sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

As constipações de Adrien e Gelson Martins

Gelson Martins e Adrien estiveram alegadamente constipados na passada semana e supostamente em dúvida para o derby. 

Na altura achei esta estória ridícula e interpretei-a como uma manobra de diversão, destinada a motivar os sportinguistas quando se percebesse que afinal os dois melhores jogadores do Sporting estavam disponíveis e poderiam dar o seu contributo num jogo tão importante.

Ambos fizeram uma boa partida (no caso de Adrien, óptima, pois foi o grande motor do Sporting na sua fase de maior assédio à nossa grande área após o 2-0) não se tendo dado conta de nenhuma limitação de ordem física.

Não se voltou a falar do caso mas soube-se entretanto que o Sporting estava incomodado pelos múltiplos controlos anti-doping à sua equipa.

Não sei se haverá alguma relação entre as duas situações mas aquilo que me disseram - e que transmito como ouvi - é que a constipação surgiu aquando do primeiro controlo surpresa. A estória, disseram-me, estaria mal contada.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Pizzi está cansado?

Talvez o jogador mais em destaque do Benfica no início de temporada tenha sido Pizzi: golos, assistências, uma parceria excelente com Fejsa e uma distribuição de jogo sempre com critério e qualidade que fizeram do jogo do Benfica um carrossel dinâmico difícil de controlar. 
Curiosamente depois de uma das suas melhores exibições (creio que contra o Marítimo para a Taça) e de elogios de Rui Vitória (raros num treinador que valoriza normalmente o colectivo) o rendimento de Pizzi caiu bastante. O ponto de viragem terá sido o jogo de Istambul, a partir do momento em que os turcos marcaram o seu primeiro golo.

Nalguns dos últimos jogos Pizzi tem tido muitos passes errados e perdas de bola. Ontem juntou a isso um completo desacerto nas bolas paradas: o Benfica desperdiçou vários livres laterais perigosos com a bola a não ultrapassar o primeiro defesa adversário. Mas claro que Pizzi também fez coisas boas no jogo e saiu dos seus pés (os sportinguistas furiosos dirão "das suas mãos") o início da jogada do primeiro golo. 

É normal os jogadores terem oscilações de forma e penso que Pizzi está a demonstrar algum desgaste. Será importante que possa ter aqui e ali algum alívio competitivo de forma a estar fisicamente bem. A recuperação de André Horta (este calvário de lesões parece interminável...) e também de Jonas serão importantes para Pizzi poder ter outro tipo de respaldo quer no banco quer no relvado. Até lá Pizzi deve-se preservar a si próprio e tentar por vezes simplificar um pouco.

O que (ainda) falta a este Benfica

O Benfica venceu ontem bem o Sporting num jogo que a meu ver poderia ter sido mais tranquilo para a nossa equipa. O Sporting queixou-se do árbitro, a meu ver sem razão, algo que não constitui novidade. O campeonato está muito longe de estar decidido.

Comecemos por este último ponto: há um ano o Benfica estava 7 pontos atrás do Sporting e 5 atrás do Porto. Se por um lado podemos dizer que este ano estamos melhor e isso nos traz conforto, por outro esse facto demonstra que não há campeões em janeiro e que falta ainda muito caminho. Foi precisamente à 14ª jornada do campeonato passado que o Sporting perdeu 3 pontos na Madeira contra o União, os quais permitiram o início da nossa recuperação que se consumaria no decisivo Sporting-Benfica de março. Em suma, teremos que estar muito atentos e não dar nada por adquirido, nunca facilitar, como se viu também na Madeira na jornada anterior onde perdemos de forma surpreendente. No futebol as coisas mudam muito depressa, por vezes de uma semana para a outra e a verdade indiscutível é que qualquer um dos três grandes mantém as suas aspirações ao título intactas.

O Benfica vinha de duas derrotas, uma surpreendente e "injusta" contra o Marítimo, outra desapontante frente ao Nápoles, com uma exibição pobre e muitos erros defensivos. Mas a quebra de forma começara estranhamente a meio de um jogo, quando após uma primeira parte sensacional contra o Besiktas, o Benfica se desconjuntou a partir dos 60 minutos permitindo uma inédita recuperação de 3 golos aos turcos. E a coisa poderia ter sido ainda pior. Penso que esse jogo marcou a equipa negativamente mas também é preciso perceber que nenhuma equipa pode ter um rendimento constante e só vitórias durante uma época inteira.

O jogo de ontem era fundamental no sentido de se ver o carácter da equipa e de manter ou reforçar o 1º lugar. Nesse sentido a resposta foi muito boa. A partir dos 15-20 minutos o Benfica começou a controlar o jogo, a ter a bola e a encostar o Sporting à sua área. E aí foi eficaz concretizando uma espectacular jogada de contra ataque aos 24'. Penso que na restante primeira parte continuámos a jogar bem e tivemos até a melhor oportunidade do jogo com um ressalto num defesa do Sporting a isolar Jiménez que viu Patrício tirar-lhe um golo "cantado".

