quarta-feira, 31 de julho de 2013

(Mais) uma selvageria no Porto

Custa a crer mas é verdade: no jogo de apresentação do Porto aos seus adeptos, no estádio do dragão, os convidados, atletas e adeptos do Celta de Vigo, foram repetidamente agredidos.

Não se tratou apenas do caso de Kelvin, um miserável sem carácter que certamente um dia terá retribuição do que vem fazendo. Não se tratou sequer apenas dos empurrões e entrada em campo dos suplentes do Porto após a cena gerada por Kelvin, ou mesmo do arremesso de objectos das bancadas para o campo e o banco do Celta.

Não, não foi isso. Mesmo antes do jogo, já adeptos do Celta de Vigo eram cuspidos, assaltados, roubados, insultados, intimidados, agredidos. Vários saíram antes da partida terminar. Outros, após terem que esperar uma hora (!) no interior do Estádio, após a partida terminar, foram encurralados cá fora e agredidos.


Isto é tanto mais espantoso quanto se tratou de um jogo de apresentação, não se conhecendo nenhuma rivalidade especial entre os clubes. É tanto mais lamentável quanto foi perpetrado contra galegos, dos espanhóis aqueles que mais próximos se encontram dos portugueses, que ainda por cima se encontram ainda em luto pelo horrível acidente de comboio.

Mais uma selvageria no Porto e mais uma triste arbitragem no dragão. Como disse Nolito, tudo continua na mesma. E continuará.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Os últimos 30 anos - balanço e títulos

Com a morte de Fernando Martins, a quem aqui presto a minha homenagem de adepto benfiquista e o agradecimento pelos títulos e a obra deixada, desaparece o último Presidente do Benfica que conseguiu ser vitorioso para os padrões benfiquistas.

Numa altura em que muito se discute o balanço dos vários mandatos de Luis Filipe Vieira e na ressaca de mais um ano de desilusões, resolvi aqui deixar de forma absolutamente objectiva a relação dos títulos conquistados pelo nosso futebol sénior nos últimos 30 anos. Faço-o de forma comparativa para que cada um possa fazer a sua apreciação sobre os dados de forma informada.

É importante referir que este período de 30 anos coincide com um período em que Pinto da Costa já presidia ao FC Porto. 

Aos títulos acrescentei as presenças em finais europeias, marcos fundamentais de qualquer clube de topo. Inclui também obviamente a Taça da Liga. Apesar deste troféu só existir desde 2007/08 é um troféu oficial nacional.

Os períodos estão divididos não pelas décadas tradicionais (anos 70, 80, etc) mas por comparação com a década 2003-2013, que equivale ao período de gestão de Luis Filipe Vieira, remontando depois duas décadas para trás (83-93 e 93-2003). Poderia também incluir a década 73-83 e até 63-83. Não o fiz por considerar que a realidade futebolística portuguesa era nessa altura demasiado diferente da actual para o quadro comparativo poder ter utilidade. 

Convém igualmente, a bem do rigor, referir que na realidade Luis Filipe Vieira não cumpriu ainda 10 épocas como Presidente do Benfica, pois entrou para a presidência da direção apenas em Outubro de 2003, quando a época tinha já começado. Não obstante, fazia já parte da SAD e a sua eleição veio na continuidade do mandato de Vilarinho, no qual tinha já há algum tempo assumido um lugar de liderança pelo que incluí já essa época no seu mandato.

Aqui fica então a relação de títulos:

                      2003-13                       1993-2003                            1983-1993*

campeonatos         2005 e 2010                          94                               84, 87, 89, 91
Taça de Portugal       2004                                   96                              85, 86, 87, 93
Supertaça                  2005                                                                           85, 89
Taça da Liga        2009, 2010, 2011,2012      Não existia                      Não existia                       
Finais europeias   Liga Europa 2013                                                  Taça UEFA 1983
Final da Taça dos campeões 88 e 90


*Os períodos compreendidos (todos de 10 épocas) são os seguintes: da época 1983/84 até à época 1992/93 inclusivé, de 1993/94 a 2002/2003 e de 2003/2004 a 2012/13. Os períodos não correspondem obviamente a décadas (década de 80, década de 90, década de 2000 e de 2010) de modo a abrangerem o período de Luis Filipe Vieira por comparação aos dois períodos de 10 anos que o antecederam. 



A década 83-93 teve como Presidentes Fernando Martins, João Santos e Jorge de Brito. Este último (que teve um mandato breve) esteve precisamente no período de transição das décadas aqui analisadas, tendo começado a seguinte (93-2003), que viu serem ainda presidentes: Manuel Damásio, Vale e Azevedo e Manuel Vilarinho. Finalmente de 2003 a 2013 o Benfica teve apenas como Presidente Luis Filipe Vieira.

Nestas 3 décadas houve apenas dois presidentes que não conquistaram nenhum título: Vale e Azevedo e Manuel Vilarinho. Seguidamente, Manuel Damásio é o Presidente menos titulado com apenas uma Taça e um campeonato, este a meias com Jorge de Brito que também apenas ganhou este campeonato de 1994 a meias (saiu em Janeiro desse ano para dar lugar a Damásio) e uma Taça (1993). Brito só esteve porém como presidente pouco mais de ano e meio, ao passo que Damásio esteve quase 4 anos.

A década 93-2003 é o período mais negro da história do Benfica, iniciado com a destruição do plantel campeão por parte de Artur Jorge e as contratações de jogadores sem categoria para o Benfica a par da gestão desastrosa de Damásio, continuado com a calamidade Vale e Azevedo, a tempo interrompida pela eleição de Vilarinho e o regresso da sanidade ao clube.

Ao tempo o Benfica estava perto da falência (semelhante ao Sporting de hoje) e Vilarinho teve que fazer um trabalho de recuperação da credibilidade do clube e saneamento das contas.

Nesses 10 anos loucos, o Benfica conquistou um campeonato com a equipa deixada por Jorge de Brito e uma Taça durante o mandato de Damásio (com Mário Wilson a comandar  equipa, depois do despedimento de Artur Jorge). Depois disso foi um deserto de 10 anos.

Houve que recuperar o clube e muitos anos depois os títulos voltaram a surgir, primeiro uma Taça, depois um campeonato, depois uma taças da Liga e mais um campeonato. 

