Ouvi hoje nalguns canais perguntas do estilo: "como pode o Santa Clara parar o Benfica?", "como deve o Santa Clara jogar?" ou "o que esperas do Santa Clara?". Já sobre o Guimarães não ouvi muita coisa, excepto que se perder por 11-0 (!!), o Benfica poderá, em caso de empate, perder o título ou ter de jogar uma finalíssima com o Porto. "No futebol já vi de tudo"; "tudo é possível no futebol", asseveram.
Certíssimo. O que aparentemente não é possível, nem merece ser considerado é a possibilidade do Guimarães empatar ou vencer no Porto. Isso pelos vistos já não é futebol, nem é tema "como deverá o Guimarães jogar" ou que obrigação tem o Guimarães por respeito para com a verdade desportiva.
Enfim, mais um exemplo da comunicação social amestrada, submissa e temerosa em relação ao Porto. Eu percebo. Os árbitros e suas famílias já foram ameaçados, jornalistas foram múltiplas vezes agredidos no dragão ao longo destas décadas (o Valdemar Duarte, por exemplo, entre muitos, muitos outros, incluindo por capangas de Pinto de Costa), a família do treinador do Porto foi atacada quando saía de carro do estádio e o ano passado até a festejar o título mataram um dos seus ao murro, pontapé e facadas, 16 ou 18. Tudo bons rapazes. Há pois razões objetivas para ter medo. Mas isto é o contrário do que deve ser o desporto.
O futebol português vive um ambiente de medo, bafiento. Os árbitros, que tantas vezes criticamos, se calhar são tanto ou talvez até mais vítimas do que quaisquer outros (ver os ataques aos talhos de um árbitro, as "visitas de cortesia" dos dragões ao centro de estágios, as ameaças de Luís Gonçalves todas as semanas). Alguém que ponha mão nisto. Ao fim de 40 anos se calhar já é tempo.