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sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Aguardam-se explicações

Na Assembleia Geral desta noite, os sócios do Benfica esperam ouvir algumas explicações por parte da direcção.

Sabemos que na ordem dos trabalhos constam a aprovação das contas e relatório de gestão. No entanto certamente que o Presidente da AG e a direcção terão o bom senso de compreender que o momento requer algumas explicações de carácter mais geral, relativo à estratégia do Benfica e ao momento que a equipa de futebol atravessa. 
Não pode ser business as usual ou uma apresentação de contas feita num vazio, como se não houvesse um contexto - negativo - nas quais elas se inserem.

Em particular os sócios têm o direito de ouvir - e devem exigir - explicações acerca:

  • do desinvestimento na equipa de futebol num ano em que o 3º classificado está excluído da Liga dos Campeões e em que os prémios da competição aumentam;
  • dos planos para construir instalações de ensino no Seixal, que tipo de benefícios o Benfica espera retirar dos mesmos e quais os custos envolvidos;
  • das razões pelas quais não foram acauteladas alternativas para colmatar as saídas de jogadores fundamentais da equipa vencedora do ano passado;
  • das razões pelas quais o Benfica insiste em não reagir de forma veemente ao "caso dos emails" e qual o ponto de situação do(s) processo judicial(is) intentado(s) contra o Porto, o Porto Canal e o "diretor de comunicação" do Porto;
  • qual a estratégia e o rumo para reverter os recentes maus resultados e ambiente negativo na equipa de futebol?


terça-feira, 2 de junho de 2015

Jesus ganhou, venha outro

Dizem alguns benfiquistas que tudo está encaminhado e que Jorge Jesus será o "próximo" treinador do Benfica. Espero que estejam certos e acima de tudo espero que Jesus fique, por razões que me parecem por demais evidentes. No entanto dizer-se que a incerteza à volta da continuidade é uma mera fabricação da comunicação social e que nunca houve dúvidas é algo que não corresponde à realidade. Parece-me inclusivamente que neste momento nada está decidido. Que sentido faria estar a alimentar especulações e incerteza entre jogadores e adeptos?

Uma coisa que não entendo são as notícias de que o Benfica deseja baixar o vencimento de Jesus. Aí sim, espero que se tratem de meras especulações sem fundamento. Não porque eu queira que JJ ganhe muitos milhões ou porque não ache esse tipo de valores astronómicos. No entanto se o salário de JJ era X há dois anos não faz qualquer sentido baixá-lo depois dele conquistar nesse período praticamente tudo a nível interno (faltou apenas a Taça deste ano para fazer o pleno) e ter permitido ao Benfica vendas de dezenas de milhões de euros. 

Outro factor apontado como razão para o Benfica não continuar com Jorge Jesus é a necessidade de apostar na formação, algo para que Jorge Jesus não estaria particularmente vocacionado. 

Em relação a tudo isto, a minha posição é, por uma vez, similar à de Freitas Lobo: a serem verdade estas notícias, Vieira estaria convencido de que a estrutura seria já suficientemente forte para conseguir aguentar o baque da saída de um treinador que revolucionou mentalidades no Benfica e alcançou resultados extraordinários com uma marca pessoal muito forte.

Ora para mim, apesar de todo o trabalho de grande competência feito por Vieira e a estrutura dirigente em geral, profissionalizando muito o clube e dotando-o de todas as condições de topo para poder ganhar, está ainda por demonstrar que o sucesso dos últimos anos possa ter continuidade sem Jorge Jesus. Não que seja impossível. Claro que pode acontecer. No entanto trata-se de uma aposta no escuro que a meu ver não se justifica nas actuais circunstâncias.

Com Jorge Jesus o Benfica subiu para patamares de competitividade máximos. A frase "acima disto não há nada", dita pelo próprio, no seu estilo peculiar, é quase verdadeira. Os poucos que continuam a colocar a causa o seu trabalho, desvalorizando-o e praticamente dando a entender que qualquer um com um mínimo de competência conseguiria os mesmos resultados, agarram-se agora às más prestações na Liga dos Campeões como último argumento de arremesso contra o treinador do Benfica. É um facto que as prestações não têm sido as ideais mas em cada ano houve circunstâncias particulares que terão que ser avaliadas nas suas particularidades. Além disso o facto do Benfica ter estado em duas finais da Liga Europa não pode ser desvalorizado como algo de insignificante. 

Ora manter estes patamares com um treinador com pouco ou nenhuma experiência a este nível é pouco provável. O que de pior poderia acontecer ao Benfica do que voltar aos anos em que ao fim de 5 ou 6 jornadas já estava a meia dúzia de pontos, acabando o campeonato em 3º lugar? A possibilidade de regresso ao terrível passado recente é algo que deve fazer o presidente do Benfica ponderar muito bem as coisas. É que para construir e fazer bem demora e dá muito trabalho mas destruir é algo que pode acontecer de um dia para o outro.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Cuidado com os caldinhos

Já há algum tempo que ando para escrever isto e determinados factos de que tive conhecimento nos últimos dias levam-me a fazê-lo agora.

Há uma (nova) orquestração em marcha para fazer Jorge Jesus sair do Benfica no fim da época.

É óbvio que o balanço do ano desportivo só pode ser feito no fim e que ainda não ganhámos nada (como tantas vezes aqui tenho repetido).

No entanto há que alertar os benfiquistas para que estas manobras começam a ter lugar nos bastidores.

Ainda na segunda-feira ouvia o comentador João Rosado na TSF (que sinceramente ainda não percebi se é mal intencionado ou simplesmente um completo tonto que não sabe o que diz) "explicar" que Jorge Jesus não tinha condições para continuar no Benfica quer ganhasse quer perdesse o campeonato...

