segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Exageros à portuguesa

 Portugal venceu a Arménia por 9-1, um resultado que "já não se usa", numa exibição memorável, mas obviamente frente a um adversário demasiado fraco para estas andanças. 



Mais uma vez ficou claro que a seleção joga melhor sem Ronaldo, o que é uma evidência há muito. Já aqui escrevi (e nada me move contra Cristiano que merece todo o respeito pelo que fez) que uma equipa de futebol moderno não pode jogar com 10, ou seja com um jogador que se limita a estar perto da área para finalizar, não pressiona e quase não cria. 

Nas últimas competições, nomeadamente Mundiais e Europeus, Ronaldo foi uma nulidade. 


No mundial de 2022 marcou um único golo: de penalti e na primeira jornada. Depois passou a suplente naquele que foi talvez o melhor jogo de Portugal numa fase final nos últimos 20 anos: os 6-1 à Suíça, com hat-trick de Gonçalo Ramos. Portugal seria eliminado por Marrocos num jogo em que Diogo Costa comprometeu. 

No Europeu de 2024 Ronaldo não marcou uma única vez: falhou um penalti contra a Eslovénia e contra a França atirou uma bola de golo praticamente para fora do estádio.

Mais uma vez, não estou a desmerecer o que Cristiano fez. Lembro-me de alguns jogos extraordinários em que carregou a equipa (Espanha, Hungria, playoff contra a Suécia). E na Liga das Nações marcou na meia final e na final. No entanto nos últimos europeus e mundiais as suas prestações foram medíocres.



O título deste post tem a ver com as aspirações de Portugal no Mundial. Leio por todo o lado que o vamos ganhar, que é hora de Portugal ser campeão do mundo. Até o Presidente e o PM se pronunciam sobre o tema. Apenas a "Espanha e França dão mostras de nos poder travar" escreve o chefe de redação do "Record". 

Ora, concordando que Portugal tem uma grande seleção, com um meio campo de luxo e dois laterais que estão no patamar dos melhores do mundo, convém ter calma nestas coisas. Portugal perdeu com a Irlanda, uma seleção esforçada mas mediana e empatou com a Hungria em casa.

Inglaterra e Noruega fizeram qualificações perfeitas, ou seja só com vitórias e a Espanha também o pode fazer. A Inglaterra não sofreu um único golo na fase de qualificação! Noruega marcou... 37 golos em 8 jogos! Uma média de 4,6 por jogo...

O Brasil e a Argentina, que para os comentadores profissionais parecem não contar têm "apenas" 5 e 3 campenatos do mundo respetivamente. A Argentina além disso é a campeã em título. Alemanha e Itália têm 4 mundiais cada uma. França tem 2 e será sempre candidata.

Estas certezas de que temos os melhores jogadores do mundo também precisam de ser acalmadas. Tais excitações não costumam dar grande resultado. Em termos técnicos estamos entre os melhores mas em termos atléticos estamos longe disso. As bolas paradas são um problema para nós por essa razão - e o guarda-redes (o tal que também garantem ser o melhor do mundo - está longe disso) não ajuda. 

Portugal é muito forte no meio campo (sem ser muito poderoso fisicamente), mas tem problemas para desequilibrar defesas fechadas porque os seus extremos e avançados são apenas razoáveis.

A Noruega tem Haland, Inglaterra Kane (mas também Saka, Rashford, Palmer e Foden), Espanha Yamal, França Mbappé e Dembélé, Brasil Vinicius (mais Raphinha, Rodrygo e Matheus Cunha). Todos estes jogadores são fortes, velozes, capazes de desequilibrar defesas e resolver jogos. Já Portugal tem apenas um jogador com este perfil que é Leão, mas que não se afirma na seleção. Além disso há a questão Ronaldo de que já falei. Se não há dúvida de que deve ser convocado, se o estatuto for de que é sempre titular, estamos em maus lençóis. 

Portugal pode, num dia bom, vencer qualquer seleção do mundo. Já o provámos. Mas isso também a Alemanha, a França, a Argentina, o Brasil, a Espanha, a própria Inglaterra e se calhar outras. 

Nunca estivemos numa final de um mundial. Não somos favoritos. Temos de baixar as expectativas e descer à terra. 



Ver também https://justicabenfiquista.blogspot.com/2024/07/espanha-argentina-e-os-melhores-do-mundo.html 

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Estranho

 O Benfica continua com zero pontos na Liga dos Campeões (facto) e o apuramento é uma miragem (evidência). 

