sexta-feira, 12 de julho de 2013

A formação do Benfica - II

A contratação de Sílvio, que saúdo, é paradigmática. O jogador foi formado no Benfica e chega ao nosso clube por empréstimo do... Atlético de Madrid.
A contratação parece-me boa pois trata-se um jogador com qualidade, rotinado no lugar e português. Permite uma alternativa a Maxi diferente de André Almeida: Sílvio tem mais rotação, mais cultura daquela posição e mais velocidade. Sílvio pode ainda jogar na esquerda.

A situação de Sílvio é um pouco o retrato da formação do Benfica: formam-se alguns jogadoers com qualidade mas aposta-se pouco neles, sendo-lhes dadas poucas oportunidades. Muitos se perdem assim em clubes de dimensão menor, sem terem tido oportunidade de evoluir como poderiam no seio do Benfica, com condições, jogadores e treinadores melhores do que os que vão encontrar naqueles clubes. Não foi o caso de Sílvio mas a verdade é que o passe do jogador também já não nos pertence.

Repare-se: nem todos podem ser Aimar, Messi, Coentrão ou Matic. A maioria dos jogadores são médios em termos de qualidade, assumindo depois a dedicação, a postura competitiva, os treinadores com quem trabalham, a fortuna ou felicidade que têm na sua carreira um papel decisivo para determinar como esta mesma carreira evolui. 

Trata-se pois de uma questão de aposta dos responsáveis, de confiança dos treinadores, de paciência com os jogadores.

Mourinho no Porto ou no Chelsea contou com jogadores de qualidade excepcional mas também com muitos jogadores medianos ou médios para conseguir atingir as impressionantes conquistas que marcam o seu percurso. Olhe-se para os casos de Nuno Valente, Hilário, Derlei e Postiga. Olhe-se mesmo para Paulo Ferreira, um jogador que conquistou inúmeros títulos de campeão nacionais e internacionais e que não era propriamente um predestinado. Era um jogador competente, dedicado e com boa condição física, apenas isso. Simplesmente teve um Mourinho que apostou nele, lhe deu confiança e o ensinou a ser melhor. 

É isto que o Benfica deve saber fazer. Aproveitar o melhor de cada jogador. "Coentrões", "Di Marias", Ramirez ou "Davids Luises" são a excepção. Jogadores como Sílvio são pelo contrário o jogador médio do futebol europeu, ou da metade superior, em termos de patamar competitivo, do futebol europeu.

Se percebermos isto, se soubermos ser pacientes e apostar nos nossos valores, desde João Cancelo a André Gomes, passando por André Almeida, Miguel Rosa e Ivan Cavaleiro, poderemos tirar muito mais partido da nossa formação. Detectar talentos jovens no estrangeiro ou mal aproveitados em grandes clubes é sem dúvida uma solução que temos usado com resultados positivos desde a chegada de Rui Costa e Jorge Jesus. Importa porém apostar na nossa formação para equilibrar mais os nossos plantéis e as nossas finanças. Tal permitirá mais estabilidade nos plantéis (os jovens talentos estrangeiros não ficam muito tempo), mais cultura benfiquista, mais solidez emocional e melhores resultados financeiros. A criação da equipa B foi um excelente passo nesse sentido. Importa agora dar-lhe também estabilidade ao nível da direção técnica e não mudar de protagonistas todos os anos. Saibamos tirar partido desta aposta e potenciar os jogadores da nossa formação. Não tenho dúvidas de que este é o caminho. 

1 comentário:

  1. Já depois da publicação deste post, Veiga disse algo de parecido acerca da formação, tendo acrescentado que não havia treinadores de qualidade. Sobre isso não sei.
    Também já depois do post, Miguel Vítor emitiu um comunicado a dizer que com JJ não teria praticamente nenhumas hipóteses de jogar. Acho lamentável, até porque sempre que foi chamado Miguel Vítor não comprometeu, antes pelo contrário, o que é mais do que se pode dizer acerca de outros jogadores em que JJ depositou a confiança que nunca teve em Miguel Vítor. Esteve 11 anos no Benfica e saiu a custo zero. Boa sorte para o jogador, um profissional impecável.

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