Enfim, como é evidente, nem vale a pena perdeu um segundo a desmontar esta idiotice que se anula a si própria. Mas vale a pena referi-la na medida em que vem insidiosa (ou estupidamente) lançar novas sombras sobre a continuidade de JJ.

É evidente que Jorge Jesus comete erros e que não está acima da crítica. No fim da época passada, depois da derrota no Jamor, que para mim foi algo de incompreensível e inaceitável, fiz críticas muito duras a JJ. Como sempre defendi, o futebol mede-se em resultados.

Defendi na altura que JJ deveria sair porque não acreditei que tivesse condições para inverter o estado de depressão e a dinâmica de derrotas que se instalara. No entanto, JJ, felizmente, tem vindo esta época paulatinamente a desmentir essa aparente fatalidade e a dar a volta às coisas.

Estamos neste momento numa posição privilegiada para ser campeões. Se o conseguirmos (e este se é a pedra de toque deste raciocínio) teremos então que a isso aliar excelentes prestações a nível europeu (ao nível do melhor que o Benfica fez em décadas, com presenças consecutivas nas últimas fases das competições, incluindo uma final e grandes jogos e vitórias), tendo necessariamente que concluir que o balanço é largamente positivo.

Se o Benfica for campeão (deixando o Porto a uma larga distância), seria uma loucura completa deixar sair Jorge Jesus e mergulhar de cabeça no escuro, começando de novo do zero ou perto disso e abrindo portas a potenciais ciclos vencedores dos nossos adversários.

Seria uma perfeita loucura, uma inconsciência.

E não me venham com os argumentos dos plantéis. Se os plantéis têm sido bons, isso se deve também em parte ao treinador. Veja-se o Chelsea, vão-me dizer que o seu plantel é medíocre? Um plantel que pouco difere do que conquistou a Liga dos Campeões há dois anos e a Liga Europa o ano passado?! E a verdade é que este ano quase de certeza que não vai ganhar nada. Isto com aquele que muitos defendem ser o melhor treinador do mundo!
 
Se - repito, se - o Benfica for campeão este ano, seria uma inconsciência trocar de treinador. Os adeptos do Porto e do Sporting sonham porém que isso venha a acontecer e essa é uma das razões pelas quais começa a haver movimentações nesse sentido e alguns jornalistas vão deixando recados aqui e ali.

Mantenho que a indefinição à volta do futuro de JJ foi uma das razões pelas quais o fim da época passada correu tão mal. Não repitamos por favor o mesmo erro esta.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Demasiado previsível - eu avisei...

Estamos só no início de Outubro e Jorge Jesus já está por um fio.
Era previsível, demasiado previsível.

TUDO foi feito de forma errada - tudo! E o principal culpado é Luis Filipe Vieira.

Eu não digo que Vieira seja culpado por ser negligente. Eu creio que ele faz o melhor que sabe. 

Simplesmente é incapaz de, no actual contexto, que todos reconhecemos ser de grande adversidade e de controlo do futebol (e não só) por parte do Porto, inverter as coisas.

Os erros são demasiados e demasiado óbvios. Eu venho alertando aqui há MESES para eles.

1. Renovação de Jorge Jesus

Que sentido teve aquela telenovela?

A renovação de Jorge Jesus, se era para consumar, tinha que se materializar LOGO APÓS O JOGO COM O ESTORIL. PARA dar força ao treinador e estabilidade ao grupo de trabalho. IMEDIATAMENTE ANTES DA IDA AO DRAGÃO.

Assim não foi.

Como se não bastasse, após a derrota com o Chelsea e antes da disputa da terceira final, a do Jamor, Vieira veio dizer que a continuidade de Jorge estava assegurada e não dependia dos resultados. Como???

2. Final do Jamor

Era ABSOLUTAMENTE IMPERATIVO VENCER ESSE JOGO. Escrevi aqui, com todas as letras, QUE NÃO VENCER UM GUIMARÃES DE TERCEIRA CATEGORIA TERIA QUE TER CONSEQUÊNCIAS. Alguém teria que assumir as suas responsabilidades. Jorge Jesus deixaria de ter condições para continuar ou, pelo menos, teriam que se verificar mudanças radicais e estruturais no futebol do Benfica. Lamento dizê-lo mas o Porto NUNCA perderia uma final daquelas. NUNCA. É por estas e outras que o Porto já é o clube com mais troféus do futebol nacional e o Benfica não venceu praticamente nada nos últimos 20 anos. 

3. Pré-época.

Adverti que o descalabro era certo se se continuasse a verificar um padrão de desresponsabilização, falta de estratégia e bazófia.

Depois de perder tudo, os poderes de Jorge Jesus foram reforçados e os disparates continuaram a sai-lhe da boca para fora. Deu entrevistas a dizer que tínhamos feito uma grande época, falou de hegemonia... Como se não bastasse, há dias Vieira veio falar na conquista da Liga dos Campeões...

Adverti em tempo que se deveria reforçar pontualmente a equipa nos sectores carentes (meio campo e defesa) e manter a solidez do plantel nas outras posições. O que se fez? Contrataram-se jogadores às dúzias, criando problemas onde não existiam (com excesso de jogadores para as posições atacantes, levando à desmotivação de todos por não jogarem os minutos que ambicionavam e à falta de rotinas) e mantiveram-se os problemas: lateral esquerda e meio-campo defensivo. Nos últimos dias do mercado foram-se buscar os jogadores de que realmente precisávamos (Fedja e Siqueira) que naturalmente não tiveram tempo suficiente para se integrarem. É o 3º ano seguido em que esta política de contratação perfeitamente demencial se verifica.

4. Caso Cardozo

Inacreditável. Nem merece muitos comentários. Integrado à força à última da hora, depois de um caricato remake do programa "Perdoa-me", versão BenficaTV, os resultados estão à vista.


