terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Escândalo rouba noite histórica ao Benfica

 Foi um jogo absolutamente tremendo o que aconteceu ontem na Luz, dos melhores de sempre na Liga dos Campeões. Não vamos deixar que a derrota e a revolta contra a arbitragem (já lá vou) nos toldem a visão e nos impeçam de o reconhecer.

Também convém que os benfiquistas tenham a plena noção de com quem jogámos. Uma equipa recheada de estrelas mundiais que há pouco deu 5 (a 2...) ao Real Madrid, que só tem o Liverpool à frente e que acima de tudo joga muito.

O Benfica fez uma primeira parte de um nível superlativo, incrível mesmo. É verdade que tem a felicidade de marcar o segundo golo num lance caricato, mas esse foi o resultado da forma arriscada como o Barcelona joga tão subido e de saídas muito rápidas e executadas quase na perfeição pelos nossos jogadores com trocas de bola e desmarcações espectaculares. O discurso dos "erros" é aliás algo com que discordo. Vemos por vezes treinadores que perdem por três ou quatro "explicar" que o primeiro golo resultou de uma perda de bola, o segundo de uma bola parada e o terceiro de um mau posicionamento... Os jogos têm uma história e os golos são os momentos chave. Não resultam de meros erros acidentais. Se enveredarmos por esse discurso então o jogo perfeito é o que acaba 0-0 porque ninguém errou... 

O Benfica foi para o intervalo com uma vantagem justa, mas todos tínhamos a noção de que o jogo estava longe de estar ganho.

A segunda parte teve vários períodos. O Benfica entrou bem e teve o jogo controlado durante bastante tempo, mas um novo lance caricato em que a bola bate na cabeça de Raphinha dá alento ao Barcelona. Eis porém que o Benfica volta a marcar pouco depois, desta vez num autogolo de Araújo (mas uma boa jogada do Benfica) e nessa altura pareceu que a vitória já não nos escaparia. E de facto o Barcelona começava a dar sinais de já não acreditar muito. Aliás já os dava antes do seu segundo golo.

Eis quando o árbitro comete a meu ver um erro, assinalando o segundo penalti contra o Benfica. Sinceramente não sei se o árbitro marcou a suposta falta de Carreras ou um pretenso derrube de Otamendi (que evidentemente não existiu porque este cortou apenas a bola) pois deu cartão a Otamendi. Não sei se houve comunicação com o VAR mas se não houve deveria ter havido. Se o árbitro penaliza a intervenção de Otamendi o VAR deveria alertá-lo para que não há infração. Se assinala a mão de Carreras no ombro de Lamal parece-me um penalti muito "leve". Para mim não existe, mas até posso aceitar que não seja um erro claro e óbvio para o VAR intervir.

Seja como for, esse lance sim, dá vida ao Barcelona e a equipa acreditou de novo. As substituições no Benfica não resultaram bem, apesar de terem lógica e de os que saíram estarem visivelmente esgotados, em parte pela dificuldade em entrar num jogo desta intensidade e dimensão, em parte porque o Benfica entrou em perda à medida que o Barcelona crescia face às incidências referidas, nomeadamente o penalti. 

Aurnes e Di Maria podiam ter resolvido o jogo de vez mas em diferentes momentos falharam quando estavam isolados frente ao guarda redes e o Barcelona acabou mesmo por chegar ao empate. O jogo entrou então numa fase louca com ambas as equipas a quererem ganhar e a arriscar tudo (o Barcelona já há muito adoptara essa visão quase suicida). 

E chegamos finalmente ao lance que tudo decide. É um lance de penalti claro sobre Barreiro. O nosso jogador tem a bola em sua posse e um jogador que está atrás dele salta-lhe em cima, sem qualquer possibilidade de jogar a bola, projectando-o contra o guarda redes que ainda o soca na cabeça. Um penalti absolutamente indiscutível que não é marcado e que decide o jogo pois o lance (excelente) de Raphinha (já bem para lá do tempo de descontos dado pelo árbitro) seria obviamente anulado. Mais: antes ainda do lance do penalti indiscutível, há um outro na mesma jogada que não tive oportunidade de rever que também deu a ideia de penalti. A jogada continou até porque Barreiro depois ficou em posição de poder marcar mas também esse lance anterior deveria pelo menos ser repetido pela realização para se perceber o que realmente aconteceu. Seja como for, o de Barreiro não oferece dúvidas e na ausência de decisão do árbitro o VAR teria de o chamar ao monitor, como fez no primeiro dos dois penaltis de que o Barcelona beneficiou. 

