Pelo que tenho lido e ouvido, muitos benfiquistas estão em estado de negação e insistem em não ver a crise profunda em que o clube está envolvido.
A situação é gravíssima e não é a enterrar a cabeça na areia que as coisas se vão resolver.
Em primeiro lugar há que perceber que a imagem do Benfica já estava manchada antes da detenção de Luís Filipe Vieira. O clube viu o seu nome envolvido em múltiplos casos, alguns deles judiciais ainda por concluir e as suas instalações foram objecto de várias buscas policiais.
É verdade que muitos destes casos se têm revelado pouco consistentes. Mas há ainda processos em aberto e os danos reputacionais são já irreversíveis.
Isto afecta a marca, o seu valor, a capacidade de atrair parceiros, patrocínios e investimento e também jogadores e treinadores de renome internacional.
Mas o problema agravou-se imensamente com a detenção de Vieira e as notícias que têm vindo a público na última semana - e outras que continuarão a aparecer.
É necessário perceber que estamos perante um escândalo internacional, quer pelos ecos que tem tido na imprensa mundial quer por envolver já actores estrangeiros (investidores, bancos, empresas e offshores).
Os benfiquistas que pensam que ignorando o que se está a passar ou atacando juízes, procuradores ou media, tudo passa e será esquecido, não têm a mínima noção do mundo em que vivemos.
A partir deste momento, todas as operações do Benfica estarão sobre um escrutínio muito maior das autoridades, reguladores, empresas e bancos. Ninguém arriscará ser acusado no futuro de conivência com práticas menos claras, para já nem falar de condutas ilegais.
O crédito e as próprias transacções financeiras do Benfica (especialmente as internacionais) serão a partir de agora mais difíceis.
Insisto que não querer ver isto, fingir que nada está a acontecer ou enterrar a cabeça na areia, não apenas não resolve nada como só agravará o problema.
Nem se pense que fazer uma boa época no futebol (algo que é altamente improvável face à instabilidade vivida) resolverá seja o que for.
Aquilo que os sócios podem e devem fazer para ajudar o clube a sair desta situação é tomar decisões muito racionais sobre o futuro do Benfica.
Algo que infelizmente não têm demonstrado muita capacidade de fazer no passado recente. Por exemplo, ao eleger Vieira (a não ser que tenha existido fraude eleitoral), os sócios ignoraram sinais já demasiado evidentes de - no mínimo - má gestão e falta liderança e rumo. Escolheram mal, pessimamente. As consequências ficaram à vista com os resultados desportivos desastrosos da época passada e, como se não bastasse, Vieira é agora acusado de roubar o clube, além de múltiplas irregularidades e negócios em que actuava como se o Benfica fosse uma das suas empresas.
Para sair da situação negra em que se encontra, o Benfica precisa de uma equipa dirigente altamente profissional, competente e impecável do ponto de vista ético.
Os sócios precisam de ir um pouco mais longe na sua análise do próximo presidente do que meramente "eu gosto dele" ou "é um benfiquista de gema".
É por demais evidente que o presidente do BENFICA tem que ser benfiquista. Já basta o que tivemos que aturar nos últimos anos.
Mas isso não chega. Nem pouco mais ou menos. Nem ser simpático. Ou "conhecer o clube". Quem melhor o conhece andou aparentemente a roubá-lo, ou pelo menos a geri-lo de forma negligente e danosa nos últimos anos.
Ora o que tenho lido por muitos blogues e ouvido em entrevistas a adeptos é preocupante. "Gostam" de um, "não gostam" de outro, insultam potenciais candidatos, acusando-os sem qualquer base (e provavelmente de forma caluniosa) de estar a soldo de interesses obscuros. A acusação mais ligeira é a de que "querem ir ao pote" ou "têm sede de poder". Estes adeptos parecem achar que todos os dirigentes roubam mas que os que já lá estão têm mais direito a esse saque do que outros que queiram vir de fora.
Acima de tudo, não percebem minimamente o que está em causa e o tipo de perfil e qualidades que são necessários.
O nosso querido clube precisa de um líder com carisma, um currículo imaculado e capacidade de gestão que varra de uma vez por todas o amadorismo, o compadrio e a corrupção para fora do clube.
O Benfica está numa situação muito grave (não sabemos qual a real situação das contas, que pode ser muito pior do que as oficialmente divulgadas). A decisão dos sócios nas próximas eleições será por isso de tremenda importância. Pode significar a diferença entre esta crise durar um par de anos ou uma década. Há que a tomar de forma muito racional, esquecendo "dívidas de gratidão" que já deram no que está à vista.