sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Aguardam-se explicações

Na Assembleia Geral desta noite, os sócios do Benfica esperam ouvir algumas explicações por parte da direcção.

Sabemos que na ordem dos trabalhos constam a aprovação das contas e relatório de gestão. No entanto certamente que o Presidente da AG e a direcção terão o bom senso de compreender que o momento requer algumas explicações de carácter mais geral, relativo à estratégia do Benfica e ao momento que a equipa de futebol atravessa. 
Não pode ser business as usual ou uma apresentação de contas feita num vazio, como se não houvesse um contexto - negativo - nas quais elas se inserem.

Em particular os sócios têm o direito de ouvir - e devem exigir - explicações acerca:

  • do desinvestimento na equipa de futebol num ano em que o 3º classificado está excluído da Liga dos Campeões e em que os prémios da competição aumentam;
  • dos planos para construir instalações de ensino no Seixal, que tipo de benefícios o Benfica espera retirar dos mesmos e quais os custos envolvidos;
  • das razões pelas quais não foram acauteladas alternativas para colmatar as saídas de jogadores fundamentais da equipa vencedora do ano passado;
  • das razões pelas quais o Benfica insiste em não reagir de forma veemente ao "caso dos emails" e qual o ponto de situação do(s) processo judicial(is) intentado(s) contra o Porto, o Porto Canal e o "diretor de comunicação" do Porto;
  • qual a estratégia e o rumo para reverter os recentes maus resultados e ambiente negativo na equipa de futebol?


quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Falta qualidade

A derrota de ontem é pesada e custosa mas é o resultado necessário de uma política de desinvestimento que vem sendo seguida há 3 anos no Benfica.
Há aparentemente uma aposta total na formação, com reflexo no desinvestimento na equipa principal de futebol: ao passo que se planeiam obras megalómanas no Seixal, vendem-se os melhores jogadores da equipa.
O Benfica está portanto a apostar no futuro. O problema á que descurou demasiado o presente.

Esta aposta pode ser estrategicamente correcta (só o futuro o dirá) - no entanto este não seria certamente o ano para a assumir de uma forma tão acentuada. Isto porque este ano os prémios na Champions subiram e, por outro lado, só o campeão nacional terá acesso directo à competição na próxima época. O segundo classificado disputará a pré-eliminatória (que pode trazer um adversário muito complicado) e o terceiro pura e simplesmente está excluído da competição.

Pensar que o Benfica está a dar algum avanço competitivo aos seus rivais no acesso a uma competição que vale dezenas de milhões é algo que custa a crer.

Porque é disso que se trata: o Sporting investiu na sua equipa, reforçando-se nas posições onde tinha carências e o Porto - impedido de investir pelo Fair Play financeiro da UEFA -  não vendeu um único jogador e chamou os emprestados que tinha, alguns com qualidade, reforçando-se ainda com um treinador que claramente fez subir os níveis de exigência.

O Benfica pelo contrário vendeu alguns dos seus melhores jogadores, os quais vinham realmente fazendo a diferença. Nélson Semedo era um dos grandes responsáveis pela dinamização do ataque do Benfica, um jogador com uma rara capacidade de subir e descer pelo corredor, com técnica, velocidade e criatividade. Éderson pode vir a ser um dos melhores guarda-redes do mundo e foi certamente o melhor em Portugal no último ano e meio. Lindeloff era um dos jogadores mais rápidos da nossa defesa, fiável e sempre atento. 

Ora vendendo estes três jogadores e não contratando ninguém para os substituir como se esperava que a nossa defesa não se ressentisse? Na verdade contrataram-se dois jogadores para o lugar de lateral direito mas um foi de imediato dispensado, sem que se percebesse o que se passou, e outro está lesionado (?) sem que também ninguém perceba bem porque nunca jogou. Além disso há ainda o caso de Buta que deu boas indicações mas que foi rapidamente "exportado" num empréstimo a um qualquer clube belga de segunda linha. Pelos vistos foi mais uma má decisão a somar a outras tomadas para esta posição. André Almeida ontem voltou a mostrar que não tem condições para ser a principal solução - muito menos a única - para o lugar.

Depois há o caso de Edersón e Lindelof. São dois jovens - tal como Semedo - ambos rápidos, que acudiam a muitas emergências da nossa defesa e tapavam muitos buracos. Ora foram substituídos por dois veteranos que já estavam no plantel que não têm a mesma velocidade nem disponibilidade física. Luisão neste momento - e não há como o esconder - não tem capacidade para jogar nos níveis de exigência da Champions. Não há portanto dúvida de que o Benfica ficou mais fraco na defesa. 

De resto a única contratação sonante que houve para a equipa principal foi Seferovic. Parece-me um bom jogador, mas no melhor dos casos, pelo que se tem visto, será equivalente a Mitroglou. No pior caso ficaremos novamente a perder. Houve ainda Gabriel Barbosa que aguardamos para ver e Krovinovic que está muito longe de ser um valor seguro.

