O filme Patton começa com um discurso do célebre General americano no qual ele defende que a ideia de "morrer pelo nosso país" é absurda. Para vencer uma batalha e no fim a guerra, a receita é exactamente a contrária: manter-se vivo e fazer com que o outro morra pelo seu país.
Isto a propósito daqueles que acham que o problema do Benfica é que os seus jogadores correm menos do que os outros.
O futebol não é uma prova de atletismo. Quem corre mais, das duas uma: ou tem uma capacidade física e atlética anormal, muito superior aos outros (o que no futebol moderno não é expectável), ou vai ficar mais cansado do que os outros mais cedo. Quem está mais cansado toma piores decisões.
O objectivo do futebol não é correr à doida, dar tudo em cada lance. O objectivo do futebol é correr inteligentemente. Se possível, correr menos até do que a outra equipa: fazer correr a outra equipa atrás da bola, desgastá-la e nos momentos certos feri-la com golos decisivos.
A ideia de que os jogadores devem andar a correr desvairados atrás da bola e dos adversários não faz qualquer sentido. Os grandes jogadores são os que prevêem as jogadas, antecipam os movimentos e são capazes de estar no lugar certo no momento certo. Não são aqueles que correm muito e chegam sempre tarde (ou demasiado cansados para tomar as decisões certas).
Antigamente até se dizia que o que corre é a bola e não o jogador. Claro que o futebol evoluiu tacticamente, que é mais dinâmico e que, estando todas as equipas relativamente mais preparadas, a velocidade (por vezes mais de execução e antecipação do que de corrida) acabam por ser um factor importante. Mas o que se exige é correr bem. Correr nos momentos certos. Saber fazer os piques nos momentos desequilibrantes.
Não passar o jogo em correrias sem sentido, a atravessar o campo de um lado ao outro, como baratas tontas atrás da bola, para chegar a meio da segunda parte e estar de rastos, prontos para levar o golpe de misericórdia.
O que interessa não é correr até à exaustão. O que importa é fazer a outra equipa correr até à exaustão.