quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Derrota justa

Os lugares comuns de que o futebol é uma caixinha de surpresas e de que não há vencedores antecipados são sempre recordados nestes momentos. Roger Schmidt teve o lapso de dizer que íamos ter dois jogos para disputar na Taça da Liga e foi aí, não tenho dúvidas, que começámos a perder esta meia final. Não tenho dúvidas porque se o Estoril já estaria sempre motivado para poder alcançar uma final, essa declaração infeliz do treinador do Benfica veio dar ainda mais ânimo aos canarinhos. É impossível não recordar aqui a época em que festejámos na Madeira um campeonato que ainda não tínhamos vencido, convencidos de que o jogo em casa com o Estoril seriam favas contadas. Pois bem, empatámos esse jogo e o resto é uma história, como se costuma dizer.
Schmidt errou ao falar em "dois jogos" (foi um lapso, como é óbvio), mas errou igualmente no 11, na lleitura do jogo e nas substituições. 
Relativamente ao 11 esperava francamente algumas mudanças para trazer mais frescura e também para salvaguardar o que aí vem. Schmidt apostou em Musa (bem), mas de resto manteve todas as outras peças. Este era um jogo para dar minutos a jogadores importantes, como Florentino, por exemplo (no lugar de Koksu). A meu ver manter praticamente todos os titulares foi uma má decisão. Olhando para o resultado final então, foi péssima, pois perdemos na mesma (o pior que poderia ter acontecido ao mexer muito na equipa era um menor rendimento colectivo) e os habituais titulares ficaram com mais um jogo nas pernas (e ainda por cima uma derrota, o que "cansa mais"). 
Depois, a cada vez que Schmidt mexeu a equipa piorou. A única melhora terá sido a substituição de Morato por Carreras. Acima de tudo parecia-me óbvio que um jogo destes pedia a entrada de Neres, não a de Marcos Leonardo. E João Mário no meio tirou fluidez à equipa numa altura da partida em que precisávamos de velocidade e aceleração. 
Claro que tivemos mais volume de jogo e oportunidades e poderíamos ter ganho, mas a verdade é que o desfecho não é chocante. O Estoril conseguiu quase sempre sair com perigo e ter os seus avançados muitas vezes a conduzir a bola de frente para os nossos defesas. Um erro numa dessas situações teria facilmente dado golo para o Estoril.
Ou seja, considero que o treinador do Estoril foi mais astuto nesta partida, na forma como conseguiu que o jogo se desenrolasse nos moldes que lhe eram mais favoráveis e por isso mereceu, ele e os seus jogadores, a vitória.
Como parecia que estava a antecipar, escrevi há dias que este Benfica ainda era uma incógnita. As vitórias consecutivas não me iludiram porque via que alguns dos fundamentais não estavam lá. 
Penso que este jogo mostra que o equilíbrio necessário ainda não existe. E tenho muitas dúvidas de que as presentes contratações venham resolver algo sob esse ponto de vista. (Já agora, quando é que Bah regressa?)

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Este Benfica (ainda) é uma incógnita

 O Benfica venceu até agora todos os clássicos em que esteve envolvido. Isso deixa-nos obviamente  satisfeitos mas nada importará no fim da época se não se refletir em (mais) títulos (uma da vitórias já deu a Supertaça), nomeadamente o Campeonato.

Este Benfica é ainda uma incógnita porque, temos de admitir, essas vitórias foram felizes (contra o Sporting e Porto contámos com mais um jogador durante muito tempo dos jogos), mas também porque a Liga dos Campeões foi o que foi e mesmo em vários jogos internos temos tido imensas dificuldades.

O jogo com o Rio Ave foi quase incrível: o Benfica foi praticamente sempre dominado enquanto as equipas estiveram 11 para 11. Depois veio a expulsão com um amarelo indiscutível (o primeiro poderia ou não ter sido, mas isso acontece em todos os jogos) e então aí o Benfica assumiu o jogo e partiu para a vitória. É quase inexplicável como nos deixámos dominar em casa contra uma equipa que apesar de ter jogadores razoáveis está quase na zona de descida de divisão.

Esta época o Benfica tem sido inconstante. É verdade que vem melhorando mas nota-se que ainda não é aquela equipa consistente que nos dá segurança. 


Sabemos desde o início da época que há muita qualidade no plantel do Benfica. A começar na defesa (com três centrais de grande nível) e a acabar em Rafa e Di Maria, temos uma equipa como a meu ver não tínhamos desde 2009. Um meio campo para o qual temos Florentino, João Neves, Koksu, Aursnes e João Mário é sem dúvida qualidade acima da média para o futebol português - e, a meu ver, acima dos rivais. 

