sexta-feira, 30 de março de 2012

1 X 2

Para além de ser o reino das paixões e da irracionalidade, o futebol caracteriza-se também pelos inúmeros lugares comuns que lhe estão associados. Frases como: "Não há equipas fáceis. Todos os jogos são complicados", "Só respeitando o adversário poderemos vencer", "Foi um jogo com duas partes distintas", "Vamos levantar a cabeça e pensar já no próximo jogo", "O balneário está unido" repetem-se à exaustão no discurso de treinadores e jogadores. Ultimamente novas expressões entraram de forma dominadora no léxico futebolístico. É o caso das "transições", da "pressão alta" (esta já com um bom par de anos) e, até, nas últimas semanas e forma caricata, os célebres "bloqueios".
Uma expressão "clássica" é a de que certo desafio "é um jogo de tripla".
Ora era precisamente esta imagem, retirada do velhinho totobola, que eu queria para aqui trazer aplicando-a não ao jogo de amanhã mas ao momento da época benfiquista.
Para os próximos três jogos do Benfica (Braga, Chelsea e Sporting) uma sequência de 1 X 2 seria, a meu ver, excelente. Queria dizer que venceríamos em casa o Braga, empataríamos em Londres e venceríamos o Sporting.
Ou seja, o Benfica seria eliminado da Liga dos Campeões mas ficaria muito próximo de vencer o Campeonato, uma vez que estou seguro de que o Porto perderá pontos contra aqueles rivais. Por outro lado, um empate em Londres, embora custando a eliminatória, culminaria uma presença muito positiva na Liga dos Campeões (quartos-de-final é sempre prestigiante para qualquer clube) com um resultado que não desmerece ninguém (um empate com o Chelsea em Londres é um bom resultado até para as equipas de topo do futebol europeu) e que deixaria a ideia de que com um pouco de sorte a eliminatória poderia ter pendido para o Benfica.
Sairíamos deste ciclo infernal reforçados no campeonato e na motivação e, a conseguir uns dias depois vencer o Gil Vicente e conquistar a Taça da Liga, no bom caminho para realizar a melhor época dos últimos 20 anos.

Claro que não é por eu o escrever aqui que este cenário se vai concretizar. A razão pela qual o escrevo é porque me parece importante que os benfiquistas percebam onde nos encontramos. É que, como disse antes, independentemente de alguns maus jogos e resultados que tivemos, nada está perdido. Há muito, mas mesmo muito, a ganhar. Está ao nosso alcance. Começa amanhã.

