terça-feira, 24 de novembro de 2015

Rui Vitória deve sair

Sejamos claros: este Benfica não joga nada.

Ouço hoje alguns benfiquistas a tentar atenuar a coisa, dizendo que dos 3 jogos com o Sporting este nem foi o pior e que até podíamos nem ter perdido.

Mas que falta de exigência! Será a isto que o Benfica está reduzido? Perder por poucos com o Sporting já não é mau? Francamente!

Depois de duas derrotas, uma delas absolutamente humilhante em nossa casa, exigia-se que o Benfica se "vingasse" e fosse vencer a Alvalade, de preferência de uma forma categórica e concludente.


Mas o que se viu foi exactamente o contrário: uma equipa medrosa, recuada no terreno, mesmo apesar de ter iniciado o jogo a ganhar sem ter feito (quase) nada para o conseguir. O Benfica durante largos períodos esteve remetido à sua defesa sem qualquer capacidade para sair do seu meio campo de forma minimamente consequente.


Os sectores do Benfica jogam longíssimo uns dos outros, não há pressão quando a equipa perde a bola, pouquíssimos jogadores aparecem na área adversária, não há criatividade, não há rotinas de jogo, não criamos oportunidades de golo, defendemos mal. Não há, 5 meses depois de Vitória chegar ao Benfica, uma ideia de jogo clara e um sistema bem definido.

O que mais será preciso para se perceber que Rui Vitória não é treinador para o Benfica? 

É verdade que Vitória teve coragem em lançar jovens como Nélson Semedo e Gonçalo Guedes, mas isso não chega. É verdade que Vitória (tudo o indica) irá conseguir apurar a equipa para os oitavos da Champions, algo que não conseguíamos há muito. Isso é meritório mas também não chega. Do modo que as coisas estão, o Benfica pode já na próxima jornada, ainda em novembro (!), ficar praticamente afastado da vitória nas principais competições nacionais. Ora isso é impensável para um clube que é o maior nacional e tem o estatuto de bicampeão.

Vitória não tem capacidade para este lugar: nem táctica nem de liderança. Isso era absolutamente visível desde o primeiro dia - aliás, era-o desde que RV treinava o Guimarães e toda a gente via que o futebol do clube era parco de ideias e ultra defensivo. Alguns iluminados explicavam que isso era porque tinha jogadores fracos à sua disposição e que caso tivesse plantéis como os do Benfica faria muito melhor do que o seu antecessor. Está à vista.

O problema é quem poderia agora vir. As opções são muito limitadas. Como não me cansei de dizer antes do anúncio de Vitória, Marco Silva tinha sido, por todas as razões, tanto futebolísticas como mentais, a opção certa. Tinha-se dado um bofetão na cara de Bruno de Carvalho, ficávamos mentalmente por cima e Marco não teria (como não teve no passado) medo de defrontar Jorge Jesus. Marco está a mostrar toda a sua qualidade na Grécia. Já no Estoril não enganava. Ao contrário do Guimarães, o Estoril era uma equipa com fio de jogo e intenção de jogar futebol que denotava grande personalidade. No Sporting Marco Silva confirmou essa convicção e agora na Grécia está apenas a dar sequência ao seu trabalho.

LFV quis afirmar o seu ego e mostrar que as vitórias dos últimos anos se deviam menos ao treinador do que a si próprio e à "estrutura" que ele tinha criado. Falhou redondamente e esse erro gravíssimo - que se agrava pelo facto de resultar dele o reforço exponencial de um dos nossos rivais e competidores - terá que lhe ser imputado exclusivamente a si. Cabe-lhe agora resolver o problema que ele próprio criou.

domingo, 22 de novembro de 2015

Esta estrutura ganha que se farta

A hora da verdade está-se a aproximar. A Supertaça foi perdida, a Taça já foi e no campeonato já estamos a 8 pontos. Muito em breve tornar-se-á claro que (como disse há muito tempo, tendo por isso sido acusado, por alguém que não faz a ideia do que já fiz pelo Benfica, de não ser Benfiquista) o campeonato também já foi. E, mais ainda do que isso, arriscamo-nos a nem sequer ir à Liga dos Campeões para o ano. Esta competição está a ser o balão de oxigénio de Rui Vitória, graças a uma vitória tão inesperada e feliz quanto memorável em Madrid. Mas esse balão não vai durar sempre. É quase impensável achar que o Benfica poderá ir muito além dos oitavos de final. Gostaria muito, mas não me parece possível.

Nessa altura o vazio futebolístico e de troféus da presente época ficará bem à vista de todos. Neste momento somos bi-campeões mas por este andar em breve começaremos a ser tratados pelos "ainda campeões". Quando os outros começarem a festejar títulos e a nós só nos restar terminar a época "com dignidade", os benfiquistas vão sentir a realidade de uma forma bastante dura. Principalmente porque já não estão habituados.

