O que se passou na Madeira não é normal. Ninguém duvida de que um conjunto de circunstâncias tão improváveis dificilmente se alinha muitas vezes numa época.
No entanto temos que reconhecer que o que se passou em Istambul também não foi normal.
Há por isso que, sem pânico, identificar algumas das causas do que se passou nestes dois jogos e retificar. Vamos bem a tempo, embora haja pouco tempo - esta semana traz dois jogos muito importantes para o rumo da época. No caso do Nápoles o jogo pode ser decisivo - caso o Besiktas vença na Ucrânia o Benfica tem que vencer para se apurar para os oitavos de final.
Rui Vitória tem demonstrado saber lidar bem com estes momentos e aprender com o que menos bom acontece. Estou confiante de que assim será também agora.
Em todo o caso, parece-me que há um problema na defesa. Pode ser tão somente um "problema" que resulta do sucesso, ou seja, após tantas vitórias é óbvio que o dia da derrota tem que chegar. Pode ser que uma defesa tão segura, tão competente, esteja agora a quebrar um pouco precisamente por essa carga competitiva contínua e o desgaste emocional que ela pode acarretar. Pode ser que alguns jogadores do Benfica da linha mais recuada estejam a acusar alguma descompressão pelo facto da vantagem interna ser (até anteontem) tão confortável que podia parecer que o campeonato seria uma espécie de passeio e a denotar assim falhas de concentração.
Pode ser um pouco de tudo isso mas parece-me que há algo mais. Penso que Jardel faz muita falta a esta equipa. Penso que até Lizandro podia dar outra segurança nesta fase. Luisão já fez grandes jogos, já demonstrou que recuperou da lesão e que podemos contar com ele. No entanto, apesar de toda a sua grande capacidade e liderança, penso (e posso obviamente estar enganado) que Luisão não deve ser titular consecutivamente, sobretudo nesta fase da época de grande densidade de jogos. Luisão já não tem a velocidade e elasticidade de outros tempos e a sua velocidade de recuperação é mais lenta. Nessa medida Luisão faz perfeitamente um jogo ao mais alto nível se for chamado mas se jogar semana após semana (duas vezes por semana aliás) por vezes denota desgaste.
O que se aplica por maioria de razão a Luisão aplica-se em todo o caso a todos os jogadores. Vitória tem o mérito de fixar um 11 mas por vezes parece-me que poderia promover um pouco mais de rotação (ou pelo menos substituições menos tardias no jogo). Não o fazer pode provocar uma quebra física da equipa como me parece que aconteceu em Istambul e com o Marítimo, o que se reflete depois em erros que noutras circunstâncias, com outra frescura, aconteceriam com menor frequência. Em ambas essas partidas houve múltiplos erros individuais tanto na defesa como no ataque que foram decisivos para que não os ganhássemos como deveríamos.
Mas talvez mais importante que tudo isto há que tirar daqui uma lição muito importante. Uma lição que eu esperava que pudesse ter sido aprendida em Istambul, onde "conseguimos" desperdiçar uma vantagem de 3 golos e a qualificação imediata para a fase seguinte da Liga dos Campeões, mas que pelos vistos exigiu novo desaire. Espero que agora esteja bem compreendida.
E a lição é esta: nada está ganho! Nada está ganho em dezembro e nenhum jogo está ganho à partida, nem sequer ao intervalo ainda que tenhamos uma vantagem que parece insuperável. A questão é que os níveis de concentração e motivação nunca podem ser abrandados. (Esta é aliás uma das razões pelas quais preconizo um pouco mais de rotação).
A meu ver isso foi esquecido em Istambul, onde houve alguma complacência após o 3-0 e alguma falta de concentração e calma a partir do momento em que os turcos marcaram o primeiro golo, e foi de algum modo esquecido na Madeira com uma entrada pouco firme no jogo.
Claro que houve factores estranhos em ambas as partidas. No caso do Marítimo, a arbitragem de Vasco Santos é de compêndio - compêndio do que não se deve fazer-, com um perdão evidente - e consciente - quer de cartões amarelos quer de penalties em desfavor do Marítimo. O penalty sobre Nélson Semedo é descarado e indiscutível, impossível de não se ver. A rábula das perdas de tempo ultrapassou o tolerável, assim como o nível de violência das entradas dos maritimistas, tudo perante a complacência completa do Sr. Vasco Santos.
No entanto estamos sempre sujeitos a artistas destes. Não é neles que depositamos a nossa confiança - pelo contrário - mas sim nos nossos jogadores e treinadores. Eles dá deram muitas provas da sua fibra e não são dois desaires que nos devem levar a descrer. Certamente que há lições a serem tiradas mas até nisso eles já demonstraram competência e humildade para as aprender.
Estou por isso confiante de que amanhã e depois contra o Sporting voltaremos a encarrilar.