terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Escândalo rouba noite histórica ao Benfica

 Foi um jogo absolutamente tremendo o que aconteceu ontem na Luz, dos melhores de sempre na Liga dos Campeões. Não vamos deixar que a derrota e a revolta contra a arbitragem (já lá vou) nos toldem a visão e nos impeçam de o reconhecer.

Também convém que os benfiquistas tenham a plena noção de com quem jogámos. Uma equipa recheada de estrelas mundiais que há pouco deu 5 (a 2...) ao Real Madrid, que só tem o Liverpool à frente e que acima de tudo joga muito.

O Benfica fez uma primeira parte de um nível superlativo, incrível mesmo. É verdade que tem a felicidade de marcar o segundo golo num lance caricato, mas esse foi o resultado da forma arriscada como o Barcelona joga tão subido e de saídas muito rápidas e executadas quase na perfeição pelos nossos jogadores com trocas de bola e desmarcações espectaculares. O discurso dos "erros" é aliás algo com que discordo. Vemos por vezes treinadores que perdem por três ou quatro "explicar" que o primeiro golo resultou de uma perda de bola, o segundo de uma bola parada e o terceiro de um mau posicionamento... Os jogos têm uma história e os golos são os momentos chave. Não resultam de meros erros acidentais. Se enveredarmos por esse discurso então o jogo perfeito é o que acaba 0-0 porque ninguém errou... 

O Benfica foi para o intervalo com uma vantagem justa, mas todos tínhamos a noção de que o jogo estava longe de estar ganho.

A segunda parte teve vários períodos. O Benfica entrou bem e teve o jogo controlado durante bastante tempo, mas um novo lance caricato em que a bola bate na cabeça de Raphinha dá alento ao Barcelona. Eis porém que o Benfica volta a marcar pouco depois, desta vez num autogolo de Araújo (mas uma boa jogada do Benfica) e nessa altura pareceu que a vitória já não nos escaparia. E de facto o Barcelona começava a dar sinais de já não acreditar muito. Aliás já os dava antes do seu segundo golo.

Eis quando o árbitro comete a meu ver um erro, assinalando o segundo penalti contra o Benfica. Sinceramente não sei se o árbitro marcou a suposta falta de Carreras ou um pretenso derrube de Otamendi (que evidentemente não existiu porque este cortou apenas a bola) pois deu cartão a Otamendi. Não sei se houve comunicação com o VAR mas se não houve deveria ter havido. Se o árbitro penaliza a intervenção de Otamendi o VAR deveria alertá-lo para que não há infração. Se assinala a mão de Carreras no ombro de Lamal parece-me um penalti muito "leve". Para mim não existe, mas até posso aceitar que não seja um erro claro e óbvio para o VAR intervir.

Seja como for, esse lance sim, dá vida ao Barcelona e a equipa acreditou de novo. As substituições no Benfica não resultaram bem, apesar de terem lógica e de os que saíram estarem visivelmente esgotados, em parte pela dificuldade em entrar num jogo desta intensidade e dimensão, em parte porque o Benfica entrou em perda à medida que o Barcelona crescia face às incidências referidas, nomeadamente o penalti. 

Aurnes e Di Maria podiam ter resolvido o jogo de vez mas em diferentes momentos falharam quando estavam isolados frente ao guarda redes e o Barcelona acabou mesmo por chegar ao empate. O jogo entrou então numa fase louca com ambas as equipas a quererem ganhar e a arriscar tudo (o Barcelona já há muito adoptara essa visão quase suicida). 

E chegamos finalmente ao lance que tudo decide. É um lance de penalti claro sobre Barreiro. O nosso jogador tem a bola em sua posse e um jogador que está atrás dele salta-lhe em cima, sem qualquer possibilidade de jogar a bola, projectando-o contra o guarda redes que ainda o soca na cabeça. Um penalti absolutamente indiscutível que não é marcado e que decide o jogo pois o lance (excelente) de Raphinha (já bem para lá do tempo de descontos dado pelo árbitro) seria obviamente anulado. Mais: antes ainda do lance do penalti indiscutível, há um outro na mesma jogada que não tive oportunidade de rever que também deu a ideia de penalti. A jogada continou até porque Barreiro depois ficou em posição de poder marcar mas também esse lance anterior deveria pelo menos ser repetido pela realização para se perceber o que realmente aconteceu. Seja como for, o de Barreiro não oferece dúvidas e na ausência de decisão do árbitro o VAR teria de o chamar ao monitor, como fez no primeiro dos dois penaltis de que o Barcelona beneficiou. 

