A derrota de ontem é pesada e custosa mas é o resultado necessário de uma política de desinvestimento que vem sendo seguida há 3 anos no Benfica.
Há aparentemente uma aposta total na formação, com reflexo no desinvestimento na equipa principal de futebol: ao passo que se planeiam obras megalómanas no Seixal, vendem-se os melhores jogadores da equipa.
O Benfica está portanto a apostar no futuro. O problema á que descurou demasiado o presente.
Esta aposta pode ser estrategicamente correcta (só o futuro o dirá) - no entanto este não seria certamente o ano para a assumir de uma forma tão acentuada. Isto porque este ano os prémios na Champions subiram e, por outro lado, só o campeão nacional terá acesso directo à competição na próxima época. O segundo classificado disputará a pré-eliminatória (que pode trazer um adversário muito complicado) e o terceiro pura e simplesmente está excluído da competição.
Pensar que o Benfica está a dar algum avanço competitivo aos seus rivais no acesso a uma competição que vale dezenas de milhões é algo que custa a crer.
Porque é disso que se trata: o Sporting investiu na sua equipa, reforçando-se nas posições onde tinha carências e o Porto - impedido de investir pelo Fair Play financeiro da UEFA - não vendeu um único jogador e chamou os emprestados que tinha, alguns com qualidade, reforçando-se ainda com um treinador que claramente fez subir os níveis de exigência.
O Benfica pelo contrário vendeu alguns dos seus melhores jogadores, os quais vinham realmente fazendo a diferença. Nélson Semedo era um dos grandes responsáveis pela dinamização do ataque do Benfica, um jogador com uma rara capacidade de subir e descer pelo corredor, com técnica, velocidade e criatividade. Éderson pode vir a ser um dos melhores guarda-redes do mundo e foi certamente o melhor em Portugal no último ano e meio. Lindeloff era um dos jogadores mais rápidos da nossa defesa, fiável e sempre atento.
Ora vendendo estes três jogadores e não contratando ninguém para os substituir como se esperava que a nossa defesa não se ressentisse? Na verdade contrataram-se dois jogadores para o lugar de lateral direito mas um foi de imediato dispensado, sem que se percebesse o que se passou, e outro está lesionado (?) sem que também ninguém perceba bem porque nunca jogou. Além disso há ainda o caso de Buta que deu boas indicações mas que foi rapidamente "exportado" num empréstimo a um qualquer clube belga de segunda linha. Pelos vistos foi mais uma má decisão a somar a outras tomadas para esta posição. André Almeida ontem voltou a mostrar que não tem condições para ser a principal solução - muito menos a única - para o lugar.
Depois há o caso de Edersón e Lindelof. São dois jovens - tal como Semedo - ambos rápidos, que acudiam a muitas emergências da nossa defesa e tapavam muitos buracos. Ora foram substituídos por dois veteranos que já estavam no plantel que não têm a mesma velocidade nem disponibilidade física. Luisão neste momento - e não há como o esconder - não tem capacidade para jogar nos níveis de exigência da Champions. Não há portanto dúvida de que o Benfica ficou mais fraco na defesa.
De resto a única contratação sonante que houve para a equipa principal foi Seferovic. Parece-me um bom jogador, mas no melhor dos casos, pelo que se tem visto, será equivalente a Mitroglou. No pior caso ficaremos novamente a perder. Houve ainda Gabriel Barbosa que aguardamos para ver e Krovinovic que está muito longe de ser um valor seguro.
Em suma, as vendas fragilizaram a equipa - muito - e as contratações não acrescentaram nada.
A SAD achou que o Benfica tinha uma tal bagagem de vitórias que a coisa continuaria o seu curso mais jogador menos jogador. A questão é que nem sempre aparecem jogadores como Nélson Semedo, Renato Sanches, Lindelof e Ederson. E Luisão, Júlio César e Jonas estão numa fase adiantada de veterania e o seu rendimento já não é o mesmo, ao passo que Fedsa e Jardel são clientes habituais do departamento médico.
Penso que se deixou chegar o plantel a um ponto preocupante: os realmente bons são veteranos, ao passo que entre os jovens a qualidade já é menos evidente. Em janeiro poderão ser feitos ajustes pontuais mas esta relação idade/qualidade não vai ser fundamentalmente alterada. É por isso que termino este artigo da mesma forma que o anterior: é basicamente com estes jogadores que a época terá que ser gerida. Já não falo em grandes conquistas, mas apenas em objectivos mínimos.
Um deles seria o de não passar mais vergonhas como a de ontem à noite.