Ao fim de tantos anos, o padrão está visto, como disse antes. LFV já não tem mais para dar ao Benfica. A única hipótese que ele tem de fazer o Benfica campeão novamente é os nossos adversários serem muito fracos, andarem muito, mas mesmo muito, para trás.

A 5 de Agosto escrevi aqui que ou alguém punha ordem no Benfica ou o descalabro era certo. Neste momento a equação é outra: ou aparece um grupo de benfiquistas responsáveis, liderado por uma figura credível, respeitável e capaz de liderar o clube, que se constitua como alternativa e rapidamente tome conta dos destinos do Benfica, ou arriscamo-nos a voltar aos piores tempos de instabilidade e desgoverno, com o monstro do gigantesco passivo a pesar como um cutelo sobre o Benfica, à semelhança da situação do Sporting.


sexta-feira, 12 de julho de 2013

A formação do Benfica - II

A contratação de Sílvio, que saúdo, é paradigmática. O jogador foi formado no Benfica e chega ao nosso clube por empréstimo do... Atlético de Madrid.
A contratação parece-me boa pois trata-se um jogador com qualidade, rotinado no lugar e português. Permite uma alternativa a Maxi diferente de André Almeida: Sílvio tem mais rotação, mais cultura daquela posição e mais velocidade. Sílvio pode ainda jogar na esquerda.

A situação de Sílvio é um pouco o retrato da formação do Benfica: formam-se alguns jogadoers com qualidade mas aposta-se pouco neles, sendo-lhes dadas poucas oportunidades. Muitos se perdem assim em clubes de dimensão menor, sem terem tido oportunidade de evoluir como poderiam no seio do Benfica, com condições, jogadores e treinadores melhores do que os que vão encontrar naqueles clubes. Não foi o caso de Sílvio mas a verdade é que o passe do jogador também já não nos pertence.

Repare-se: nem todos podem ser Aimar, Messi, Coentrão ou Matic. A maioria dos jogadores são médios em termos de qualidade, assumindo depois a dedicação, a postura competitiva, os treinadores com quem trabalham, a fortuna ou felicidade que têm na sua carreira um papel decisivo para determinar como esta mesma carreira evolui. 

Trata-se pois de uma questão de aposta dos responsáveis, de confiança dos treinadores, de paciência com os jogadores.

Mourinho no Porto ou no Chelsea contou com jogadores de qualidade excepcional mas também com muitos jogadores medianos ou médios para conseguir atingir as impressionantes conquistas que marcam o seu percurso. Olhe-se para os casos de Nuno Valente, Hilário, Derlei e Postiga. Olhe-se mesmo para Paulo Ferreira, um jogador que conquistou inúmeros títulos de campeão nacionais e internacionais e que não era propriamente um predestinado. Era um jogador competente, dedicado e com boa condição física, apenas isso. Simplesmente teve um Mourinho que apostou nele, lhe deu confiança e o ensinou a ser melhor. 

É isto que o Benfica deve saber fazer. Aproveitar o melhor de cada jogador. "Coentrões", "Di Marias", Ramirez ou "Davids Luises" são a excepção. Jogadores como Sílvio são pelo contrário o jogador médio do futebol europeu, ou da metade superior, em termos de patamar competitivo, do futebol europeu.

Se percebermos isto, se soubermos ser pacientes e apostar nos nossos valores, desde João Cancelo a André Gomes, passando por André Almeida, Miguel Rosa e Ivan Cavaleiro, poderemos tirar muito mais partido da nossa formação. Detectar talentos jovens no estrangeiro ou mal aproveitados em grandes clubes é sem dúvida uma solução que temos usado com resultados positivos desde a chegada de Rui Costa e Jorge Jesus. Importa porém apostar na nossa formação para equilibrar mais os nossos plantéis e as nossas finanças. Tal permitirá mais estabilidade nos plantéis (os jovens talentos estrangeiros não ficam muito tempo), mais cultura benfiquista, mais solidez emocional e melhores resultados financeiros. A criação da equipa B foi um excelente passo nesse sentido. Importa agora dar-lhe também estabilidade ao nível da direção técnica e não mudar de protagonistas todos os anos. Saibamos tirar partido desta aposta e potenciar os jogadores da nossa formação. Não tenho dúvidas de que este é o caminho. 

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

A ditadura das transmissões televisivas (e o speaker)

E outros temas "logísticos" - o speaker da Luz


Esta semana o Benfica vai à Choupana, como sabemos, mas na próxima semana volta à Luz (dia 17 contra a Académica).
Para esse jogo, o Benfica lançou uma nova campanha, desta vez para o Dia de São Valentim, vulgo DIa dos Namorados, com preços muito económicos.
Como tenho assinalado, é muito importante, por todas as razões, ter grandes assistências na Luz daqui até ao fim do Campeonato.
A iniciativa é portanto muito meritória, tal como outras, por exmplo a do bilhete de família. Até aqui só tenho a elogiar esta política da direção.
O que já não se compreende é que o jogo com a Académica seja novamente num Domingo às 20.15h.
O assunto nem é novo. Jogo após jogo na Luz, os sócios e adeptos se queixam do horário.
Não há dúvida nenhuma que num horário diferente (ou apenas num dia diferente, por exemplo sábado), estes jogos teriam assistências ainda maiores. Com o Setúbal estiveram na passada semana quase 40.000 espectadores. Se o jogo tivesse sido à tarde teriam porém estado seguramente muitos mais. Talvez 45 ou mesmo 50 mil.
Para aqueles que vivem fora de Lisboa, ou mesmo nos arredores de Lisboa, assistir a um jogo num Domingo à noite é quase impraticável. As pessoas não podem chegar a casa à meia noite ou ainda mais tarde quando trabalham e/ou os seus filhos têm que ir para a escola no dia seguinte.
É impossível que a direção não esteja consciente disto.