Já vi comentários de adeptos internacionais, de outros clubes, e todos consideram a decisão absolutamente escandalosa. "Benfica roubado em frente ao mundo inteiro" ou "Engraçado como o Barcelona teve as decisões todas a seu favor", "Já percebi porque o Barcelona está falido a encher os bolsos dos árbitros desta forma" são apenas alguns dos comentários: 

https://x.com/footballontnt/status/1881823664062009807

Foi portanto uma arbitragem altamente incompetente no mínimo, mas que parece mais realista considerar tendenciosa, beneficiando de forma clara o Barcelona e lesando o Benfica. É um jogo em que podemos dizer que a arbitragem foi directamente responsável pela derrota do Benfica. Se venceríamos ou não é impossível dizer porque penalti não é sempre golo, mas que não teríamos perdido se a arbitragem tivesse sido isenta, isso é objectivo.

Dito isto foi um jogo extraordinário que fica para a história da Champions. Merecíamos evidentemente outro resultado mas temos de olhar para esta exibição como o patamar que o Benfica pode alcançar e usá-la para o que aí vem da época. A jogar assim ou lá perto o Benfica terá certamente mais títulos quando a época acabar. 

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Consistência

 Bruno Lage usou, segundo ouvi nos media, a palavra consistência para definir o que o Benfica necessita e eu não posso estar mais de acordo.

O Benfica fez grandes jogos desde a chegada de Lage, como com o Porto, o Atlético de Madrid e algumas goleadas e depois começou a praticar um futebol um pouco mole que teve no jogo com o Braga o ponto mais baixo da época. 

Claro que existem altos e baixos de forma ao longo de uma época, mas o abaixamento do Benfica (se é que foi realmente isso que se passou) aconteceu num mau momento porque significou uma derrota num derbi em que poderíamos ter colocado o Sporting 4 pontos atrás. Depois disso falhámos nova oportunidade para assumir a liderança com uma derrota inexplicável em casa com o Braga.

Entretanto vencemos para as taças e vimos alguns jogadores novamente em bom plano (Carreras, Florentino, Otamendi, Di Maria) e outros a aparecer bem na equipa (Barreiro, Schjelderup, Arthur Cabral). António Silva também voltou a somar minutos e em geral esteve bem apesar de um ou outro erro.

Em relação ao jogo com o Farense, vi um Benfica dominador que sofre um golo na primeira vez em que o adversário tem um canto (teve dois no jogo todo) e depois sente um pouco esse golo perante um oponente bastante fechado na defesa e sempre a perder tempo. Na segunda parte entrámos com determinação e demos rapidamente a volta não permitindo mais qualquer veleidade aos farenses. Vi entreajuda, bom pressing e boa ocupação dos espaços. 

As taças são competições relevantes mas naturalmente não têm a mesma importância de campeonato e Liga dos Campeões. Nessa medida temos de esperar pelos próximos jogos para perceber se a melhoria é real e, acima de tudo, se conseguimos manter um padrão elevado em todos os jogos (a tal consistência) ou se isto foram apenas fogachos. Tenho esperança de que a primeira hipótese se verifique e que as duas derrotas seguidas tenham sido apenas um acidente de percurso. 

Os jogadores do Benfica precisam de perceber de uma vez por todas que no futebol moderno há que dar tudo em cada jogo, passe o exagero. Há que manter uma intensidade elevadíssima porque se não tivermos, no mínimo dos mínimos, a mesma intensidade do que o adversário, vamos ter dissabores. A atitude competitiva tem de estar lá sempre. Veja-se o que aconteceu com o United há uns dias em Londres: reduzido a 10 homens e sofrendo um golo logo na jogada a seguir à expulsão, resistiu aos 90 minutos regulares e ainda ao prolongamento para ter o prémio nos penalties. Se os jogadores não tivessem dado tudo teriam perdido o jogo. Por isso a atitude é fundamental: os duelos, as disputas de bolas, etc. A atitude competitiva não é tudo mas sem ela nada é possível. 

