Se a história não apenas desta esta época fosse um enredo de ficção poderíamos considera-lo exagerado ou implausível.
Tudo começou com o "roubo" de Jorge Jesus, algo que pareceu quase surreal.
No Benfica era normal a apreensão: antes de Jorge Jesus existia apenas o título de Trapattoni entre o presente e o abismo aberto por Artur Jorge e consumado nos anos de Vale e Azevedo. Temia-se uma nova seca de títulos e o rápido encerrar de um ciclo vitorioso mal este se iniciara.
Tudo se parecia encaminhar para um ano de conquistas em Alvalade e um ano de depressão no Benfica. O "atraso" no anúncio de Rui Vitória e o pouco entusiasmo que o seu nome motivava - uma espécie de anti-JJ em termos de personalidade e carisma - contribuiu para mais incerteza e alguma divisão, com alguns adeptos, em que me incluí, a desejarem que a escolha recaísse antes sobre Marco Silva (escorraçado do Sporting depois de um bom trabalho que culminara na conquista de uma Taça de Portugal).
Na pré-época acumulámos derrota após derrota e não se vislumbrava organização na equipa nem ideias claras. A Supertaça alimentou a euforia veraneante dos sportinguistas e gerou sérias dúvidas entre os benfiquistas acerca das capacidades de Rui Vitória em conduzir o navio benfiquista: não tanto pela derrota mas pela sua aparente cedência aos mind games de JJ. A sua frase de que os jogadores do Benfica tinham entrado em campo com "receio" não foi feliz.
A "estratégia de comunicação" (como agora se diz) do Benfica não era a melhor, pois continuava a referir-se quase diariamente a JJ, ora queixando-se de que ele "traíra" o Benfica, ora afirmando que afinal fora o Benfica que optara por seguir outro rumo estratégico de aposta na formação.
O campeonato até começou bem, com uma vitória na Luz de goleada sobre o Estoril, mas logo na primeira deslocação veio a primeira derrota. E percebia-se que as coisas não estavam bem. À 5ª jornada veio a segunda derrota do campeonato (e terceira da época). À 8ª jornada veio o descalabro, com a derrota em casa por 0-3 com o Sporting. O Benfica ficava a 8 pontos do Sporting (com um jogo em atraso que viríamos a empatar) e a 6 do Porto. Estávamos em outubro.
Menos de um mês depois éramos eliminados da Taça perdendo mais uma vez com o Sporting, embora desta vez tenhamos pela primeira vez estado em vantagem (com um golo de Mitroglou a abrir), num jogo com casos de arbitragem em nosso desfavor.
Menos de um mês depois éramos eliminados da Taça perdendo mais uma vez com o Sporting, embora desta vez tenhamos pela primeira vez estado em vantagem (com um golo de Mitroglou a abrir), num jogo com casos de arbitragem em nosso desfavor.
Nessa altura poucos acreditariam no tri, não apenas pelos resultados e a desvantagem pontual mas pela manifesta incapacidade da equipa em se bater com os principais opositores. Mesmo os que haviam defendido a contratação de Rui Vitória já mesmo no tempo de JJ, consideravam agora que o treinador do Benfica não tinha condições para ficar. A sua permanência parecia por um fio.
Houve alguns factores que permitiram porém que a estabilidade se tivesse mantido e que o campeonato tivesse tido este desfecho. Em primeiro lugar, a boa campanha na Liga dos Campeões e o lançamento de jovens como Nélson ou Gonçalo Guedes (na altura Renato ainda não entrara na equipa) foi importante porque mostrou que havia trabalho, apesar de internamente os resultados estarem a ser maus. O segundo foi a vitória em Braga, dias após a eliminação da Taça. Era um teste de fogo ao qual a equipa sobreviveu. O terceiro e mais central de todos foi o apoio inequívoco de Luis Filipe Vieira ao treinador, deixando claro que o mesmo continuaria acontecesse o que acontecesse e ao mesmo tempo retirando pressão com a célebre expressão das "dores de crescimento". Foram duas entrevistas dadas pelo presidente em momentos difíceis que me parece que foram cirúrgicas, para além da presença na primeira fila nos momentos mais difíceis.
O presidente demonstrou visão, da mesma forma que os adeptos demonstraram paixão e crença. Os cânticos aquando do 0-3 na Luz foram efectivamente importantes, tal como a crença que o cântico "dá-me o 35" sempre manteve viva. Faço aliás mea culpa por não ter apreciado devidamente aquele momento aquando da recepção ao Sporting. Admito que estava demasiado irritado com as derrotas com o Sporting, o que me impediu de ver o que a maioria logo reconheceu. Essa reacção deu o mote para o que viria a ser época, embora outras coisas estivessem ainda para acontecer.