A irracionalidade do futebol

"O futebol não é um questão de vida ou morte... é mais importante do que isso". A frase, de um ex-treinador do Liverpool, traduz de forma precisa a paixão que tantos de nós sentimos por este jogo.
Sem pretender fazer teoria nem escrever um ensaio - já existem estudos e obras muito mais exaustivos do que qualquer coisa que eu aqui possa dizer - queria porém partilhar, de forma impressionística, algumas reflexões sobre o assunto.
O que pode explicar que pessoas "normais", calmas na sua vida quotidiana, se descontrolem completamente a ver futebol? Que pessoas com vidas profissionais e familiares estabilizadas, lancem insultos e ameaças sobre árbitros e adversários quando vão a um estádio?
Creio que o futebol desempenha nas sociedades modernas o papel que no passado coube a rituais sociais, militares e até religiosos.
A vida social - a vivência colectiva que no passado se realizava em festivais, celebrações políticas e religiosas - tem vindo a perder importância nos nossos tempos. A maioria das pessoas não vai ou vai menos à missa (lugar de encontro por excelência no passado), os grandes festivais ou celebrações periódicas de outros tempos (a Páscoa, a Primavera, os equinócios e os solestícios) já não se realizam e os grandes comícios políticos também cada vez menos. Até as greves têm uma adesão cada vez menor.
O desporto e o futebol em especial, pois é o desporto de massas por excelência, acaba assim por assumir esse papel social de encontro de todos: todas as classes, novos e velhos se juntam sem distinção entre si. Todos são adeptos. Esta designação é aliás retirada da religião - o adepto é aquele que adere a uma religião ou seita.
No futebol replicam-se os comportamentos tribais e militares - os tambores, os estandartes e os uniformes do nosso clube; "nós" contra "eles", em que "eles" passam de adversário a inimigo, numa espiral de irracionalidade. Nem sequer falta o "bode expiatório", obviamente o árbitro (que não tem adeptos), que representa também um papel social que existia na antiguidade. Ao "bode expiatório", que encarnava todos os males sociais e atraia sobre si todos os ódios, cabia expiar todos os pecados e apaziguar os homens e os deuses.
Com o desaparecimento dos antigos rituais militares e sociais, a função de libertação dos impulsos negativos e violentos da nossa sociedade ficou por preencher. O futebol desempenha hoje esse papel, servindo para libertar as frustrações acumuladas.
Por fim, a experiência do religioso - um sentimento de êxtase colectivo - foi abolida do mundo moderno, de mentalidade muito materialista, céptica e utilitária. Mais uma vez, o futebol veio ocupar o vazio: são os hinos, os cânticos, a euforia do golo, a celebração catártica da vitória, a recompensa pelo esforço, o prémio justo.
Em sociedades que inibem ou reprimem os nossos sentimentos mais fortes e instintivos, sobretudo ligados à virilidade, o futebol acaba por ser o lugar onde eles se exprimem e tudo é permitido.
Em hora e meia se encenam as emoções da vida. Se acredita em sonhos e heróis e se fala de milagres e de glória.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Jogos que decidem uma época

O Benfica entra hoje na fase crucial da época, praticamente sem qualquer margem de erro.
A táctica para sábado será hoje ensaiada a partir das 5 da tarde no Seixal.
Ao jogo com o Braga seguir-se-ão a viagem para Londres na terça-feira e jogo com o Chelsea na quarta.
Depois virão alguns dias de descanso e segunda-feira, dia 9 de Abril, o jogo com o Sporting.

O resultado destes 3 jogos grandes determinará se a Final da Taça da Liga, que se disputa dia 14 de Abril no Algarve, é ou não importante. Se o campeonato estiver encaminhado (e uma improvável qualificação para as meias-finais da Champions se alcançar) a conquista da Taça da Liga será vista como um acrescento de brilho, um factor extra de motivação para as jornadas finais. Se aqueles jogos tiverem corrido mal, a Taça da Liga será uma fraca consolação e os benfiquistas sentir-se-ão demasiado fragilizados para contrariar a desvalorização que os nossos adversários constantemente fazem desta competição.

Tudo se joga portanto em aproximadamente duas semanas.

Sem prejuízo de uma análise mais detalhada do jogo de sábado, que ainda farei até lá, apontarei por agora o seguinte.
O Braga atravessa neste momento a fase que o Benfica viveu até ao factídico jogo com o Zénite. Está forte e motivado, tem jogadores em excelente forma. É consistente e seguro.
Também o Benfica, até São Petersburgo e Guimarães, parecia uma equipa muito sólida, que dificilmente perderia um jogo. Na verdade esteve imbatível até àqueles jogos.
Por outro lado, o Benfica tem vindo a fazer jogos que, sem serem brilhantes, em circunstâncias normais teriam tido outros desfechos.
A sorte desempenha no futebol, como na vida, um papel importante. Na minha análise, que muitos partilham, o Benfica não tem sido feliz em momentos decisivos do jogo, quer na concretização de oportunidades, quer nas decisões dos árbitros.
A qualidade porém não desapareceu. Cardozo continua a ser dos melhores a finalizar, Gaitan, Bruno César e até Nolito não deixaram de um dia para o outro de ser jogadores criativos, imprevisíveis, Javi Garcia e Luisão não desaprenderam de jogar futebol, ao passo que Maxi está (continua) num grande momento de forma.
Serve tudo isto para dizer que sábado as coisas podem mudar e a sorte que nos tem faltado pode-nos voltar a sorrir.
Para além dos treinos e das tácticas, há porém algo que será decisivo - a motivação e a confiança dos jogadores em si próprios. Neste capítulo o treinador tem um papel fundamental.
Ao invés de medo de perder tudo em duas semanas, os profissionais do Benfica têm que sentir que os grandes objectivos da época estão ao seu alcance e que ganhando os jogos que se seguem quase os garantirão. A sorte vem por marés e gosta de se dar aos que confiam em si mesmos. Saiba o Benfica meditar nisto. Apesar dos maus momentos que vivemos esta época, nada está perdido, havendo muito (tudo) para ganhar.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Emerson

