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quarta-feira, 2 de junho de 2021

As modalidades

 Nos últimos anos o registo do Benfica nas modalidades de pavilhão, está muito aquém do esperado e exigível.

Tomando os últimos 10 anos como amostra (e excluindo os campeonatos que não acabaram devido à pandemia), os resultados são os seguintes:

Basquetebol: 6 títulos, o último em 2017 (Oliveirense é bicampeã e Porto ganhou os restantes dois campeonatos). Este ano nem chegámos à final. 

Andebol: zero títulos. Acabamos o campeonato em terceiro. 

Hóquei em patins: 3 títulos (5 do Porto, um do Sporting e um do Valongo). Vamos ao dragão discutir o apuramento para a final, depois de termos perdido a oportunidade de conquistar a Liga dos Campeões. 

Voleibol: 6 títulos 

Futsal: 3 títulos (7 do Sporting). Este ano os dois clubes disputarão mais o vez o título entre si. 


Em 50 títulos possíveis de campeão, o Benfica venceu 18. Um pouco mais de um terço. 

O grosso desses títulos vem no entanto de duas modalidades: o basquete, onde o Benfica é historicamente muito forte mas onde vem a perder gás e o voleibol que, se quisermos ser sérios, é o desporto com menor expressão e menor investimento de todas as modalidades de pavilhão (basta ver quem são, para além do Benfica e do Sporting, as outras equipas).

Portanto nas modalidades mais importantes o Benfica tem 12 títulos em 40 possíveis. Apenas 6 fora do basquete. Uma miséria portanto.

Tentar mascarar isto com títulos... das meninas é brincar com os benfiquistas.

Naturalmente que respeito as vitórias alcançadas pelas nossas atletas e felicito-as por isso. Mas não confundamos títulos de alta competição com campeonatos amadores onde as atletas do Benfica beneficiam de condições e estruturas muito superiores às das outras equipas. 

Aqui há um ano, no futebol feminino havia 70 profissionais e 250 amadoras. Nas outras modalidades, as profissionais serão ainda mais raras. Estamos portanto a falar de mundos incomparáveis: de um lado desportos de alta competição (mesmo que internacionalmente sejamos fracos, com excepção do hóquei e em certa medida o vólei) e do outro um desporto amador que está nos primórdios e que em todo o caso nunca alcançará os índices físicos e de espectacularidade do desporto masculino, pela simples razão de que os homens são fisica e atleticamente mais aptos do que as mulheres. 

Em suma, o falhanço desta direcção não se esgota no futebol.

Que o maior clube nacional, supostamente o financeiramente mais são, perca constantemente para os seus rivais no futsal (provavelmente a modalidade com mais adeptos), pouco ganhe no hóquei, não seja campeão no andebol desde 2007-2008 (o único campeonato nos últimos 30 anos) e apenas ganhe no basquete e no vólei, é um atestado de incompetência de uma direcção que ainda por cima se gaba de ganhar muito nas modalidades.

Isto é o resultado de quê? Falta de mentalidade vencedora, eventualmente, mas sobretudo falta de investimento: as outras equipas simplesmente têm jogadores melhores. Ora como conciliar isto com o "milagre financeiro" do Benfica? Como é que o Sporting "falido" nos bate constantemente nas modalidades, agora até já no hóquei e no basquetebol?

É apenas mais um exemplo da incompetência de Luis Filipe Vieira e seus vices, incluindo aqueles que até há pouco tempo faziam parte da oposição. 





sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Aguardam-se explicações

Na Assembleia Geral desta noite, os sócios do Benfica esperam ouvir algumas explicações por parte da direcção.

Sabemos que na ordem dos trabalhos constam a aprovação das contas e relatório de gestão. No entanto certamente que o Presidente da AG e a direcção terão o bom senso de compreender que o momento requer algumas explicações de carácter mais geral, relativo à estratégia do Benfica e ao momento que a equipa de futebol atravessa. 
Não pode ser business as usual ou uma apresentação de contas feita num vazio, como se não houvesse um contexto - negativo - nas quais elas se inserem.