Estamos portanto perante a velha questão do copo meio cheio ou meio vazio.

Comparando com o período 83-93, em que já existia Pinto da Costa, o saldo é muitíssimo mau. São 4 campeonatos para 2 e 4 Taças para uma. Depois temos 2 supertaças contra uma do actual presidente e 4 taças da Liga conquistadas no presente mandato. O balanço (um campeonato por cada 5 anos e uma taça em 10 anos) não é aceitável, tanto mais que neste período se acentuou algo que (em toda a história do futebol português) só tem paralelo no pico do período negro do Benfica de Damásio e Vale: a absoluta hegemonia do Porto.

Nestes últimos 10 anos, o Porto conquistou mesmo algo inédito: 8 campeonatos. Hegemonia absoluta.

Do outro lado, em relação ao copo meio cheio, temos aqueles que assinalam que clube foi recuperado, que o Benfica vem subindo degraus competitivos e que depois de uma seca de títulos voltou a conquistar campeonatos. Assinalam (bem) que o Benfica voltou a ter boas prestações na Europa, algo que há muito não acontecia.

Para mim, percebendo este argumento, o balanço começa a ser demasiado escasso. Vamos neste momento em 3 anos de seca em termos de títulos maiores. O ano passado as coisas pareciam de novo encaminhar-se mas tudo se esfumou em poucas semanas. Não, estar "nas finais" não chega para um clube como o Benfica. Para o Belenenses ou o Braga isso poderão ser feitos, para o Benfica deve ser a regra. Isso tem que ser dito claramente ao treinador que não pode eximir-se às responsabilidades pelos insucessos da equipa.

A partir deste ano penso que há que assumir com toda a clareza: o copo neste momento está vazio, ou não comparasse este período de muito perto com os anos negros Damásio/Vale e Azevedo (apenas mais um campeonato e uma supertaça). Veremos como está no fim da época. Azar, arbitragens e 92 minutos não servirão mais de justificações. Menos ainda nos poderão apresentar como eventuais causas de insucesso carências ou insuficiências no plantel quando todos os dias se contratam novos extremos.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

A grandeza e o museu do Benfica

Correndo o risco de ser mal interpretado, a grandeza de um clube de futebol faz-se sobretudo de vitórias e títulos. É evidente que a forma como eles são obtidos tem toda a relevância para o caso, pois apenas vitórias resultantes do mérito são dignas de ser celebradas. Por outro lado, a postura social do clube e os valores que defende (e pratica) são também importantes. Ser gracioso nas vitórias e digno nas derrotas é o mínimo que se pode esperar - que se exige - a todos os que representam o Benfica.

O museu do Benfica cuja inauguração está hoje a ser celebrada, é, pelo que vi e ouvi, uma obra que dignifica a história do Benfica e que merece ser elogiada.

Convém porém ter em mente que este museu só é o que é devido às múltiplas conquistas que o Benfica obteve no passado. Essa é que é a verdadeira grandeza do Benfica - a sua história de vitórias e conquistas

Nunca no passado, os grandes atletas e dirigentes do Benfica aludiram a (menos ainda se refugiaram em) uma pretensa grandeza baseada apenas em números (ser o clube com mais adeptos) ou numa história remota. Quem o faz aliás já percorreu metade do caminho que leva à derrota: assumiu a postura que é melhor do que os outros, o que quase inevitavelmente leva a subestimar o adversário e a ser surpreendido por ele.

Importa portanto não perder a noção das prioridades: o museu é uma excelente realização que merece ser aplaudida e apreciada; mas a história e a identidade do Benfica fizeram-se através de conquistas dentro do campo.

É portanto aí que teremos que nos concentrar se nos próximos anos quisermos de facto ser grandes. Se quisermos ser campeões.


Ver também:




quinta-feira, 25 de julho de 2013

Os jogos do Algarve e a necessidade de definir o plantel

O Benfica está a realizar jogos de preparação no Algarve e a testar os novos jogadores. Precisa porém de definir o seu plantel, pois as saídas de jogadores como Matic, Sálvio ou Garay afectariam consideravelmente a forma como a equipa joga, tornando estes "testes" pouco significativos.

A saída de Matic, em particular, significaria uma alteração substancial da forma de jogar (para além da necessidade de ir ao mercado para encontrar um substituto). Não é qualquer jogador que poderá substituir o gigante sérvio, quer pela capacidade deste de ocupar os espaços do meio campo quer pela sua qualidade no passe e saída controlada com a bola.

Nesta medida o estilo de jogo do Benfica assenta muito nas características de Matic, pelo que estar a preparar uma equipa com base nele e depois perdê-lo antes de começar a competição a sério não parece a melhor das ideias.

Abstraindo desse importante "pormenor", os sérvios vêm confirmando a qualidade que desde o início julguei neles reconhecer, ao passo que Cortez começa a inserir-se melhor na equipa dando indicações de poder vir a ser uma solução válida. Por outro lado, as contratações para o eixo da defesa também me parecem bastante boas. Sou, há algum tempo, fã das características de Steven Vitória e o argentino Lopes (apesar de não ter jogado esta última partida) parece-me também uma excelente aposta. Há ainda Mitrovic que impressiona pela sua capacidade física e atlética. Não se perceberá porém se Garay continuar: é absurdo uma equipa contar com 6 centrais no seu plantel principal. Mesmo admitindo que Jardel e Mitrovic seriam, num tal quadro, relegados para a equipa B, ter Steven e Lisandro no banco (ou nem isso) parece-me um desperdício pouco condizente com o momento económico-financeiro de Portugal e da Europa.

Voltando aos aspectos positivos, Markovic dá excelentes indicações. Tudo aponta para que tenhamos ali jogador! Qualidade técnica, velocidade, capacidade de remate, confiança ao abordar os lances e a partir no um para um são tudo características altamente encorajadoras e que nos fazem esperar que dali possam vir muitas boas exibições e golos.

Djuricic tem estado menos participativo mas creio que se trata apenas de uma questão de (normal) adaptação a uma nova equipa e um novo estilo de futebol. Sulejmani continua o seu processo de integração na equipa (até agora a correr bem), ao passo que Gaitan e Sálvio mostram a qualidade que lhes é reconhecida - e que é muita.

