«A mim e ao Jorge quiseram-nos atacar lá do sul, arranjando-nos problemas, inclusive com os tribunais. Mas nós resistimos de forma solidária, e se a nossa amizade era grande, ficou ainda maior».
A declaração é de Valentim Loureiro e o "Jorge" é Pinto da Costa.
O País, infelizmente, é Portugal.
Aquilo de que o quiseram "atacar" foram actos de corrupção e adulteração ou falsificação de resultados. Em relação a Pinto da Costa, para além de corrupção, deveriam também ter existido uma série de outras acusações, nomeadamente agressões encomendadas e fomento de prostituição (a fruta), entre outros espisódios lamentáveis e situações mal explicadas das últimas décadas.
Pinto da Costa chegou na altura do Apito Dourado ao Tribunal "escoltado" por rufias da Ribeira e da claque do Porto. Foi a primeira e mais visível manifestação de um poder ilegal paralelo ao Estado e às suas instituições legítimas (polícias, segurança e tribunais, justiça). No Porto pelos vistos, um grupo de indivíduos permitia-se fazer segurança privada e não se coibia sequer de, um ar intimidatório e ameaçador ir até à porta das instalações da polícia e dos tribunais.
Ao mesmo tempo, Valentim era preso. Seguidamente, Pinto da Costa fugia para Espanha, avisado pela própria judiciária de que havia um mandato para o deter. Era mais uma manifestação do Estado dentro do Estado.
O Boavista foi condenado e desceu de divisão. Valentim passou entre os pingos da chuva. Nunca contestou a legitimidade da sua prisão e das acusações. Limitou-se a estar calado (como Pinto da Costa) e "resistir", mantendo-se "solidário" com Pinto da Costa. Lado a lado, resistiram e tudo passou, devagarinho e de fininho, com a intervenção dos advogados e juízes do Porto, amigos e compadres de Costa e dos outros Pintos (Lourenço e Pinto de Sousa).
Mas o Boavista desceu mesmo e o Porto, ainda que "ilibado" por um argumento formal pela justiça da República, de uma alegada ilegitimidade das escutas (que não deixam dúvidas a ninguém), foi condenado pela justiça desportiva, graças a um "justiceiro", que se recusou a que a total impunidade imperasse. Pinto da Costa e o Porto foram condenados (ainda que a penas irrisórias). O Porto não recorreu, porque se sabia culpado e estava satisfeito com a irrelevância da pena. Já tinha caído o peão - o Boavista - protegendo o "Papa".
Ainda assim, Valentim considera que saiu vitorioso da situação. Afinal de contas, num país normal teria sido condenado. Assim foi só o Boavista que desceu. Mas agora até parece que a decisão foi impugnada pelos tribunais civis...
Para cúmulo dos cúmulos, o ex-vice de Valentim na Câmara de Gondomar, "condenado no processo principal do Apito Dourado a uma pena de três anos de prisão, suspensa pelo mesmo período, por dez crimes de corrupção desportiva activa e 25 crimes de abuso de poder" é (hoje, em Dezembro de 2012) coordenador autárquico do PSD e foi mesmo já falado para possível candidato à Presidência da Câmara de Gondomar. Valentim desvaloriza o "processozito lá do apito".
No meio de tudo isto, Rui Gomes da Silva é suspenso por um ano, por dizer a verdade que está à frente da vista de toda a gente.
Já dizia Eça de Queiróz: "isto é uma choldra torpe. Nunca houve uma choldra assim no universo".
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