segunda-feira, 15 de julho de 2024

Espanha, Argentina e os "melhores do mundo"

 Espanha e Argentina são os vencedores de Europeu e Copa América. Más notícias para portugueses e brasileiros que também tinham as suas ambições e vêem os seus vizinhos e rivais (mais no caso do Brasil) vencer. 

Espanha dominou

No caso do Europeu, a lógica imperou  do primeiro ao último jogo e não houve uma única surpresa digna de nota. Espanha afirmou-se como a melhor equipa desde o início e venceu com naturalidade. Inglaterra tinha dos melhores jogadores mas nunca conseguiu jogar um futebol de qualidade. Kane continua a ser um mistério - é um avançado de excelência mas nunca ganhou um único troféu. Bellingham é dos melhores médios em atividade mas só apareceu contra a Eslováquia. No duelo dos mais jovens, Dani Olmo, Wiiliams e Yamal foram melhores que Foden e Saka. Palmer marcou mas não chegou.

Foi um Europeu pouco espectacular, com poucos golos e pouco futebol. O que importa é o dinheiro e portanto os jogadores continuarão a chegar esgotados a estas competições, as quais cada vez têm mais equipas e mais jogos. A qualidade obviamente diminui.

Mas a Espanha foi a equipa mais imune a isso. Foi melhor em tudo - a que teve mais identidade, mais qualidade e melhores jogadores. Yamal e Williams foram dos melhores, assim como Olmo, Rodri e até o próprio guarda-redes. Os espanhóis têm muita confiança em si próprios e no seu modelo, além de uma enorme garra. Até jogadores como Carvajal e Cucurella que não são particularmente dotados tecnicamente conseguem ter um rendimento ao mais alto nível. Os jogadores espanhóis raramente falham e têm uma mentalidade muito forte. Merecem por isso inteiramente este título.

 

Argentina vence terceira competição seguida

Quanto à Copa América, há a ideia de que o nível de exigência é menor nas competições americanas, mas os factos não consubstanciam essa percepção. Em primeiro lugar a Argentina é campeã do mundo, o que desmente logo a tese à partida. Em 22 edições, os europeus ganharam 12 vezes e os sul-americanos 10. Depois, no que diz respeito a Portugal, temos um saldo exatamente nulo em mundiais contra equipas do continente americano: 2 vitórias, 2 empates, 2 derrotas - Brasil (vitória em 1966, empate em 2010), Uruguai (derrota em 2018, vitória em 2022), EUA (derrota em 2002, empate em 2014).

Seja como for, a Argentina renovou a sua vitória na Copa, apesar de ter vários jogadores em fim de carreira: Messi, Di Maria, o próprio Otamendi. Messi saiu mesmo lesionado na final e Di Maria acabou o jogo esgotado. Ambos foram ovacionados por todos os adeptos argentinos aquando das substituições. A Argentina venceu com esforço, mas bem, apesar da réplica forte da Colômbia. O Brasil não foi uma grande desilusão porque não havia ilusão: chegou em péssimo momento e confirmou as piores expectativas.

 

Fim de ciclo

 A vitória da Argentina não coloca um ponto final na rivalidade Messi-Ronaldo porque ela já tinha sido terminada em 2022. Infelizmente aí ficou claro de vez algo que há muito já se vinha vendo: Messi é um jogador de equipa que aparece nos grandes momentos, ao passo que Ronaldo é um jogador individualista que nas fases a eliminar não consegue aparecer. A saída do Manchester foi um momento decisivo porque definiu um caminho que depois já não teve retorno, o caminho do ego. O Mundial logo a seguir traduziu-se num enorme fracasso e sobre o Europeu já não vale a pena falar. As carreiras de ambos estão agora para todos os efeitos terminadas e claro que deixarão uma herança tremenda e o futebol não será o mesmo sem eles. Quanto a Di Maria parece que ainda jogará mais uma época no Benfica. Que os adeptos saibam apreciar o terem uma lenda a jogar no nosso futebol e no nosso clube.


Melhores do Mundo... sem ganharem nada


A este propósito, não posso deixar de criticar o provincianismo da maioria dos comentadores portugueses. Eles são realmente paroquiais e parece que não têm televisões em casa. Primeiro, durante anos, eles, todos os nossos jogadores e treinadores insistiam em que Ronaldo era "o melhor do mundo", quando de facto não era. Depois era Félix que o seria também, e agora Vitinha já é "um dos melhores do mundo", ao passo que Diogo Costa é "o melhor guarda redes do mundo". 

