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terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Jesus e Mourinho - vida de treinador

Quando criticamos Jorge Jesus - e todos nós em diferentes momentos já o fizemos, com mais ou menos legitimidade mas certamente convictos das nossas opiniões - há duas coisas que devemos ter em mente:

1) nos últimos 20 anos (entre as épocas 1992-1993 e 2011-2012), o Benfica venceu três Campeonatos (1994, 2005 e 2010), três Taças de Portugal (1993, 1996 e 2004), quatro Taças da Liga (2009, 2010, 2011 e 2012) e uma Supertaça (2005). São 6 títulos "maiores" e 5 títulos "menores" num total de 11. Em termos de "maiores", isto dá um a cada 3,333 anos. Em termos de menores, dá um em cada 4. Em três épocas à frente do Benfica, Jorge Jesus conquistou 1 título "maior" e 3 "menores".

2) Qual seria a alternativa a Jesus? Carlos Azenha? Leonardo Jardim? Rui Vitória? Ou alguém acha que o Benfica vai contratar Lippi, Ancelotti ou Guardiola? Ou até, quem sabe, o próprio Mourinho? Mas há ainda outro aspecto a considerar: é que mesmo estes que não temos possibilidade de contratar, todos os treinadores sem qualquer excepção, têm lacunas e limitações.
Atentemos por exemplo ao caso de Mourinho. Com um currúculo imaculado em termos de conquistas, campeão em Portugal, Inglaterra e Itália, vencedor da Taça UEFA e duas vezes da Liga dos Campeões, Mourinho está a ter vida muito difícil em Espanha. É contestado pela imprensa, por vários adeptos e até alguns jogadores. Mas a questão não é tanto sobre se ele é ou não amado. A questão prende-se sobre a avaliação da sua competência. E mesmo aí, onde o currículo e a reputação o deviam colocar a salvo de qualquer suspeita, a verdade é que há críticas às suas opções tácticas. Acusa-se o Real de não ter dinâmica, dos sectores estarem desligados. A equipa está arredada da luta pelo título espanhol e uma possível eliminação prematura da Liga dos Campeões aos pés do Manchester não deixaria de tornar a posição de Mourinho muito difícil. Não há portanto génios imbatíveis. Eu recordo mesmo que Mourinho viu o seu Real ser derrotado precisamente por 5-0 em Nou Camp. E depois de ter voltado a ser campeão e parecer ir readquirir para o Real a primazia do futebol espanhol, deu dois passos atrás e está na situação atrás descrita. Existem similaridades entre a situação em Espanha e em Portugal. Também lá existe um clube do Norte que reclama representar uma "nação" e que se queixa do "centralismo" da capital, apesar de ser super protegido pelos árbitros e pela imprensa. Aí não há diferenças. Mourinho ensaiou a estratégia de denúncia e combate a esta situação mas não é muito acompanhado pelas suas "hostes". E, convenhamos, embora o Barcelona seja protegido, o Real não é assim tão prejudicado, ao contrário do que acontece com o Benfica em Portugal.
Mourinho, como Jesus, como qualquer treinador, têm qualidades e têm defeitos. Mourinho, como Jesus, como qualquer treinador, trabalham com o que têm, com os jogadores que constituem o plantel e com as outras contingências que as circunstâncias ditam. Mourinho, como Jesus, como qualquer treinador, são julgados pelos resultados. Num Benfica como num Real Madrid, cada um à sua escala, o grau de exigência é elevadíssimo e a convivência com o insucesso é muito difícil de gerir. A Mourinho "resta-lhe" ser Campeão Europeu, a Jesus "exige-se" ser Campeão Nacional. Pela minha parte acredito que ambos o podem alcançar mas espero sobretudo que o nosso treinador consiga conquistar os objectivos da época. O que não pode é haver desunião, desânimo, desistências pelo caminho. Essa é a fórmula certa e segura para o insucesso. Para o confirmar basta olhar para o que se passa em Alvalade.
A época será longa e as armadilhas estarão espalhadas pelo caminho. A rota para o sucesso é estreita e só o melhor Benfica se conseguirá manter nela. Veremos o que nos trás já a arbitragem de quinta-feira. Todos os cuidados são poucos. Mais uma vez digo: só o melhor Benfica ganhará o próximo jogo. Ele disputa-se Coimbra e vale a passagem às meias-finais da Taça. É para ganhar.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Caso Luisão III

