Fiquei um pouco surpreso com algumas reacções na blogosfera benfiquista por estes dias.
Como aqui disse há meses, o Benfica estava obrigado a ganhar no dragão. O empate ainda poderia eventualmente deixar uma réstia de esperança, mas a partir do momento em que não apenas perdemos como ainda fomos goleados, o campeonato ficou definido. A derrota em Alvalade foi o seu ponto final.
A partir daí era apenas uma questão matemática: o Sporting não podia ser imediatamente campeão porque ainda haviam 6 ou 7 jogos em falta e portanto 18 ou 21 pontos em disputa, mas sê-lo-ia a 1,2,3 ou 4 jornadas do fim. Para quem está habituado a ver futebol, o Benfica tinha exactamente 0 % de possibilidades de ser campeão. É que até já tinha jogado com o Sporting e perdido, portanto nem "moral" tinha para esperar fosse o que fosse.
Por isso dizer-se, como Rui Costa há uma semana, que "estamos na luta" é conversa para boi dormir, como se diz no Brasil. Não acredito que ele acreditasse nisso, nem que esperasse que alguém o levasse a sério. Se acreditava é porque tem pouca noção da realidade e nesse caso estamos em maus lençóis. Uma das características da liderança é o realismo. A esperança não é uma estratégia.
Tudo bem que poderíamos (deveríamos) ter ganho ao Famalicão. Mas sinceramente não fazia qualquer diferença no final da época. Há muita coisa que vai ter que mudar e ganhar os últimos jogos até poderia dar uma falsa sensação de que estávamos no bom caminho.
Por outro lado, percebo o argumento de que "temos" de ganhar aos famalicões todos do campeonato, mas as coisas simplesmente não funcionam assim. O Porto também "tinha" de ganhar (até para a manutenção da tralha directiva que ficará ali agarrada até ao último dia) e vai ficar atrás de nós. O ano passado o Sporting também "tinha" de ganhar e ficou em 4° lugar.
E isto também não é uma questão de dinheiro. Veja-se o Liverpool que há umas semanas era líder e que entretanto perdeu o campeonato devido a derrotas com clubes menores. Se fosse o Benfica o que diríamos? Isto para não falar do United que está em 8° e há dias levou 4 do Crystal Palace, do Chelsea que está em 7° ou do Paris Saint German que falha novamente na Liga dos Campeões, etc.
Chegando aos finalmentes, o que o Benfica necessita é de fazer um exame profundo do que correu mal esta época, porque grande parte dos erros são já reiterados. Desde a venda de João Félix (até já anteriormente, mas agravando-se a partir deste momento) adoptámos uma política de contratações completamente errada. Em geral o mercado dos clubes portugueses não é o europeu, porque não temos capacidade financeira para ombrear nem sequer com a classe média. Sim, por vezes vai-se buscar um Darwin, um Jonas ou um Gyokeres, mas essas são as excepções. O normal são os Robertos, os RDTs, os Weigels, os Arthures Cabrais e os Kokçus. Jogadores altamente sobrevalorizados, que os clubes de origem não querem (se não continuavam lá) e que não rendem cá (também devido ao "peso" da transferência e às expectativas criadas).
Se olharmos para o plantel do Sporting encontramos imensos jogadores que vieram do mercado nacional (Pedro Gonçalves, Morita, Mateus Reis, Nuno Santos). No Benfica não sei se atualmente há algum. E já é assim há muito tempo. Mas no passado não era, pelo contrário.
Este problema de política, aliado ao problema da prospecção (olheiros / scouting) explica algumas das lacunas e fragilidades do Benfica. Noutros posts falarei de outros problemas mais gerais, de que este é um efeito.