Em particular os sócios têm o direito de ouvir - e devem exigir - explicações acerca:

  • do desinvestimento na equipa de futebol num ano em que o 3º classificado está excluído da Liga dos Campeões e em que os prémios da competição aumentam;
  • dos planos para construir instalações de ensino no Seixal, que tipo de benefícios o Benfica espera retirar dos mesmos e quais os custos envolvidos;
  • das razões pelas quais não foram acauteladas alternativas para colmatar as saídas de jogadores fundamentais da equipa vencedora do ano passado;
  • das razões pelas quais o Benfica insiste em não reagir de forma veemente ao "caso dos emails" e qual o ponto de situação do(s) processo judicial(is) intentado(s) contra o Porto, o Porto Canal e o "diretor de comunicação" do Porto;
  • qual a estratégia e o rumo para reverter os recentes maus resultados e ambiente negativo na equipa de futebol?


terça-feira, 2 de junho de 2015

Jesus ganhou, venha outro

Dizem alguns benfiquistas que tudo está encaminhado e que Jorge Jesus será o "próximo" treinador do Benfica. Espero que estejam certos e acima de tudo espero que Jesus fique, por razões que me parecem por demais evidentes. No entanto dizer-se que a incerteza à volta da continuidade é uma mera fabricação da comunicação social e que nunca houve dúvidas é algo que não corresponde à realidade. Parece-me inclusivamente que neste momento nada está decidido. Que sentido faria estar a alimentar especulações e incerteza entre jogadores e adeptos?

Uma coisa que não entendo são as notícias de que o Benfica deseja baixar o vencimento de Jesus. Aí sim, espero que se tratem de meras especulações sem fundamento. Não porque eu queira que JJ ganhe muitos milhões ou porque não ache esse tipo de valores astronómicos. No entanto se o salário de JJ era X há dois anos não faz qualquer sentido baixá-lo depois dele conquistar nesse período praticamente tudo a nível interno (faltou apenas a Taça deste ano para fazer o pleno) e ter permitido ao Benfica vendas de dezenas de milhões de euros. 

Outro factor apontado como razão para o Benfica não continuar com Jorge Jesus é a necessidade de apostar na formação, algo para que Jorge Jesus não estaria particularmente vocacionado. 

Em relação a tudo isto, a minha posição é, por uma vez, similar à de Freitas Lobo: a serem verdade estas notícias, Vieira estaria convencido de que a estrutura seria já suficientemente forte para conseguir aguentar o baque da saída de um treinador que revolucionou mentalidades no Benfica e alcançou resultados extraordinários com uma marca pessoal muito forte.

Ora para mim, apesar de todo o trabalho de grande competência feito por Vieira e a estrutura dirigente em geral, profissionalizando muito o clube e dotando-o de todas as condições de topo para poder ganhar, está ainda por demonstrar que o sucesso dos últimos anos possa ter continuidade sem Jorge Jesus. Não que seja impossível. Claro que pode acontecer. No entanto trata-se de uma aposta no escuro que a meu ver não se justifica nas actuais circunstâncias.

Com Jorge Jesus o Benfica subiu para patamares de competitividade máximos. A frase "acima disto não há nada", dita pelo próprio, no seu estilo peculiar, é quase verdadeira. Os poucos que continuam a colocar a causa o seu trabalho, desvalorizando-o e praticamente dando a entender que qualquer um com um mínimo de competência conseguiria os mesmos resultados, agarram-se agora às más prestações na Liga dos Campeões como último argumento de arremesso contra o treinador do Benfica. É um facto que as prestações não têm sido as ideais mas em cada ano houve circunstâncias particulares que terão que ser avaliadas nas suas particularidades. Além disso o facto do Benfica ter estado em duas finais da Liga Europa não pode ser desvalorizado como algo de insignificante. 

Ora manter estes patamares com um treinador com pouco ou nenhuma experiência a este nível é pouco provável. O que de pior poderia acontecer ao Benfica do que voltar aos anos em que ao fim de 5 ou 6 jornadas já estava a meia dúzia de pontos, acabando o campeonato em 3º lugar? A possibilidade de regresso ao terrível passado recente é algo que deve fazer o presidente do Benfica ponderar muito bem as coisas. É que para construir e fazer bem demora e dá muito trabalho mas destruir é algo que pode acontecer de um dia para o outro.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Há que manter a estrutura

A vitória neste campeonato demonstra como o Benfica evoluiu ao longo dos últimos anos. 