Logo a seguir ao incidente escrevi que não compreendia que, num jogo a feijões, Luisão (um atleta que muito prezo e cuja carreira se tem sempre pautado por uma grande correcção) tivesse aquela reacção intempestiva, arriscando um castigo.

Na altura, tomei porém como boas as "informações" da imprensa (nomeadamente "A Bola" e o "Correio da Manhã"), de acordo com a qual Luisão com toda a probabilidade não seria castigado, uma vez que não teria havido relatório do jogo e que a Federação Alemã declinava qualquer prosseguimento do caso.

Acontece que não é assim. Acontece que a FIFA já pediu à Federação Portuguesa para acompanhar o caso e que Luisão arrisca realmente um castigo que o impeça de actuar, por um número de jogos a definir, na Liga dos Campeões e mesmo na Liga Portuguesa.

Esta situação é lamentável a todos os títulos e - tenho que insistir - foi mal gerida pelos dirigentes do Benfica. Isto nada tem que ver com criar divisionismos ou fazer crítica fácil - tem que ver com a exigência, que todos os benfiquistas devem colocar aos dirigentes que comandam os destinos do Benfica, de que todas as situações sejam resolvidas com o maior rigor e profissionalismo.

Onde errámos?

Na forma como, desde o início, não foi estabelecido um diálogo com o clube alemão e, através deste, com o próprio árbitro, no sentido de uma situação desagradável não se tornar num problema grave.
Os Benfiquistas têm que perceber que criticar o árbitro - e eu já o fiz - não resolve o problema. Se é compreensível que os adeptos o façam, já não é admissível que essa possa ser a estratégia da direcção. É verdade que o comportamento do árbitro foi teatral, lamentável. Mas não é menos verdade que, independentemente disso, estamos perante um cenário muito complicado e que a maior preocupação tem que ser resolvê-lo.

Neste momento, as consequências negativas deste caso são a meu ver as seguintes:

- possibilidade de Luisão ser castigado e estar um número indefinido de jogos afastado da competição;
- desestabilização da equipa a dias do início do campeonato;
- péssima publicidade para a imagem do Benfica, nacional e internacionalmente;
- possibilidade dos árbitros aproveitarem este incidente para nos penalizarem, ainda mais, disciplinarmente;
- o Benfica ficar dependente da actuação do Conselho de Disciplina da Federação.

Este último ponto merece ser sublinhado: depois das decisões altamente lesivas que este órgão vem tomando contra o Benfica, ficamos completamente nas suas mãos, de alguma forma dependentes da sua boa (ou má) vontade na apreciação do caso. De igual modo, o Benfica fica numa posição de menoridade perante a própria Federação, justamente quando precisávamos de a afrontar no sentido dela ser mais isenta e imparcial na direcção do futebol português.

Ou seja, este caso consegue fazer quase o pleno do que não precisávamos neste início de época. E mais uma vez faltou liderança. Eu compreendo que Jorge Jesus queira fomentar a competitividade desde o início mas será que não há capacidade emocional para perceber que estamos perante um jogo a feijões? O Real perdeu 5-1 com o Benfica e não é por isso que fará uma época melhor ou pior este ano. Portugal perdeu com a Turquia antes do Europeu e não foi por isso que deixou de fazer um Europeu extraordinário.

Feito o mal, impunha-se fazer o controlo dos estragos, para o que era necessário, sem ruído e com muita calma, contar com a boa vontade dos alemães, a começar pelo Fortuna de Dusseldorf. Afinal de contas, presume-se que, para o Benfica alí ir disputar o jogo de apresentação, existiria uma boa relação entre as duas direcções. Afinal verifica-se que o Dusseldorf faz declarações inflamadas, exige castigos e a devolução da verba que pagara ao Benfica. Esteve bem? A meu ver, não, esteve muito mal. Mas é à direcção do Benfica e não à do Dusseldorf que os Benfiquistas têm o direito de exigir a defesa dos seus interesses.

