sexta-feira, 18 de setembro de 2020

A ilusão do "correr mais"

 O filme Patton começa com um discurso do célebre General americano no qual ele defende que a ideia de "morrer pelo nosso país" é absurda. Para vencer uma batalha e no fim a guerra, a receita é exactamente a contrária: manter-se vivo e fazer com que o outro morra pelo seu país.

Isto a propósito daqueles que acham que o problema do Benfica é que os seus jogadores correm menos do que os outros.

O futebol não é uma prova de atletismo. Quem corre mais, das duas uma: ou tem uma capacidade física e atlética anormal, muito superior aos outros (o que no futebol moderno não é expectável), ou vai ficar mais cansado do que os outros mais cedo. Quem está mais cansado toma piores decisões.

O objectivo do futebol não é correr à doida, dar tudo em cada lance. O objectivo do futebol é correr inteligentemente. Se possível, correr menos até do que a outra equipa: fazer correr a outra equipa atrás da bola, desgastá-la e nos momentos certos feri-la com golos decisivos.

A ideia de que os jogadores devem andar a correr desvairados atrás da bola e dos adversários não faz qualquer sentido. Os grandes jogadores são os que prevêem as jogadas, antecipam os movimentos e são capazes de estar no lugar certo no momento certo. Não são aqueles que correm muito e chegam sempre tarde (ou demasiado cansados para tomar as decisões certas). 

Antigamente até se dizia que o que corre é a bola e não o jogador. Claro que o futebol evoluiu tacticamente, que é mais dinâmico e que, estando todas as equipas relativamente mais preparadas, a velocidade (por vezes mais de execução e antecipação do que de corrida) acabam por ser um factor importante. Mas o que se exige é correr bem. Correr nos momentos certos. Saber fazer os piques nos momentos desequilibrantes. 

Não passar o jogo em correrias sem sentido, a atravessar o campo de um lado ao outro, como baratas tontas atrás da bola, para chegar a meio da segunda parte e estar de rastos, prontos para levar o golpe de misericórdia.

O que interessa não é correr até à exaustão. O que importa é fazer a outra equipa correr até à exaustão. 

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Balão rebenta à primeira

 Que a vinda de Jorge Jesus era um risco tremendo, todos sabíamos.

O que poucos esperávamos era que o estado de graça de Jesus durasse apenas um jogo. 

A eliminação da Liga dos Campeões é desastrosa para o Benfica e dificilmente aceitável para os sócios. 

Muitos milhões de contratações exigiam muito, mas mesmo muito mais rendimento e por isso JJ fica já marcado negativamente - tanto perante os sócios como perante quem o foi buscar ao Brasil. 

Vieira apostou tudo, o que foi possivelmente um erro e está, qual tragédia grega, a pagar por isso. 

Este ano Vieira abriu os cordões à bolsa - bolsa do Benfica, bem entendido - e contratou jogadores que não são habituais no futebol português. Jogadores muito acima da média, como Vertongen, Cebolinha. Jogadores de campeonatos superiores, como o espanhol e o alemão, para além do já referido inglês. 

No entanto a fortuna nada quis com o Benfica e o belga marcou um autogolo ao passo que Zivkovic, que durante anos se arrastou na Luz, arrumou a eliminatória. Sendo que a rescisão custou dinheiro, pagámos ao sérvio para nos eliminar. 

Fado, sina, karma, o que lhe queriam chamar. 

Certo é que as coisas se complicaram muitíssimo. Financeiramente e desportivamente. 

Não vou falar muito sobre o jogo porque pareceu um guião pré escrito em que o desfecho era necessariamente a derrota do Benfica. No primeiro tempo tivemos um domínio quase total e no segundo os gregos foram quase plenamente eficazes nas poucas oportunidades que tiveram. 

Fiquei porém espantado com as escolhas de Jesus. Pensava (e escrevi aqui) que Seferovic e Taarabt seriam dispensados. Tinha curiosidade em ver o que se passaria com Weigel, tão nulo foi o seu rendimento na época passada e não sendo ele o jogador robusto que JJ  costuma ter naquela posição. 

Fiquei espantado por Rafa só ter entrado quando a eliminatória estava perdida, por Gabriel e Waldshmidt não terem saído do banco, por Pedrinho ter jogado naquela posição. 

Note-se que Taarabt, Pedrinho e até Weigel nem fizeram uma má primeira parte, pelo contrário. A questão para mim é que não eram as melhores opções, pelo menos nas posições que ocuparam. 

Está mais do que provado que a dupla Weigel / Taarabt não funciona. É um meio campo que não oferece garantias defensivas. Gabriel teria que ter sido titular. Rafa idem, fosse no lugar de Pizzi (um dos melhores na primeira parte, diga-se), fosse no de Pedrinho. Seferovic NUNCA deveria ter sido titular (e falhou uma boa oportunidade e um golo cantado). 

Quando não se joga com os melhores, coisas destas acontecem. 

Esta equipa não me espantaria se fosse Bruno Lage o treinador, com as suas manias e fetiches. Assim não há desculpas. 

O crédito e a confiança em JJ estão comprometidos. E isto ao fim de um jogo...