No eixo do ataque há porém o risco de se vir a sentir demasiado a ausência de Cardozo. Lima é um grande ponta de lança mas mesmo ele não tem, como desde o início venho assinalando, as características e sobretudo a presença de Cardozo na área. Muita gente não percebia isto mas se calhar vai agora perceber, para mal do Benfica. Espero que não, mas temo que sim. O jogo de ontem aliás mostrou-o em larga medida: muito futebol atacante, muitas bolas a circundarem a baliza, várias oportunidades mas apenas um golo.

Sublinho mais uma vez: há que definir o mais cedo possível as saídas: caso Sálvio, Matic e/ou Gaitan (para além de Garay e Cardozo) venham a sair há que começar a integrar os seus substitutos e entrosá-los com a equipa. Caso contrário a pré-época terá sido tempo perdido.

Mais um...

Pai de Nélson Oliveira lamenta falta de oportunidades dadas ao filho
Por Redação

O pai de Nélson Oliveira, Adélio Oliveira, confessou à Antena 1 estar insatisfeito com o tratamento dado ao seu filho no Benfica pedindo oportunidades.

«Eu acho que ele tem valor e com confiança nunca deixou mal quem nele confia. Quando joga justifica. Acho que há jogadores que têm tido oportunidades que lhe tem faltado a ele», diz Adélio Oliveira comentado novo empréstimo de Nélson depois de uma temporada no Deportivo.

«Vá para onde for o que interessa é que lhe transmitam confiança e ele possa trabalhar para mostrar o seu valor de forma a ajudar o clube e este também o ajude a ele. Precisa é de jogar», comentou.

O pai do avançado lamenta que prefiram dar oportunidades a estrangeiros do que aos portugueses. «Acredito que amadureça e tenha mais oportunidades. Porque jogam argentinos e brasileiros e não dão valor ao que nós temos cá em Portugal?».

«No Depor teve poucas oportunidades e mesmo assim quiseram ficar com ele. Se tivessem apostado mais nele talvez não tivessem descido de divisão. Talvez o treinador ache que ele não se enquadre no sistema da equipa. O Nélson tem um feitio explosivo e talvez o Jesus não goste desse feitio», finalizou.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Benfica - regresso ao passado ou o completo desnorte

Vejo com estupefação e sincera preocupação o que se passa por estes dias no Benfica.

Um clube com uma folha salarial de mais de 100 jogadores (!!) continua a contratar jogadores por atacado para posições onde já existem 3 (!!) alternativas, dispensa jogadores da formação e jogadores que ainda o ano passado renovavam contratos, não realiza nenhuma venda, não define o seu plantel e continua a evidenciar carências evidentes para qualquer analista amador como eu.
Não vale a pena estar a enunciar as situações pois elas são evidentes para quem queira olhar para a realidade com olhos de ver e não apenas chamar "papagaios" e "abutres" a quem mantém um mínimo de perspectiva crítica sobre as coisas.
O Benfica de hoje voltou aos piores tempos de Damásio e Vale e Azevedo, quando entravam e saiam jogadores sem os adeptos terem sequer tempo para memorizar os seus nomes.

Chegou-se ao cúmulo dos jogadores nem sequer chegarem a vestir a camisola do glorioso, andando de empréstimo em empréstimo até aterrarem na equipa B na ténue esperança de ser encontrada uma "solução" ou uma "colocação". Anos a fio! Isto acontece com Sidney, Kardec (novamente emprestado) e Urreta há anos, com Djaló e Jara, agora com Carlos Martins, Luisinho e Hugo Vieira e por aí adiante.

Quantos milhões estão empatados nestes jogadores, pergunto-me eu?

Acho que isto começa a ser demais e começa a evidenciar uma de duas coisas (ou as duas conjuntamente): ou alguém dentro do Benfica está a fazer (muito) dinheiro à conta destas contratações e dispensas (com evidente prejuízo para o clube) ou há um completo desnorte e irresponsabilidade por parte de quem dá o aval a contratações com custos consideráveis (Jara custou 5 milhões) que de repente deixam de servir.
Para chamar as coisas pelos nomes, começamos a estar perante um caso de gestão danosa.

O último destes actos de má gestão é o dossier Cardozo.

Decidiu-se internamente após a final da Taça que o jogador tinha que sair. Como foi então possível ter o mesmo ido de férias com a situação por resolver? E como é possível chegar ao fim de Julho com este resultado: negociações entre Benfica e Fenerbahçe abortadas? E agora?

Depois temos as lacunas que continuam por colmatar: para a posição de lateral esquerdo não é líquido que tenhamos já uma alternativa fiável; para substituir Matic (imaginando que ele fica) não há nem um jogador contratado (quanto mais dois para a tal eventualidade, que de acordo com JJ "é quase impossível" não se verificar, da saída do sérvio) e na baliza continuamos - tudo o indica - também com um problema bicudo. Isto para já não falar de como será difícil substituir Cardozo se de facto se consumar a sua saída. Realmente só faltava agora o paraguaio continuar (algo que pessoalmente e numa análise mais imediata até gostaria, pois é um goleador) e virem-nos explicar que afinal nada de especialmente grave se passou e que a continuidade sempre fôra uma possibilidade...

Isto, repito, ao mesmo tempo que se contratam extremos atrás de extremos, alguns inclusivé já com "guia de marcha" para a equipa B.

Por falar em equipa B, como será o ambiente no seio daquele grupo de homens, considerando que aquele é um "desterro" para os enjeitados do plantel principal, jogadores com currículo, que obviamente nunca poderão deixar de estar insatisfeitos naquela situação, como Carlos Martins e outros? A resposta é simples: de cortar à faca! Será esse o meio mais favorável para os jovens saídos das camadas jovens evoluírem? Claro que não!

Há demasiadas coisas a correr ao mesmo tempo e que já deviam estar resolvidas. Num ano em que embarcámos numa decisão complicada e temerária (que apesar de tudo ainda considero ir na decisão certa, mas isto no pressuposto de que as coisas foram bem pensadas antes, algo de que neste momento já duvido) de não ter receitas directas das transmissões televisivas, optando pela Benfica TV.
Para as coisas funcionarem importava tudo o resto estar definido e bem decidido. Haver estabilidade e os subscritores saberem exactamente com o que contavam. Isto naturalmente para além de se terem acautelado todos os aspectos legais, pois sabemos que o sistema tudo fará para boicotar este projecto.