Em suma, as vendas fragilizaram a equipa - muito - e as contratações não acrescentaram nada. 

A SAD achou que o Benfica tinha uma tal bagagem de vitórias que a coisa continuaria o seu curso mais jogador menos jogador. A questão é que nem sempre aparecem jogadores como Nélson Semedo, Renato Sanches, Lindelof e Ederson. E Luisão, Júlio César e Jonas estão numa fase adiantada de veterania e o seu rendimento já não é o mesmo, ao passo que Fedsa e Jardel são clientes habituais do departamento médico.

Penso que se deixou chegar o plantel a um ponto preocupante: os realmente bons são veteranos, ao passo que entre os jovens a qualidade já é menos evidente. Em janeiro poderão ser feitos ajustes pontuais mas esta relação idade/qualidade não vai ser fundamentalmente alterada. É por isso que termino este artigo da mesma forma que o anterior: é basicamente com estes jogadores que a época terá que ser gerida. Já não falo em grandes conquistas, mas apenas em objectivos mínimos.
Um deles seria o de não passar mais vergonhas como a de ontem à noite.

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

É preciso regressar à base

O resultado de ontem não me espantou. Os problemas do Benfica nunca se resolveriam num jogo da Taça da Liga no qual a maioria dos titulares estavam ausentes. 

A boa notícia é que apesar deste início aos tropeções nada está ainda perdido. A Supertaça foi vencida, a Taça ainda não começou e o atraso no Campeonato não é irreversível, ao passo que a Taça da Liga será uma competição menos prioritária, que seria positivo vencer mas que não determinará o balanço final da época. Quanto à Liga dos Campeões parece-me difícil conseguir a classificação para os oitavos mas pelo menos a qualificação para a Liga Europa é exigível e não está comprometida. Em suma, será o Campeonato a determinar a época.

No entanto há alguns equívocos a corrigir e algumas retificações a fazer no imediato e o jogo de ontem contribuiu para o firmar de algumas conclusões nesse sentido.

A primeira é de que Júlio César deverá ser, sempre que disponível, o guarda redes do Benfica. Varela é um jovem com valor mas Júlio dá uma segurança diferente à baliza e contribui para a estabilização do sector defensivo.

O regresso de Jardel é uma boa notícia, mas ficámos a saber que Rúben Dias é uma promessa interessante e pode até ser uma alternativa válida.

Não sei o que se passa com Douglas mas ou o jogador recupera e dá provas no imediato ou teremos que ir ao mercado em Janeiro buscar uma alternativa a André Almeida. Este é um jogador dedicado e combativo, com alguns recursos mas que não dá muita dinâmica ao corredor. Ser-lhe-á impossível ser titular a época inteira com todas as competições em causa mantendo um rendimento elevado e constante. Parece-me que o empréstimo de Buta poderá ter sido precipitado.

No meio campo a fragilidade de Fejsa é um problema que já teve consequências, com os maus resultados que se verificam desde a sua lesão, e poderá também ditar uma ida ao mercado. Ficou ontem definitivamente provado (se mais provas fossem precisas) que Filipe Augusto não tem condições para ser titular no Benfica. É um equívoco (?) e um corpo estranho àquele meio campo. Não ataca bem nem defende bem. Samaris voltou ontem a fazer um jogo medíocre mas sabemos que tem capacidade para jogar ali: é um jogador tricampeão no Benfica, com mais de 100 jogos pelo Benfica, que jogou em dérbies e clássicos que vencemos, titular da seleção grega. Por isso Samaris tem que ser sempre o suplente de Fejsa.



Nas alas não se entende a constante rotatividade. Parece-me claro que Rafa para já não é opção: ou Vitória não sabe explorar as características do jogador ou este não consegue gerir o peso da camisola; em qualquer dos casos o rendimento é nulo e não há que insistir. Dê-se tempo ao jogador para recuperar a confiança e volte-se depois a tentar. Cervi pelo contrário já mostrou ser a solução para a esquerda e não se percebe porque deixou de jogar. Na direita Sálvio tem sido o mais constante - e deve ser o titular -  mas o seu esforço precisa de ser gerido.

Estas parecem-se ser as mudanças (que no fundo são um regresso à base) que se exigem para a equipa estabilizar. O que se trata agora é de aguentar o barco, ir ganhando os jogos, com maior ou menor dificuldade e esperar que nada fique comprometido até dezembro. Até lá é com estes que teremos que ir à guerra.