Mas para além disto há uma realidade que é difícil de explicar. Por exemplo a quantidade de bolas à barra que já enviámos ou de oportunidades flagrantes não concretizadas ou até de golos/assistências para a nossa própria baliza. 

Ontem a "injustiça" do resultado foi por demais evidente: desde decisões desfavoráveis da arbitragem a bolas nos ferros, oportunidades flagrantes desperdiçadas, um golo sofrido algo caricato e anti-jogo permanentes do adversário, tudo correu contra o Benfica.

Na realidade o Leverkussen estava a jogar para não perder e conseguiu ganhar o jogo, ao passo que com o Benfica aconteceu evidentemente o contrário. 

A Champions está perdida (nunca a iríamos ganhar de qualquer modo), mas arriscamo-nos a ter uma prestação escandalosa.

A questão é que as coisas começaram mal, com o Qarabag evidentemente, mas até antes disso, com o sorteio. É verdade que deveríamos ter 6 pontos, mas a sorte não tem querido nada com o Benfica. Mesmo com o Qarabag, o resultado poderia ter sido diferente com um pouquinho de felicidade. Lukebakio é o rosto mais visível desta maré azarada, porque já podia ter uns 4 golos e tem zero. Nem Pavlidis ontem acertou nas decisões. 

Há que esquecer mais esta derrota, apesar de dolorosa, e andar para a frente porque o campeonato é o grande objetivo e é realista. Isto apesar do Sporting ter melhor plantel e e Porto estar com melhor dinâmica. Temos de vencer todos os jogos até janeiro e nessa altura colmatar as deficiências do plantel (apesar de Ríos, Enzo e outros começarem finalmente a aparecer e os lesionados estarem mais perto de regressar).

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Nunca. Ganharam. Em. Inglaterra.

O FêQuêPê NUNCA ganhou um jogo oficial em Inglaterra.

Sublinhe-se bem isto. Nunca.

Goleadas já levaram em barda, aos 4 e 5.

Mas ganhar, isso não é com eles.

Assim de repente, lembro-me do Benfica ganhar ao Liverpool, ao Arsenal, espetar 3 no Tottenham (no Arsenal também, mas em prolongamento) tudo em Inglaterra.

Sim, perdemos de forma dura em Newcastle (equipa que eliminámos no passado). Mas o Newcastle não é um Nottingham Forest que vinha perdendo jogos uns atrás dos outros.


quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Confrangedor, mas é preciso dar tempo

 A exibição do Benfica ontem corroborou as piores expectativas acerca de Mourinho: um treinador de tracção atrás, demasiado preocupado em defender e não sofrer golos, sem rasgo na frente. Pior do que isso, mesmo esse objectivo pouco ambicioso fracassou por completo e estivemos à beira de ser goleados.

A equipa foi demasiado curta: com excepção de três boas jogadas de Lukebakio, em duas delas a centimetros de marcar, o Benfica foi inofensivo. A equipa foi demasiado frágil: em momentos pareceu homens contra rapazes. Ríos voltou a ser, pior do que uma nulidade, um elemento negativo para a nossa própria equipa, dado que perdeu bolas que criaram situações perigosas para a nossa baliza.

E o fim foi penoso, parecia tiro ao boneco, com Trubin a fazer várias grandes defesas e a evitar a goleada. 

Se nos últimos jogos se viram alguns sinais positivos, ontem tudo descambou e voltámos a ser uma equipa desgovernada, perdida em campo, a cometer erros atrás de erros (sobretudo no fim).

Se fosse Lage ou Schmidt imagino que se estaria já a exigir o despedimento. Como é Mourinho isso não acontece - e bem, note-se. 

Quando se acredita num treinador deve-se prosseguir o caminho, mesmo que por vezes os resultados e as próprias exibições não correspondam ao esperado. Rúben Amorim teve más épocas no Sporting, mas o clube acreditou nele e manteve-o mesmo nos períodos difíceis, com os resultados que se conhecem. No United também já podia ter sido despedido (em Portugal não teria sequer começado esta época) e eu pensei que o seu tempo em Manchester estava a acabar, mas Ratcliffe, o accionista que controla de facto o clube, já disse que Amorim tem três anos para o seu projeto. Veremos, mas para já isso trouxe tranquilidade ao clube.