Em suma, navegamos à vista, cheios de incertezas e instabilidade, com saídas e entradas permanentes, reais, pensadas ou fictícias.



Isto é o pior começo que se podia imaginar.


E não, não sou anti-Vieira ou Jesus, nem sou abutre nem papagaio. Sou um benfiquista que já viajou muito e deu muito pelo seu clube. Um benfiquista apaixonado que neste momento está extremamente preocupado.

O que se passa neste momento faz lembrar o que de pior aconteceu nos anos de Manuel Damásio e João Vale e Azevedo.

O valor da estabilidade, que Vieira tem defendido está neste momento completamente esquecido. A instabilidade não vem sequer de fora. São os próprios dirigentes que a promovem, não digo que propositada mas objectivamente. 



segunda-feira, 22 de julho de 2013

Desprestigiar a Taça de Honra e prejudicar os nossos interesses

Uma das grandes críticas que fazemos ao actual (des)equilíbrio de poder no futebol português é o protagonismo e poder da Associação de Futebol do Porto. Este protagonismo e poder, designadamente sobre os árbitros, é manifesto em várias situações e serve evidentemente os interesses do Futebol Clube do Porto.

Para contrariar esta realidade, tenho defendido uma maior coordenação de posições entre o Benfica e o Sporting, sendo também importante dar maior força e protagonismo à Associação de Futebol de Lisboa (AFL). 

Pois bem e o que faz o Benfica?

No regresso do troféu emblemático da AFL, a Taça de Honra, apresenta aquela equipa e aquele futebol (?) que se viu. Como dizia um jornalista, a RTP, que comprou os direitos de transmissão, certamente não repetirá o erro e o interesse pela competição será para o ano praticamente nulo. Se ela se voltar a realizar será mesmo uma surpresa.

O que foi aquilo? Que equipa desconchavada foi aquela? O que fomos lá fazer? O que se ganhou com aquilo?

Se é verdade que a atitude do Sporting foi estranha, ao ter a sua equipa principal ausente no Canadá aquando da disputa do troféu (algo que pode ou não ter razões de monta subjacentes), já a do Benfica é inexplicável.

Diz-se agora que o Benfica jogou com a equipa B. Mas será que isso é verdade?

Paulo Lopes, Sílvio, Jardel, Urreta, Rodrigo, André Gomes e Ola John serão todos da equipa B? E Roderick? Lembro que no ano passado regressou para "reforçar" a equipa em Dezembro...

A verdade é que levámos uma lição de uma equipa, essa sim, B do Sporting. A qual, essa sim, honrou as suas camisolas, jogou com brio e venceu, assim atenuando a má imagem que deixou ao não apresentar os seus principais atletas na competição.

Em suma, desprestigiámos o Benfica, perdendo contra um Sporting de jovens jogadores, não rotinámos a equipa principal, pouco ou nada contribuímos para a afirmação dos nossos próprios jovens e, como acima referido, podemos ter condenado esta prova agora recuperada a nova e rápida "morte", nada contribuindo para o poder e prestígio da AFL.

Como se não bastasse, um grupo de adeptos (?) do Benfica envolveu-se em confrontos com adeptos do Sporting dos quais resultou um ferido que se encontra em estado muito grave, de acordo com o CM de hoje.

Demasiado mau para ser verdade.

Este Benfica parece-me estar sem rumo. Não há uma estratégia, não há uma visão para o clube e para o futebol português. Parece-me não se saber o que se está a fazer quanto mais onde se quer chegar.


PS - se a resposta do Benfica à aparente nova atitude do Sporting face ao sistema e ao Porto, nomeadamente ao falar de fruta e ao cortar relações, mostrando que se acabou a subserviência, é "roubar" jogadores de duvidosa utilidade, numa atitude de hostilidade para mim incompreensível (se, repito, é mesmo assim), então estamos ainda pior do que eu pensava ser possível.

A entrevista de Miguel Vitor (e outros sinais alarmantes)

Não tenho acompanhado muito a blogosfera pelo que não sei se a entrevista de Miguel Vitor a "A Bola" teve algum destaque. Que merece, pelo que não deixarei pela minha parte de aqui partilhar alguns excertos.

Antes de mais importa dizer que Miguel Vitor (24 anos) esteve 13 anos no Benfica (com um ano e meio de empréstimo pelo meio) tendo sempre sido um atleta exemplar. Tem por isso conhecimento da realidade benfiquista e toda a autoridade para falar tanto mais que o fez com frontalidade mas sem rancor. Com elevação.

Trata-se de um jogador que esteve no Benfica desde os 11 anos, fez ali a sua formação, cresceu como jogador e teve um percurso ascendente, até a sua carreira estagnar, levando ao desfecho que se conhece - saiu no fim do seu contrato para o PAOK.

É Miguel Vitor um predestinado, um Humberto Coelho, um Beckenbauer? Com toda a probabilidade não. É Miguel Vitor um jogador da formação, com espírito benfiquista, muito fiável, que nunca desiludiu e podia ser o 4º central do plantel? Com toda a probabilidade sim.

Na sua entrevista, Miguel Vitor começa por dizer que sai com "mágoa" e que esta decisão lhe "custou" dada a longa ligação ao Benfica. 

Depois, instado a comentar os últimos 4 anos, com JJ, diz:

Vinha de uma época em que fora muito utilizado por Quique Flores e depois foi complicado. Tenho de admitir que o Benfica teve boas duplas de centrais, mas sinto também que podia ter tido outras oportunidades. O treinador nunca me deu oportunidades a sério. Ele lá teve as suas opções, sempre respeitei e trabalhei da mesma forma, ninguém me pode acusar de nada, mas tenho pena de as coisas terem acontecido desta forma.

(...) com a continuidade deste treinador senti que as minhas hipóteses seriam muito reduzidas.

Depois esclarece que o Benfica lhe propôs a renovação mas neste quadro de estagnação da sua carreira não a quis aceitar. "A Bola" pergunta-lhe então se sentiu que a lesão no jogo com o Braga em 2011/12, quando estava a fazer uma grande exibição, terá sido um momento marcante, pela negativa.

