O Benfica de Luís Filipe Vieira foi desportivamente um fracasso até à chegada de Jorge Jesus. Assim de repente, lembro-me de uma Taça vencida com Camacho e um campeonato com Trapattoni, para além de uma Taça da Liga com Quique Flores. Um pecúlio fraquíssimo.
Depois chegou JJ e o Benfica foi campeão, com uma grande equipa. De imediato se declarou um novo ciclo, mas a verdade é que o Porto logo vence mais um tri, com JJ ajoelhado no dragão no último deles e goleadas por 5-0 e celebrações na Luz pelo meio. Anos de tristeza desportiva e desapontamento.
Jesus voltaria a vencer dois campeonatos, mas o melhor período até veio depois, com Rui Vitória (dois campeonatos) e Lage (um), somando 3 campeonatos no espaço de 4 anos.
Vieira, em desespero face a um campeonato e Taça perdidos no ano passado para um adversário intervencionado pela UEFA e quase impedido de contratar (o segundo campeonato do Porto em três anos), tratou de ir buscar Jesus ao Brasil e investir fortemente na equipa. Ganhou as eleições, como queria (essa foi a principal razão do investimento - não o desejo de sucesso desportivo), mas as coisas não estão a funcionar. De todo.
O futebol do Benfica é uma nulidade. Não atacamos nem defendemos em condições. O meio campo não controla o jogo. Taarabt é um jogador nulo: não marca golos, não faz assistências, não faz equilíbrios defensivos, não rouba bolas, só as perde. Com um meio campo a dois, é impensável ter um jogador destes a titular. Leva a bola para a frente? Mas quantas dessas investidas resultam em golo? E quantas resultam em perdas de bola, muitas vezes com a equipa em contra pé?
Jorge Jesus recebe milhões de euros por ano e os resultados apresentados são miseráveis. Mais: apresenta resultados negativos, pois já fez o Benfica perder a qualificação para a Liga dos Campeões, colocou o Benfica na porta de saída da Liga Europa, ao ficar atrás do Rangers na fase de grupos e ir em consequência jogar com o Arsenal, perdeu a Supertaça (com mais uma exibição miserável), está em 3° no campeonato, 4 pontos atrás de um Sporting de tostões; e como se não bastasse continua (aparentemente) a contratar jogadores, nomeadamente um central para uma posição para a qual há já 4 jogadores.
É uma vergonha. É até, de certa forma, uma imoralidade, em tempos de pandemia. Mas parece-me que pouca gente no Benfica hoje partilha destes sentimentos. Acho que estão sobretudo preocupados com o seu próprio futuro e os seus interesses pessoais.
O Benfica parece estar a regressar ao tempo "pré-JJ" de Vieira, um tempo de derrotas sucessivas, curiosamente com o mesmo treinador que há 16 anos levou a uma quebra (apenas parcial) da hegemonia do Porto.
Hegemonia que, com curtas interrupções, dura desde 1985: 22 campeonatos para o Porto contra 11 campeonatos para o Benfica, 12 Taças de Portugal contra 8 do Benfica, 19 Supertaças contra 7 do Benfica. Um domínio avassalador. A Supertaça é o troféu que melhor o reflecte, pois é mais ou menos contemporâneo da mudança de ciclo no futebol português. Curiosamente, a Taça da Liga que evidentemente também entra nesta contabilidade é uma competição em que o Benfica tem um grande domínio: 7 contra zero do Porto; esse domínio coincide com o período em que o Benfica quebrou temporariamente o domínio do Porto; mas não a vencemos há 4 anos (Sporting 2 vezes, Braga 1 e Moreirense 1 foram os clubes vencedores desde então). O que confirma que a aparente hegemonia do Benfica não o chegou a ser e que a cultura vencedora não foi suficientemente implementada.
O que a contabilidade global desde 1985 mostra é isto: 53 títulos para o Porto, 33 para o Benfica. Sem a Taça da Liga teríamos menos de metade dos títulos do Porto (e isto sem incluir competições europeias em que o Porto acrescenta mais 7 contra zero do Benfica no mesmo período...).
Ora voltando ao tema principal, deste período de 36 anos (desde 1984/85 até metade da época 2020/21), quase 20 são já da responsabilidade de Vieira (17 como presidente e 3 como director desportivo e principal figura atrás de Vilarinho).