Isto para dizer que por vezes é preciso tempo para um treinador passar a sua mensagem à equipa e começar a obter os resultados desejados. E nem sempre o progresso é linear. A questão é, repito, se existe uma visão de futuro sobre o que se pretende alcançar e qual o caminho, bem como confiança em quem lidera tecnicamente esse projecto. 

Outro ponto a considerar é que o plantel do Benfica é fraquíssimo. Comentei aqui no início da época que se Akturkoglu saísse era preciso contratar dois extremos. Mas depois disso ainda saiu Tiago Gouveia! Acresce que também Carreras foi vendido, ele que era um dos principais desequilibradores e dava muita profundidade à asa esquerda. Ou seja, saíram Di Maria, Akturkoglu, Amdouni, Tiago Gouveia e Bruma lesionou-se com gravidade e o Benfica contratou... um jogador para os substituir a todos. Isto é inconcebível. Neste momento temos dois extremos no plantel principal e Mourinho já se viu que não acredita em Schjeldrup (que aliás dá poucas razões para que alguém confie nele). 

O resto do plantel não é muito melhor: Ríos tem tido um rendimento desastroso mas não tem substituto (ainda que no actual quadro até Barreiro seria uma melhor opção, para mim), o mesmo sendo válido para Enzo (não o rendimento, que, sendo fraco, não é tão mau como o de Ríos, mas a falta de alternativa). E nas laterais a situação é tão má que ontem acabámos o jogo com dois adaptados... Imagine-se. 

Mourinho não escolheu além disso os jogadores, pelo que o plantel também não tem necessariamente jogadores com as características que precisa para aplicar melhor as suas ideias.

Note-se que não sou "mourinhista", tanto que cheguei a escrever aqui que não o desejava no Benfica, mas ele é o nosso treinador e além disso é o treinador português mais titulado de sempre. Alguma coisa de futebol há-de saber. Há por isso que lhe dar tempo para desenvolver o seu trabalho, assim como recursos no próximo mercado. 

O Benfica está num momento complicado e é preciso estabilidade para as coisas não piorarem mais ainda.

quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Difícil para Mourinho (e o Benfica)

 Já escrevi o que penso sobre Mourinho, mas neste momento ele é treinador do Benfica e obviamente não estarei aqui a fazer campanha contra ele sem lhe dar sequer a oportunidade de mostrar que eu estou errado. Dito de outra forma, tem o meu apoio, pelo menos para já.

A questão é que este Benfica tem, mais uma vez, um plantel curto e desequilibrado, mesmo para a realidade portuguesa. 

As carências mais óbvias estão no meio campo e nas laterais. 

Em primeiro lugar, estou longe de estar convencido de que ficámos a ganhar com a troca de Florentino por Enzo, em segundo que Ríos traga algum valor acrescentado. 

Depois, se a ideia é jogar em 4-3-3 ou 4-2-3-1 (e já teria de o ser com Lage porque Sudakov veio para ser titular), quem é o substituto do ucraniano e quem são os extremos (já para nem falar dos seus substitutos)?

Em relação ao primeiro, é evidente que não há outro jogador no plantel com as suas características. Em relação aos extremos, temos Lubebakio. Ponto. Schjelderup é um projeto de jogador e Aursnes não é um desequilibrador nato (pelo contrário, é um jogador para equilibrar a equipa). Considerando que Dahl não tem tido capacidade para trazer perigo à ala esquerda e que Dedic começou muito bem mas neste momento está algo fatigado, o Benfica não tem dinâmica e não consegue abrir as defesas adversárias. Além disso a equipa está fisicamente em baixo, o que é perfeitamente normal considerando o Mundial de Clubes e a supertaça / pré-eliminatórias da Champions.

Temos de ser honestos: quer o Porto quer o Sporting são, neste momento, muito mais fortes. O Porto com uma dinâmica forte, velocidade e um modelo bem definido (com bons executantes), o Sporting com uma equipa de qualidade muito superior à do Benfica. Vi ontem grande parte do jogo do Sporting e as oportunidades de golo sucediam-se. O guarda-redes do Moreirense fez uma mão cheia de defesas quase impossíveis. Claro que a arbitragem foi amiga: não pelos penalties em si, mas por ter sido caseira como há muito não via - o apito do árbitro só funcionava quando a infração era do Moreirense, ao passo que os jogadores do Sporting podiam fazer basicamente tudo. Ajudou a empurrar o Moreirense para trás. Mas isso é mesmo assim: os árbitros estão sempre do lado de quem está mais poderoso e neste momento o Benfica é o patinho feio, a gata borralheira.