Houve alguns factores que permitiram porém que a estabilidade se tivesse mantido e que o campeonato tivesse tido este desfecho. Em primeiro lugar, a boa campanha na Liga dos Campeões e o lançamento de jovens como Nélson ou Gonçalo Guedes (na altura Renato ainda não entrara na equipa) foi importante porque mostrou que havia trabalho, apesar de internamente os resultados estarem a ser maus. O segundo foi a vitória em Braga, dias após a eliminação da Taça. Era um teste de fogo ao qual a equipa sobreviveu. O terceiro e mais central de todos foi o apoio inequívoco de Luis Filipe Vieira ao treinador, deixando claro que o mesmo continuaria acontecesse o que acontecesse e ao mesmo tempo retirando pressão com a célebre expressão das "dores de crescimento". Foram duas entrevistas dadas pelo presidente em momentos difíceis que me parece que foram cirúrgicas, para além da presença na primeira fila nos momentos mais difíceis.
O presidente demonstrou visão, da mesma forma que os adeptos demonstraram paixão e crença. Os cânticos aquando do 0-3 na Luz foram efectivamente importantes, tal como a crença que o cântico "dá-me o 35" sempre manteve viva. Faço aliás mea culpa por não ter apreciado devidamente aquele momento aquando da recepção ao Sporting. Admito que estava demasiado irritado com as derrotas com o Sporting, o que me impediu de ver o que a maioria logo reconheceu. Essa reacção deu o mote para o que viria a ser época, embora outras coisas estivessem ainda para acontecer.
A verdade é que o Benfica continuava a jogar pouco e a não ter solidez no seu jogo. Mas o momento de união total viria a 6 de janeiro, dois anos após a morte de Eusébio. JJ lembrou-se de dizer que não qualificava como treinador. A partir daí todos nos unimos e foi muito simples: exceptuando o jogo com o Porto, vencemos todos os jogos até ao fim, muitos de goleada, com enormes exibições e futebol espectacular nuns casos e muita entrega, sacrifício e crença noutros. Rapidamente ultrapassámos o Porto (que pouco antes tinha uma vantagem de 5 pontos sobre nós) e após o jogo de Alvalade - aquele que verdadeiramente foi decisivo - passámos para a liderança para não mais a perder.
E assim conquistámos o campeonato e nos sagrámos TRICAMPEÕES.
Parecia impossível. Poucos acreditavam. Mas a partir de dada altura, dados os ataques infundados e as calúnias constantes, tornou-se uma questão de honra conquistar este campeonato.
Este campeonato foi uma lição, uma enorme lição.
Rui Vitória, de quem quase todos desconfiámos a dada altura, que porém nunca se desconjuntou, que todos passámos a apoiar a partir do momento em que foi infamemente atacado e desconsiderado, mostrou uma liderança extraordinária: firme, tranquila e sempre focada nos objectivos. Nunca abdicou de nenhuma competição e sempre compreendeu a responsabilidade de ser treinador do Benfica. Isto para além de ter mantido uma postura de cavalheiro ao longo dos mais difíceis e conturbados momentos. O prémio que alcançou é de absoluta justiça e totalmente inquestionável. Sem o apoio do presidente tal teria sido impossível, pelo que o mérito da liderança deste merece igualmente ser destacado.
Este campeonato tem uma história incrível e entra directamente para os momentos importantes do palmarés do clube e da vivência benfiquista. Os meus sinceros parabéns a todos os seus fautores. Obrigado por esta enorme alegria.
E assim conquistámos o campeonato e nos sagrámos TRICAMPEÕES.
Parecia impossível. Poucos acreditavam. Mas a partir de dada altura, dados os ataques infundados e as calúnias constantes, tornou-se uma questão de honra conquistar este campeonato.
Este campeonato foi uma lição, uma enorme lição.
Rui Vitória, de quem quase todos desconfiámos a dada altura, que porém nunca se desconjuntou, que todos passámos a apoiar a partir do momento em que foi infamemente atacado e desconsiderado, mostrou uma liderança extraordinária: firme, tranquila e sempre focada nos objectivos. Nunca abdicou de nenhuma competição e sempre compreendeu a responsabilidade de ser treinador do Benfica. Isto para além de ter mantido uma postura de cavalheiro ao longo dos mais difíceis e conturbados momentos. O prémio que alcançou é de absoluta justiça e totalmente inquestionável. Sem o apoio do presidente tal teria sido impossível, pelo que o mérito da liderança deste merece igualmente ser destacado.
Este campeonato tem uma história incrível e entra directamente para os momentos importantes do palmarés do clube e da vivência benfiquista. Os meus sinceros parabéns a todos os seus fautores. Obrigado por esta enorme alegria.