Já vi comentários de adeptos internacionais, de outros clubes, e todos consideram a decisão absolutamente escandalosa. "Benfica roubado em frente ao mundo inteiro" ou "Engraçado como o Barcelona teve as decisões todas a seu favor", "Já percebi porque o Barcelona está falido a encher os bolsos dos árbitros desta forma" são apenas alguns dos comentários: 

https://x.com/footballontnt/status/1881823664062009807

Foi portanto uma arbitragem altamente incompetente no mínimo, mas que parece mais realista considerar tendenciosa, beneficiando de forma clara o Barcelona e lesando o Benfica. É um jogo em que podemos dizer que a arbitragem foi directamente responsável pela derrota do Benfica. Se venceríamos ou não é impossível dizer porque penalti não é sempre golo, mas que não teríamos perdido se a arbitragem tivesse sido isenta, isso é objectivo.

Dito isto foi um jogo extraordinário que fica para a história da Champions. Merecíamos evidentemente outro resultado mas temos de olhar para esta exibição como o patamar que o Benfica pode alcançar e usá-la para o que aí vem da época. A jogar assim ou lá perto o Benfica terá certamente mais títulos quando a época acabar. 

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Consistência

 Bruno Lage usou, segundo ouvi nos media, a palavra consistência para definir o que o Benfica necessita e eu não posso estar mais de acordo.

O Benfica fez grandes jogos desde a chegada de Lage, como com o Porto, o Atlético de Madrid e algumas goleadas e depois começou a praticar um futebol um pouco mole que teve no jogo com o Braga o ponto mais baixo da época. 

Claro que existem altos e baixos de forma ao longo de uma época, mas o abaixamento do Benfica (se é que foi realmente isso que se passou) aconteceu num mau momento porque significou uma derrota num derbi em que poderíamos ter colocado o Sporting 4 pontos atrás. Depois disso falhámos nova oportunidade para assumir a liderança com uma derrota inexplicável em casa com o Braga.

Entretanto vencemos para as taças e vimos alguns jogadores novamente em bom plano (Carreras, Florentino, Otamendi, Di Maria) e outros a aparecer bem na equipa (Barreiro, Schjelderup, Arthur Cabral). António Silva também voltou a somar minutos e em geral esteve bem apesar de um ou outro erro.

Em relação ao jogo com o Farense, vi um Benfica dominador que sofre um golo na primeira vez em que o adversário tem um canto (teve dois no jogo todo) e depois sente um pouco esse golo perante um oponente bastante fechado na defesa e sempre a perder tempo. Na segunda parte entrámos com determinação e demos rapidamente a volta não permitindo mais qualquer veleidade aos farenses. Vi entreajuda, bom pressing e boa ocupação dos espaços. 

As taças são competições relevantes mas naturalmente não têm a mesma importância de campeonato e Liga dos Campeões. Nessa medida temos de esperar pelos próximos jogos para perceber se a melhoria é real e, acima de tudo, se conseguimos manter um padrão elevado em todos os jogos (a tal consistência) ou se isto foram apenas fogachos. Tenho esperança de que a primeira hipótese se verifique e que as duas derrotas seguidas tenham sido apenas um acidente de percurso. 

Os jogadores do Benfica precisam de perceber de uma vez por todas que no futebol moderno há que dar tudo em cada jogo, passe o exagero. Há que manter uma intensidade elevadíssima porque se não tivermos, no mínimo dos mínimos, a mesma intensidade do que o adversário, vamos ter dissabores. A atitude competitiva tem de estar lá sempre. Veja-se o que aconteceu com o United há uns dias em Londres: reduzido a 10 homens e sofrendo um golo logo na jogada a seguir à expulsão, resistiu aos 90 minutos regulares e ainda ao prolongamento para ter o prémio nos penalties. Se os jogadores não tivessem dado tudo teriam perdido o jogo. Por isso a atitude é fundamental: os duelos, as disputas de bolas, etc. A atitude competitiva não é tudo mas sem ela nada é possível. 