Não foi só esse momento, mas sim, esse jogo podia ter sido o click. Mas sinceramente não acredito que quando regressassem os outros jogadores, o treinador mudasse alguma coisa (...) Mas houve outras situações que me entristeceram. Por exemplo: entrei em Old Trafford, frente ao Manchester United, devido à lesão de Luisão. O jogo correu-me bem, aqueles 30 minutos foram elogiados por todos, e a seguir tivemos um jogo com o Sporting e quem jogou foi o Jardel, tal como aconteceu nos jogos seguintes. Que jogou bem, mas quem garante que se tivesse sido eu não teria jogado igualmente bem ou melhor? Acho que são aqueles momentos que mudam a carreira de um jogador. Não tive essa felicidade no Benfica, foi procurá-la agora noutro lado.

Sente-se injustiçado?

Claro. Trabalhei muito para jogar no Benfica, sabia que a dupla de centrais era boa mas eu podia ser opção em mais jogos. Não compreendi, por exemplo, o que aconteceu em Freamunde: um jogo para a Taça em que o mister rodou a equipa e foi buscar o Sidney à equipa B e eu fui para o banco, que era da equipa A. Essa é uma das situações que nunca irei entender.

(...)

O que gostaria de ter dito a Jorge Jesus?

Eu disse tudo. Tive algumas conversas com ele para tentar perceber onde é que estava a errar mas nunca me respondeu com honestidade e frontalidade porque é claro que nunca fui aposta para ele (...).



Lembro-me bem destas situações e digo com todas as letras: se a questão da titularidade de Jardel em detrimento de Miguel nos jogos referidos é questionável, já a titularidade de Sidney no jogo com o Freamunde é um insulto a quem o não merecia.

A esta entrevista (e aos factos que ali se descrevem) juntam-se outras declarações, nomeadamente de Michel, do agora regressado (com melhor contrato) Rúben Amorim e de outros. Junta-se ainda à inaceitável situação de Miguel Rosa. Ser português, da formação e benfiquista pelos vistos é visto negativamente por quem pode e manda.

Jorge Jesus põe e dispõe em demasia neste Benfica. Actua em roda livre e parece algo perdido, continuamente deslumbrado e inebriado nas suas opções e poderes. O que se passou na Taça de Honra é mais um triste e revelador episódio da actual desgovernação no Benfica. 

Do ano passado para este, nada parece ter sido aprendido ou interiorizado. Nenhuma lição foi tirada, como se vê quer pela entrevista de JJ à Benfica TV, quer pela política de contratações aos molhos. A descaracterização do Benfica continua em ritmo acelerado. 

Do ano passado para este o que mudou? Saiu Norton de Matos, contratado um ano antes (se com ou sem indemnização não sei) e entrou Hélder, que tem um passado no Benfica mas cujas primeiras impressões são de uma grande dependência de Jorge Jesus. Saiu Carraça, que bom ou mau por vezes se via tentar refrear JJ e entrou para o seu lugar Lourenço Pereira Coelho, que é um profissional muito qualificado mas que dificilmente (estou em crer) terá peso suficiente para questionar JJ seja no que for.

Depois de 3 anos a perder, os sinais são preocupantes.

Instabilidade a mais

O Benfica precisava de uma grande tranquilidade para preparar a presente época.

Nestes últimos 3 anos perdemos (quase) tudo não por falta de qualidade de jogo mas por falta de calma nos momentos cruciais. Na época passada isso foi tanto mais evidente quanto deitámos tudo a perder nos últimos dias de competição e nos últimos momentos dos jogos decisivos.

Essa calma vem com as vitórias e os títulos mas é também resultado da estabilidade.

Infelizmente neste momento a instabilidade é mais do que muita. Não há certeza sobre quem estará no plantel no fim de Agosto e todos os dias se fala em entradas e saídas. 

Os efeitos são ansiedade (entre profissionais e adeptos) e distração, quando se devia passar o contrário - concentração e tranquilidade. Que diferença para outras paragens...

Dirão alguns que isso é fruto dos jornais e atiram (mais uma vez) todas as culpas para os nossos "inimigos" externos, reais ou fictícios.

A verdade é porém outra.

Há várias semanas, o Benfica, através de um comunicado oficial, acusou um jornalista, através de uma insinuação muito pouco subtil, de ser toxicodependente, porque este falou de hipotéticas contratações que não se confirmaram.

No entanto agora o Benfica nada diz quando todos os dias se dá como certa a entrada e saída de vários jogadores. Mais ainda, o próprio treinador já contribuiu para esta parafernália de rumores...

A realidade é que o Benfica está transformado num centro de negócios de passes de jogadores. Não há como o negar.

Há dias expressei contentamento por aparentemente o plantel se estar a consolidar. Pura ilusão! 

Veja-se bem, a menos de 4 semanas do início do campeonato, não se sabe se Matic, Sálvio, Garay e Cardozo saem ou ficam. Estamos a falar dos 4 melhores jogadores do Benfica. Farina já estará em Lisboa mas continua sem se saber se vai ser emprestado ao Braga(??). Um novo lateral esquerdo poderá estar a caminho, Pizzi também estará para assinar e já se fala na contratação de mais um avançado. Saíram nos últimos dias Michel, Hugo Vieira, Miguel Vitor e agora parece que Nélson Oliveira também volta a ser emprestado. Miguel Rosa também não conta para o treinador pelo que estará também para sair. 

Entretanto aguardam ainda pela definição da sua situação jogadores como: Luizinho, Roderick, Jardel, Carlos Martins, Sidney, Djaló e Urreta.

Sem contar com o regresso de Rúben Amorim, o Benfica já contratou  esta época 10 jogadores! Apenas dois deles (Steven Vitória e Sílvio, este último por empréstimo) são portugueses. A esta lista poderão ainda acrescentar-se mais nomes: Pizzi, Farina e, quem sabe, ainda mais um avançado.

É instabilidade a mais.

O Benfica está feito num entreposto de jogadores. Há jogadores contratados que são de imediato emprestados e nunca chegam a vestir a camisola do Benfica. 