O que nos leva à questão das transmissões televisivas. São os operadores que determinam estes horários. Porquê? Porque ao sábado à noite têm os jogos do Real Madrid ou do Barcelona para transmitir.
Mesmo assim não entendo porque não podemos jogar à tarde? Será que o regulamento interno o impede? Ou é porque a essa hora são transmitidos os jogos da Liga Inglesa?

Esta é uma questão para a qual a Liga tem que olhar e em relação à qual é preciso fazer alguma coisa. Se se querem mais pessoas nos Estádios, se isso é mesmo imperativo para a saúde financeira dos clubes e a emotividade da competição, então esta situação tem que ser rapidamente resolvida.

Por outro lado queria também lançar aqui uma outra questão e pedir aos blogs benfiquistas com quem temos parcerias que lhe dêm alguma atenção também, se estiverem de acordo com o que vou dizer.
Prende-se ela com os famosos speakers dos estádios, em particular o do nosso Estádio, que é o que me interessa.


A ideia das intervenções do speaker da Luz será certamente entusiasmar o público e puxar pelas bancadas. Mas o efeito é exactamente o contrário! Não está em causa a pessoa, a sua boa vontade ou sequer a sua voz. Está em causa que o apoio à equipa tem que ser espontâneo, tem que ser sentido. E isso é impossível quando é um speaker a forçar as bancadas a fazer coro. Mesmo os cânticos perdem muitas vezes a sua força não apenas por serem repetidos a toda a hora e a despropósito pelo speaker mas inclusivé pelo simples facto de ganharem uma dimensão oficial através do sistema de som do Estádio. Os cânticos pertencem às claques e às bancadas e entoá-los a partir de um microfone é desvirtuante.

Para além disso, a passagem contínua de música americana nos altifalantes até quase ao início da partida em nada contribui para o ambiente que se pretende que exista na Luz. Contribui apenas para esfriar as bancadas (que se vêm impedidas de sentir a vibração autêntica e o palpitar do jogo) e para não deixar ouvir o som genuíno das bancadas (para já não falar do das claques). Claro que quando o jogo começa todas as vozes estão frias e não se criou um ambiente conducente ao apoio à equipa e à pressão ao adversário.
Aliás, neste último capítulo, se desde o momento da entrada das equipas para o aquecimento os altifalantes fossem silenciados, certamente que essa pressão sobre o adversário cresceria, o nervoso miudinho se começaria de imediato a sentir e o se perceberia o que é o ambiente da Luz.

(Nem nos golos o senhor se cala, gritando como se estivesse num relato. Se eu quiser um relato ou fico em casa ou levo auscultadores. Eu vou ao Estádio para sentir o ambiente e não para ouvir microfones!)

Num clube altamente profissional todos estes factores devem ser considerados. Também neles se começam a ganhar os jogos.

Por favor, ajudem-me a fazer passar esta mensagem à nossa direcção. Com um speaker que silencia as bancadas e torna todo aquele ambiente numa espécie de discoteca estamos a prejudicar-nos a nós próprios e a facilitar a vida aos adversários. Isto é tanto mais verdade quanto mais importante é o jogo e maior a rivalidade com o adversário do mesmo.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

À atenção da direção do Benfica - cuidado com as campanhas

Ainda eu mal tinha acabado de escrever o anterior post e já temos novidades. Não satisfeito com as declarações do seu treinador, o Presidente do Setúbal vem dizer que "se fosse ao contrário havia uma revolução". É curioso, porque não apenas não tem razões de queixa como inclusivamente "ao contrário" aconteceram no ano passado casos muito mais graves (não vou enumerá-los pela enésima vez) e não aconteceu nenhuma revolução.

Outra declaração interessante, esta de José Pedro, jogador do Vitória: "Amoreirinha foi expulso e Luisão, numa jogada praticamente igual (!), apenas viu o amarelo."

Porque é que isto é importante?

Pela simples razão de que tão importante quanto a realidade é a percepção da realidade. Se, cada vez que o Benfica nem sequer é beneficiado, ou se o é é apenas marginalmente, por centímetros de Melga, há esta gritaria, cria-se a percepção de que o Benfica é realmente muito beneficado pelas arbitragens. Isto quando, como sabemos, é exactamente o contrário do que se passa.

Para mim, isto é o sistema a actuar. Um sistema que controla clubes satélites e muita da imprensa. Esta percepção distorcida passa para a opinião pública e pesa no subconsciente dos árbitros, já de si condicionados pelas estruturas dominantes (observadores, etc.) afectas ao Porto.

O Benfica não pode portanto deixar passar estas mensagens impavida e serenamente. Se o treinador deve estar resguardado, o que se compreende, já o departamento de comunicação e o Presidente têm que repor a verdade das coisas. Não há razão para os clubes raramente se sentirem prejudicados quando jogam com o Porto - e tantas vezes o são de facto - e quase nunca se insurgirem contra as arbitragens daqueles jogos e à mínima razão de queixa (real ou imaginada) em jogos com o Benfica se levantar um "aqui d'el Rei" como se os estivessem a atirar diretamente para a 2ª divisão.

Se o Benfica nada disser de certa forma dará a ideia de que concorda e está calado porque foi beneficiado. Quanto aos árbitros, se mesmo quando decidem justamente, apenas porque isso é a favor do Benfica, são objecto de um churrilho de críticas e quase um incitamento a uma revolução, então a pressão será enorme para NUNCA decidir a favor do Benfica em qualquer caso que levante a mínima dúvida.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Uma semana para o fecho de mercado

O campeonato já começou e este Domingo o Benfica tem novo compromisso difícil em Setúbal.
Melgarejo está com amigdalite, pelo que penso que Jesus apostará em Luisinho. Este jogador, vindo do Passos de Ferreira, foi também adaptado por Henrique Calisto da posição de extremo a defesa esquerdo.

