A indignação e o "basta" I
A semana que passou foi a da indignação sportinguista.
Devo dizer que compreendo que as pessoas se sintam indignadas quando consideram que foram prejudicadas pela arbitragem e sobretudo quando sentem que a arbitragem espoliou a sua equipa de pontos, de modo que por vezes parece intencional. Muitas vezes aqui me indignei.
No entanto já compreendo menos quando as queixas esquecem favorecimentos e se dão num jogo em que a par de prejuízos houve benefícios claríssimos.
Objectivamente, no jogo que deu aso a tudo isto em Setúbal, o Sporting empatou 2-2 e os golos nascem de um penalty inexistente e de um lance em que a bola parece nem sequer ter entrado.
É verdade que há um golo mal anulado ao Sporting - mas quantos fora-de-jogo são mal assinalados todas as semanas? Também o segundo golo do Setúbal nasce de um penalty fantasma, um penalty à Porto.
Houve por isso equilíbrio nos erros - grosseiros sem dúvida - pelo que não me parece que se possa falar em "roubo".
Roubo é sim um árbitro marcar dois penalties inexistentes contra uma equipa, como aconteceu com Xistrema na época passada contra o Benfica, e este ano vejo também acontecer em jogos do meio da tabela para baixo (área em que o sistema anda a operar e em que temos que ter muito cuidado ou na próxima época voltamos a ter uma maioria esmagadora de clubes do Norte na 1ª Liga).
Obviamente que é ridículo dizer que se vai processar os árbitros e a Liga. As leis da UEFA prevêm a descida de divisão (até aos distritais, ou seja provas amadoras) dos clubes que recorram à justiça civil por questões relativas à justiça desportiva.
Quanto ao outras iniciativas igualmente ridículas em que o Sporting é useiro e vezeiro, sinceramente já nem sei o que dizer. Deixo a imagem, que fala por si, do "comício" do movimento "Basta".
O "caso" JJ vs. Sherwood
Houve depois a situação do desentendimento entre Jorge Jesus e Sherwood no jogo da Liga Europa, que já abordei. Claro que todos os nossos rivais queriam que o nosso treinador fosse punido (pudera!) e foram muito críticos do comportamento "gravíssimo" de JJ. Já disse o que penso sobre o assunto mas o "caso" está encerrado, para desgosto dos nossos rivais. Se falo dele é apenas para assinalar que Sherwood no último jogo, com o Arsenal, se envolveu com Sagna, a quem atirou a bola com força por duas vezes em direção ao peito, levando o jogador a ir-lhe pedir satisfações. Sherwood é pois reincidente em comportamentos provocatórios, neste caso meteu-se foi com a pessoa errada.
O clássico e o basta II
Vi o clássico entre o Sporting e o Porto com enorme gozo. Sabendo que independentemente do que acontecesse o Benfica sairia beneficiado deste jogo, pude vê-lo com toda a descontração.
Com toda a sinceridade, este jogo nada tem a ver com os jogos entre estes adversários e o Benfica.
Vi, comparativamente aos clássicos/derby, um jogo com pouquíssima intensidade, muito pouca tensão, muito pouca emoção.
Num Benfica-Sporting ou Benfica-Porto, cada lance é disputado como se fosse o último, cada bola como se fosse de golo, o portador da bola é sempre pressionado de muito perto, há poucos espaços e todos jogam nos limites. Já neste jogo, os defesas saiam com a bola sem marcação, os médios construíam quase sem pressão, jogava-se quase a passo, com poucas mudanças de velocidade, poucos duelos rasgados.
Foi, digo-o com toda a sinceridade e sem intenção de apoucar os adversários, um jogo fraco, sem dimensão, sem intensidade e com emoção apenas qb. Um jogo no qual em nenhum momento se sentiu um ambiente vibrante, frenético, um verdadeiro nervosismo e peso da responsabilidade de um jogo decisivo.
Destacaram-se Quaresma, que, como já aqui disse, está de facto noutro patamar, sendo hoje o melhor jogador do Porto e Slijmani pelo golo. Mas destacou-se também e sobretudo Proença! Expulsou um jogador do Porto! Isto é um momento que tem que ser assinalado, porque há um antes e um depois deste jogo. Não apenas Proença validou um golo precedido de fora de jogo, como não marcou um lance de possível penalty a favor do Porto, como ainda expulsou Fernando. Ou muito me engano ou Proença rapidamente deixará de ser "o melhor do mundo". Aliás, se ouvi bem, Manuel Queirós, o portista, disse algo nesse sentido no Domingo à noite.
Já ontem era Manuel Serrão, agora menos sorridente, que dizia: "fomos comidos por um fedelho", ao passo que Eduardo Barroso não escondia um sorriso maroto.
A realidade é que os vários "basta", comunicados e "indignações" parecem ter tido efeito.
As ameaças de morte - basta III
Há limites para tudo. Há muito que venho dizendo que tem que ser posta ordem no futebol. Têm que se prender pessoas que têm acções criminosas. Já houve mortes resultantes da violência que rodeia o futebol e nada foi feito. Eu espero sinceramente que não seja preciso morrer alguém menos anónimo para que de vez a polícia e a justiça intervenham. E para que isso aconteça será preciso alguns políticos deixarem de dar cobertura a alguns criminosos do futebol.
Aquilo que Bruno de Carvalho fez foi tentar pela via da pressão e da demagogia resolver, quer dizer atacar, dissolver, um sistema de poder que há anos beneficia o Porto. Em larga medida a sua estratégia é correcta (do ponto de vista dos interesses sportinguistas) e está a ser coroada de sucesso.
Há porém que ter muito cuidado pois alguns loucos não sabem onde estão os limites. Por exemplo, adeptos (sportinguistas, tudo o indica) já vandalizaram estabelecimentos do árbitro Manuel Mota.
Claro que a pressão sobre Proença resultou e claro que a pressão sobre Manuel Mota, com ameaças de morte não apenas a si mas à sua filha - algo de cobarde, criminoso e absolutamente inaceitável - também "resultaram". O Benfica sobre um penalty inexistente e vê uma expulsão indiscutível ser autenticamente perdoada a um jogador nacionalista.
Não pode valer tudo! Se a "indignação", real ou estratégica, do Sporting se compreende para acabar de vez com o sistema de poder no futebol português, ela assemelha-se perigosamente à estratégia adoptada há 30 anos por Pinto da Costa. Não se pode, para combater um mal, adoptar-se os seus métodos, ou tornamo-nos iguais a esse mal. Recordo aliás que esta estratégia sportinguista já tem antecedentes e que o gravíssimo e criminoso incêndio do Estádio da Luz - NUNCA CONDENADO PELOS DIRIGENTES SPORTINGUISTAS E MENOS AINDA PELOS ADEPTOS - se seguiu a um incendiar do ambiente com a história da jaula, promovido por dirigentes e comentadores sportinguistas.
Ainda bem que, apesar da tentação ter existido, o nosso clube nunca enveredou por esse caminho.
Mas para além disto, destas ameaças, aconteceu ontem ainda uma outra coisa inimaginavelmente grave: a serem verdadeiros alguns relatos, houve um ontem atentado contra Mário Figueiredo! Como se sabe, o Presidente da Liga tem combatido o monopólio da Sporttv/FC Porto, que tudo têm feito para o depor. A confirmar-se o atentado temos mais uma manifestação do ponto a que esta gente está disposta a ir para manter o status quo dos seus negócios futebolísticos.
Há que pôr ordem e parar com isto. Basta de "bastas", basta de sistema e basta de criminalidade! Isto é futebol, não é, não pode ser uma guerra mafiosa.