quarta-feira, 26 de março de 2014

A importância de um treinador



Continua a penosa época do Manchester United.

Depois de uma derrota clara com o Liverpool e de uma vitória com sorte sobre o Olympiakos, o United voltou ao "normal" desta época: uma equipa que joga com mentalidade de pequeno, sem fio de jogo, sem plano de jogo, sem organização sobre o terreno, com vários jogadores fora das suas posições. Em suma, um caos táctico. 

A vitória de ontem do seu grande rival City no seu campo (0-3) foi mais uma jornada duríssima para os adeptos do clube (para além de, mas isso é outro assunto, um mau resultado para o Chelsea de Mourinho). O resultado, que se começou a definir logo aos 43 segundos (!), poderia aliás ter sido muito mais expressivo se o City tivesse forçado as coisas. O mais espantoso (e desolador para os adeptos) é que em nenhum momento o United teve o domínio do jogo. Pelo contrário, mesmo a perder desde praticamente o apito inicial, a equipa da casa continuou a aceitar ser dominada e jogar em contra-ataque! É a mentalidade de um treinador de equipa pequena, totalmente desajustada ao Manchester United.

Para quem muitas vezes minoriza o papel dos treinadores, atribuindo o sucesso ou fracasso quase por inteiro à qualidade dos jogadores que formam os plantéis, está aqui um exemplo perfeito. Este United tem precisamente os mesmos jogadores da época passada, mais Felaini, um bom centro campista belga. No entanto, ao passo que na época passada foi campeão, este ano nem às competições europeias irá. A equipa desaprendeu completamente de jogar à bola.

A proverbial paciência dos ingleses para com os treinadores, no sentido de lhes dar tempo e condições de estabilidade, parece estar a esgotar-se. O problema não me parece ser o tempo, mas sim Moyes não saber o que está a fazer. A ideia de uma reconstrução do plantel parece-me ainda ser muito perigosa para o United. Estas "revoluções" não costumam dar o melhor resultado. O clube arrisca-se a destruir o pouco que resta da estrutura ganhadora do passado, em nome de uma pura incógnita. Se é verdade que o plantel precisa de uma certa renovação, Moyes não parece ser o homem ideal para a conduzir pois ainda não demonstrou competências básicas quanto mais para conduzir tarefa de tão elevado grau de responsabilidade. 

A incapacidade de Moyes é aliás tão evidente, tão flagrante que há até quem mantenha que Ferguson (senhor de um enorme ego) o escolheu precisamente para que falhasse e que o contraste com o seu legado fosse bem visível. A escolha de Mourinho teria sido a mais lógica e acertada, até porque o treinador português tinha admitido (ao arrepio do que tem sido a sua carreira) "assentar" e vislumbrar para o futuro uma estadia mais prolongada num clube, assim "piscando o olho" ao lugar. 

De acordo com a imprensa, os adeptos do United terão ontem manifestado a sua clara insatisfação, quer com Moyes quer com o próprio Ferguson. Cada vez menos parecem existir condições para a continuidade do escocês. Aliás o desastre mais que provável, eu diria mesmo inevitável, frente ao colosso de Munique, em eliminatória que se disputa nas próximas duas semanas, tornará na minha perspectiva o ambiente ainda mais insustentável.

A situação em Londres não é também a melhor. O maior clube da capital vai terminar mais uma época sem ganhar nada a não ser algumas muito cruéis lições futebolísticas. Wenger sairá, tudo o indica, de Inglaterra sem honra nem glória. Depois de sustentar polémicas e de manter uma postura muitas vezes arrogante, foi humilhado, passado a ferro, pelo Chelsea de Mourinho, que alcançou a sua maior goleada até ao momento sob o comando do treinador português.

"Levar" 6 a zero de um rival, já depois de derrotas também humilhantes com Liverpool e City, é algo que custa muito a engolir a um adepto. Wenger está a atingir o seu prazo de validade e já não parece ter ideias nem capacidade de adaptação à realidade do futebol moderno para poder ganhar seja o que for. As suas equipas denotam uma falta de agressividade que é gritante e a sua incapacidade em alterar seja o que for a partir do banco é por demais evidente. O fracasso de Wenger está-se a tornar cada vez mais um espectáculo público a que começa a ser penoso assistir. Ontem voltou a marcar passo (2-2 em casa contra o Cardiff que está em zona de despromoção) e pode ainda dar-se por satisfeito por uma escandalosa decisão do árbitro que acabou o jogo quando um jogador da equipa visitante corria isolado para a baliza do Arsenal.

Tal como defendi desde o início da Liga Inglesa, o City continua a ser o principal favorito à vitória. Tem o melhor plantel e tem um bom treinador. Mourinho conseguiu o que muitos consideravam impossível, que foi a liderança destacada (embora com maior número de jogos) mas a derrota com o Aston Villa poderá ter-lhe sido fatal. Aquilo que eu não previ e em relação ao que, com muita satisfação, dou a mão à palmatória, é a "candidatura" do Liverpool ao título. Sempre defendi que o Liverpool não tinha consistência para se manter na corrida até ao fim.



Felizmente porém - pois o seu futebol é o mais espectacular, o mais atacante e o mais entusiasmante - está a conseguir manter-se nos primeiros lugares e pode ainda aspirar a vencer a Liga, até porque receberá os outros dois candidatos. Mais uma vez, o treinador faz toda a diferença pois foi capaz de colocar os grandes jogadores que o Liverpool efectivamente tem a jogar como equipa e retirando de cada um deles o máximo rendimento.  

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