Já destaquei um pouco os jogadores mas queria ainda dizer algo mais. Schjelderup surge na sequência do abaixamento gritante de forma de Akturkoglu, mas para mim tem sido uma enorme e muito agradável surpresa. Tanto na final da Taça da Liga como contra o Farense, os seus golos são de tremenda qualidade. A sua capacidade de agitar e levar a bola para a frente com velocidade e critério também devem ser destacados. Quanto a Cabral, o golo de ontem é excelente: boa leitura do lance, força e qualidade de finalização. Já tinha feito aqui e ali alguns golos pelo que creio que está na hora de lhe dar a titularidade de forma mais consistente, pelo menos até Pavlidis estar num outro momento de forma e confiança (esperemos que seja apenas isso). 

domingo, 12 de janeiro de 2025

Ganhar não é importante - é a única coisa

 Como escrevi aqui há um mês, o Benfica estava num momento delicado, em que alguns jogadores davam sinais de cansaço e o efeito psicológico da mudança de treinador se esgotava.

As coisas correram talvez pior do que eu esperava, com dois empates (Aves e Bolonha) e duas derrotas (Sporting e Braga). Foram resultados comprometedores que complicaram muito as nossas aspirações tanto no campeonato quanto na Liga dos Campeões. As boas notícias é que nada está perdido e, olhando agora para o presente, acabamos de vencer a única competição que foi já disputada. 

As derrotas com Sporting e Braga foram algo inexplicáveis pela forma como ocorreram. Em Alvalade, a equipa tinha obrigação de entrar muito forte no jogo e tentar ser dominadora de modo a não permitir a previsível reação do Sporting à mudança de treinador e a um período absolutamente desastroso após a saída de Amorim e à perda da liderança. Mas isso não aconteceu. O Sporting foi bastante superior na primeira parte e chegou ao intervalo a vencer. O Benfica reagiu na segunda, mas com pouca qualidade e pouco discernimento, não aproveitando situações de pura atrapalhação e quase pânico na defesa adversária.

Contra o Braga as coisas foram tão más que ficou a ideia de falta motivação e entrega e da existência de divisões no balneário.

Não sei se realmente é assim ou não, mas sei que Lage já enviou vários recados para alguns jogadores e claramente não está satisfeito com a postura de alguns. 

Em geral, este tipo de abordagem não costuma resultar. O caso mais recente é o de Paulo Fonseca no Milan. Mas o próprio treinador que o foi substituir fez várias criticas aos seus jogadores no ano passado (e afastou alguns do plantel principal) e acabou em terceiro lugar. O próprio Lage terá tido conflitos com jogadores na anterior passagem pelo Benfica e as coisas não acabaram bem. 

Ontem, após o Benfica vencer nos penaltis, Lage deu várias entrevistas em que pareceu reclamar os méritos para si próprio, centrando muito o discurso na sua figura. Não me parece a melhor forma de unir. O Benfica fez uma boa partida frente a um Braga vulgar e é um vencedor justo da competição, mas podia facilmente ter perdido ontem, bastava a infelicidade que coube a Trincão ter recaído sobre um dos nossos jogadores.

Espero que reveja a sua postura, que corrija os seus próprios erros, os quais têm sido evidentes, e que todos comecem a remar para o mesmo lado. Que a vitória sirva para marcar uma nova etapa na época: a qualificação ainda é possível na Liga dos Campeões e no campeonato nada está perdido. Precisamos porém de subir de rendimento e não ter estas intermitências. E entretanto reforçar o plantel, nomeadamente com um avançado que realmente garanta golos. Sem isso será difícil alcançar o sucesso nesta época. Tudo o que fique abaixo da vitória no campeonato dificilmente deixará de ser um fracasso numa época em que os rivais estão tão fracos. 

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Momento perigoso

 O Benfica voltou a ter dificuldades e a desperdiçar pontos em casa na Liga dos Campeões. Neste momento temos 4 pontos em casa e 6 fora, com o mesmo número de jogos disputados em ambas as situações (3).

Não creio que nos possamos queixar do sorteio porque falhámos nos jogos em que éramos favoritos e deveríamos ter vencido, ao passo que vencemos dois dos mais difíceis. Claro que este formato cria disparidades demasiado grandes: olhe-se para o Brest que praticamente só jogou com equipas secundárias e está na zona de qualificação direta. Mas há que aproveitar as oportunidades e isso nós não conseguimos, nem com o Feyenord nem agora com o Bolonha.

