Logo a seguir ao incidente escrevi que não compreendia que, num jogo a feijões, Luisão (um atleta que muito prezo e cuja carreira se tem sempre pautado por uma grande correcção) tivesse aquela reacção intempestiva, arriscando um castigo.
Na altura, tomei porém como boas as "informações" da imprensa (nomeadamente "A Bola" e o "Correio da Manhã"), de acordo com a qual Luisão com toda a probabilidade não seria castigado, uma vez que não teria havido relatório do jogo e que a Federação Alemã declinava qualquer prosseguimento do caso.
Acontece que não é assim. Acontece que a FIFA já pediu à Federação Portuguesa para acompanhar o caso e que Luisão arrisca realmente um castigo que o impeça de actuar, por um número de jogos a definir, na Liga dos Campeões e mesmo na Liga Portuguesa.
Esta situação é lamentável a todos os títulos e - tenho que insistir - foi mal gerida pelos dirigentes do Benfica. Isto nada tem que ver com criar divisionismos ou fazer crítica fácil - tem que ver com a exigência, que todos os benfiquistas devem colocar aos dirigentes que comandam os destinos do Benfica, de que todas as situações sejam resolvidas com o maior rigor e profissionalismo.
Onde errámos?
Na forma como, desde o início, não foi estabelecido um diálogo com o clube alemão e, através deste, com o próprio árbitro, no sentido de uma situação desagradável não se tornar num problema grave.
Os Benfiquistas têm que perceber que criticar o árbitro - e eu já o fiz - não resolve o problema. Se é compreensível que os adeptos o façam, já não é admissível que essa possa ser a estratégia da direcção. É verdade que o comportamento do árbitro foi teatral, lamentável. Mas não é menos verdade que, independentemente disso, estamos perante um cenário muito complicado e que a maior preocupação tem que ser resolvê-lo.
Neste momento, as consequências negativas deste caso são a meu ver as seguintes:
- possibilidade de Luisão ser castigado e estar um número indefinido de jogos afastado da competição;
- desestabilização da equipa a dias do início do campeonato;
- péssima publicidade para a imagem do Benfica, nacional e internacionalmente;
- possibilidade dos árbitros aproveitarem este incidente para nos penalizarem, ainda mais, disciplinarmente;
- o Benfica ficar dependente da actuação do Conselho de Disciplina da Federação.
Este último ponto merece ser sublinhado: depois das decisões altamente lesivas que este órgão vem tomando contra o Benfica, ficamos completamente nas suas mãos, de alguma forma dependentes da sua boa (ou má) vontade na apreciação do caso. De igual modo, o Benfica fica numa posição de menoridade perante a própria Federação, justamente quando precisávamos de a afrontar no sentido dela ser mais isenta e imparcial na direcção do futebol português.
Ou seja, este caso consegue fazer quase o pleno do que não precisávamos neste início de época. E mais uma vez faltou liderança. Eu compreendo que Jorge Jesus queira fomentar a competitividade desde o início mas será que não há capacidade emocional para perceber que estamos perante um jogo a feijões? O Real perdeu 5-1 com o Benfica e não é por isso que fará uma época melhor ou pior este ano. Portugal perdeu com a Turquia antes do Europeu e não foi por isso que deixou de fazer um Europeu extraordinário.
Feito o mal, impunha-se fazer o controlo dos estragos, para o que era necessário, sem ruído e com muita calma, contar com a boa vontade dos alemães, a começar pelo Fortuna de Dusseldorf. Afinal de contas, presume-se que, para o Benfica alí ir disputar o jogo de apresentação, existiria uma boa relação entre as duas direcções. Afinal verifica-se que o Dusseldorf faz declarações inflamadas, exige castigos e a devolução da verba que pagara ao Benfica. Esteve bem? A meu ver, não, esteve muito mal. Mas é à direcção do Benfica e não à do Dusseldorf que os Benfiquistas têm o direito de exigir a defesa dos seus interesses.
Mais uma vez digo, é um caso caricato, insólito e desnecessário. Ameaça agora tornar-se (muito) lesivo dos interesses do Benfica. Não aprendemos.
Adenda: o Presidente Luis Filipe Vieira esteve hoje na Alemanha e anunciou, com o seu homólogo do Dusseldorf, um "acordo" que esclarece os mal entendidos. É o passo certo mas parece-me que ele surge tardiamente, pois neste momento o assunto não está nas mãos do clube alemão.
Não aprendemos mesmo. excelente analise Frank
ResponderEliminar