A tarefa de Mourinho é tão mais difícil que o nosso treinador terá jogos de derrota quase certa na Liga dos Campeões (praticamente todos, aliás) e uma deslocação ao Porto em breve. Se as coisas correrem pelo pior, conseguirá um Mourinho já sem a energia do passado dar a volta à situação e construir algo no Benfica? 

A situação é muito difícil. 

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Navegação à vista

 Quando escrevi o último post estava muito longe de imaginar que dois dias depois Lage deixaria de ser o treinador do Benfica.

Claro que também não imaginava perder em casa com o Qarabag, uma equipa da quarta divisão do futebol europeu, um resultado que é realmente escandaloso e inaceitável.

No entanto como é que um presidente explica que ainda há duas semanas (a fazer fé nas declarações de Lage) estivesse a contratar os jogadores que este desejava e agora o demita? 

Se, como tudo indica, o sucessor for Mourinho, como explicar a venda de Akturkoglu que foi aparentemente um pedido do então treinador do Fenerbaçe?? 

Nada disto faz sentido. 

Mais: Lage eliminou Mourinho e foi tacticamente mais astuto nessa eliminatória do que o seu conterrâneo setubalense. 

E a um mês das eleições Costa vai fazer um contrato (provavelmente de valores elevados) que vai vincular o próximo presidente do Benfica - o que não é ilegal mas coloca questões muito sérias em termos de deontologia. 

É a navegação à vista, sem rumo estratégico. É verdade que o futebol são resultados e os "projectos" são normalmente uma ilusão porque se não existe sucesso o "projecto" é sempre abandonado e se contrata um novo treinador que necessariamente terá as suas ideias próprias, mas há que ter pelo menos uma visão e um rumo. 

Há uns anos contratou-se Schmidt porque se queria (e bem) um futebol atacante e atraente. Agora escolhe-se Mourinho, um treinador defensivo e resultadista. Onde está a coerência? 

Como já escrevi anteriormente, não acredito em Mourinho. Acho que está desactualizado, que o seu melhor período já passou, que não tem ideias inovadoras e que as suas equipas jogam um futebol feio que não empolga minimamente. 

Pode-se dizer que no United e na Roma fez melhor do que os que lhe sucederam. É um facto. Mas isso parece-me um fraco argumento, insuficiente para um treinador do Benfica. 

Temo que o futebol do Benfica se torne defensivo, negativo, mais preocupado em não perder do que em ganhar.

Um futebol defensivo como o de Mourinho só é aceitável se a equipa tiver bons resultados. Mas no Benfica bons resultados é ganhar sempre a nível nacional e ter prestações razoáveis na Europa. Será Mourinho capaz de alcançar tais resultados? O que acontecerá se começar a ter empates na Liga portuguesa e a perder na Liga dos Campeões (como é previsível face aos adversários que enfrentaremos)?

Antevejo tempos conturbados para o Benfica. Espero estar enganado.

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Fim da linha para Amorim. E Lage?

 Eu sei que muitos benfiquistas estão nervosos com o empate com o Santa Clara. Também me debruçarei o nosso momento neste post, mas para já quero analisar a situação de Amorim, até porque acho que há ilações importantes a retirar da mesma.

Em Portugal, Amorim tornou o Sporting uma equipa dominadora, quase hegemónica. Começou por ir buscar uma série de jogadores a equipas médias e aos poucos construiu uma equipa compacta e muito difícil de bater. Teve uma "filosofia" e um "sistema" que foi aprimorando.

Mas a Premier League não é a Liga Betclic. Ali estão os melhores dos melhores, quer jogadores, quer treinadores. Cada jogo é um desafio físico e táctico sério. Enquanto que em Portugal há três equipas decentes, três ou quatro médias e as restantes são fracas, em Inglaterra o panorama é completamente diferente. 

Primeiro há o "big six" (Arsenal, Chelsea, Liverpool, Man City, Man United e Tottenham), equipas que além das competições internas competem por títulos europeus. Depois há equipas como o Newcastle, Aston Villa, Crystal Palace, Brighton, Nottingham Forest ou West Ham que têm orçamentos maiores do que o Benfica.