Este último jogo mostrou que há alguma fatiga na equipa e também algumas limitações que as vitórias têm ocultado. O Benfica ganha no Mónaco com uma sorte tremenda (a começar pela escandalosa não expulsão de Carreras), ganha com uma exibição pobre em Arouca e com muitas dificuldades ao Vitória de Guimarães. 

O efeito de chicotada psicológica já passou, o estado de graça está a passar e os jogadores vindos do banco não vão resolver sempre, principalmente se nunca são titulares. Por outro lado, Pavlidis, apesar dos índices de trabalho (com qualidade), continua a não marcar golos e a seca de um ponta de lança reflecte-se na equipa. Di Maria que vinha sendo muito bem gerido tem agora ficado em campo praticamente até aos 90 minutos e também já dá sinais de estar mais preso, menos leve. 

Este é um momento crucial na época. Sporting e Porto parecem perto do colapso, os seus treinadores estão por um fio. Este não é o momento do Benfica fraquejar! 

Lage trouxe ânimo e boas decisões tácticas mas parece ele próprio agora um pouco falho de ideias. As vitórias não podem resultar sempre do apoio das bancadas, do génio de Di Maria ou de golos "milagrosos" nos últimos minutos. Elas têm de estar sustentadas num modelo atacante (e num ponta de lança concretizador). Eu entendo que Lage tenha estabelecido um 11 base e creio que fez muito bem. Mas é preciso introduzir alterações aqui e ali para não espremer demasiado a laranja. E não deixar as substituições apenas para os últimos 15 ou 20 minutos. Por exemplo Aursnes tem estado excelente, mas tem 29 anos e será impossível correr desta forma 90 minutos de 3 em 3 dias.

Repito, este é o momento de nos afirmarmos, não é o momento de fraquejar. Tudo o que se conseguiu até ao momento, desde a chegada de Lage, irá pelo cano abaixo se abrandarmos neste momento e permitirmos a recuperação dos nossos adversários. É bom que esta mensagem venha do topo e chegue a todos os jogadores. Lage por seu lado precisa de os ajudar. Não pode haver lugares cativos no 11. 

domingo, 8 de dezembro de 2024

O momento da época - Portugal e Inglaterra

 O Benfica aproxima-se do primeiro lugar e ganhou novo fôlego na Liga dos Campeões com uma vitória no Mónaco.

Temos de ter os pés bem assentes no chão. Realisticamente, os sinais são positivos e as hipóteses do Benfica aumentaram em ambas as competições. Mas nada está conquistado e devemos ter a consciência de que nem tudo está bem. Algumas das vitórias recentes aconteceram em jogos assim não muito conseguidos. Isto pode ter duas interpretações possíveis: que estamos a conseguir ganhar mesmo quando não jogamos assim tão bem (o que é normalmente um sinal de equipas campeãs) ou que estamos a ter um abaixamento de forma (o que seria mau). 

Vamos ter agora jogos importantes que vão confirmar qual das tendências é verdadeira. Primeiro um jogo com o Bolonha em que uma vitória nos pode garantir um lugar pelo menos nos playoffs. Depois os jogos para a Liga, incluindo o derby. No futebol tudo muda muito rápido e o que está para trás não conta quando o árbitro apita para se iniciar um novo jogo, pelo que esta mensagem forte tem de ser transmitida aos jogadores.

Em Inglaterra, a melhor Liga do mundo a grande distância, a situação é muito interessante. O Liverpool tem sido claramente a melhor equipa e parece correr numa pista à parte de todos os outros. 

Mas do 2° lugar para baixo o equilíbrio é enorme. O City está agora oficialmente em crise e parece que não será mesmo o seu ano. Arsenal e Chelsea por seu turno estão bem mais fortes. O Arsenal vinha em clara recuperação depois do regresso de vários lesionados, especialmente Odegaard. Mas foi travado hoje pelo Fulham de Marco Silva, não capitalizando a vitória sobre o United e o adiamento do Everton - Liverpool.

