quarta-feira, 8 de maio de 2024

Qual é o espanto?

 Fiquei um pouco surpreso com algumas reacções na blogosfera benfiquista por estes dias.

Como aqui disse há meses, o Benfica estava obrigado a ganhar no dragão. O empate ainda poderia eventualmente deixar uma réstia de esperança, mas a partir do momento em que não apenas perdemos como ainda fomos goleados, o campeonato ficou definido. A derrota em Alvalade foi o seu ponto final. 

A partir daí era apenas uma questão matemática: o Sporting não podia ser imediatamente campeão porque ainda haviam 6 ou 7 jogos em falta e portanto 18 ou 21 pontos em disputa, mas sê-lo-ia a 1,2,3 ou 4 jornadas do fim. Para quem está habituado a ver futebol, o Benfica tinha exactamente 0 % de possibilidades de ser campeão. É que até já tinha jogado com o Sporting e perdido, portanto nem "moral" tinha para esperar fosse o que fosse. 

Por isso dizer-se, como Rui Costa há uma semana, que "estamos na luta" é conversa para boi dormir, como se diz no Brasil. Não acredito que ele acreditasse nisso, nem que esperasse que alguém o levasse a sério. Se acreditava é porque tem pouca noção da realidade e nesse caso estamos em maus lençóis. Uma das características da liderança é o realismo. A esperança não é uma estratégia. 

Tudo bem que poderíamos (deveríamos) ter ganho ao Famalicão. Mas sinceramente não fazia qualquer diferença no final da época. Há muita coisa que vai ter que mudar e ganhar os últimos jogos até poderia dar uma falsa sensação de que estávamos no bom caminho. 

Por outro lado, percebo o argumento de que "temos" de ganhar aos famalicões todos do campeonato, mas as coisas simplesmente não funcionam assim. O Porto também "tinha" de ganhar (até para a manutenção da tralha directiva que ficará ali agarrada até ao último dia) e vai ficar atrás de nós. O ano passado o Sporting também "tinha" de ganhar e ficou em 4° lugar. 

E isto também não é uma questão de dinheiro. Veja-se o Liverpool que há umas semanas era líder e que entretanto perdeu o campeonato devido a derrotas com clubes menores. Se fosse o Benfica o que diríamos? Isto para não falar do United que está em 8° e há dias levou 4 do Crystal Palace, do Chelsea que está em 7° ou do Paris Saint German que falha novamente na Liga dos Campeões, etc. 

Chegando aos finalmentes, o que o Benfica necessita é de fazer um exame profundo do que correu mal esta época, porque grande parte dos erros são já reiterados. Desde a venda de João Félix (até já anteriormente, mas agravando-se a partir deste momento) adoptámos uma política de contratações completamente errada. Em geral o mercado dos clubes portugueses não é o europeu, porque não temos capacidade financeira para ombrear nem sequer com a classe média. Sim, por vezes vai-se buscar um Darwin, um Jonas ou um Gyokeres, mas essas são as excepções. O normal são os Robertos, os RDTs, os Weigels, os Arthures Cabrais e os Kokçus. Jogadores altamente sobrevalorizados, que os clubes de origem não querem (se não continuavam lá) e que não rendem cá (também devido ao "peso" da transferência e às expectativas criadas). 

Se olharmos para o plantel do Sporting encontramos imensos jogadores que vieram do mercado nacional (Pedro Gonçalves, Morita, Mateus Reis, Nuno Santos). No Benfica não sei se atualmente há algum. E já é assim há muito tempo. Mas no passado não era, pelo contrário. 

Este problema de política, aliado ao problema da prospecção (olheiros / scouting) explica algumas das lacunas e fragilidades do Benfica. Noutros posts falarei de outros problemas mais gerais, de que este é um efeito. 


9 comentários:

  1. 100% de acordo, só faltou dizer a razão do plantel ter só 3 jogadores de origem africana, porque nos tempos áureos do SLB, foram os pilares da equipa.
    O 25 de Abril surtiu um efeito contrário no SLB.

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  2. O que isso tem a ver o plantel não ter jogadores africanos? Se forem bons que venham agora vir só por vir....coluna és tu? Soltem as bandeirinhas

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    1. Talvez seja escusado repetir o mesmo comentário 3 vezes...

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    2. Quanto à substância: Coluna, Eusébio, Mário Wilson, sem dúvida. Hoje em dia os clubes tendem a ter bastantes jogadores de origem africana / negros (porque muitos já nasceram na Europa) e de facto fisicamente tendem a ser muito fiáveis. Um Rudigger no Real Madrid, por exemplo, ou um Camavinga.
      A razão de ser do Benfica ter poucos (Florentino, João Mário - que não é exactamente dos mais queridos dos adeptos...) acho que é uma questão de mera oportunidade ou falta dela. Se formos a ver bem, a maioria já fez a formação em clubes europeus, contratações a clubes africanos são raras.