Na segunda parte voltámos a entrar muito bem, ameaçámos logo na saída de bola e marcámos logo aos 47'. E aí pensei que o Benfica tinha tudo para dar um golpe de misericórdia a este Sporting (ferido também por uma saída sem honra nem glória das competições europeias): a nossa equipa estava confiante e alguns jogadores estavam particularmente inspirados. 

No entanto o Benfica recuou no terreno, começou a perder os duelos individuais e começou a ver o Sporting jogar. Os nossos contra-ataques - justamente quando o espaço no meio campo do Sporting se tornou cada vez maior - tornaram-se mais raros e inconsequentes. O Sporting tornava-se cada vez mais perigoso e foi sem surpresa que chegou ao golo.

Sei que muitos atribuirão esta quebra enorme de rendimento à entrada de Danilo e às alterações à estrutura da equipa daí resultantes. Pode ser que assim seja, não digo que não. Danilo não tem ritmo e normalmente é difícil "entrar" nestes jogos a meio, sobretudo em posições centrais do terreno. No entanto a equipa já estava a recuar quando Danilo entrou.

O que me leva ao ponto sobre o que está a faltar a este Benfica e que na minha opinião é um "instinto matador" para dar o golpe final ao adversário ou pelo menos a capacidade de limitar a reacção daquele a situações de vantagem confortável em que nos colocamos. Foi assim nos dois jogos contra o Besiktas, foi assim contra o Sporting ontem. Pela inteligência que demonstrou em campo, com uma vantagem de dois golos o Benfica podia na minha óptica ter ontem imposto uma derrota mais clara e mais pesada ao Sporting. E sobretudo mais tranquila.

Claro que estamos a falar do óptimo e do ideal. A verdade é que nos apurámos para os oitavos da Champions - onde defrontaremos o Dortmund - e estamos na frente do campeonato. O objectivo ontem era ganhar e isso foi alcançado. Há que reconhecer que jogámos contra uma boa equipa. No entanto em casa penso que o Benfica pode ser mais dominador ou, quando jogando em contra golpe, mais eficaz quando as equipas se balanceiam tanto para o ataque como foi o caso do Sporting ontem. Felizmente a equipa melhorou após o 2-1 e conseguiu a levar jogo mais para o meio campo adversário.

Quanto ao árbitro, vi algo que nunca tinha visto que foi interromper uma jogada de perigo por haver cartolinas em campo. Foi inacreditável. Depois o árbitro foi complacente com os jogadores do Sporting a quem perdoou vários amarelos - mas não a Gonçalo Guedes a quem mostrou cartão por uma falta numa jogada dentro do meio campo do Sporting. Na dúvida considero que o árbitro decidiu maioritariamente contra o Benfica. Mas depois cheguei ao carro e ouvi falar em penalties. Vistas as imagens da TV, não tenho qualquer dúvida que Pizzi não leva a mão à bola (Lindeloff cabeceia contra o braço do médio), pelo que aí não há nada. Quando será que os comentadores vão entender que só é falta quando o jogador toca na bola com o braço de forma deliberada? É isso que a lei diz. "Interferir na jogada", "alterar a trajectória da bola" ou "beneficiar do toque com a mão" pura e simplesmente não são critérios. É preciso ser ignorante ou burro para os invocar quando já foi múltiplas vezes explicado que se exige uma acção deliberada - que aqui não existiu. Caso contrário sempre que a bola tocasse na mão era falta e os jogadores passariam a apontar aos braços dos outros dentro da grande área para ganhar penalties. Quanto ao lance de Nélson, não tenho a certeza se a bola bate no braço ou no ombro. É mais duvidoso - admito-o - mas na dúvida penso que não se deve marcar um penalty. Tal decisão tão importante exige um grau de certeza que aqui ninguém pode ter. Mas deste ponto de vista, a arbitragem nos lances mais capitais decidiu em favor do Benfica (bem, a meu ver) pelo que também não seria sério da minha parte achar que ela nos queria deliberadamente prejudicar.

Finalmente queria destacar algumas exibições. Gonçalo Guedes voltou a estar em excelente plano (até para minha surpresa, porque pensei que estava em perda), Sálvio também esteve muito bem e Raúl Jiménez voltou a demonstrar a sua enorme qualidade e sentido de golo. Penso que a sua titularidade fez todo o sentido e que o mexicano dá à equipa coisas diferentes de Mitroglou havendo espaço para ambos. Mas sem desprimor para nenhum queria destacar Rafa pela exibição enorme que colocou a defesa do Sporting em permanente sobressalto. Rafa tem uma qualidade um pouco à parte de todos os outros, até porque é daqueles jogadores raros que é capaz de passar por dois ou três defesas em velocidade e em direcção à baliza. Rafa tem tido infelicidade na hora de concretizar mas dada a sua qualidade isso pode ser trabalhado e melhorado. O seu passe para Sálvio desbloqueou o jogo para nós e a sua entrada na equipa merece por essas razões o destaque e é um motivo de grande esperança para os benfiquistas. 