Já o Chelsea conseguiu uma espectacular vitória fora sobre o Tottenham por 4-3, depois de ter estado a perder por 2-0, confirmando o que aqui escrevi a 1 de Outubro. Cole Palmer fez uma exibição enorme e tornou-se recordista da Premier League ao converter 12 penaltis em 12. Fê-lo com uma cobrança à Panenka... Já era o segundo jogador a chegar mais rápido aos 30 golos pelo clube, atrás de Jimmy que era um ponta de lança, assim como os outros jogadores que Palmer ultrapassou. E bateu também já o recorde (que pertencia igualmente a Jimmy) de mais contribuições para golos num ano (já vai em 39 e faltam ainda vários jogos este ano). João Félix é o suplente de luxo de Palmer, o que mostra a qualidade do plantel, o qual Enzo Maresca tem gerido muito bem. Outro Enzo, o médio ex-Benfica também está finalmente de regresso à forma que o levou à saída do nosso clube por um valor recorde.

Já Amorim está a ter muitas dificuldades, como aliás era de prever. Após duas vitórias que mostraram sinais de esperança e de uma exibição contra o Arsenal em Londres que não deslustrou (apesar da forma quase amadora como a equipa sofreu dois golos de canto), o United perdeu em casa contra o Nottingham Forest de Nuno Espírito Santo, o que deixa o clube num impensável 13° lugar. Entretanto o diretor desportivo do clube também se demitiu. Será esta a tempestade de que Rúben falou há dias?

Certo é que Rúben Amorim está agora a competir com os melhores do mundo. Não apenas jogadores, porque nesse particular Espanha compete, sobretudo através da "concentração" de estrelas no Real Madrid e Barcelona, mas também de treinadores. Ali estão mesmo os melhores dos melhores. E todas as equipas são competitivas, todas podem ganhar a todas. Por isso Rúben tem aqui um desafio monumental. 

E para terminar, no Brasil outro glorioso, o Botafogo tem hoje tudo na mão para ser campeão, juntando o título à Copa Libertadores. Será desta? 

domingo, 10 de novembro de 2024

Benfica - 4 Porto - 1. Amasso

 Ponto prévio: se tivesse tido tempo, teria escrito sobre o que foi dito relativamente ao jogo com o Bayern. Mas escrevi antes: o que importava era o jogo com o Porto. O jogo na Alemanha era quase garantidamente um jogo no qual teríamos hipóteses muito diminutas. Bruno Lage fez muito bem! Resguardou a equipa. Imagine-se como este jogo teria sido se tivéssemos perdido por 4 ou 5 em Munique três dias antes. Porque era isso que teria acontecido se tivéssemos lá ido jogar de peito aberto. Mais: Lage "poupou" Di Maria e Florentino, que hoje estiveram frescos e foram decisivo. Assim como Pavlidis.

Sobre o jogo desta noite não há muito a dizer que as pessoas não tenham visto e percebido. Foi uma exibição totalmente dominadora do Benfica que só foi interrompida pelo arremesso de tochas por alguns energúmenos. O golo do Porto surge pouco depois disso e foi para mim muito preocupante porque foi completamente contra a corrente do jogo e podia quebrar a nossa equipa animicamente.

Mas a resposta da equipa na segunda parte foi ainda mais forte do que a entrada no jogo. Não me lembro de uma exibição tão conseguida e dominadora contra o Porto no campeonato. Houve uma vitória por 3-0 no tempo de Souness mas foi numa era muito negativa em que não lutávamos para nada. 

Grandes exibições individuais também de muitos jogadores. Estão de parabéns, assim como Lage e os adeptos (excepto os que já referi). Agora é manter os pés no chão e continuar a trabalhar. É um lugar comum do futebol, mas aplica-se na perfeição ao atual momento.



domingo, 3 de novembro de 2024

Uma janela de oportunidade

 

O Benfica reagiu bem à derrota com o Feyenord e venceu os três jogos seguintes. Tinha obviamente obrigação disso, mas após uma derrota dura que quebrara uma dinâmica de vitórias, havia dúvidas quanto à forma como a equipa reagiria. Reagiu bem e isso deve ser valorizado. Obviamente que não vamos ganhar todos os jogos daqui até ao final da época, pelo que a consistência e a capacidade de reagir a momentos difíceis ou negativos serão de enorme importância. Isso viu-se quer em Bruno Lage quer nos jogadores.