Não me levem a mal, não quero deitar abaixo o jogador português que tem imensa qualidade, mas já em 2019 o treinador do Dinamo de Zagrebe disse que "se Dani Olmo jogasse no Benfica valia tanto como João Félix". E agora está à vista que não apenas tinha razão como Olmo está a ter uma carreira muitíssimo melhor que Félix que saiu demasiado cedo com essas fantasias de ser o melhor do mundo. Quanto a Vitinha, é um bom jogador, mas para um médio naquela posição tinha de marcar mais golos e fazer mais assistências para estar num nível superlativo. E quanto a Diogo Costa, tenham dó! É um guarda-redes promissor, com algumas qualidades. Mas o que é que ele já ganhou? Para ser o melhor do mundo basta um qualquer comentador o dizer num programa de televisão? Mas que falta de noção!! Olhem para o currículo de Courtois, Emiliano Martinez, Neuer, Alisson Beker, Ter Stegen, Éderson, para já nem falar de Oblak e tantos outros...

domingo, 7 de julho de 2024

Uma seleção sacrificada a um ego

 O desfecho do jogo com a França foi o que esperava, embora Portugal até me tenha surpreendido. Pensei que perderíamos logo nos 90 minutos. Não porque não tivessemos equipa para ombrear com a França, mas porque jogaríamos com um avançado que não corre, não se desmarca, não pressiona e nem sequer tem já capacidade para finalizar.

É tudo demasiado evidente: Ronaldo não tem lugar a este nível mas a sua presença traz publicidade e consequentemente muito dinheiro que vai reverter para a Federação. Quando Martinez foi contratado, foi-lhe certamente dito que Ronaldo teria lugar cativo. É impensável que o seleccionador tenha ido à Arábia por sua alta recreação. Foi a Federação que lhe disse para ir.

O futebol há muito que não é sobretudo paixão, mas sim negócio. Mais recentemente ficámos a saber que o próprio sucesso desportivo é secundário face ao dinheiro.

Ronaldo, futebolisticamente falando, só não foi uma absoluta nulidade porque fez uma (boa) assistência para Bruno Fernandes. Mas para esse bom momento acontecer, vários maus e péssimos tiveram igualmente lugar. Ronaldo não se limitou a ser uma nulidade, foi um corpo estranho que prejudicou a equipa e tirou lugar a outros que claramente pior não fariam.

Ouvi ontem Miguel Henrique dizer que "Ronaldo continua a ser o nosso melhor finalizador". Ele realmente finaliza as jogadas, mas é matando-as, não colocando a bola dentro da baliza. MH representa aqui quase todos os comentadores cuja falta de coragem para apontar o óbvio roçou o repulsivo.

Ronaldo deu muito à seleção e ao país, pelo que vou terminar a minha apreciação por aqui. A única coisa que resta dizer é que realmente o ego é algo que nos pode levar ao sucesso mas que se não é controlado conduz à queda e ao ridículo.

Esta seleção poderia ter ido mais longe. Merecíamos pelo menos a oportunidade de disputar com a Espanha o acesso à final. Mas tudo foi sacrificado ao ego desmedido e ao narcisismo de um outrora grande jogador que não soube sair a tempo.


Cristiano Ronaldo: Portugal forward on brink of more international history  - BBC Sport

quinta-feira, 16 de maio de 2024

Isto é verdade, Rui Costa?

https://desporto.sapo.pt/atualidade/artigos/mp-suspeita-que-rui-costa-paulo-goncalves-lf-vieira-e-soares-de-oliveira-criaram-plano-para-desviar-fundos-da-benfica-sad

https://observador.pt/especiais/vieira-rui-costa-paulo-goncalves-e-soares-oliveira-suspeitos-de-criarem-plano-para-desviar-fundos-da-benfica-sad/

 Não me refiro à veracidade da acusação. Refiro-me à sua mera existência.

Rui Costa pode dizer que não sabia (e provavelmente naqueles primeiros anos na SAD passava-lhe muita coisa ao lado), mas um presidente do Benfica não pode ter uma acusação destas a impender sobre si. 