A questão é que só jogam 11, ou seja daqueles 4 que seriam normalmente titulares (Florentino, João Neves, Kokçu e Aurnes), no miolo só jogarão dois (o que deixa em princípio Florentino de fora), ao passo que Aursnes jogará provavelmente noutra posição. Sucede que Florentino é o nosso melhor médio defensivo e que não temos outro jogador com as suas características de recuperação de bola e capacidade de dar equilíbrio à equipa. 

Isto para dizer que apesar de termos melhor plantel do que no ano passado, o nosso 11 infelizmente é pior. Isso é agora relativamente claro. Grimaldo, com quem uma parte dos adeptos embirrava, está no Leverkussen a provar que é um jogador de topo (entretanto já internacional espanhol) e infelizmente nenhuma das opções alternativas o fez esquecer (contratámos agora o terceiro lateral esquerdo da época). 

Acima de tudo, a questão é o equilíbrio. É isso que no ano passado existia e que este ano está ausente. Kokçu é um jogador mais  ofensivo do que Enzo e João Neves (neste momento o melhor médio do Benfica e do campeonato) é menos posicional do que Florentino. Isto traduz-se numa vocação mais ofensiva da equipa, a qual se acentua ainda mais com Di Maria. O ano passado jogámos muitas vezes com dois "extremos" que eram João Mário e Aursnes (jogadores de equilíbrio e de apoios). Este ano jogamos com Di Maria e, até à lesão, muitas vezes com Neres (jogadores de desequilíbrio e de vertigem). São assim vários jogadores a defender menos, a correr menos para trás, a pressionar menos para a recuperação da bola. Di Maria é um talento extraordinário, quase sem paralelo em Portugal, mas claro que não defende (o jogo com o Boavista, só para me contrariar, até foi um pouco a excepção...).

Schmidt procura um equilíbio na equipa que desde a saída de Enzo tem tardado e com as saídas de Ramos (o nosso "primeiro defesa" e primeiro a pressionar) e Grimaldo (a construir jogo desde trás e a fazer todo o flanco), assim como as entradas de Kokçu e Di Maria (mais ofensivos face aos que jogavam naquelas posições), se agravou. Schmidt tentou uma defesa a três e agora tem utilizado Morato na esquerda.

As adaptações de centrais a laterais não são incomuns. Os resultados podem ser positivos ou negativos. Por exemplo em 1991, num jogo decisivo contra o Porto (uma autêntica "final do campeonato"), Sven-Goran Eriksson colocou Paulo Madeira à direita, a fim de fechar o flanco. Quando o Benfica defendia Vitor Paneira recuava para lateral e Paulo Madeira jogava quase como terceiro central pela direita. Correu bem e o Benfica venceu por 2-0 nas Antas com os célebres golos de César Brito.

Já a adaptação de David Luiz à mesma posição, também num jogo contra o Porto teve efeitos desastrosos. 

Morato tem feito o lugar com grande dedicação e concentração mas notam-se as limitações a atacar. Por outro lado é um jogador importante a defender, nomeadamente nas bolas paradas. Dá um pouco do tal equilíbrio a que me referi. Veremos o que significa a contratação do jovem espanhol.

Uma nota também para Musa que acho o jogador mais injustiçado deste plantel. Vemos algumas melhoras em Cabral, esforço e talvez uma capacidade técnica superior ao croata mas sinceramente acho Musa muito mais perigoso para as equipas adversárias: é mais rápido e mais acutilante em relação à baliza. Considero inexplicável que praticamente não jogue. Por exemplo, a seguir ao seu espectacular golo contra o Arouca que até internacionalmente teve destaque jogou... 3 minutos. É injusto e não me agrada nada. Pior, o seu espaço fica agora ainda mais reduzido com a chegada de Marcos Leonardo (que parece muito bom jogador). Considerando que há ainda Tengstedt e que jogamos apenas com um ponta de lança, há avançados a mais.

Voltando ao início e para concluir a minha ideia, estes jogos da Taça da Liga (Schmidt teve um lapso ao dizer "os jogos" no plural, dando como certa a vitória sobre o Estoril - e realmente será difícil admitir outro resultado que não a vitória face a uma equipa que levou duas goleadas de Porto e Sporting numa semana e vai em 4 derrotas seguidas, mas no futebol tudo é possível), estes jogos, dizia serão importantes, principalmente se jogarmos contra o Sporting, para termos uma melhor ideia do nível de solidez da equipa.


PS - em relação ao futsal não há palavras para descrever o comportamento do jogador do Sporting. Isto parece que se está a jogar na escola e mesmo assim não num torneio "oficial". Incrível também como aparentemente isso dá apenas um cartão amarelo. Vale a pena. Não era uma oportunidade de golo flagrante mas mesmo assim é um comportamento anti-desportivo vergonhoso.