O mercado está a fechar (falta uma semana) e o campeonato já começou. Há portanto que resolver as várias situações pendentes, a começar pelo problema do defesa esquerdo. Diz a imprensa que Eliseu estará prestes a assinar, o que me parece uma boa solução. Depois temos muitos jogadores que seria desejável vender, desde Sidney e Emerson até (com pena minha, mas realismo) Saviola. Há ainda o caso Gaitan (que parece dos poucos jogadores, com excepção de Witsel, que poderá render uma quantia considerável) e mesmo, para muita pena minha e da maioria dos benfiquistas, a possibilidade de Nolito sair, em princípio por empréstimo. Se, sem Melgarejo, Perez e Sálvio, Nolito muitas vezes não foi titular na época passada, este ano, com estes reforços, a sua situação só poderá piorar. A prazo ela pode tornar-se insustentável.

Uma nota também para a venda de Álvaro Pereira pelo Porto. Famoso pelos seus negócios, o clube do Porto desta vez espalhou-se ao comprido. Se a proposta do Chelsea do ano passado de 22 milhões foi "rejeitada em segundos", não se percebe como 7,5 milhões do Inter já são agora aceites. Diz-se que a transferência pode chegar a 15 milhões mas isso é deitar areia para os olhos do povo, porque só se o Inter conquistasse os 4 troféus em que está envolvido é que isso se concretizava. Os valores subirão com toda a probabilidade (a não ser que Pereira não se afirme como titular) mas deverão ficar por metade do que o Chelsea ofereceu há um ano. Este negócio junta-se ao de Cebola e de Fucile. Que continuem assim.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Caso Luisão III

Logo a seguir ao incidente escrevi que não compreendia que, num jogo a feijões, Luisão (um atleta que muito prezo e cuja carreira se tem sempre pautado por uma grande correcção) tivesse aquela reacção intempestiva, arriscando um castigo.

Na altura, tomei porém como boas as "informações" da imprensa (nomeadamente "A Bola" e o "Correio da Manhã"), de acordo com a qual Luisão com toda a probabilidade não seria castigado, uma vez que não teria havido relatório do jogo e que a Federação Alemã declinava qualquer prosseguimento do caso.

Acontece que não é assim. Acontece que a FIFA já pediu à Federação Portuguesa para acompanhar o caso e que Luisão arrisca realmente um castigo que o impeça de actuar, por um número de jogos a definir, na Liga dos Campeões e mesmo na Liga Portuguesa.

Esta situação é lamentável a todos os títulos e - tenho que insistir - foi mal gerida pelos dirigentes do Benfica. Isto nada tem que ver com criar divisionismos ou fazer crítica fácil - tem que ver com a exigência, que todos os benfiquistas devem colocar aos dirigentes que comandam os destinos do Benfica, de que todas as situações sejam resolvidas com o maior rigor e profissionalismo.

Onde errámos?

Na forma como, desde o início, não foi estabelecido um diálogo com o clube alemão e, através deste, com o próprio árbitro, no sentido de uma situação desagradável não se tornar num problema grave.
Os Benfiquistas têm que perceber que criticar o árbitro - e eu já o fiz - não resolve o problema. Se é compreensível que os adeptos o façam, já não é admissível que essa possa ser a estratégia da direcção. É verdade que o comportamento do árbitro foi teatral, lamentável. Mas não é menos verdade que, independentemente disso, estamos perante um cenário muito complicado e que a maior preocupação tem que ser resolvê-lo.

Neste momento, as consequências negativas deste caso são a meu ver as seguintes:

- possibilidade de Luisão ser castigado e estar um número indefinido de jogos afastado da competição;
- desestabilização da equipa a dias do início do campeonato;
- péssima publicidade para a imagem do Benfica, nacional e internacionalmente;
- possibilidade dos árbitros aproveitarem este incidente para nos penalizarem, ainda mais, disciplinarmente;
- o Benfica ficar dependente da actuação do Conselho de Disciplina da Federação.

Este último ponto merece ser sublinhado: depois das decisões altamente lesivas que este órgão vem tomando contra o Benfica, ficamos completamente nas suas mãos, de alguma forma dependentes da sua boa (ou má) vontade na apreciação do caso. De igual modo, o Benfica fica numa posição de menoridade perante a própria Federação, justamente quando precisávamos de a afrontar no sentido dela ser mais isenta e imparcial na direcção do futebol português.

Ou seja, este caso consegue fazer quase o pleno do que não precisávamos neste início de época. E mais uma vez faltou liderança. Eu compreendo que Jorge Jesus queira fomentar a competitividade desde o início mas será que não há capacidade emocional para perceber que estamos perante um jogo a feijões? O Real perdeu 5-1 com o Benfica e não é por isso que fará uma época melhor ou pior este ano. Portugal perdeu com a Turquia antes do Europeu e não foi por isso que deixou de fazer um Europeu extraordinário.

Feito o mal, impunha-se fazer o controlo dos estragos, para o que era necessário, sem ruído e com muita calma, contar com a boa vontade dos alemães, a começar pelo Fortuna de Dusseldorf. Afinal de contas, presume-se que, para o Benfica alí ir disputar o jogo de apresentação, existiria uma boa relação entre as duas direcções. Afinal verifica-se que o Dusseldorf faz declarações inflamadas, exige castigos e a devolução da verba que pagara ao Benfica. Esteve bem? A meu ver, não, esteve muito mal. Mas é à direcção do Benfica e não à do Dusseldorf que os Benfiquistas têm o direito de exigir a defesa dos seus interesses.

Mais uma vez digo, é um caso caricato, insólito e desnecessário. Ameaça agora tornar-se (muito) lesivo dos interesses do Benfica. Não aprendemos.