Em Inglaterra quase todas as equipas são muito evoluídas física, técnica e tacticamente. O problema de Amorim é que o seu sistema pura e simplesmente não funciona em Inglaterra. Porquê? Porque os dois médios centro do United estão constantemente em inferioridade numérica face aos três ou quatro médios que as outras equipas apresentam. Acresce que os dois médios do United são normalmente desadequados para jogar neste sistema. Já foi referido por analistas que apenas o Chelsea conseguiu vencer a jogar neste sistema e os seus médios eram "apenas" Kanté e Matic, dois box-to-box com uma capacidade física incrível. Com Amorim, um dos médios é Bruno Fernandes e o outro é Casemiro ou Ugarte. Não há milagres. Depois os três defesas também têm dificuldade em encaixar quando o adversário joga apenas com um avançado e ainda mais quando este deriva para outras zonas do campo, deixando os defesas sem referências. No Sporting era fácil: o bloco subia. Em Inglaterra as coisas não são tão fáceis porque as outras equipas têm muita qualidade e velocidade para explorar o espaço nas costas da defesa.

O fracasso de Amorim está a ser espectacular: em 31 jogos da Premier League tem... 8 vitórias. Mas Amorim é teimoso e não muda. Continua a bater contra uma parede: as performances e os resultados são desastrosos, mas continua a insistir. Todos os treinadores já sabem como o Man United joga, quais as suas fragilidades e como os anular. 

É verdade que Amorim conseguiu resultados na Europa enquanto treinador do Sporting (embora nunca tenha ido longe em nenhuma competição). Não lhe retiro mérito, mas a confiança é um factor muito importante e também tinha jogadores adaptados ao seu sistema, ao contrário de agora (os avançados baixavam para apoiar os centro campistas, a equipa era mais compacta, os defesas mais capazes e teve Gyokeres que era capaz de correr quase meio campo e marcar). O que é incrível é que Amorim continua a jogar com os mesmos médios centro do ano passado (com os resultados que seriam de esperar - derrota atrás de derrota). Por outro lado, não resolveu ainda o problema do guarda-redes (no Sporting foi o mesmo). Agora vem o Chelsea e os adeptos estão completamente saturados. Depois de o acolherem cheios de entusiasmo, agora consideram que já não há esperança. Amorim está por um fio.

Que lição se retira daqui? Creio que mais do que uma. A primeira, evidente, é que a Premier League é o topo dos campeonatos e que ser "o maior da sua rua" significa pouco ali. A segunda é que um bom treinador tem de ser capaz de fazer correções e adaptações, por muito que acredite no seu modelo. Amorim não está a demonstrar essa capacidade. Em Portugal, na Grécia, talvez na Turquia, Amorim tem uma elevada probabilidade de sucesso, em Inglaterra, tem uma elevada probabilidade de fracasso. A confirmar-se o descalabro, será um falhanço embaraçoso, com um custo de muitos milhões para o clube, mas na verdade apenas mais um fracasso no já grande cemitério de treinadores em Old Trafford.

Face aos números atrozes de Amorim (pelo meio ainda eliminado da Taça da Liga por uma equipa da quarta divisão), o empate do Benfica com o Santa Clara torna-se mais relativo. 

O problema é que em Portugal qualquer empate pode ter consequências muito prejudiciais tal o desnível  dos três grandes para os outros e, ainda mais importante,  o nível de jogo medíocre do Benfica é preocupante nesta altura. 

No entanto temos de reconhecer que há vários factores atenuantes: a quase ausência de pré-época, muitas entradas e saídas, grande número de jogos de exigência elevada logo em Agosto (o jogo ter sido na sexta-feira também foi um disparate). E estamos ainda no início. É possível que com a adaptação dos jogadores recém-chegados e o seu entrosamento com os colegas, o rendimento individual e colectivo aumente. Não apenas é possível, é mesmo exigível.

Temos de mantter calma e não entrar em histeria. Lage é um treinador razoável para a nossa realidade. Não vamos ter Klop, nem Tushel, nem Guardiola, nem Marco Silva. Para vir um Anselmi ou um Borges (ou um Mourinho já sem a energia nem a confiança de outros tempos) não vale a pena mudar. Claro que se não houver melhoria na qualidade de jogo e por outro lado houver mais resultados negativos, a pressão aumentará, como acontece sempre, e terá de se pensar em alternativas. Mas ainda é cedo. O jogo com o Porto será para mim o momento para fazer uma avaliação mais fundamentada. 

A seu tempo escreverei também sobre as contratações e o plantel do Benfica.