Mais uma vez digo, é um caso caricato, insólito e desnecessário. Ameaça agora tornar-se (muito) lesivo dos interesses do Benfica. Não aprendemos.

Adenda: o Presidente Luis Filipe Vieira esteve hoje na Alemanha e anunciou, com o seu homólogo do Dusseldorf, um "acordo" que esclarece os mal entendidos. É o passo certo mas parece-me que ele surge tardiamente, pois neste momento o assunto não está nas mãos do clube alemão.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Cultura de vitória - Parte II

A perda de identidade do Benfica, aliada ao esmorecimento do seu espírito de vitória, levou-o à actual situação.
No último jogo com o Porto (na Luz, 2-3), foi bem visível, para quem gosta de analisar as coisas, que o Porto entrou melhor no jogo. Mais forte, mais seguro, mais confiante, com mais garra e vontade de vencer.
O facto do Benfica ter perdido com um golo em fora de jogo e ter visto um jogador seu injustamente expulso não altera este facto.

É preciso perceber por que razão isto acontece recorrentemente. A meu ver será talvez a mesma razão que faz com que o Benfica tenha sistematicamente falhado nos momentos decisivos das últimas décadas, com uma ou outra excepção. Este facto está aliás, melhor do que em qualquer outra competição, espelhado na contabilidade das Supertaças: em 27 presenças, o Porto ganhou 18 (66,6%). Em 15 presenças o Benfica ganhou 4 (26,6%). Em onze finais contra o Porto, imaginem quantas o Benfica ganhou. Pois é... uma! Perdeu 10!

É preciso inverter esta situação, o que se faz de várias formas.

Em primeiro lugar, o Benfica precisa de ter bons jogadores e treinadores, o que objectivamente já acontece hoje. Veja-se como Ramirez e David Luiz se sagraram campeões europeus pelo Chelsea - e que papel tiveram nessa conquista! (a propósito os meus parabéns para estes dois grandes atletas) - e Di Maria campeão de Espanha.
Rodrigo e Nélson Oliveira são avançados de enorme qualidade e características singulares e Cardozo, apesar de ter alguns problemas de motivação ou convicção e algumas limitações no plano técnico, é um avançado de topo - dos que marcam golos, que é o mais importante. No meio campo também há enorme qualidade, desde o meio às faixas. É na defesa que o Benfica precisa de melhorar, sobretudo ao nível dos laterais. A direcção do Benfica tem que trabalhar. É nestes pormenores que a estrutura tem que se sobrepor ao treinador na identificação das necessidades e prioridades de um plantel, deixando claro que nenhuma teimosia se pode sobrepor aos interesses colectivos.

Em segundo lugar, há que definir um modelo de jogo e jogadores para o interpretar. O Porto fez isto nos anos 80, com um modelo sobretudo assente na segurança defensiva e foi ajustando este modelo ao longo dos anos, dotando-o de características mais ofensivas mas sem perder a identidade. Cultivou um jogador "à Porto", que trabalha e batalha muito e não vira a cara à luta. No Benfica, pelo contrário cultivou-se demasido a estrela e o vedetismo. É preciso mudar isto, inculcando nos jogadores a mentalidade de que a equipa e o clube estão sempre acima dos interesses individuais. Jesus conseguiu implementar um modelo ofensivo, adequado à matriz histórica do Benfica, mas teve duas pechas fundamentais, que a estrutura de apoio técnica e directiva deveria ter corrigido: fez uma equipa sem portugueses (o que dificulta a recuperação e preservação da mística e raça benfiquistas e uma identidade de equipa que perceba a realidade da rivalidade Benfica-Porto e saiba interpretar o sentimento dos adeptos quando defrontamos este adversário) e o descurar da solidez defensiva.