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Encarrilar

O que se passou na Madeira não é normal. Ninguém duvida de que um conjunto de circunstâncias tão improváveis dificilmente se alinha muitas vezes numa época.


No entanto temos que reconhecer que o que se passou em Istambul também não foi normal.


Há por isso que, sem pânico, identificar algumas das causas do que se passou nestes dois jogos e retificar. Vamos bem a tempo, embora haja pouco tempo - esta semana traz dois jogos muito importantes para o rumo da época. No caso do Nápoles o jogo pode ser decisivo - caso o Besiktas vença na Ucrânia o Benfica tem que vencer para se apurar para os oitavos de final.

Rui Vitória tem demonstrado saber lidar bem com estes momentos e aprender com o que menos bom acontece. Estou confiante de que assim será também agora. 


Em todo o caso, parece-me que há um problema na defesa. Pode ser tão somente um "problema" que resulta do sucesso, ou seja, após tantas vitórias é óbvio que o dia da derrota tem que chegar. Pode ser que uma defesa tão segura, tão competente, esteja agora a quebrar um pouco precisamente por essa carga competitiva contínua e o desgaste emocional que ela pode acarretar. Pode ser que alguns jogadores do Benfica da linha mais recuada estejam a acusar alguma descompressão pelo facto da vantagem interna ser (até anteontem) tão confortável que podia parecer que o campeonato seria uma espécie de passeio e a denotar assim falhas de concentração.



Pode ser um pouco de tudo isso mas parece-me que há algo mais. Penso que Jardel faz muita falta a esta equipa. Penso que até Lizandro podia dar outra segurança nesta fase. Luisão já fez grandes jogos, já demonstrou que recuperou da lesão e que podemos contar com ele. No entanto, apesar de toda a sua grande capacidade e liderança, penso (e posso obviamente estar enganado) que Luisão não deve ser titular consecutivamente, sobretudo nesta fase da época de grande densidade de jogos. Luisão já não tem a velocidade e elasticidade de outros tempos e a sua velocidade de recuperação é mais lenta. Nessa medida Luisão faz perfeitamente um jogo ao mais alto nível se for chamado mas se jogar semana após semana (duas vezes por semana aliás) por vezes denota desgaste.



O que se aplica por maioria de razão a Luisão aplica-se em todo o caso a todos os jogadores. Vitória tem o mérito de fixar um 11 mas por vezes parece-me que poderia promover um pouco mais de rotação (ou pelo menos substituições menos tardias no jogo). Não o fazer pode provocar uma quebra física da equipa como me parece que aconteceu em Istambul e com o Marítimo, o que se reflete depois em erros que noutras circunstâncias, com outra frescura, aconteceriam com menor frequência. Em ambas essas partidas houve múltiplos erros individuais tanto na defesa como no ataque que foram decisivos para que não os ganhássemos como deveríamos.


Mas talvez mais importante que tudo isto há que tirar daqui uma lição muito importante. Uma lição que eu esperava que pudesse ter sido aprendida em Istambul, onde "conseguimos" desperdiçar uma vantagem de 3 golos e a qualificação imediata para a fase seguinte da Liga dos Campeões, mas que pelos vistos exigiu novo desaire. Espero que agora esteja bem compreendida.

E a lição é esta: nada está ganho! Nada está ganho em dezembro e nenhum jogo está ganho à partida, nem sequer ao intervalo ainda que tenhamos uma vantagem que parece insuperável. A questão é que os níveis de concentração e motivação nunca podem ser abrandados. (Esta é aliás uma das razões pelas quais preconizo um pouco mais de rotação).


A meu ver isso foi esquecido em Istambul, onde houve alguma complacência após o 3-0 e alguma falta de concentração e calma a partir do momento em que os turcos marcaram o primeiro golo, e foi de algum modo esquecido na Madeira com uma entrada pouco firme no jogo. 


Claro que houve factores estranhos em ambas as partidas. No caso do Marítimo, a arbitragem de Vasco Santos é de compêndio - compêndio do que não se deve fazer-, com um perdão evidente - e consciente - quer de cartões amarelos quer de penalties em desfavor do Marítimo. O penalty sobre Nélson Semedo é descarado e indiscutível, impossível de não se ver. A rábula das perdas de tempo ultrapassou o tolerável, assim como o nível de violência das entradas dos maritimistas, tudo perante a complacência completa do Sr. Vasco Santos.


No entanto estamos sempre sujeitos a artistas destes. Não é neles que depositamos a nossa confiança - pelo contrário - mas sim nos nossos jogadores e treinadores. Eles dá deram muitas provas da sua fibra e não são dois desaires que nos devem levar a descrer. Certamente que há lições a serem tiradas mas até nisso eles já demonstraram competência e humildade para as aprender.



Estou por isso confiante de que amanhã e depois contra o Sporting voltaremos a encarrilar.