Finalmente uma nota para Rui Vitória. O momento é delicado e percebe-se que procure soluções alternativas que contribuam para contrariar esta fase menos boa. Não deve porém alterar o sistema - vencedor - dos últimos anos, sob pena de perder a única vantagem que ainda detemos - uma bagagem de vitórias e uma habituação da equipa a um modelo. As experiências de ontem em 4-3-3 parecem um pouco deslocadas e um sintoma de algum desnorte: colocar Gabriel na faixa não faz sentido. Há dois anos, sob grande pressão, Vitória conseguiu agarrar o leme e manter a cabeça fria. Precisa de voltar a exercer essa disciplina mental para superar a presente fase negativa.

domingo, 17 de setembro de 2017

Desastroso mas previsível

Quando o Benfica vendeu três titulares da sua estrutura defensiva e contratou apenas um jogador (e mesmo no fecho de mercado) para o sector era evidente que se estava a correr um grande risco, especialmente face às persistentes lesões de Jardel e à veterania de Luisão.
Quando Jardel e Fejsa se lesionaram a situação tornou-se periclitante.
Quando Rui Vitória decidiu ostracizar Samaris e dar a titularidade a Filipe Augusto, era evidente que o desastre estava apenas à espera de acontecer.

É difícil sequer analisar o jogo de jogo. Foi tudo tão mau que nem vale a pena bater no ceguinho. Varela deu um frango monumental, o que acontece. O problema é que quando se tem simultaneamente em campo Varela, Rúben  Dias e  Filipe Augusto, o erro torna-se bem mais provável.
Numa equipa bem oleada, ganhadora e confiante, é possível integrar um destes jogadores jovens sem que o rendimento colectivo seja afectado significativamente. Com o tempo esse jogador pode ascender aos patamares de rendimento exigíveis e passado mais algum tempo ser ele a integrar um novo jovem.
Numa equipa num péssimo momento como é neste momento o Benfica, qualquer jogador jovem está a ser "lançado às feras" e sujeita-se a "queimar-se" muito rapidamente.
Isto aplica-se porém sobretudo a Varela - que devia ter dado o lugar a Júlio César no jogo da Liga dos Campeões - e a Rúben Dias. No caso de Filipe Augusto, é completamente inaceitável e quase inconcebível que Rui Vitória, com Samaris no banco, opte por esta não solução para o nosso meio campo. Custou-nos já um atraso difícil de recuperar tanto na Champions quanto no campeonato. E Vitória que não me venha com estatísticas nem com apologias do jogador (quando ele próprio sempre diz que não gosta de individualizar). Faz-me lembrar Souness a defender Thomas. Mas o que é isto?

A defesa do Benfica é hoje uma calamidade e isso resulta principalmente dos dois factores que já apontei acima e que estavam à vista de toda a gente: por um lado uma defesa onde não abunda muito a qualidade, por outro um meio campo que pura e simplesmente não cobre. Jogo após jogo qualquer ataque mediano nos coloca em pânico. Jogo após jogo sofremos golos. Muitos dos golos sofridos parecem de apanhados: cortes falhados uns atrás dos outros, jogadores a cair, a chutar contra o adversário, a não conseguirem limpar a bola da área. O que é isto? Isto é uma equipa tetracampeã??

Quando as coisas correm mal tiram-se defesas, adaptam-se jogadores e joga-se com 3 e 4 pontas de lança, sem que se faça um cruzamento em condições para a área.

Rui Vitória parece completamente desorientado e precisa urgentemente de rever o que está a fazer. Rui Vitória está a ser prepotente e teimoso, ao embirrar com jogadores como Jimenez e Samaris, com enorme prejuízo para a equipa. O próprio mau rendimento de Lizandro (sinceramente tenho dúvidas em relação à suposta doença que o afastou do Bessa) pode ter a ver com o facto do jogador sentir que o treinador não lhe dá oportunidades e que o tira à primeira oportunidade (como aconteceu com o CSKA numa substituição incompreensível). Num plantel já de si com pouca qualidade, deixar no banco jogadores como os já referidos e Júlio César é "criminoso".

Claro que Vitória não tem culpa da falta de soluções. O que a administração fez neste mercado é algo de indesculpável. Como é que um clube "falido" como o Sporting se reforça com jogadores de qualidade inegável e o Benfica depois de anos a facturar centenas de milhões não apresenta uma única contratação de jeito para os sectores mais fragilizados? Isto para já nem voltar à questão de Augusto. É um rapaz esforçado, seguramente um excelente profissional e nunca o assobiarei ou insultarei, mas obviamente não é para estas andanças. A dispensa de Horta faz ainda menos sentido perante esta situação.

No entanto Vitória está a dar tiros nos pés e a tornar uma situação já de si complicada numa situação possivelmente calamitosa. Ou arrepia caminho e volta à postura do primeiro ano ou se continua neste caminho não acaba a época. Nada ainda está perdido mas as coisas estão muito complicadas neste momento. É preciso uma mudança séria e as notícias de constantes entradas e saídas na estrutura também não ajudam à estabilidade que será precisa nesta fase. Não venham é com o discurso de que os adeptos têm que fazer isto e aquilo. Os adeptos gastam o seu dinheiro para que todos estes profissionais ganhem os milhões que ganham. São eles e não nós quem tem que fazer muito mais e melhor.