Tirou muitos benfiquistas do sério ontem à noite. Não é a primeira vez, mas ontem a sua tremideira foi demasiado evidente bem como as suas limitações.
Emerson já provou ter algumas qualidades. É esforçado, parece ter algum pulmão, mantém uma condição física relativamente constante durante os jogos e ao longo da época e é muitas vezes o homem que aparece como último defesa, sobretudo nos lances de bola parada.
Tem porém também limitações que se começam a tornar numa vulnerabilidade que ameaça custar a época ao Benfica.
Contra o Porto Emerson foi expulso e tem responsabilidade em dois golos. Ontem é ultrapassado por Ramirez de forma constrangedora para qualquer benfiquista em várias cavalgadas do queniano, uma das quais resultou em golo. Mas além disso e talvez ainda mais grave é que Emerson intranquilizou toda a equipa e as bancadas, perdendo bolas inacreditavelmente na defesa e desperdiçando combinações de ataque. A dados momentos pareceu à beira de um ataque de nervos, demonstrando não ter estrutura mental e confiança para jogar a este nível.
Começa a ser demasiado mau e Jesus terá que tomar uma atitude.
Não há nenhum adversário do Benfica que não privilegie o lado de Emerson para atacar. Ramirez admitiu ontem que o Chelsea o fez por saber que existiam ali "fragilidades".
Emerson ouviu ontem os primeiros assobios a sério do Estádio da Luz. É cruel um jogador ser assobiado pelos seus adeptos, faz-nos ter pena do jogador.
No entanto não é a primeira vez que acontece e as coisas podem-se tornar bem piores se as exibições continuarem a ser deste nível e os erros a sucederem-se.
Lembro-me de um certo Michael Thomas, veterano inglês já sem condições para jogar futebol e que Souness insistia em fazer titular. Ouvia assobios esporádicos até ao dia em que marcou um golo. Souness achou por bem substitui-lo, esperando que aquele jogo marcasse a reconciliação com os adeptos. Houve um coro monumental de assobios e aquele matulão inglês de 35 ou 36 anos saiu do campo lavado em lágrimas. Pouco mais jogou e Graeme Souness saiu com ele pouco depois pela porta pequena.
Espero que não aconteça o mesmo a Emerson, nem a Jesus. A paciência dos adeptos é porém muito limitada e as bancadas podem ser cruéis.

Faltou estrelinha. Eliminatória complicou-se muito mas ainda não está perdida.

