Já aqui escrevi múltiplas vezes acerca da crónica incapacidade do Benfica em jogos contra o Porto.
Mesmo nos últimos anos, nos quais vencemos 5 campeonatos em 6 e portanto dominámos quase por completo o panorama nacional, o Porto tem um registo melhor do que o Benfica... na nossa casa.
É confrangedor e roça mesmo o misterioso. A nossa equipa parece que se amedronta, ao passo que o Porto se agiganta.
No entanto a explicação para esta derrota talvez seja um pouco diferente e de alguma forma até a oposta: desta vez perdemos por arrogância e sobranceria.
Antes do apito inicial parecia que já tínhamos ganho e que o Porto estava ali para servir de bombo da festa: houve fogo de artifício e faixas alusivas ao 38... Isto quando estamos em Agosto, apenas na terceira jornada.
Um ambiente despropositado, que influenciou o desenrolar do jogo.
O Porto cerrou os dentes e enfrentou o jogo como um desafio crucial, disputando os duelos sempre nos limites. Aceitou o papel de não favorito, percebeu que não podia ganhar no talento mas apenas na entrega e no rigor tático e executou o seu plano de modo quase perfeito.
Já o Benfica entrou de forma altiva, convencido de que lhe bastaria conter a previsível entrada forte do Porto para no momento certo impor o seu ritmo e ferir o adversário. O problema é que o Porto foi ganhando cada vez mais confiança e emperrando sempre o jogo ofensivo do Benfica, pressionando bem alto a nossa defesa, manietando muito bem o nosso meio campo (quase sempre em inferioridade numérica), cortando constantemente as nossas linhas de passe e anulando os nossos avançados (que, diga-se, são praticamente inofensivos).
Cedo se percebeu que só o talento de Rafa, Pizzi ou Grimaldo poderiam conseguir suprir as deficiências colectivas, mas os dois últimos estiveram num péssimo plano e Rafa sozinho não poderia resolver.
O Porto marcou logo após o seu primeiro lance de perigo (e primeiro remate à baliza), no canto daí resultante.
A reacção do Benfica surgiu apenas na segunda parte, quando durante uns 15 a 20 minutos conseguimos encostar o Porto atrás, com Taarabt a conseguir impor alguma velocidade ao nosso jogo ofensivo. Nessa altura o Porto recorreu ao anti-jogo com Pepe literalmente a gozar com os espectadores perante a complacência do árbitro. A dinâmica que pretendíamos foi assim quebrada, mas diga-se que também não fomos capazes de criar oportunidades claras e que o contra ataque do Porto nos colocou sempre em sentido, especialmente com a autoestrada que se abriu com a saída de Samaris.
Bruno Lage terá que reflectir sobre o que se passou e encontrar soluções diferentes. Esta dupla de avançados não funciona e assim todo o jogo da equipa fica emperrado. Também o meio campo neste jogo foi dominado pelo adversário, mostrando dificuldades tanto a construir como a defender. No sector recuado houve múltiplas falhas, tanto ao nível dos passes errados e perdas de bola como dos posicionamentos, com jogadores do Porto a aparecerem várias vezes nas suas costas, apenas com Vlacodimos à sua frente. Não pode ser. As mudanças mais óbvias passam pelo desfazer desta dupla de avançados e com a entrada de Vinícius no 11. O brasileiro é muito mais rápido, agressivo e acutilante do que qualquer dos avançados titulares.
No entanto há mais mudanças necessárias, nomeadamente ser intolerante com a complacência e a sobranceria, no plano mental, e encontrar novos equilíbrios pós-Jonas e Félix que claramente ainda não existem apesar das goleadas ao Sporting e a vitória na ICC terem dado (erradamente) a impressão contrária.