A estabilidade e solidez da sua estrutura técnica e dirigente foi o grande suporte que permitiu este título. Num ano em que o Porto apostou forte e contratou jogadores de categoria internacional (alguns apenas por empréstimo), ao passo que jogadores fundamentais da nossa equipa saíram para outros clubes (a que se juntaram lesões altamente inconvenientes), a estabilidade de métodos e "ideia de jogo" e a grande união do plantel, sustentadas numa estabilidade que vem de cima, foram os factores que fizeram a diferença. Vários são os jogadores que referem a unidade do plantel e o bom ambiente no balneário. Mesmo os jogadores menos utilizados se sentem bem no clube e desejam permanecer. 

Face a isto, seria muito perigoso desmantelar esta estrutura, a começar evidentemente pelo treinador, que é uma peça fundamental e o principal responsável pela vitória no campeonato. Não entendo as notícias de que o Benfica lhe quer baixar o ordenado. Não me parece que um treinador que já rentabilizou tantos jogadores e conquistou tantos títulos possa ser considerado "caro". Caros são aqueles que não ganham nada e fazem os clubes passar períodos de sequeiro. 

Mas a estrutura não é só Jesus. Começa evidentemente em Luis Filipe Vieira e passa, além do treinador, por pessoas como Rui Costa e Shéu. Essa estrutura está a funcionar muito bem, com cada um no seu lugar (Shéu é fundamental no balneário para transmitir aquilo que é o Benfica) pelo que deve ser mantida. É muito difícil construir mas é muito fácil desmantelar e destruir. Não gosto de ver notícias que falam da saída de Jesus (exceptuando aquelas que são do domínio da comédia) mas compreenderei se houver uma oferta irrecusável de um Real Madrid, um Bayern ou um Manchester United. No entanto se Jesus viesse a sair (e na verdade não acredito nisso) porque o Benfica lhe queria baixar o ordenado, acabando num clube da classe média europeia, para nós irmos contratar uma qualquer esperança ou um treinador mediano, isso seria incompreensível e muito perigoso. Poderia significar um retrocesso no caminho que vimos percorrendo de re-afirmação como principal clube português depois de um período hegemónico do Porto. Também me desagradam as notícias que falam da saída de Rui Costa para a Fiorentina ou Milan. Nos últimos anos Rui Costa trouxe jogadores de qualidade para o Benfica e tem sido mais uma peça importante nesta estrutura pelo que simboliza de mística benfiquista. 

Os resultados do Benfica nas últimas épocas demonstram o rigor com que se tem vindo a trabalhar. Aquilo que faltava no Benfica, a tal estrutura sólida e coesa, com todos a remar para o mesmo lado, que faltou no passado, tem finalmente sido conseguido. Há agora que a manter e consolidar. 


segunda-feira, 21 de maio de 2012

Cultura de vitória - Parte II

A perda de identidade do Benfica, aliada ao esmorecimento do seu espírito de vitória, levou-o à actual situação.
No último jogo com o Porto (na Luz, 2-3), foi bem visível, para quem gosta de analisar as coisas, que o Porto entrou melhor no jogo. Mais forte, mais seguro, mais confiante, com mais garra e vontade de vencer.
O facto do Benfica ter perdido com um golo em fora de jogo e ter visto um jogador seu injustamente expulso não altera este facto.

É preciso perceber por que razão isto acontece recorrentemente. A meu ver será talvez a mesma razão que faz com que o Benfica tenha sistematicamente falhado nos momentos decisivos das últimas décadas, com uma ou outra excepção. Este facto está aliás, melhor do que em qualquer outra competição, espelhado na contabilidade das Supertaças: em 27 presenças, o Porto ganhou 18 (66,6%). Em 15 presenças o Benfica ganhou 4 (26,6%). Em onze finais contra o Porto, imaginem quantas o Benfica ganhou. Pois é... uma! Perdeu 10!

É preciso inverter esta situação, o que se faz de várias formas.

Em primeiro lugar, o Benfica precisa de ter bons jogadores e treinadores, o que objectivamente já acontece hoje. Veja-se como Ramirez e David Luiz se sagraram campeões europeus pelo Chelsea - e que papel tiveram nessa conquista! (a propósito os meus parabéns para estes dois grandes atletas) - e Di Maria campeão de Espanha.
Rodrigo e Nélson Oliveira são avançados de enorme qualidade e características singulares e Cardozo, apesar de ter alguns problemas de motivação ou convicção e algumas limitações no plano técnico, é um avançado de topo - dos que marcam golos, que é o mais importante. No meio campo também há enorme qualidade, desde o meio às faixas. É na defesa que o Benfica precisa de melhorar, sobretudo ao nível dos laterais. A direcção do Benfica tem que trabalhar. É nestes pormenores que a estrutura tem que se sobrepor ao treinador na identificação das necessidades e prioridades de um plantel, deixando claro que nenhuma teimosia se pode sobrepor aos interesses colectivos.