A tolice da tese de que a estrutura é que afinal ganhava os jogos e os títulos está agora bem demonstrada. LFV queria provar que o mérito das vitórias era seu e não de Jorge Jesus. Correu-lhe mal. Agora cada um que tire as suas conclusões.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

O actual momento do Benfica

O actual momento do Benfica não é tão mau como uns, nem tão bom como outros o caracterizam. 

É, a meu ver, sensivelmente o que se poderia esperar face à decisão tomada pela direcção de desinvestir no futebol face a um quadro alegadamente mais exigente em termos financeiros (e sobre este ponto diremos alguma coisa mais adiante).

A época teve até agora momentos em que as expectativas foram superadas (como é o caso da vitória sobre o Belenenses por 6-0 ou a vitória em Madrid sobre o Atlético) e outros em que ficaram muito abaixo do mínimo exigível, como no caso das derrotas contra Arouca e Sporting. A derrota na Luz foi o ponto mais baixo até ao momento e - esperamos - até ao fim da época. É bom que algo como aquele jogo não se repita tão cedo.

Mas, reafirmo, no geral a época está a corresponder ao que seria expectável: Rui Vitória tem apostado na juventude e na formação (com efeitos visíveis e positivos em termos de inserção de novos valores na equipa principal) e os resultados têm-se ressentido. Uma mudança de treinador raramente não se reflecte negativamente nos resultados, sobretudo quando a qualidade do plantel sofre um decréscimo de qualidade. É verdade que saíram poucos jogadores mas os que saíram não foram devidamente compensados, pelo menos até agora: Maxi foi bem substituído por Nélson Semedo mas a lesão, logo na estreia pela selecção, transformando o sonho em pesadelo (parece uma sina pois já Simão Sabrosa tivera uma situação semelhante há uns anos e espero muito sinceramente que Gonçalo Guedes se "proteja" na sua estreia), acabou com essa solução; já Lima não tem (por agora) substituto à altura.

É de registar, nesta época de transição, o 1º lugar no grupo na Liga dos Campeões. Não é algo que se possa desvalorizar, até tendo em atenção o passado recente. É algo importante desportiva e financeiramente. É algo que não pode ser considerado um mero acaso, até porque o grupo em que nos encontramos não é de todo fácil. Não é possível culpar um treinador pelos maus resultados e não lhe dar crédito pelos bons. Ambos são, em grande parte, da sua responsabilidade.

Também não alinho nas críticas impiedosas à falta de ideias da equipa e a uma alegada táctica do pontapé para a frente e dos cruzamentos sem sentido para a área. Não alinho porque me parecem exageradas, por um lado, e porque não vejo nada de errado em cruzar bolas para a área desde que os centros sejam bem feitos e existam jogadores para a eles responder. Aliás critiquei muitas vezes o futebol do Benfica no passado por exagerar nos passes e nas tabelas, por vezes já dentro da área. O Benfica tem um problema de dinâmica, isso é verdade, e de (na minha opinião) existir por vezes demasiado espaço entre os sectores. Mas eu não sou treinador e portanto não me iludo a pensar que a minha leitura tenha um valor absoluto ou implique uma sentença definitiva sobre o trabalho de Rui Vitória.

Ao treinador do Benfica terá que ser dado tempo, o tal que não existe no futebol e menos ainda no Benfica. Vitória tem que ser capaz de crescer e se afirmar enquanto a equipa vence, pois só esse é o caminho. Agora não faz sentido, depois de vencermos, estar a criticar a equipa. O Benfica fez o suficiente para vencer o Galatasaray - e esse jogo era crucial - e venceu com todo o mérito, inclusivamente depois dos turcos terem empatado sem o merecer. De igual modo o Benfica venceu o Boavista. Aí com menos brilho mas com igual eficácia. E era isso que se pedia. Tal não significa obviamente que tudo esteja bem. 