É uma porta giratória de entradas e saídas certamente para dar dinheiro a ganhar a muita gente.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

A qualidade começa-se a ver

Há já considerável tempo que aqui referi que o tridente sérvio de ataque constituía um muito bom reforço para o Benfica. Djuricic, Markovic e Sulejmani pareceram-me logo boas contratações, por se tratarem de jogadores com técnica, com talento e com cultura futebolística.
A minha grande dúvida dizia respeito a Sulejmani, não propriamente quanto à qualidade mas sim por ter tido uma lesão grave e por ter estado parado bastante tempo, creio que por não ter renovado com o Ajax e o clube o ter assim querido pressionar ou mesmo punir.
Vistos os primeiros jogos, que servem sobretudo para experiências e para encontrar os lugares e os modos de jogo em que os atletas podem render mais (e estes se adaptarem às concepções de jogo da equipa, obviamente) começam a definir-se melhor as coisas e a qualidade que me parecia existir começa de facto a mostrar-se.
Djuricic é o construtor, armador de jogo que se esperava, mostrando qualidade e visão, Sulejmani apareceu em bom plano, quer a finalizar, quer a jogar como extremo esquerdo, quer na posição de segundo avançado e Markovic é um criativo, um jogador rápido na frente de ataque com características bastante peculiares e interessantíssimas se souber colocar o seu talento ao serviço da equipa.

Existe de facto muito talento nestes jogadores, que até exibem alguma versatilidade (embora sempre em posições de ataque), que Jorge Jesus seguramente saberá aproveitar ao máximo. Se há qualidade que Jesus tem mostrado nestes anos de Benfica é conseguir extrair o máximo rendimento dos atletas.
Assim no ataque não faltarão soluções, o que não quer dizer que não se possa vir a sentir a ausência de Cardozo, mas esse é um outro tema que aqui agora não cabe.

Quanto ao meio campo fico satisfeito por Farina poder ser uma alternativa a Enzo. Como várias vezes tenho vindo a assinalar, a "alta rotação" do nosso meio campo tem que ser assegurada através de alguma alternância e a contratação de Farina parece servir para esse efeito. Continuo a achar que fica a faltar uma solução para substituir Matic mas quem sabe se ela não poderá surgir dentro do próprio plantel. 

Finalmente quanto à defesa estou tranquilo. Sofremos muitos golos, muitos mais do que é aceitável, mas existem qualidade e opções em número mais do que suficiente para que as coisas mudem rapidamente assim que começarem os jogos a doer.

Na minha opinião, Melgarejo esteve bem na maioria dos jogos da época passada. No entanto precisávamos naturalmente de um lateral de raiz. Neste momento temos Melga, o brasileiro Cortez (que penso que tem ainda muito que aprender em termos de futebol europeu) e ainda Sílvio, ao passo que para a direita, além de Maxi e André Almeida, temos agora ainda Rúben Amorim. Em termos de centrais Lisandro parece uma boa aposta, Vitória já deu provas e Mitrovic tem condições naturais para ser também um jogador confiável. Se eu estivesse à frente do Benfica Luisão continuaria, pois é importante não mudar uma defesa toda de um ano para o outro.

Falta agora resolver os casos pendentes, tentar colocar uma série de jogadores que não têm lugar no plantel (e que referi já anteriormente) e começar a trabalhar, com calma, para estar pronto para os primeiros desafios da época. Este ano todos devemos aprender com o que passou no fim do ano passado e recordar que não há vencedores antecipados e que não faz sentido entrar em euforias antes do tempo.

No imediato, após as perplexidades que manifestei anteriormente, vejo alguns sinais positivos, como seja a versatilidade dos sérvios (que permitirá nuances tácticas interessantes), a contratação de um substituto para Enzo e o número de soluções válidas para a defesa (os muitos golos sofridos até podem ser uma coisa boa pois alerta em tempo útil para a necessidade de trabalhar estes processos).

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Perplexidades de pré-época

Estamos na pré-época sendo obviamente muito cedo para tirar ilações, fazer projeções e mais ainda balanços.

No entanto preocupa-me que o plantel do Benfica continue a ser muito desequilibrado e que se insista em erros e opções que me parecem absolutamente tontas. Em particular causam-me estranheza os seguintes aspectos:
  • O que fazem Michel e Djaló na Suíça? O próprio Urreta? Quantos mais anos precisará este último para se afirmar?

  • Existe uma enorme profusão de jogadores para a ala esquerda mas, para além da adaptação de Ola John, não há uma alternativa credível a Sálvio.

  • Rúben Amorim, depois de se portar mal com JJ e o Benfica e nem sequer se ter imposto em Braga não apenas faz parte do plantel mas renovou por 4 anos. Isto só me faz confusão a mim? Temos aqui um novo Porfírio? Amorim já mostrou que não tem suficiente qualidade para ser titular do Benfica e para suplente não precisava de um contrato tão longo.

  • Neste momento temos 6 centrais. Admitindo que Garay sairá continua a haver um central excedentário. Para mim é Jardel, mas para JJ não sei. Isto para já não falar de Roderick...

  • Quanto a Carlos Martins continuará a receber a receber um ordenado para durante um ano inteiro para produzir zero, ou pior ainda, prejudicar a equipa nos momentos cruciais?

  • Quanto às opções para o meio campo, continua a existir um claro défice de soluções. Espero que a aposta nos Andrés seja para continuar mas claro que se percebe que estes jogadores ainda precisam de crescer para se poderem afirmar, não devendo pesar sobre eles a responsabilidade de substituir Enzo e Matic quando estes não puderem jogar. Rúben, já o disse, não me parece solução para mais do que meia dúzia de jogos por época (até porque é muito vulnerável a lesões) pelo que a meu ver continua a faltar um jogador para o meio campo. Caso Matic saia, então o caso muda de figura, pois este grande jogador vale mesmo por dois. Nessa eventualidade o Benfica precisará no imediato de um "trinco" com muito pulmão e capacidade física, algo que não é fácil de encontrar, para além do tal outro jogador para substituir um dos dois titulares e promover a rotação.
Em suma, apesar de algumas das contratações me parecerem bastante positivas, nomeadamente resolvendo (esperamos) o problema da defesa, quer nas laterais quer no centro, o plantel continua a ser desequilibrado e carente nalgumas posições, designadamente no centro do campo. Para além disto conta (ainda) com um conjunto de jogadores que não me parecem ter categoria suficiente para estar no Benfica e cuja simples presença no plantel me parece inexplicável.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

A formação do Benfica - II

A contratação de Sílvio, que saúdo, é paradigmática. O jogador foi formado no Benfica e chega ao nosso clube por empréstimo do... Atlético de Madrid.
A contratação parece-me boa pois trata-se um jogador com qualidade, rotinado no lugar e português. Permite uma alternativa a Maxi diferente de André Almeida: Sílvio tem mais rotação, mais cultura daquela posição e mais velocidade. Sílvio pode ainda jogar na esquerda.