Em segundo lugar, há que definir um modelo de jogo e jogadores para o interpretar. O Porto fez isto nos anos 80, com um modelo sobretudo assente na segurança defensiva e foi ajustando este modelo ao longo dos anos, dotando-o de características mais ofensivas mas sem perder a identidade. Cultivou um jogador "à Porto", que trabalha e batalha muito e não vira a cara à luta. No Benfica, pelo contrário cultivou-se demasido a estrela e o vedetismo. É preciso mudar isto, inculcando nos jogadores a mentalidade de que a equipa e o clube estão sempre acima dos interesses individuais. Jesus conseguiu implementar um modelo ofensivo, adequado à matriz histórica do Benfica, mas teve duas pechas fundamentais, que a estrutura de apoio técnica e directiva deveria ter corrigido: fez uma equipa sem portugueses (o que dificulta a recuperação e preservação da mística e raça benfiquistas e uma identidade de equipa que perceba a realidade da rivalidade Benfica-Porto e saiba interpretar o sentimento dos adeptos quando defrontamos este adversário) e o descurar da solidez defensiva.

Quanto à primeira lacuna, que resulta também de uma falta de qualidade da formação do Benfica, parece estar-se a trabalhar para a colmatar mas é preciso fazer mais, apostar mais em jogadores portugueses e da casa. Não apenas contratar mais portugueses mas também usar mais os que já temos, como Miguel Vítor, que nunca nos deixou mal e merece mais oportunidades, seja no centro da defesa, seja à direita. Quanto à segunda, há que contratar (ou recuperar os emprestados) defesas laterais de qualidade.

Mais uma vez resulta claro dos dois parágrafos anteriores que o Benfica precisa de uma estrutura mais sólida, que apoie o treinador, que o proteja e preserve (também em relação às polémicas com as arbitragens) e que o chame à razão quando necessário. Pois todos, até os melhores, erram e Jorge Jesus tem errado com alguma frequência nos últimos anos. Uma boa estrutura de futebol, profissional e competente, poderia ter evitado alguns dos erros.

Em terceiro lugar, há que trabalhar a mentalidade e o lado psicológico dos jogadores, no respeitante aos jogos decisivos, através da afirmação da identidade benfiquista. Há que afirmar os valores benfiquistas, o seu espírito desportivista e leal, o seu carácter e seriedade (acabem com os speakers por favor!, assim como com manobras patéticas como apagar as luzes e discursos mal medidos e errantes), bem como a sua dimensão mundial. Este aspecto tem que ser constantemente valorizado, pois o Benfica é um clube ímpar, com adeptos e Casas por todo o mundo. Esta dimensão que as Comunidades Portuguesas e os países de Língua oficial Portuguesa dão ao Benfica, de integração, sem discriminação entre estatuto ou raça, tem que servir para afirmarmos a nossa diferença e identidade em relação a um clube que se assume regionalista e que prima pelo fomento do divisionismo da sociedade portuguesa.

Em quarto lugar, há que, também no plano da moral e da mentalidade, recuperar e fomentar nos jogadores e técnicos uma cultura de vitória e de grandeza, que infelizmente não tem existido nos últimos anos. Uma cultura de ambição, de desejo de conquista de títulos. Hoje os benfiquistas têm medo de perder. Amanhã têm que ter sede de ganhar. O Benfica tem estado nas grandes decisões, mas tem perdido a maioria, precisamente por medo de falhar, por tremer nos momentos decisivos, por achar que algo pode correr mal e por isso correrá mal. Alterar este estado de coisas passa pela liderança do Benfica, Presidente em primeiro lugar, mas também por todos os benfiquistas que têm sido demasiado descrentes e ansiosos nos últimos anos.

Fazendo o trabalho, como tem que fazer, com rigor e disciplina, com a qualidade que existe e libertando-se de medos e fantasmas, o Benfica tem todas as condições para vencer. Percamos então o medo de falhar e substituamo-lo pelo espírito de conquista - não de um mas de muitos títulos. A vitória do Chelsea na Liga dos Campeões e da Académica na Taça mostrou mais uma vez que não há imbatíveis e que a vontade e a determinação, quando se está convicto do que se está a fazer e do emblema que se representa, são factores decisivos. A ambição do Benfica tem que ser a de estabelecer um domínio a nível interno que lhe permita dar o salto para um patamar europeu, a que só episodicamente temos acedido, quando temos condições para dele fazer parte.