Estes últimos anos têm sido maus demais. Já tenho dito que o Benfica precisa de uma limpeza. Neste momento já é quase uma refundação.

E ainda vejo benfiquistas a "celebrar" que não houve acusação de corrupção... Os padrões estão mesmo baixos.




quinta-feira, 9 de maio de 2024

Leverkusen recusa-se a perder

 Já não há palavras para a época que o Bayer Leverkusen está a fazer: campeão alemão com várias jornadas por disputar, finalista da Taça da Alemanha e agora finalista da Liga Europa, sem ter perdido uma única vez esta época!

Talvez ainda mais espantoso do que isto, é que o Leverkusen já por várias vezes esteve a perder até aos últimos minutos e depois deu a volta. Não consigo precisar quantas vezes isto aconteceu mas se disser 10 provavelmente não estarei a exagerar. O caso mais recente é o da Liga Europa: a perder por 0-2 até aos 82 minutos, marca nesse minuto e depois aos 90+7, mantendo a invencibilidade. O apuramento já estava garantido com o 1-2, o 2-2 permitiu manter a invencibilidade. E sabemos quão importantes são essses aspectos para a moral das equipas e para não quebrar o ciclo vitorioso. 

Vamos ver se conseguirão manter o registo até ao fim da época, o que significaria mais 2 troféus para a equipa de Alonso e Grimaldo ou se a desilusão chegará mesmo ao cair do pano. Seja como fôr, a conquista do campeonato alemão representa um feito inédito. Deixa de ser o clube do quase, o Neverkusen.

Nesta altura são os adversários quem ficam com a sensação do quase. Resta saber se os farmacêuticos lhes oferecem algumas caixas de aspirina no fim dos jogos.

Asi gana el Madrid

 Com mais ou menos golo nos últimos minutos, mais ou menos polémica arbitral, o Real Madrid está, como era esperado, em mais uma final da Champions. É incrível o poderio deste colosso. 

15ª a caminho... E para o ano ainda devem ter M'bapé...


Já agora, o Olympiacos, com David Carmo, Podence e Chiquinho (sim, o do Benfica) no 11 e João Carvalho no banco (da nossa formação) está a caminho da final da Liga Conferência, levando no momento em que escrevo uma vantagem de 3 golos sobre o Aston Villa (que é treinado pelo consagradíssimo e especialista em Liga Europa Unai Emery). Uma grande surpresa e um grande feito para os gregos.

quarta-feira, 8 de maio de 2024

Qual é o espanto?

 Fiquei um pouco surpreso com algumas reacções na blogosfera benfiquista por estes dias.

Como aqui disse há meses, o Benfica estava obrigado a ganhar no dragão. O empate ainda poderia eventualmente deixar uma réstia de esperança, mas a partir do momento em que não apenas perdemos como ainda fomos goleados, o campeonato ficou definido. A derrota em Alvalade foi o seu ponto final. 

A partir daí era apenas uma questão matemática: o Sporting não podia ser imediatamente campeão porque ainda haviam 6 ou 7 jogos em falta e portanto 18 ou 21 pontos em disputa, mas sê-lo-ia a 1,2,3 ou 4 jornadas do fim. Para quem está habituado a ver futebol, o Benfica tinha exactamente 0 % de possibilidades de ser campeão. É que até já tinha jogado com o Sporting e perdido, portanto nem "moral" tinha para esperar fosse o que fosse. 

Por isso dizer-se, como Rui Costa há uma semana, que "estamos na luta" é conversa para boi dormir, como se diz no Brasil. Não acredito que ele acreditasse nisso, nem que esperasse que alguém o levasse a sério. Se acreditava é porque tem pouca noção da realidade e nesse caso estamos em maus lençóis. Uma das características da liderança é o realismo. A esperança não é uma estratégia. 

Tudo bem que poderíamos (deveríamos) ter ganho ao Famalicão. Mas sinceramente não fazia qualquer diferença no final da época. Há muita coisa que vai ter que mudar e ganhar os últimos jogos até poderia dar uma falsa sensação de que estávamos no bom caminho. 

Por outro lado, percebo o argumento de que "temos" de ganhar aos famalicões todos do campeonato, mas as coisas simplesmente não funcionam assim. O Porto também "tinha" de ganhar (até para a manutenção da tralha directiva que ficará ali agarrada até ao último dia) e vai ficar atrás de nós. O ano passado o Sporting também "tinha" de ganhar e ficou em 4° lugar. 