Já destaquei um pouco os jogadores mas queria ainda dizer algo mais. Schjelderup surge na sequência do abaixamento gritante de forma de Akturkoglu, mas para mim tem sido uma enorme e muito agradável surpresa. Tanto na final da Taça da Liga como contra o Farense, os seus golos são de tremenda qualidade. A sua capacidade de agitar e levar a bola para a frente com velocidade e critério também devem ser destacados. Quanto a Cabral, o golo de ontem é excelente: boa leitura do lance, força e qualidade de finalização. Já tinha feito aqui e ali alguns golos pelo que creio que está na hora de lhe dar a titularidade de forma mais consistente, pelo menos até Pavlidis estar num outro momento de forma e confiança (esperemos que seja apenas isso). 

domingo, 12 de janeiro de 2025

Ganhar não é importante - é a única coisa

 Como escrevi aqui há um mês, o Benfica estava num momento delicado, em que alguns jogadores davam sinais de cansaço e o efeito psicológico da mudança de treinador se esgotava.

As coisas correram talvez pior do que eu esperava, com dois empates (Aves e Bolonha) e duas derrotas (Sporting e Braga). Foram resultados comprometedores que complicaram muito as nossas aspirações tanto no campeonato quanto na Liga dos Campeões. As boas notícias é que nada está perdido e, olhando agora para o presente, acabamos de vencer a única competição que foi já disputada. 

As derrotas com Sporting e Braga foram algo inexplicáveis pela forma como ocorreram. Em Alvalade, a equipa tinha obrigação de entrar muito forte no jogo e tentar ser dominadora de modo a não permitir a previsível reação do Sporting à mudança de treinador e a um período absolutamente desastroso após a saída de Amorim e à perda da liderança. Mas isso não aconteceu. O Sporting foi bastante superior na primeira parte e chegou ao intervalo a vencer. O Benfica reagiu na segunda, mas com pouca qualidade e pouco discernimento, não aproveitando situações de pura atrapalhação e quase pânico na defesa adversária.

Contra o Braga as coisas foram tão más que ficou a ideia de falta motivação e entrega e da existência de divisões no balneário.

Não sei se realmente é assim ou não, mas sei que Lage já enviou vários recados para alguns jogadores e claramente não está satisfeito com a postura de alguns. 

Em geral, este tipo de abordagem não costuma resultar. O caso mais recente é o de Paulo Fonseca no Milan. Mas o próprio treinador que o foi substituir fez várias criticas aos seus jogadores no ano passado (e afastou alguns do plantel principal) e acabou em terceiro lugar. O próprio Lage terá tido conflitos com jogadores na anterior passagem pelo Benfica e as coisas não acabaram bem. 

Ontem, após o Benfica vencer nos penaltis, Lage deu várias entrevistas em que pareceu reclamar os méritos para si próprio, centrando muito o discurso na sua figura. Não me parece a melhor forma de unir. O Benfica fez uma boa partida frente a um Braga vulgar e é um vencedor justo da competição, mas podia facilmente ter perdido ontem, bastava a infelicidade que coube a Trincão ter recaído sobre um dos nossos jogadores.

Espero que reveja a sua postura, que corrija os seus próprios erros, os quais têm sido evidentes, e que todos comecem a remar para o mesmo lado. Que a vitória sirva para marcar uma nova etapa na época: a qualificação ainda é possível na Liga dos Campeões e no campeonato nada está perdido. Precisamos porém de subir de rendimento e não ter estas intermitências. E entretanto reforçar o plantel, nomeadamente com um avançado que realmente garanta golos. Sem isso será difícil alcançar o sucesso nesta época. Tudo o que fique abaixo da vitória no campeonato dificilmente deixará de ser um fracasso numa época em que os rivais estão tão fracos.