Adenda: o Presidente Luis Filipe Vieira esteve hoje na Alemanha e anunciou, com o seu homólogo do Dusseldorf, um "acordo" que esclarece os mal entendidos. É o passo certo mas parece-me que ele surge tardiamente, pois neste momento o assunto não está nas mãos do clube alemão.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Cultura de vitória - Parte II

A perda de identidade do Benfica, aliada ao esmorecimento do seu espírito de vitória, levou-o à actual situação.
No último jogo com o Porto (na Luz, 2-3), foi bem visível, para quem gosta de analisar as coisas, que o Porto entrou melhor no jogo. Mais forte, mais seguro, mais confiante, com mais garra e vontade de vencer.
O facto do Benfica ter perdido com um golo em fora de jogo e ter visto um jogador seu injustamente expulso não altera este facto.

É preciso perceber por que razão isto acontece recorrentemente. A meu ver será talvez a mesma razão que faz com que o Benfica tenha sistematicamente falhado nos momentos decisivos das últimas décadas, com uma ou outra excepção. Este facto está aliás, melhor do que em qualquer outra competição, espelhado na contabilidade das Supertaças: em 27 presenças, o Porto ganhou 18 (66,6%). Em 15 presenças o Benfica ganhou 4 (26,6%). Em onze finais contra o Porto, imaginem quantas o Benfica ganhou. Pois é... uma! Perdeu 10!

É preciso inverter esta situação, o que se faz de várias formas.

Em primeiro lugar, o Benfica precisa de ter bons jogadores e treinadores, o que objectivamente já acontece hoje. Veja-se como Ramirez e David Luiz se sagraram campeões europeus pelo Chelsea - e que papel tiveram nessa conquista! (a propósito os meus parabéns para estes dois grandes atletas) - e Di Maria campeão de Espanha.
Rodrigo e Nélson Oliveira são avançados de enorme qualidade e características singulares e Cardozo, apesar de ter alguns problemas de motivação ou convicção e algumas limitações no plano técnico, é um avançado de topo - dos que marcam golos, que é o mais importante. No meio campo também há enorme qualidade, desde o meio às faixas. É na defesa que o Benfica precisa de melhorar, sobretudo ao nível dos laterais. A direcção do Benfica tem que trabalhar. É nestes pormenores que a estrutura tem que se sobrepor ao treinador na identificação das necessidades e prioridades de um plantel, deixando claro que nenhuma teimosia se pode sobrepor aos interesses colectivos.

Em segundo lugar, há que definir um modelo de jogo e jogadores para o interpretar. O Porto fez isto nos anos 80, com um modelo sobretudo assente na segurança defensiva e foi ajustando este modelo ao longo dos anos, dotando-o de características mais ofensivas mas sem perder a identidade. Cultivou um jogador "à Porto", que trabalha e batalha muito e não vira a cara à luta. No Benfica, pelo contrário cultivou-se demasido a estrela e o vedetismo. É preciso mudar isto, inculcando nos jogadores a mentalidade de que a equipa e o clube estão sempre acima dos interesses individuais. Jesus conseguiu implementar um modelo ofensivo, adequado à matriz histórica do Benfica, mas teve duas pechas fundamentais, que a estrutura de apoio técnica e directiva deveria ter corrigido: fez uma equipa sem portugueses (o que dificulta a recuperação e preservação da mística e raça benfiquistas e uma identidade de equipa que perceba a realidade da rivalidade Benfica-Porto e saiba interpretar o sentimento dos adeptos quando defrontamos este adversário) e o descurar da solidez defensiva.

Quanto à primeira lacuna, que resulta também de uma falta de qualidade da formação do Benfica, parece estar-se a trabalhar para a colmatar mas é preciso fazer mais, apostar mais em jogadores portugueses e da casa. Não apenas contratar mais portugueses mas também usar mais os que já temos, como Miguel Vítor, que nunca nos deixou mal e merece mais oportunidades, seja no centro da defesa, seja à direita. Quanto à segunda, há que contratar (ou recuperar os emprestados) defesas laterais de qualidade.

Mais uma vez resulta claro dos dois parágrafos anteriores que o Benfica precisa de uma estrutura mais sólida, que apoie o treinador, que o proteja e preserve (também em relação às polémicas com as arbitragens) e que o chame à razão quando necessário. Pois todos, até os melhores, erram e Jorge Jesus tem errado com alguma frequência nos últimos anos. Uma boa estrutura de futebol, profissional e competente, poderia ter evitado alguns dos erros.

Em terceiro lugar, há que trabalhar a mentalidade e o lado psicológico dos jogadores, no respeitante aos jogos decisivos, através da afirmação da identidade benfiquista. Há que afirmar os valores benfiquistas, o seu espírito desportivista e leal, o seu carácter e seriedade (acabem com os speakers por favor!, assim como com manobras patéticas como apagar as luzes e discursos mal medidos e errantes), bem como a sua dimensão mundial. Este aspecto tem que ser constantemente valorizado, pois o Benfica é um clube ímpar, com adeptos e Casas por todo o mundo. Esta dimensão que as Comunidades Portuguesas e os países de Língua oficial Portuguesa dão ao Benfica, de integração, sem discriminação entre estatuto ou raça, tem que servir para afirmarmos a nossa diferença e identidade em relação a um clube que se assume regionalista e que prima pelo fomento do divisionismo da sociedade portuguesa.

Em quarto lugar, há que, também no plano da moral e da mentalidade, recuperar e fomentar nos jogadores e técnicos uma cultura de vitória e de grandeza, que infelizmente não tem existido nos últimos anos. Uma cultura de ambição, de desejo de conquista de títulos. Hoje os benfiquistas têm medo de perder. Amanhã têm que ter sede de ganhar. O Benfica tem estado nas grandes decisões, mas tem perdido a maioria, precisamente por medo de falhar, por tremer nos momentos decisivos, por achar que algo pode correr mal e por isso correrá mal. Alterar este estado de coisas passa pela liderança do Benfica, Presidente em primeiro lugar, mas também por todos os benfiquistas que têm sido demasiado descrentes e ansiosos nos últimos anos.