E isto também não é uma questão de dinheiro. Veja-se o Liverpool que há umas semanas era líder e que entretanto perdeu o campeonato devido a derrotas com clubes menores. Se fosse o Benfica o que diríamos? Isto para não falar do United que está em 8° e há dias levou 4 do Crystal Palace, do Chelsea que está em 7° ou do Paris Saint German que falha novamente na Liga dos Campeões, etc. 

Chegando aos finalmentes, o que o Benfica necessita é de fazer um exame profundo do que correu mal esta época, porque grande parte dos erros são já reiterados. Desde a venda de João Félix (até já anteriormente, mas agravando-se a partir deste momento) adoptámos uma política de contratações completamente errada. Em geral o mercado dos clubes portugueses não é o europeu, porque não temos capacidade financeira para ombrear nem sequer com a classe média. Sim, por vezes vai-se buscar um Darwin, um Jonas ou um Gyokeres, mas essas são as excepções. O normal são os Robertos, os RDTs, os Weigels, os Arthures Cabrais e os Kokçus. Jogadores altamente sobrevalorizados, que os clubes de origem não querem (se não continuavam lá) e que não rendem cá (também devido ao "peso" da transferência e às expectativas criadas). 

Se olharmos para o plantel do Sporting encontramos imensos jogadores que vieram do mercado nacional (Pedro Gonçalves, Morita, Mateus Reis, Nuno Santos). No Benfica não sei se atualmente há algum. E já é assim há muito tempo. Mas no passado não era, pelo contrário. 

Este problema de política, aliado ao problema da prospecção (olheiros / scouting) explica algumas das lacunas e fragilidades do Benfica. Noutros posts falarei de outros problemas mais gerais, de que este é um efeito. 


sábado, 20 de abril de 2024

Oportunidade de ouro desbaratada

 O Benfica perdeu com o Marselha, uma equipa que, quase unanimemente, comentadores e analistas consideram bastante inferior. Aliás, o facto de antes do jogo a equipa francesa estar numa série de 5 derrotas consecutivas se não diz tudo anda lá perto.

O que eu não tenho visto ser salientado é que, para além do desperdício de ser eliminado pelo Marselha (coisa completamente diferente teria sido uma eliminação perante um Milão ou um Liverpool), o Benfica perdeu uma belíssima oportunidade de vencer a Liga Europa. 

É que com a conjugação dos resultados dos outros jogos, o Benfica jogaria a meia final com a Atalanta e, passando, a final com a Roma ou o Bayer Leverkussen. Ou seja, com equipas que estavam ao seu alcance.

O Benfica alcançou duas finais seguidas da Liga Europa, em 2013 e 2014. Na primeira teve um percurso relativamente tranquilo até à final mas ali apanhou o Chelsea que era claramente uma equipa muito mais forte. Batemo-nos muito bem e fomos infelizes mas o desfecho foi relativamente "normal". Já em 2014 o Benfica teve de eliminar o Tottenham nos oitavos e a Juventus nas meias. Depois jogou a final com o Sevilha, que é o Real Madrid da Liga Europa: tem "só" 7 vitórias. O Benfica perdeu nos penaltis (já é sina), numa noite extremamente infeliz do árbitro que para deitar sal na ferida de um jogo em que perdoou pelo menos dois penaltis aos espanhóis ainda conseguiu não ver Beto, o guarda-redes dos andaluzes, avançar um metro em relação à linha de baliza antes dos pontapés de penalti serem batidos. Lamentável e mais uma vez perdemos uma final europeia.

Ora este ano não apanharíamos nenhuma equipa claramente superior em termos de recursos financeiros ou de nome e palmarés europeu, nenhum "papa-taças", incluindo na final, se lá chegássemos. É verdade que Atalanta (na Europa) e Bayer (em todas as competições) têm demonstrado um futebol muito superior ao Benfica este ano. Mas isso vale o que vale. Já sem preocupações internas, o Benfica poderia ter-se concentrado exclusivamente na Liga Europa e a motivação subiria certamente. Temos dois campeões do mundo no plantel e jogadores com valor e algo a provar. Tínhamos todas as condições para poder vencer, no sentido em que partíamos (na minha opinião, claro) com as mesmas possibilidades dos outros.