À entrada para mais uma paragem no campeonato - a terceira - quero acreditar que as coisas melhorarão. Vem aí um novo jogo importante, desta vez para a Taça de Portugal, no qual se exige mais trabalho, superior prestação e sobretudo muito melhor resultado relativamente aos anteriores derbies. Na primeira paragem para o campeonato as coisas melhoraram muito. Na segunda as coisas pioraram, em grande medida devido à lesão de Nélson ao serviço da selecção durante essa paragem. E na terceira esperamos que as coisas melhorem novamente: que Sílvio confirme a subida de rendimento e que os processos colectivos da equipa se aperfeiçoem. Sobretudo há que melhorar a harmonia do meio campo que continua a não convencer. Este é o tempo que normalmente os treinadores não possuem. Rui Vitória precisa de o aproveitar bem.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Vitória de raça

Depois de duas derrotas, uma delas, algo injusta, para a Champions, era fundamental o Benfica ter capacidade de resposta. Teve-a e muito forte.
A vitória de ontem é uma vitória de raça, conquistada com mérito absoluto, que se segue a uma vitória de serviços mínimos (apesar do 4-0) final perante um adversário demasiado fraco para apresentar qualquer oposição.
Não foi o caso do Galatasaray. Com Podolsky e Shneider na frente, a equipa turca tem sempre armas potentes apontadas à baliza adversária. Além disso tem jogadores muito experientes e sabia que o Benfica corria contra alguma ansiedade.
Mas seja dado o mérito devido ao Benfica, Rui Vitória e jogadores acima de tudo: desde o início que dominaram o adversário, assumiram as despesas do jogo e criaram algumas oportunidades. Na segunda parte a pressão intensificou-se e não deixou o Galatasaray respirar, culminando num golo justo de Jonas.
O golo obtido pelos turcos quase de seguida podia ter provocado nervos e falta de crença, mas isso não aconteceu. O Benfica voltou a dominar o jogo e a marcar, através de um velho "suspeito" destas andanças, o grande, o enorme capitão Luisão. 12 anos de Benfica e recordes batidos uns atrás dos outros. Golos decisivos e uma liderança no campo e no balneário que se exerce pelo exemplo e pela simples presença. Calma, dedicação, categoria são algumas das características de Luisão. "Não permitirei que se coloque em causa o grupo" disse o capitão no fim do jogo. Isto diz tudo sobre a sua atitude. Só os anti-benfiquistas podem não gostar de Luisão ou não o respeitar.
Depois do 2º golo, o Benfica podia ter sentenciado o jogo mas Raul, muito esforçado, não conseguiu concretizar um par de ocasiões flagrantes, também por grande mérito do guarda redes adversário.
Nos minutos finais as coisas complicaram-se muito, devido à expulsão, muito estranha, de Gaitan. Não pelo segundo amarelo, que é indiscutível, mas pelo primeiro e pela circunstância de se ter invertido a culpa. Dar o amarelo a Gaitan em vez de se expulsar o atacante turco foi declaradamente uma escapatória do árbitro face a uma decisão difícil que não quis assumir.
Nesses minutos, jogados em inferioridade numérica e com o adversário a saber que a derrota praticamente o deixava eliminado mas que um golo abria de novo as portas da qualificação, valeu a dedicação e entrega dos jogadores do Benfica, alguns deles completamente esgotados. O lance do golo evitado por "Luiseu" foi a epítome desse espírito e do jogo em si. Eliseu aliás calou ontem muita gente com mais uma exibição de entrega e qualidade. Cometeu alguns erros - algo que só acontece a quem joga e mais a quem arrisca e sobe muito no terreno, como é o seu caso. Mas Eliseu não se esconde e está sempre disponível. Também destaco as exibições de Talisca, excelente nos passes, nas aberturas, dando largura ao nosso jogo e sempre uma ameaça quando visa a baliza. Penso que Talisca tem condições para maturar o seu jogo e poder ser a solução para aquela posição. Finalmente Jonas voltou a ser a ameaça habitual para as redes adversárias, tal como Gaitan que acabou expulso nas circunstâncias já referidas.
Em suma, uma belíssima vitória do Benfica que nos coloca já com um pé nos oitavos de final, com dois jogos ainda por jogar. É mérito de Rui Vitória e dos jogadores.
Há que voltar à trajectória ascendente que estávamos a realizar antes da lesão de Nélson Semedo, a qual fez tremer muito a equipa como aqui já tenho apontado. Os novos equilíbrios estão ainda a ser construídos. Nem tudo passou a estar bem com esta vitória mas é evidente que a confiança agora é outra. Uma coisa é certa, os jogadores mostraram mais uma vez a sua união e plena confiança no caminho que está a ser seguido. Penso que Rui Vitória precisa de tempo para ir assentando ideias, adaptando-se melhor à realidade Benfica e colocando as peças nos seus lugares certos. Acho que o plantel tem mais soluções do que as que têm sido exibidas. Não há necessidade de se insistir sempre no mesmo 11 quando existem tantos jogadores com qualidade que ainda não jogaram um único minuto esta época. Neste caso as lesões e castigos permitiram "abrir" um pouco mais o 11 a outros jogadores mas penso que mais pode ser feito nesse capítulo.
Em todo o caso esperemos que o caminho de vitórias seja para manter.