Fazendo o trabalho, como tem que fazer, com rigor e disciplina, com a qualidade que existe e libertando-se de medos e fantasmas, o Benfica tem todas as condições para vencer. Percamos então o medo de falhar e substituamo-lo pelo espírito de conquista - não de um mas de muitos títulos. A vitória do Chelsea na Liga dos Campeões e da Académica na Taça mostrou mais uma vez que não há imbatíveis e que a vontade e a determinação, quando se está convicto do que se está a fazer e do emblema que se representa, são factores decisivos. A ambição do Benfica tem que ser a de estabelecer um domínio a nível interno que lhe permita dar o salto para um patamar europeu, a que só episodicamente temos acedido, quando temos condições para dele fazer parte.

Por fim, o Benfica tem que batalhar sempre pela Verdade Desportiva, assumindo-se como defensor intransigente da Justiça no jogo e nas competições, do que temos amplamente falado em diversos posts.

Se estes princípios forem inculcados nos benfiquistas, a começar pelos jogadores e acabando nos adeptos, afirmando-se sempre o clube pela positiva, sem insultos aos adversários, sem ser contra ninguém mas sempre tendo presente a responsabilidade que acarreta a sua dimensão, o Benfica entrará num novo ciclo de vitórias. Que ele comece já na próxima época e que estejamos daqui a um ano a festejar a "dobradinha" (e já agora também com a Taça da Liga, se possível) são os meus desejos de fim de época.

Cultura de vitória - a diferença entre vencer e perder

No rescaldo do jogo de ontem, Nuno André Coelho, que passou pelo Porto, pelo Sporting e agora está no Braga, dizia na RTP que seria muito difícil o Porto perder a final de ontem, pelo espírito de conquista que se vive naquele clube.
Já tenho aqui abordado esta questão e tenciono voltar a fazê-lo. Se por um lado é um facto indesmentível que o Porto beneficiou nos últimos anos de várias ajudas do sistema do futebol português, não podemos porém, sob pena de não mudarmos de vida e continuarmos a perder, ignorar que falta no Benfica uma cultura de vitória e de conquista.

E isto vem de há vários anos e não tem que ver nem com Jesus, nem com Vieira. Tem que ver com a história e com uma mentalidade que importa primeiro perceber e depois modificar.

Não é nenhuma novidade e tem sido amplamente referido que Pinto da Costa e Pedroto forjaram há 30 anos uma estratégia que passava antes de mais pelos seguintes vetores: ataque ao "centralismo" de Lisboa, promoção de uma "cultura do Norte" de afirmação bairrista, definição de um modelo de jogo e de um jogador "à Porto", ambição e cultura de vitória. Esquecendo por agora as questões de arbitragem e sistema (como qualquer boa estratégia, a do Porto foi implementada a diversos níveis e naturalmente passou pela conquista do poder dos bastidores do futebol, através da Associação de Futebol do Porto e do Conselho de Arbitragem - lideradas por Adriano Pinto e Pinto de Sousa - que com Pinto da Costa fizeram formaram o triunvirato dos três Pintos), há que reconhecer que esta estratégia foi coroada de sucesso e que de um clube perdedor e com pouca dimensão, Pinto da Costa e Pedroto conseguiram fazer um colosso europeu.

A estratégia tinha portanto várias vertentes, desde a identidade (foi até "inventado" o emblema do dragão) à afirmação regional como bandeira de um "povo" supostamente mal tratado, a um modelo de jogo e cultura desportiva de ambição e vitória.

Inversamente, no Benfica, depois dos gloriosos anos 60, atravessou-se, sobretudo a partir da década de 80 um período de descaracterização. Havia o que por vezes se chama na gíria um cansaço competitivo e de vitórias. Instalou-se alguma acomodação, algum comodismo.
Uma geração de jogadores brilhantes chegava ao fim e abriu-se a porta aos jogadores estrangeiros. A cultura de Benfica - a mística - que significava uma raça muito grande, uma grande abnegação, humildade, um grande desportivismo e uma grande  ambição aliadas à confiança de todos em si mesmo e nos companheiros, levaram o Benfica a ser surpreendido por um Porto que não tinha os mesmos valores desportivos (de lealdade, de ética, de respeito pelo adversário) mas um grande espírito competitivo e de conquista.

Passados 30 anos, já seria tempo do Benfica ter criado um antídoto para esta estratégia portista, mas a verdade é que isso não acontece. Tendo o clube vivido em situação de estabilidade e continuidade dirigente nos últimos anos (ao contrário do que se verificou desde Damásio a Vilarinho), e até no plano do treinador, com Jesus a completar 3 épocas no comando da equipa, há então que identificar as causas da continuada falta de sucesso.

Há que perceber por exemplo, porque continua o Benfica a perder na maioria das vezes os jogos decisivos, nomeadamente com o seu rival Porto, por vezes de forma inexplicável.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

