Crónica
Alvalade, 10 de Dezembro de 2012
Wolksvinkel 29; Cardozo 57', 80' e 85'.
Em primeiro lugar devo dizer que a 1ª parte do Sporting-Benfica, sobretudo a partir dos 10 m de jogo, me enervou tremendamente e me fez dizer o que não queria.
Temi uma repetição do jogo do ano passado (ainda que desta vez sem casos).
Praticamente nem festejei o golo do empate, tendo reservado as celebrações para o segundo e terceiro golos.
Acima de tudo pareceu-me que a dada altura faltou atitude à equipa, faltou querer, faltou poder de choque.
Temi que fossemos passar o resto do jogo a embater contra uma parede defensiva e a falhar golos, expondo-nos cada vez mais a contra-ataques e acreditando cada vez menos nas nossas próprias possibilidades.
Mas mais a frio, penso que não terei feito uma leitura totalmente correcta, parcialmente em virtude do momento desastroso do nosso adversário e da "obrigação" que eu considerava que tínhamos em vencer o jogo sem espinhas.
Se é verdade que na 1ª parte faltou um pouco daquilo que acima referi, por outro também devemos ser capazes de compreender o quadro mais geral.
Que era este: para o Sporting (adeptos, dirigentes e jogadores) este era o jogo mais importante da época, aquele em que dariam tudo. Eliminados da Taça e das competições europeias, sem hipóteses de discutir os primeiros lugares do campeonato, restava aos sportinguistas tentar vencer aquele jogo e encetar uma recuperação que lhes permitisse enfrentar o resto da época com alguma esperança e uma réstia de espírito competitivo.
Já o Benfica tem um quadro de competições e de ambições mais vasto. Se ganhar este jogo era muito importante, a verdade é que os mesmos 3 pontos ali disputados estariam em jogo logo contra o Marítimo e em todos os restantes jogos do campeonato. Não se podia portanto tratar de um tudo ou nada para nós.
Por outro lado, há que perceber que é diferente o Sporting jogar contra o Videoton, o Estoril ou o Moreirense e jogar contra o Benfica em Alvalade.
Para além dos factores motivacionais, em jogos com os "pequenos" o Sporting é obrigado a atacar e fazer as despesas do jogo, ao passo que aqui ninguém esperava isso dele. Podia-se "sentar" na defesa e depois lançar contra-ataques.
Nessa medida, os seus jogadores mais importantes e com mais qualidade são precisamente aqueles que teriam mais intervenção no jogo e mais hipóteses de brilhar: Capel, Carrilho e Wolfsvinkel. Este último, por exemplo, quando joga golos contra os "pequenos", corre o risco de falhar e ser criticado. Ao jogar contra o Benfica quererá pelo contrário demonstrar que tem qualidade - e qualquer golo que marcasse seria a prova disso. Acresce que o holandês tem velocidade e, tal como os outros dois citados, podia aproveitar bem os espaços nas costas dos centro campistas e laterais do Benfica - como realmente fez.
Por outro lado, o meio-campo que actuou pelo Sporting foi composto de 3 jogadores, todos preocupados sobretudo em defender: Rinaudo, Elias e Pranjic. Ora, excluindo este último, de quem pouco se conhece, os outros dois são jogadores de qualidade, que poderiam até ter lugar no plantel do Benfica. Elias não tem sido minimamente aproveitado no Sporting, mas no Benfica poderia em teoria fazer o papel de Ramirez (ora jogando pelo flanco, ora apoiando o médio mais recuado, neste caso Matic), como aconteceu no primeiro ano de Jesus na Luz.
Este meio campo sportinguista tinha vantagem numérica perante Matic e André Gomes. Aliás, Matic andou muitas vezes (e bem) cobrindo Carrilho o que aumentava o desequilíbrio face ao trio adversário.
Do que resulta que o Sporting apostou num Wolfswinkel sozinho no eixo do ataque, tentando aproveitar a sua velocidade e capacidade de desmarcação, apoiado por jogadores muitíssimo velozes e capazes de levar a bola muitos metros, como são Capel (por vezes parece imparável) e Carrilho.
Essa estratégia era algo perigosa para nós e deu mesmo resultados na primeira parte. Para além do golo, Maxi e Matic foram amarelados (e bem) e o primeiro andou muitas vezes perdido.
A postura e o posicionamento defensivos (os extremos e juntarem-se aos laterais quando a equipa não tinha a bola e os meio campistas a jogarem à frente da defesa) evitaram que o Benfica explorasse as fragilidades defensivas do Sporting, sobretudo dos centrais e do lateral direito, muito verde para estas andanças. Já Insúa não apenas cobria bem como ainda se chegava à frente de ataque.
O Benfica conseguiu contrariar isto em certa medida quando teve serenidade com a bola e não teve medo de enfrentar muitas vezes o 1 para 1, mas alguns passes errados e perdas de bola em passes em número exagerado levaram à intranquilização da equipa e à superioridade do Sporting entre os 10 e os 35 minutos.
Tudo o que digo atrás, não servindo para desresponsabilizar a nossa equipa de alguns erros, ajuda porém a explicar o menor rendimento no período que já identifiquei.
Mas se na primeira parte estivemos mal, na segunda estivemos muito bem. Ola John foi infernal pondo a cabeça em água ao inglês, Lima foi um mouro de trabalho, correndo muito, fazendo a vida muito difícil para a defesa adversária e abrindo espaços para os companheiros, Cardozo foi o matador que precisávamos, Sálvio, que tinha estado muito mal na 1ª parte, foi decisivo e o nosso meio campo manietou completamente qualquer veleidade do Sporting em sair para o ataque, positivamente ocupando o meio-campo sportinguista. Gaitan entrou para colocar o "ferro" final e acabar com o jogo.
A estratégia mas também a classe, o esforço e a crença dos nossos atletas construiram uma vitória totalmente justa. Uma grande vitória com um hat trick de Cardozo.
As notas
Melhores em campo
Ouro: Cardozo, 17 valores. 3 golos, dois remates que poderiam tê-lo sido e um cabeceamento a razar o poste. Acho que isto diz tudo.
Prata: Lima, 16 valores. Na nossa pior fase, nas nossas fases intermédias, esteve sempre presente no jogo, sempre incisivo, sempre objectivo e perigoso. Correu kilometros - e bem.
Bronze: Ola John, 16 valores. Também nunca perdeu a noção do que se precisava e de como criar perigo. Sempre activo, sempre rápido, centrou para o golo que virou o jogo. E deu sempre água pela barba ao seu marcador directo.
Outros destaques
Desta vez os nossos defesas não estiveram a um nível tão alto e portanto não surgem aqui. Mas Melga esteve certinho e Maxi ainda deu uma ajuda considerável ao ataque na 2ª parte. Garay não foi feliz da forma como abordou o lance do golo do Sporting mas de resto esteve bem e podia mesmo ter virado o jogo mais cedo, com um cabeceamento ao poste. Gaitan entrou para partir de vez a defesa do Sporting. Matic foi um gigante que empurrou o Benfica para a frente e não deu hipóteses ao Sporting de sair para a frente, sobretudo na 2ª parte quando a nossa pressão se tornou asfixiante. Merece 16 valores.
O árbitro
Muito bem. Sem excessos, sem protagonismos, deixando o jogo fluir. Podia ter dado mais um ou outro amarelo aqui ou ali mas não o fez e a meu ver bem. Esteve também bem na decisão capital do jogo. Merece 16 valores.