Eu sei que esta conversa não muda nem adianta nada. De certo modo é até mais deprimente estar a pensar nisto. Mas os leitores que me perdoem. Estou de ressaca de uma época em que nem sequer me cheguei a inebriar... É triste chegar a abril com tudo perdido e nada por que lutar, num ano em que investimos tanto e em que as expectativas eram tão altas. E de facto as nossas possibilidades para estas eliminatórias eram mais favoráveis do que alguma vez me lembro, de modo a podermos chegar à final e ganhar.

Isso foi completamente desbaratado, cortesia do nosso treinador. De facto tudo o que aconteceu foi para mim tão previsível que por vezes quase gostaria de ser mais ingénuo e não ver as coisas de forma tão clara, pois essa antevisão chega a parecer maldição. É que quando Aubemeyang marcou na Luz eu comecei a ver o filme. E quando lhe deram liberdade para centrar aquela bola de morte em Marselha vi o desfecho final. A televisão ficou ligada mas eu já estava a fazer outras coisas. Nem olhei para os penaltis, já estava a escrever o post anterior, para exorcisar a minha ira.

Schmidt é um problema neste momento, mas não é a causa, nem a raiz do que está mal no Benfica. Temos ido ganhando alguma coisa, o que disfarça, mas há anos que falta cultura benfiquista no clube, exigência, rigor, profissionalismo. Provavelmente ainda escreverei algo sobre isso até ao final da época. 

Por agora, mantendo-me no tema Schmidt, também sob o ponto de vista do plantel, o desperdício do alemão é incompreensível e para mim indesculpável. Schmidt não soube utilizar a "raiva" de Kokçu e Arthur Cabral, por exemplo, para lhes dar oportunidade de provarem o seu valor em palcos que contavam. Em Alvalade Kokçu entrou já nos descontos. Um jogador que estava insatisfeito e queria mostrar mais, deveria ter tido oportunidade de, num jogo crucial (e com jogadores no ataque já esgotados), provar que realmente merecia mais protagonismo na equipa. Não é a jogar 5 e 10 minutos, já na fase caótica do jogo e em desespero que se pode mostrar e fazer alguma coisa. Agora em Marselha Schmidt colocou em campo Kokçu mais cedo, é verdade, mas sem ponta de lança, algo que fez com que o OM subisse as linhas, dificultando o jogo do turco que precisa de estar mais próximo da área adversária e de ter uma referência na frente que possa municiar. O mesmo é válido para Tiago Gouveia. Deu boas indicações no jogo anterior, como já vem dando ao longo da época, e nem sequer saiu do banco. Isto com um Rafa e um Di Maria que se arrastam literalmente em campo. É inconcebível, é um desperdício de recursos cujas consequências estão à vista. Tanto em Alvalade como em Marselha, os treinadores adversários foram fazendo substituições para levar mais o jogo para onde queriam. Já Schmidt mexeu pouco e mal e foi incapaz de tocar nas vacas sagradas.

Gosto muito de Di Maria e não sou ingrato. Para mim é impensável assobiar um jogador de uma qualidade superlativa que dá tudo o que tem fisicamente e quer vencer mais do que qualquer outro. Mas é evidente que o argentino já tem muitas limitações físicas (mesmo sendo fundamental na seleção é sempre gerido) e que por vezes tem de ser substituído. Schmidt porém está sempre à espera que os melhores jogadores resolvam, nunca é ele o protagonista, no sentido de dar algo mais ou diferente à equipa quando esta necessita. Não tem nenhum golpe de asa, não arrisca nada, é sempre conservador e conformista.

Ao contrário do habitual, ouvi ontem um pouco do debate futebolístico na CMTV. E Miguel Henrique teve uma análise sóbria e racional: qual a relação de Schmidt com o plantel e o restante staff? O trabalho diário é de qualidade? Schmidt vai aprender com os erros? Estas são algumas das perguntas que Rui Costa precisa de fazer e, em função das respostas, tomar as suas decisões. Pessoalmente não creio que o alemão tenha condições para continuar, mas atenção: para sair é necessário que venha alguém com mais capacidade. Para fazer o mesmo ou pior não vale a pena mudar, até porque o problema do Benfica é mais profundo do que uma mera questão de treinador.