A situação de Sílvio é um pouco o retrato da formação do Benfica: formam-se alguns jogadoers com qualidade mas aposta-se pouco neles, sendo-lhes dadas poucas oportunidades. Muitos se perdem assim em clubes de dimensão menor, sem terem tido oportunidade de evoluir como poderiam no seio do Benfica, com condições, jogadores e treinadores melhores do que os que vão encontrar naqueles clubes. Não foi o caso de Sílvio mas a verdade é que o passe do jogador também já não nos pertence.

Repare-se: nem todos podem ser Aimar, Messi, Coentrão ou Matic. A maioria dos jogadores são médios em termos de qualidade, assumindo depois a dedicação, a postura competitiva, os treinadores com quem trabalham, a fortuna ou felicidade que têm na sua carreira um papel decisivo para determinar como esta mesma carreira evolui. 

Trata-se pois de uma questão de aposta dos responsáveis, de confiança dos treinadores, de paciência com os jogadores.

Mourinho no Porto ou no Chelsea contou com jogadores de qualidade excepcional mas também com muitos jogadores medianos ou médios para conseguir atingir as impressionantes conquistas que marcam o seu percurso. Olhe-se para os casos de Nuno Valente, Hilário, Derlei e Postiga. Olhe-se mesmo para Paulo Ferreira, um jogador que conquistou inúmeros títulos de campeão nacionais e internacionais e que não era propriamente um predestinado. Era um jogador competente, dedicado e com boa condição física, apenas isso. Simplesmente teve um Mourinho que apostou nele, lhe deu confiança e o ensinou a ser melhor. 

É isto que o Benfica deve saber fazer. Aproveitar o melhor de cada jogador. "Coentrões", "Di Marias", Ramirez ou "Davids Luises" são a excepção. Jogadores como Sílvio são pelo contrário o jogador médio do futebol europeu, ou da metade superior, em termos de patamar competitivo, do futebol europeu.

Se percebermos isto, se soubermos ser pacientes e apostar nos nossos valores, desde João Cancelo a André Gomes, passando por André Almeida, Miguel Rosa e Ivan Cavaleiro, poderemos tirar muito mais partido da nossa formação. Detectar talentos jovens no estrangeiro ou mal aproveitados em grandes clubes é sem dúvida uma solução que temos usado com resultados positivos desde a chegada de Rui Costa e Jorge Jesus. Importa porém apostar na nossa formação para equilibrar mais os nossos plantéis e as nossas finanças. Tal permitirá mais estabilidade nos plantéis (os jovens talentos estrangeiros não ficam muito tempo), mais cultura benfiquista, mais solidez emocional e melhores resultados financeiros. A criação da equipa B foi um excelente passo nesse sentido. Importa agora dar-lhe também estabilidade ao nível da direção técnica e não mudar de protagonistas todos os anos. Saibamos tirar partido desta aposta e potenciar os jogadores da nossa formação. Não tenho dúvidas de que este é o caminho. 

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Plantel ganha forma (mas mercado continuará aberto meses)

O Benfica está agora finalmente a reforçar os sectores mais fragilizados da equipa, designadamente as laterais e o centro da defesa.

É curioso que tendo na época passada chegado às finais das três competições mais relevantes (se por final entendermos, no que ao campeonato diz respeito, estar em 1º a duas jornadas do fim), tenhamos apesar disso sentido a necessidade de reforçar a equipa em todos os sectores.
É algo paradoxal: apesar do "quase" sucesso, havia afinal reconhecidamente fragilidades várias. 

No entanto, muito embora tenha contratado já 9 jogadores (a confirmar-se a vinda de Bruno Cortez, lateral esquerdo brasileiro), o Benfica continua a precisar de fazer pelo menos 2 contratações mais. 

As contratações que falta são para o meio-campo.
O problema da defesa está resolvido e o ataque poderá não ter mexidas, mesmo com a mais que provável saída de Cardozo.

Tal como assinala José António Saraiva na sua crónica de hoje no "Record", a contratação dos sérvios poderá significar um tipo de jogo um pouco diferente em que possivelmente não caiba um avançado mais fixo como Cardozo. Estamos a especular um pouco, é certo, mas a realidade é que contratar 3 jogadores com nome e qualidade como Djuricic, Sulejmani e Markovic para apenas um lugar na frente de ataque não faria muito sentido.

Já assinalei anteriormente que via Djuricic como sucessor de Aimar mas que JJ considera que este é mais do tipo de Saviola, um segundo avançado. Sendo essa também uma posição natural para Markovic e Sulejmani (que também jogam pelas alas, onde já existem varias opções), a contratação de um "novo Cardozo", a acrescentar a Lima, retiraria quase por completo o espaço de afirmação às novas contratações sérvias.

Creio portanto que não haverá mais contratações para o ataque, a não ser que apareça um "novo Weldon", isto é, um goleador "barato" e oportuno para jogar apenas alguns minutos quando as equipas adversárias se fecham muito e os jogos estão bloqueados.

O que nos leva à maior incógnita do próximo ano e sobre a qual já escrevi também alguns posts: o meio campo do Benfica em 2013/14. E aqui infelizmente teremos com toda a probabilidade que esperar pelo fecho do mercado. Já o ano passado assim foi com as saídas de Javi Garcia e Witsel e esta época a história poderá repetir-se com a situação de Matic.

Para estarmos a salvo de surpresas (até porque jogadores como Matic não aparecem todos os anos) seria boa ideia assegurar já a contratação de um centro campista que dê garantias e manter um outro já sob observação. É preciso notar que mesmo com Matic o Benfica sentiu a falta de um elemento adicional que pudesse substituir o sérvio quando necessário. Até para o lugar de Enzo deveria ter existido outra opção, dado que a aposta em André Gomes não foi consistente. A este propósito insisto: deveria apostar-se na prata da casa e dar-se uma oportunidade a Miguel Rosa.