Destaque nestes jogos mais uma vez para Akturkoglu, que aos muitos golos que tem marcado juntou no jogo com o Farense um bis de assistências (e aqui estamos a falar de "verdadeiras assistências e não do mero facto de ter sido o último jogador a tocar na bola antes do autor do golo), Carreras, cuja evolução tem sido assombrosa e Pavlidis que após uma passagem pelo banco na Taça da Liga voltou aos golos. O grego tem trabalhado bem mas faltavam os golos. Esperemos que seja para continuar. O que ainda me preocupa é a técnica de remate (não pode ser uma questão de força, porque o grego tem capacidade atlética): os seus remates são constantemente fracos e rasteiros. Compare-se por exemplo com os avançados do Porto e do Sporting... É um aspecto a rever.

Falando agora do menos positivo, daquilo em que precisamos de melhorar. Antes de mais a segurança defensiva: estamos constantemente a sofrer golos e a entrar nos jogos a perder. Isto não pode ser. Otamendi tem cometido vários erros, por vezes parecendo intranquilo. Não sei identificar o problema porque Florentino e Aurnes dão uma boa cobertura defensiva e, pelo menos em teoria, um meio campo a três deveria dar mais equilíbrio e consistência à equipa. Lage certamente também já tentou corrigir a situação, mas ainda não conseguiu. Terá de trabalhar mais e identificar o problema e pelo menos minimizar os seus efeitos negativos. No ataque há dinâmicas interessantes e o nosso corredor direito consegue carrilar muito jogo, mas por vezes Pavlidis está um pouco sozinho na zona de finalização. No jogo com o Farense apesar de um amplo domínio acabámos a sofrer e concedemos oportunidades ao adversário. Faltou controlo nessa altura, apesar de Lage ter feito várias alterações que visavam isso mesmo. Também o vi tenso e preocupado, o que não é o melhor sinal para dentro de campo. Lage tem acertado muito mais do que tem errado e precisa de ter confiança no (bom) trabalho que tem feito.

Chegamos assim ao último ponto deste artigo: as perspectivas para os próximos jogos e para o resto da época. E neste ponto, sobretudo o remanescente da época há um factor novo e absolutamente transformador: a saída de Rúben Amorim do Sporting. Não nos iludamos: o Sporting de Amorim é uma equipa dominadora como há muito não se via em Portugal e provavelmente não daria qualquer hipótese a Benfica e Porto. Mas as coisas agora vão mudar. 

Não quer isto dizer que o Sporting vá começar a perder jogos atrás de jogos e que se vá desmantelar todo de um momento para o outro. A dinâmica de vitórias e o impulso que vem de trás deverão manter-se no futuro imediato, tanto mais que quem assumir o lugar não irá mexer muito. Mas há nuances, há detalhes, há personalidades que são diferentes. Quando as coisas correrem mal surgirão dúvidas, haverá alguma instabilidade. E isso abre uma janela de oportunidade para o Benfica (e para o Porto).

Assim e em conclusão, os próximos jogos são muito importantes, mas, sendo realistas, o mais importante é contra o Porto. O Bayern é um colosso que tritura adversários, especialmente em casa. Se o Benfica repetir os erros que têm sido constantes no último terço do terreno, o Bayern castigará a nossa equipa com golos. Mesmo se não errarmos ou errarmos pouco, as nossas hipóteses são bastante reduzidas. Aquilo que eu desejo é que o Benfica faça um jogo competente e consciente das suas limitações e que possa ser competitivo. Em última análise e sendo frio, que não seja goleado. Uma nota: este não é um jogo para Di Maria entrar de início, mas sim Beste. 

O jogo verdadeiramente importante e "do nosso campeonato" é o jogo com o Porto. Esse sim, temos de ganhar. É um adversário directo. Em casa temos de vencer, até para marcar já posição. E depois disso voltar a ganhar, consistentemente, semana após semana, para ainda termos hipóteses de ser campeões esta época. Com a saída de Amorim abriu-se uma janela de oportunidade. Temos de a aproveitar, a começar já no jogo com o Porto.


P. S. Uma coisa que me esqueci de mencionar no texto, foi os passes falhados no jogo com o Farense. Na primeira parte o número de bolas perdidas por passes falhados, erros não forçados, foi impressionante. Kokçu então parecia que acertava sempre no "boneco", o jogador adversário que estava mesmo à sua frente. Isto não pode acontecer. Na segunda parte melhorámos um pouco mas no final do jogo voltámos ao mesmo. Bruno Lage tem de olhar para este aspecto.