O Benfica precisa de uma estrutura - os últimos 30 anos

No rescaldo da vitória da Taça da Liga, defendi não ser ainda chegado o momento de se fazer uma avaliação final ao trabalho de Jorge Jesus, até porque a época não terminou. Pode-se e deve-se porém começar a preparar o caminho e a apontar soluções para que o futuro seja mais estável e sustentado do que o presente.
Os últimos 30 anos do Benfica são os piores da sua história.
Em 1982, faz amanhã 30 anos, Pinto da Costa assumiu a presidência do FCP. Os resultados são os que se conhecem. De uma posição de hegemonia no futebol português, o Benfica passou, numa primeira fase, a dividir o seu domínio com o Porto, até chegar à posição de hoje: um clube menorizado, constantemente vencido pelo seu adversário nortenho. Os períodos de crise, instabilidade e conturbação tornaram-se cada vez mais frequentes.
Entre 82 e 2012 o Benfica venceu 6 campeonatos (1982/83, 1983/84, 1986/87, 1988/89, 1990/91, 1993/94, 2004/05, 2009/10), 7 Taças de Portugal (1982/83, 1984/85, 1985/86, 1986/87, 1992/93, 1995/96, 2003/04), 3 Supertaças (1984/85, 1988/89, 2004/05) e 4 Taças da Liga (2008/09, 2009/10, 2010/11, 2011/12). Um total de 20 títulos em 30 anos. No mesmo período, o Porto venceu 18 campeonatos, 12 Taças e 17 (!) Supertaças, totalizando 47 títulos nacionais. Mais do dobro portanto. A isto acrescem duas Taças dos Campeões, duas Taças UEFA (Liga Europa), duas Taças Intercontinentais e uma Supertaça Europeia, num total de 7 títulos internacionais. Se contabilizarmos estes títulos, o Porto quase triplica o número de troféus conquistados pelo Benfica nas últimas três décadas.
Já o Sporting ganhou apenas 2 campeonatos, 4 Taças e 6 supertaças.
Ou seja, desde que Pinto da Costa é presidente do Porto, o domínio deste clube no futebol português foi avassalador, relegando o Benfica para uma posição secundária, e praticamente acabando com acabando com o estatuto de "grande" do Sporting.
Estamos perante algo nunca visto no futebol mundial.
É óbvio que muitos destes títulos portistas foram "conquistados" de forma ilegítima, ilícita, com batota e favores arbitrais. Noutros países, o Porto tê-los-ia perdido e Pinto da Costa teria sido irradiado. É sabido que muitos árbitros, desde Calheiros a Guímaro e Martins dos Santos foram corrompidos. Houve viagens pagas, subornos, "meninas", violência e intimidação. No entanto, estamos em Portugal, a justiça é o que é e a verdade é que esses títulos contam. Por outro lado, não podemos ignorar que houve trabalho, organização e mérito que contribuiram para que o Porto esteja na actual posição. Os títulos internacionais demonstram-no.
O que está então o Benfica a fazer de errado e que lições pode tirar das últimas três décadas para inverter esta tendência de declínio?
A meu ver há dois factores principais: organização e identidade.
A identidade benfiquista começou-se a diluir na época 1979/80 quando entra o primeiro jogador estrangeiro no clube. A mentalidade clubística, a chamada mística, a consciência de se pertencer a um clube especial, a um emblema cuja camisola tinha um peso e acarretava responsabilidades, sofreram o primeiro abalo. Os tempos são outros e não é hoje obviamente exequível manter uma equipa só com portugueses. No entanto, jogar sem portugueses é algo que não pode acontecer no Benfica. Diga-se aliás que Vieira prometeu há uns anos ter no Benfica a espinha dorsal da selecção nacional...
O que se passou seguidamente foi que apesar do Benfica ter bons jogadores nos anos seguintes começou a faltar alguma consistência aos plantéis. Ao lado de jogadores como Diamantino, Chalana, Bento, Rui Águas ou Veloso apareciam outros com menos qualidade. Acima de tudo faltava já a coesão interna necessária para integrar os novos jogadores no espírito benfiquista. Eram equipas heterogéneas. A geração de Humberto Coelho, Nené e Shéu chegava ao fim e a nova não tinha a mesma fibra. Começavam a entrar e sair jogadores e treinadores demasiado depressa. No Porto seguia-se o caminho inverso. Inventava-se uma identidade clubística como bandeira do Norte e criava-se um tipo de jogador à porto, com uma cultura táctica muito forte, que permitia que jogadores menos dotados se integrassem no que era já uma equipa muito coesa. Feita de combatividade e futebol defensivo mas também de alguma técnica, esta cultura portista começou a dar resultados. O complexo de vir jogar ao Sul começava a ser ultrapassado. Jogadores como Jaime Pacheco, Jaime Magalhães, João Pinto, Frasco e Inácio são os maiores expoentes deste novo Porto. Numa bola de contra-ataque Gomes fazia a diferença. Mas em breve haveria também Futre, Madjer, Juary, jogadores cuja criatividade era um bónus para o futebol sempre seguro do Porto.
Para o clube do Norte, o jogo não era para ser bonito, fazer sonhar, transmitir valores. Era para ganhar.
Pedroto e Pinto da Costa começam, a par da cultura desportiva e identidade que inventaram, a fazer uma guerrilha, oculta ou aberta conforme as ocasiões, ao Benfica, a Lisboa, ao "Sul". Não havia "princípios" nem "acordos de cavalheiros". Levam Futre ao Sporting e Rui Águas e Dito ao Benfica. Começam a pressionar árbitros e orgãos federativos. Desde a morte de Pedroto, adopta-se nas Antas uma atitude clara de intimidação e coacção. Do medo futebolístico portista de jogar no Sul passa-se ao medo físico dos restantes clubes (e árbitros) em ir às Antas. Os dirigentes do Benfica não prestaram a devida atenção ao que se estava a passar e quando acordaram já era tarde.
As vitórias dão cada vez mais moral ao Porto. A cidade aglutina-se à volta do clube, o poder cresce nas estruturas do futebol. É a época dos "três pintos". O projecto de poder de Pinto da Costa é estruturado e ambicioso. Também na imprensa há cada vez mais portistas, mais aguerridos, mais militantes e mais subtis do que a clássica imprensa desportiva, maioritariamente afecta ao Benfica. O Benfica perde cada vez mais a sua identidade, definha. Quando chegamos ao fim da década de 80, o equilíbrio de forças no futebol português já foi invertido. O Benfica de João Santos e Gaspar Ramos, que atinge duas finais europeias, ainda consegue dois campeonatos (um deles conquistado nas Antas, sob um clima de terror e violência liderado pelo "guarda Abel") e uma Taça mas os efeitos do ciclo vencedor portista não se tardariam a fazer sentir.