Por fim, o Benfica tem que batalhar sempre pela Verdade Desportiva, assumindo-se como defensor intransigente da Justiça no jogo e nas competições, do que temos amplamente falado em diversos posts.

Se estes princípios forem inculcados nos benfiquistas, a começar pelos jogadores e acabando nos adeptos, afirmando-se sempre o clube pela positiva, sem insultos aos adversários, sem ser contra ninguém mas sempre tendo presente a responsabilidade que acarreta a sua dimensão, o Benfica entrará num novo ciclo de vitórias. Que ele comece já na próxima época e que estejamos daqui a um ano a festejar a "dobradinha" (e já agora também com a Taça da Liga, se possível) são os meus desejos de fim de época.

Cultura de vitória - a diferença entre vencer e perder

No rescaldo do jogo de ontem, Nuno André Coelho, que passou pelo Porto, pelo Sporting e agora está no Braga, dizia na RTP que seria muito difícil o Porto perder a final de ontem, pelo espírito de conquista que se vive naquele clube.
Já tenho aqui abordado esta questão e tenciono voltar a fazê-lo. Se por um lado é um facto indesmentível que o Porto beneficiou nos últimos anos de várias ajudas do sistema do futebol português, não podemos porém, sob pena de não mudarmos de vida e continuarmos a perder, ignorar que falta no Benfica uma cultura de vitória e de conquista.

E isto vem de há vários anos e não tem que ver nem com Jesus, nem com Vieira. Tem que ver com a história e com uma mentalidade que importa primeiro perceber e depois modificar.

Não é nenhuma novidade e tem sido amplamente referido que Pinto da Costa e Pedroto forjaram há 30 anos uma estratégia que passava antes de mais pelos seguintes vetores: ataque ao "centralismo" de Lisboa, promoção de uma "cultura do Norte" de afirmação bairrista, definição de um modelo de jogo e de um jogador "à Porto", ambição e cultura de vitória. Esquecendo por agora as questões de arbitragem e sistema (como qualquer boa estratégia, a do Porto foi implementada a diversos níveis e naturalmente passou pela conquista do poder dos bastidores do futebol, através da Associação de Futebol do Porto e do Conselho de Arbitragem - lideradas por Adriano Pinto e Pinto de Sousa - que com Pinto da Costa fizeram formaram o triunvirato dos três Pintos), há que reconhecer que esta estratégia foi coroada de sucesso e que de um clube perdedor e com pouca dimensão, Pinto da Costa e Pedroto conseguiram fazer um colosso europeu.

A estratégia tinha portanto várias vertentes, desde a identidade (foi até "inventado" o emblema do dragão) à afirmação regional como bandeira de um "povo" supostamente mal tratado, a um modelo de jogo e cultura desportiva de ambição e vitória.

Inversamente, no Benfica, depois dos gloriosos anos 60, atravessou-se, sobretudo a partir da década de 80 um período de descaracterização. Havia o que por vezes se chama na gíria um cansaço competitivo e de vitórias. Instalou-se alguma acomodação, algum comodismo.
Uma geração de jogadores brilhantes chegava ao fim e abriu-se a porta aos jogadores estrangeiros. A cultura de Benfica - a mística - que significava uma raça muito grande, uma grande abnegação, humildade, um grande desportivismo e uma grande  ambição aliadas à confiança de todos em si mesmo e nos companheiros, levaram o Benfica a ser surpreendido por um Porto que não tinha os mesmos valores desportivos (de lealdade, de ética, de respeito pelo adversário) mas um grande espírito competitivo e de conquista.

Passados 30 anos, já seria tempo do Benfica ter criado um antídoto para esta estratégia portista, mas a verdade é que isso não acontece. Tendo o clube vivido em situação de estabilidade e continuidade dirigente nos últimos anos (ao contrário do que se verificou desde Damásio a Vilarinho), e até no plano do treinador, com Jesus a completar 3 épocas no comando da equipa, há então que identificar as causas da continuada falta de sucesso.

Há que perceber por exemplo, porque continua o Benfica a perder na maioria das vezes os jogos decisivos, nomeadamente com o seu rival Porto, por vezes de forma inexplicável.