O Benfica fez um jogo que, não tendo sido mau, não foi suficiente. Terá faltado agressividade e confiança. Estamos numa fase difícil em que os ressaltos e as bolas divididas nos têm sido desfavoráveis, os lances decisivos estão a cair para o lado dos adversários e as decisões dos árbitros nos penalizam. São fases das épocas que acontecem e que há que saber suportar com estoicismo. Acima de tudo importa agora que o Benfica não se desconjunte, não se entregue e se saiba reagrupar e ir buscar forças para os três jogos decisivos que se avizinham.
Há que trabalhar muito a confiança dos jogadores - que têm qualidade - porque a sorte há-de mudar.
Mas há também que trabalhar aspectos do jogo ofensivo e defensivo.
No primeiro capítulo há que melhorar o sentido de baliza. O Benfica remata pouco e faz demasiados passes para os lados e para trás. Há uma quase obsessão em entrar na área com a bola controlada quando por vezes seria preferível centrar ou rematar de fora. Infelizmente apenas Bruno César e Cardozo parecem ter capacidade de rematar de longe e mesmo esses pouco o têm feito.
No plano defensivo há que perceber que não se pode permitir que os adversários corram praticamente da sua área até à nossa quase sem oposição ou apenas sendo contrariados por um jogador. Foi assim com James e deu o 2-2 ao Porto quando tinhamos o jogo quase ganho e foi assim com o Chelsea. Há que fazer falta se não se consegue parar o jogador de outra forma.
O Benfica não pode ser tão macio.
Em Inglaterra será muito difícil.
A partir de agora o Chelsea é favorito e é com isso que o Benfica tem que jogar. Usar esse facto para nos libertarmos de pressão e jogar com prazer, acreditando que a nossa qualidade pode dar golos. Devemos apostar na consistência defensiva e sair descomplexadamente para o ataque. Há que pensar que o Chelsea tem mais a perder do que nós, uma vez que neste momento têm a eliminatória na mão. Lembremo-nos como o Porto virou a eliminatória da Taça na Luz o ano passado depois de ter perdido 0-2 na sua casa e joguemos inteligentemente da mesma maneira. Joguemos com os nervos do adversário e com o relógio. No futebol quase não há impossíveis. Saibamos nós usar as nossas armas e as poucas probabilidades que ainda mantemos e quem sabe poderemos causar uma surpresa dentro de uma semana.
A eliminatória está muito difícil - mas ainda não está perdida.

terça-feira, 27 de março de 2012

Em defesa do Benfica

O Benfica é, todos o sabem, o maior clube português em termos de adeptos. É mesmo, sem exagero, um dos maiores clubes mundiais, face à projeção que lhe dão não apenas os portugueses da Diáspora (EUA, Canadá, França, Suíça, Alemanha, Luxemburgo) mas também os seus adeptos nos países de Língua Portuguesa, sobretudo em Angola, Moçambique, Cabo Verde e até Timor-Leste.
Nesta medida, o Benfica não deveria precisar de "defesa".
No entanto, olhando para o que se passa no mundo do futebol (e o que gravita à sua volta) em Portugal, percebemos que o Benfica está a ser vítima de, à falta de melhor expressão, um sistema de poder que prejudica grave e continuadamente os seus interesses desportivos e mesmo financeiros.

Este sistema tem um rosto - Pinto da Costa - e muitas ramificações. Há um poder visível e um poder oculto.

Para além de um adversário que, além de méritos próprios e desportivos indiscutíveis, conta com muitas ajudas (o FCP), o Benfica tem ainda que enfrentar uma oposição feroz de um clube menorizado e depauperado mas ainda assim de grande expressão nacional (o SCP), de um clube em ascensão (o SCB) e, mais inexplicavelmente, da grande maioria da imprensa e da opinião falada e escrita. Isto claro para não falar da arbitragem e de outros poderes, nomeadamente o disciplinar, do futebol português.

É muita coisa e justifica plenamente - exige mesmo - que os benfiquistas se unam, primeiro para denunciar e depois para desmontar, de uma vez por todas, este sistema de poder iníquo que tanto tem prejudicado o seu, o nosso, clube.

Este fórum servirá assim para identificar estes diferentes poderes instalados, para os expor, não se cansando de apontar, com isenção, as instâncias em que somos prejudicados, comparando-as com as raras em que somos beneficiados.

É minha esperança que um dia a desinformação seja derrotada pela verdade e que possamos finalmente ter um campeonato justo, sem coação, sem corrupção, sem manobras de bastidores, em que o melhor será o vencedor. E  quando não formos os melhores aceitaremos esse facto com desportivismo.

Porque sempre foi esse o lema benfiquista e sempre esse o nosso desejo. Não queremos ajudas, não queremos batota, não queremos falsificações. Queremos tão só que as vitórias se conquistem em campo, sem que os árbitros desempenhem o factor de desempate.