É inacreditável.
O Benfica pura e simplesmente perde todas as finais europeias em que se vê envolvido.
Béla Guttmann tinha aparentemente razão e a sua previsão sombria (que muitos consideram uma maldição) já nem se limita aos séniores: agora até as Youth Leagues de júniores estão incluídas.
Para quem não sabe, ou não se lembra, o ex-treinador húngaro do Benfica, bicampeão europeu (1961 e 1962), saiu em litígio com a direcção e terá dito algo como: "nem daqui a 100 anos voltam a ser campeões europeus" ou "sem mim, nem daqui a 100 anos o Benfica conquistará uma Taça continental".
É absolutamente inacreditável. São 11 (onze) as finais perdidas! Seguidas!!!
O Benfica ganhou uma Taça Latina (1950) e as duas Taças dos Campeões referidas e desde então perdeu TODAS as finais em que se viu envolvido. Oito em séniores e agora três em júniores. Seja por uma razão, seja por outra, o desfecho é sempre o mesmo. Praticamente nem vale a pena ver os jogos.
Ontem foi mais um exemplo. O Benfica marca um auto-golo, falha um penalty e acaba o jogo a atirar bolas à barra, com o Real Madrid completamente remetido à sua defesa e a perder tempo.
Nas finais europeias do Benfica a lei de Murphy tem 100% de taxa de aplicação. Já perdemos por todas as razões imaginárias. Perdemos por pouca sorte, por arbitragens miseráveis, com golos nos últimos segundos...
No Benfica as finais são para se perder.
A culpa é de Gutman? A verdade é que explicações individuais para cada uma das derrotas ou falar simplesmente em "coincidências" neste momento já não é convincente.
O Porto ontem fez uma publicação provocadora que recordava a sua vitória na Youth League (na única final em que participou). Mas olhemos para o historial do Porto na Europa: 5 finais europeias ... 4 vitórias. Se contabilizarmos a Youth League são 5 em 6. Contra factos não há argumentos. O Porto vai às finais para ganhar, o Benfica vai para perder.
Será psicológico? Algo mais?
Em termos práticos, só vale a pena concentrarmo-nos no que podemos controlar.
E isso é simplesmente a nossa atitude e comportamento. Penso que o Benfica não está a perder finais por falta de empenho, vontade de vencer ou sequer falta de qualidade. Muito pelo contrário.
Não se pode falar nunca de vontade em excesso mas pode-se falar de ansiedade, de uma carga emocional exagerada, um certo dramatismo na forma como estas competições são encaradas.
Ainda ontem Hélder Conduto passou o jogo a dizer coisas como "acredita Benfica".
Encaram-se estes jogos como se fossem algo de transcendente, algo de sobrenatural. Parece que atraímos já a má sorte e o desfecho negativo com a ansiedade que projectamos. E depois as coisas acontecem mesmo: os penalties não assinalados pelo árbitro (e os falhados pelos nossos jogadores), os golos nas primeiras ou únicas oportunidades dos adversários, os golos nos últimos minutos... É um pouco como nos jogos contra o Porto. Parece que entramos já a perder.
Enfim, tudo isto são reflexões que não se pretendem de carácter científico. Muito menos estou a crucificar atletas (ainda ontem os rapazes tudo tentaram - faltou mais uma vez a tal "sorte"). Estas reflexões são apenas uma tentativa de racionalização de algo que é de facto inexplicável e sem comparação no mundo do futebol.
PS - Temos ainda o case study do Sevilha: 6 finais da Liga Europa, 6 vitórias. Será também coincidência?