querido pelos adeptos, Ronaldo estaria feliz e o seu rendimento explodiria, com golos em barda.
Tudo isto faz sentido e havia portanto razões para acreditar que as coisas se poderiam passar assim.
Mas a realidade está a ser muito diferente.
Na minha cabeça, apesar de reconhecer aqueles argumentos e de querer que as coisas se passassem daquela forma, pois torço pelo sucesso dos portugueses e Ronaldo já nos deu muitas alegrias e motivos de orgulho, havia duas dúvidas.
1) como se relacionariam Ronaldo e Bruno Fernandes, atendendo a que Bruno era, até à chegada de Cristiano, o líder da equipa, "acima" até de Pogba, marcando quase todas as bolas paradas?
2) será que o futebol moderno ao mais alto nível é compatível com um avançado que praticamente não pressiona e pouco corre?
A resposta à primeira questão veio, a meu ver, com o falhanço de um penalti por parte de Bruno Fernandes. O jogador sentiu o peso da decisão, atirando a bola para as nuvens, possivelmente por ter Ronaldo nas suas costas. E não está a render.
Quanto à segunda, temo que o jogo com o Liverpool tenha dado um sinal de que, a este nível, Ronaldo começa a ser curto. Não pelo que faz dentro da grande área ou perto dela, obviamente, mas pelo que não faz no resto do jogo.
E há ainda uma outra questão, que não antecipei mas que se começa a tornar evidente - também Solskaer está pressionado: se não coloca Ronaldo em campo (ou se o substitui) expõe-se à irritação do jogador e, se depois não ganha, também às críticas da imprensa e dos adeptos. Mesmo que ache que Ronaldo não é o melhor para a equipa, Solskaer dificilmente não lhe dará a titularidade.
O problema é agravado pelo facto de Ronaldo ter um ego muito grande e tornar tudo numa questão pessoal. Ora o futebol não é um jogo individual mas sim colectivo. Todos os jogadores, mesmo os melhores dos melhores, necessitam de uma equipa, de um colectivo de homens todos a remar na mesma direcção. Se há um que se acha mais importante e acima dos outros, dificilmente poderá contar com o compromisso e empenho máximo dos restantes. A verdade é que Ronaldo tem atitudes e tiques de uma pessoa mimada, dificilmente explicáveis em alguém da sua idade. Não parece solidário com os companheiros quando as coisas não correm bem - como se a culpa fosse dos outros e não dele. É isso que transparece. E o United é uma equipa em cacos.
Neste jogo com o Liverpool, o United foi simplesmente arrasado, passado a ferro, cilindrado. E a diferença de um Ronaldo para um Salah ficou bem espelhada, o que seguramente deixou Cristiano para lá de frustrado, como aliás se viu naquele lance lamentável em que provavelmente deveria ter sido expulso.
Mas é uma simples questão biológica, que ninguém pode contornar. A idade pesa, sobretudo num desporto de exigência máxima, de intensidade enorme, de velocidade vertiginosa. Salah além do grande, enorme talento, está no seu auge físico. Ronaldo no Real Madrid teve épocas absolutamente incríveis - mas já lá vai uma década. Nos últimos anos de Real, Cristiano já se tinha especializado em finalizar e já não carregava a bola nem ultrapassava adversários como em 2010 e 2011. E na Juventus continuou a marcar muitos golos mas também pouco ou nada contribuia para o jogo colectivo da equipa.
Tudo isto é normal. Ronaldo faz 37 anos em pouco mais de 3 meses. Não pode correr como um jovem de 20, 21 ou mesmo 26 anos.
O que não é normal e não deveria acontecer é Ronaldo criar mau ambiente ou contribuir para queimar treinadores. É que, como assinala um jornalista inglês, nos últimos 3 anos Ronaldo "despediu" 3 treinadores: Alegri, Sarri e Pilro. Seria um péssimo sinal (e muito mau para o próprio Ronaldo) se um mês depois da sua chegada também Solskaer fosse demitido.