Rosa é um centro campista que tem jogado sobretudo no meio campo ofensivo mas cujo talento será eventualmente escasso para assumir essa responsabilidade numa equipa como o Benfica. Mas sendo ele um jogador trabalhador e abnegado, creio que facilmente se poderia fazer a "adaptação". Se Jesus adaptou Enzo, Melga e o próprio Matic, porque não poderia adaptar Rosa?

É pequeno? E Moutinho? Será algum gigante? E Xavi, do Barcelona, será alguma torre?

Esta seria a meu ver uma opção que nos poderia resolver um problema sem custos e com a prata da casa. 

Resolvido até ver o problema da defesa, vislumbrando-se um novo ataque com múltiplas opções, é agora tempo de assegurar que o miolo do campo terá as opções necessárias para enfrentar nova época. Opções que deem resposta às necessidades - não apenas até às "finais" mas até às conquistas.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Será muito difícil substituir Cardozo

Retirado do site da UEFA, Liga Europa.


Cardozo tem uma característica rara e preciosa no futebol: marca golos. Muitos golos, de várias formas. Tem o golo nos pés como se costuma dizer.

Os goleadores são raros no futebol e por isso são muito caros. A ideia de que qualquer um marca desde que lá esteja não é verdadeira e a experiência já múltiplas vezes o demonstrou.

Por regra, as equipas de topo têm um grande goleador. O Sporting nas únicas duas vezes em que foi campeão nos últimos anos teve dois goleadores: Acosta e Jardel. O Porto nos últimos 3 anos teve Falcao, Hulk (muito à custa de penalties, é certo) e Jackson. 

O Benfica tem tido Cardozo e por isso venceu em 2010 e esteve muito perto de vencer nas últimas duas épocas. Se chegámos à final da Liga Europa devemo-lo em grande medida a Cardozo que marcou em todas as eliminatórias. E se a perdemos devemo-lo a Torres que do nada criou o golo que nos colocou em desvantagem e inverteu a tendência do jogo que até aí nos era favorável.

O Benfica tem ainda Lima, tem Rodrigo e tem os sérvios que me parecem bons jogadores. Mas para além de Lima nenhum deles me parece um goleador nato. E nenhum deles, incluindo Lima, tem as características de Cardozo.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Benfica 2013/14 - mais do mesmo?

Começo a ficar cansado, como é notório para quem costuma visitar este blog.

Vejo com preocupação o que se passa no Benfica. A falta de exigência, a falta de responsabilização, um certo irrealismo começam a ser a regra no Benfica.

O fim de época passada foi  o que se sabe. A derrota na final da Taça contra uma equipa remendada do Vitória foi inaceitável.

Deveria ter obrigado a uma reflexão por parte de todos. A um enorme cerrar de fileiras e a uma concentração redobrada no trabalho para a nova época. A uma política de comunicação sóbria, discreta, minimalista. À definição de um rumo claro para que não se repetissem os erros decisivos do final de época passada.

E o que se verifica?

Um treinador que parece já ter esquecido que esteve de joelhos, que chorou, que foi quase agredido e cuspido, a falar em "hegemonia" (!!) do futebol português. Alguém que não é campeão há 4 anos!!

Uma política de vendas e contratações que, apesar de algumas decisões acertadas, parece errática e pouco coordenada.

Eu não quero sequer acreditar que Steven Vitória, um jogador com inquestionável qualidade, possa ser um novo Capdevilla. Mas as declarações de Jorge Jesus fazem-me temer esse cenário. Instado a falar dos reforços para a defesa nem sequer mencionou o seu nome!! Depois, "relembrado" pelo entrevistador (um vice-presidente, o que é outra originalidade neste Benfica) de que havia ainda o luso-canadiano, JJ lá diz que sim, que o jogador até pode ser uma solução, que tem alguma qualidade e que é Português o que "pode ser importante para a Champions". Ou seja, dá ideia que Steven Vitória vem para fazer número ou preencher "quotas" de jogadores portugueses. Na SIC disse-se hoje que "não é líquido que Jorge Jesus queira Steven Vitória no plantel".

Sublinho, nem quero acreditar numa coisa destas.

Depois há o caso de Miguel Rosa, cuja situação, tanto quanto sei, continua por definir. Não me interessa que o jogador possa ter 24 anos, em contraposição com jogadores mais novos das equipas B. 
24 anos é suficientemente novo para ainda poder evoluir quando o ponto de partida (melhor jogador da segunda Liga, consecutivamente eleito em todos os meses como tal) já é bastante razoável.

E finalmente o de Rúben Amorim. Depois de se ter portado mal com o Benfica e o seu treinador, irá aparentemente integrar o plantel e foi, de acordo com "A Bola", abordado para renovar!

Quanto às aquisições, também fiquei surpreendido com as declarações de Jorge Jesus, de acordo com as quais Djuricic afinal não é sucessor de Aimar mas antes um "9 e meio", um jogador "do tipo de Saviola". 


Se este é o caso, parece-me então que contratámos 3 jogadores para a mesma posição: Djuricic, Sulejmani e Markovic.

Para ajudar à "festa", Jesus diz que "é quase impossível que Matic não saia". Como???

O Benfica quer empurrar o seu melhor jogador, o melhor jogador da Liga na época passada, para a porta da rua? Mesmo que esse fosse um cenário provável, desde quando se fazem declarações deste tipo? Acerca de um atleta exemplar que várias vezes já disse estar contente e querer dar o seu contributo para que o Benfica agora conquiste os títulos que merece?? 

E depois vejo os adeptos e os blogs a falarem de calendários "cozinhados" e de novas perseguições ao Benfica. Isto porque - imagine-se - vamos ter que jogar contra os adversários numa certa ordem, que pelos vistos nos será desfavorável. O ponto a que se chegou...


Tudo neste Benfica me começa a parecer demasiado estranho.


Daí algum cansaço e menor tempo dedicado a este blog. Começo a temer que a época que se avizinha venha a ser a repetição de um filme já demasiadas vezes visto nas épocas passadas: muita conversa e zero (ou perto disso) de resultados. E para isso já dei demasiado na época passada em que atingi o meu limite de ilusões com o futebol e com este Benfica.

Espero estar enganado.