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  3. mas muito do que não renderam esses jogadores que contratamos, os de valor muito elevado, não se deveu só e apenas a terem acusado o peso do valor por que foram contratados.
    grande parte disso também foi, se calhar até mais, de não terem vindo para jogar nas posições onde realmente tinham qualidades, por exemplo rdt ou kokçu, ou serem jogadores para outro modelo de jogo que não o nosso e por isso com uma probabilidade muito menor de resultarem.

    isso de contratar no mercado nacional é uma falsa questão.
    o problema esta em contratarmos mal seja em que mercado for.
    contratamos o musa , o chiquinho ou o helton leite e foram todos más contratações e foram no mercado nacional.

    e já agora convém é não apenas olhar para os que resultaram mas também para os que eles falharam, os vinagres, os rochinhas, os esgaios etc. ou o ponta de lança do gil vicente ou o ivan jaime que tantos andaram a babar no final do ano passado.
    e os dois jogadores mais importantes e com mais impacto na equipa que ficou em primeiro lugar foram contratados um em inglaterra e outro em italia.

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    1. Em relação ao Musa, discordo completamente. Acho que foi uma boa contratação.
      Mas não é uma falsa questão de todo, porque uma coisa é pagar 300.000 ou 1,5 milhões de euros, outra completamente diferente é pagar 20 ou 25. E não é só a contratação, são os salários também. Isso faz toda a diferença. Uma contratação falhada no mercado nacional tem pouco ou nenhum impacto, várias contratações falhadas em mercados financeiramente mais poderosos do que o nosso representam rombos nas nossas contas que podem ter consequências muito sérias. Aparentemente já estamos necessitados de vender alguns dos melhores jogadores. E não estou a falar dos mais caros, estou a falar dos melhores - João Neves e/ou Neres. Lembremo-nos do Weigl: praticamente foi "dado" ao Monchengladbah (segundo o transfermarkt vendemos por 7.18).
      Uma correcção ao meu texto: temos um importante jogador contratado no mercado nacional: Rafa.

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    2. começando pelo fim rafa, se não estou enganado, até foi na altura o jogador mais caro que tínhamos contratado até ali o que até vem em sentido contrario daquilo que se diz que comprar no mercado nacional é mais barato.

      o problema esta nas contratações falhadas e não apenas no valor das mesmas até porque é completamente irrealista achar que um jogador contratado por um milhão ira ter o mesmo rendimento que um que custe dez vezes mais se acertares na compra.

      se pegarmos no caso do tengstedt ele seria sempre uma péssima contratação tivesse ele custado o tal milhão ou o que ele na realidade custou, o que podemos questionar é como é que alguém achou que ele valia dez milhões quando por um já seria um roubo.

      agora pegamos em dois exemplo contratamos o weigl por vinte vendemos por sete perdemos treze por supostamente um jogador que viria para ser titular.
      chiquinho compramos por meio milhão voltamos depois a comprar por cinco e meio, mais jogadores, com isto tudo gastamos no mínimo sete milhões por um jogador para compor plantel.
      portanto não vejo onde é que isso é isso fica mais barato se o mal for contratar mal seja em que mercado for.

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    3. O Rafa foi na altura uma contratação cara (16M), mas a verdade é que segundo o mesmo transfermarkt vale hoje 18. Se o contrato não estivesse a expirar, valeria no mínimo 35 ou 40, ou seja, mais do dobro.
      Mas é evidente que o Rafa é uma excepção e que o custo médio de um jogador no mercado nacional é muito inferior ao dos mercados europeus (Grécia e, de certo modo, Holanda exceptuados). E não é só o valor da contratação, é também o custo dos salários.
      Isso não significa que não se possam fazer péssimos negócios no mercado nacional.
      O Benfica neste momento desbarata dinheiro. Sinceramente igual ao Arthur Cabral encontramos facilmente em Portugal por um quarto do preço. Olha, o Musa, por exemplo, era bem melhor. E digo isto sem qualquer hostilidade em relação ao homem, ele não tem culpa que o Benfica tenha pago muito mais do que devia.
      Os mercados mais proveitosos para os clubes portugueses têm sido os da América do Sul. Isso é inegável. De vez em quando surge uma oportunidade para um Jonas ou um Gyokeres (um contratado a custo zero, o outro oriundo da segunda divisão - como o Darwin aliás).
      Quanto ao mercado português, é válido nalguns casos. No passado tivemos jogadores como Paneira, Veloso, Álvaro, etc. E volto a referir Nuno Santos (que até é da nossa formação) e Pedro Gonçalves que evidentemente teriam lugar no Benfica.
      O problema é má prospecção mas também e sobretudo uma atitude nova rica de que o mercado nacional não é suficientemente bom para o Benfica.
      Os resultados estão à vista.

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