segunda-feira, 3 de março de 2014

Capitães, confiança e campeonatos

O Capitão dos capitães


Coluna deixou-nos e repousa agora no outro mundo. Foi um grande líder e capitão, que estabeleceu grande parte dos elevados padrões que caracterizaram durante décadas a função de um capitão do Benfica. Ganhou tudo o que havia, incluindo duas taças dos Campeões Europeus, caracterizando-se pela sua calma e pela sua visão de jogo. Depois de jogador fundamental no Benfica e na selecção nacional, nomeadamente na equipa de 66, foi seleccionador e dirigente federativo de Moçambique, a sua outra terra natal, de onde era oriunda sua Mãe. Com o minuto de silêncio no Restelo (respeitado sem palmas, o que nos dias que correm é uma raridade), Estádio também cheio de história, onde jogou um outro grande moçambicano, Matateu, cumpriram-se dignadamente as cerimónias em memória de Coluna. Que descanse em Paz.

"Confiança a mais"


O Benfica tem feito (quase) tudo bem e merece evidentemente elogios (tanto mais que aqui não escrevia desde o jogo na Grécia). Vencemos o Guimarães, voltámos a vencer os gregos por uns concludentes 3-0 e vencemos ontem no Restelo. 
Apesar disso e como queremos que o Benfica vença sempre e sobretudo saia largamente vencedor no fim do campeonato (se possível com o Campeonato e mais um ou dois títulos), convirá deixar algumas notas de preocupação que podem servir de aviso.
Jorge Jesus falou nos perigos de um excesso de confiança e isso poderá estar a acontecer. Depois de marcar, quer contra o Guimarães, quer contra o Belenenses, a equipa abrandou, a meu ver demasiado e expôs-se a um golpe de sorte do adversário.
Ontem tivemos muita sorte pois esse golpe de certa forma existiu e foi uma decisão polémica que evitou que o Belenenses empatasse já na segunda metade da 2ª parte. Digo polémica e não errada porque penso que se trata de uma questão de interpretação. O jogador em fora de jogo está a obstruir (pelo menos) o campo de visão do guarda redes e a bola vai exactamente para onde ele se encontra. Nada garante que, não estando ali o jogador, Oblak não pudesse avançar para antecipar melhor o desenlace da jogada. Não é por isso claro que o jogador não interfira na jogada. 
De qualquer modo o ponto aqui é que o Benfica deveria ser capaz de resolver estes jogos marcando mais um golo para se colocar a salvo de qualquer eventualidade. As equipas que hoje jogam contra o Benfica marcam praticamente todos os livres à frente da linha de meio campo directamente para a área, numa esperança que surja um golo quase do nada.
Claro que isto demonstra algum desespero e descrença em conseguir chegar à nossa área através de jogo corrido, mas faz-nos lembrar de que no futebol um golo pode acontecer a qualquer momento, de um erro, um lance de inspiração ou um completo bambúrrio. 

Admite-se que a equipa possa estar a fazer gestão de esforço, embora neste ano não existam para já razões aparentes para muito cansaço. Tem havido - e bem - rotatividade e ainda não jogámos assim tantos jogos. Mais preocupante será se houver jogadores que estejam já fatigados e a precisar de algum repouso porque agora é que a época vai começar a "doer" (e disso falaremos adiante). Vejo alguns sinais desses em Enzo Peres, ao passo que Fedja e Rodrigo também não me parecem no melhor momento.

Campeonato e outras competições


Como aqui tenho enfatizado vezes sem conta, o campeonato é a prioridade absoluta da época, à qual temos que submeter tudo o resto.

Isso significa que a gestão dos jogos tem que ser feita para que os jogadores que são primeira escolha possam estar em condição física ideal para os jogos do campeonato, o que por sua vez implica que alguns deles terão que ser poupados nos jogos europeus e na Taça da Liga. A ideia de que "hoje em dia" os jogadores jogam sem problemas duas vezes por semana e que "basta olhar para Inglaterra" é errada porque: 1º em Inglaterra há rotatividade, aliás há mesmo um hábito enraizado de rotatividade; 2º o rendimento das equipas na "ressaca" dos jogos europeus importantes, incluindo as equipas de topo, é invariavelmente inferior ao habitual e muitas das vezes resulta mesmo em derrotas. 

Nesta medida, a eliminatória com o Tottenham deve, pelas razões aditadas e pelo facto do campeonato ainda não estar resolvido, obedecer a esta lógica, dando-se pois oportunidade aos que menos têm jogado. 

A vantagem de que o Benfica dispõe é importante mas ainda não decisiva. 5 pontos é uma vantagem interessante mas que não permite quaisquer deslizes (como os últimos dois anos demonstraram). Para que ela se torne numa vantagem mais folgada e possivelmente já decisiva, o Benfica precisa de vencer os próximos jogos, começando já no fim de semana com o Estoril e depois com o Nacional. (O calendário desta fase encontra-se aqui). Vencendo esses jogos, o Benfica beneficiará da perda de pontos de Porto ou Sporting, ou ambos, no clássico da 23ª jornada.
O campeonato deve-se pensar jogo a jogo mas esta época podemos ambicionar assegurá-lo ainda algumas jornadas antes do fim. Precisamos para isso de continuar a vencer, como até aqui. Se o Benfica às vitórias desejadas sobre Estoril (que seria ademais importante para ultrapassar definitivamente o trauma da última época que começou a desenhar-se precisamente no jogo contra o Estoril na Luz) e Nacional (onde também perdemos pontos e Proença expulsou Cardozo e Matic no jogo da época passada), juntar vitórias nos dois jogos seguintes (recepção à Académica e visita a Braga) não tenho qualquer dúvida de que logo aí ficaremos virtuais campeões. 
O meu ponto era porém sobretudo este: se no fim de Março, após defrontarmos o Braga, tivermos uma vantagem mais ampla sobre o segundo classificado, que deverá ser o Sporting, então podemos dar mais atenção a outras competições (caso ainda nelas estejamos) designadamente a Liga Europa. 
Estamos a chegar a um momento muito importante da época, com as jornadas que se avizinham, potencialmente decisivas, e a eliminatória com o Tottenham que será muito difícil, sobretudo dada a necessidade de salvaguardar alguns dos principais jogadores, e ainda a meia-final da Taça de Portugal, a duas mãos com o Porto, isto para já não falar da Taça da Liga, também disputada no dragão.

Outras efemérides 


Luisão atingiu duas marcas impressionantes: 100 jogos europeus e 400 jogos em todas as competições pelo Benfica. São números impressionantes de um jogador fundamental para o Benfica esta época (como em muitas anteriores) e que pela sua presença tem contribuído para a estabilidade  e para a recuperação da identidade do Benfica. Parabéns ao nosso capitão.

Jorge Jesus também está de parabéns por ter feito o jogo 250 pelo Benfica, tornando-se o segundo treinador com mais jogos e o segundo com mais vitórias. Faltam-lhe 20 jogos e 18 vitórias para atingir o primeiro lugar.

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