Quanto à primeira lacuna, que resulta também de uma falta de qualidade da formação do Benfica, parece estar-se a trabalhar para a colmatar mas é preciso fazer mais, apostar mais em jogadores portugueses e da casa. Não apenas contratar mais portugueses mas também usar mais os que já temos, como Miguel Vítor, que nunca nos deixou mal e merece mais oportunidades, seja no centro da defesa, seja à direita. Quanto à segunda, há que contratar (ou recuperar os emprestados) defesas laterais de qualidade.

Mais uma vez resulta claro dos dois parágrafos anteriores que o Benfica precisa de uma estrutura mais sólida, que apoie o treinador, que o proteja e preserve (também em relação às polémicas com as arbitragens) e que o chame à razão quando necessário. Pois todos, até os melhores, erram e Jorge Jesus tem errado com alguma frequência nos últimos anos. Uma boa estrutura de futebol, profissional e competente, poderia ter evitado alguns dos erros.

Em terceiro lugar, há que trabalhar a mentalidade e o lado psicológico dos jogadores, no respeitante aos jogos decisivos, através da afirmação da identidade benfiquista. Há que afirmar os valores benfiquistas, o seu espírito desportivista e leal, o seu carácter e seriedade (acabem com os speakers por favor!, assim como com manobras patéticas como apagar as luzes e discursos mal medidos e errantes), bem como a sua dimensão mundial. Este aspecto tem que ser constantemente valorizado, pois o Benfica é um clube ímpar, com adeptos e Casas por todo o mundo. Esta dimensão que as Comunidades Portuguesas e os países de Língua oficial Portuguesa dão ao Benfica, de integração, sem discriminação entre estatuto ou raça, tem que servir para afirmarmos a nossa diferença e identidade em relação a um clube que se assume regionalista e que prima pelo fomento do divisionismo da sociedade portuguesa.

Em quarto lugar, há que, também no plano da moral e da mentalidade, recuperar e fomentar nos jogadores e técnicos uma cultura de vitória e de grandeza, que infelizmente não tem existido nos últimos anos. Uma cultura de ambição, de desejo de conquista de títulos. Hoje os benfiquistas têm medo de perder. Amanhã têm que ter sede de ganhar. O Benfica tem estado nas grandes decisões, mas tem perdido a maioria, precisamente por medo de falhar, por tremer nos momentos decisivos, por achar que algo pode correr mal e por isso correrá mal. Alterar este estado de coisas passa pela liderança do Benfica, Presidente em primeiro lugar, mas também por todos os benfiquistas que têm sido demasiado descrentes e ansiosos nos últimos anos.

Fazendo o trabalho, como tem que fazer, com rigor e disciplina, com a qualidade que existe e libertando-se de medos e fantasmas, o Benfica tem todas as condições para vencer. Percamos então o medo de falhar e substituamo-lo pelo espírito de conquista - não de um mas de muitos títulos. A vitória do Chelsea na Liga dos Campeões e da Académica na Taça mostrou mais uma vez que não há imbatíveis e que a vontade e a determinação, quando se está convicto do que se está a fazer e do emblema que se representa, são factores decisivos. A ambição do Benfica tem que ser a de estabelecer um domínio a nível interno que lhe permita dar o salto para um patamar europeu, a que só episodicamente temos acedido, quando temos condições para dele fazer parte.

Por fim, o Benfica tem que batalhar sempre pela Verdade Desportiva, assumindo-se como defensor intransigente da Justiça no jogo e nas competições, do que temos amplamente falado em diversos posts.

Se estes princípios forem inculcados nos benfiquistas, a começar pelos jogadores e acabando nos adeptos, afirmando-se sempre o clube pela positiva, sem insultos aos adversários, sem ser contra ninguém mas sempre tendo presente a responsabilidade que acarreta a sua dimensão, o Benfica entrará num novo ciclo de vitórias. Que ele comece já na próxima época e que estejamos daqui a um ano a festejar a "dobradinha" (e já agora também com a Taça da Liga, se possível) são os meus desejos de fim de época.

Cultura de vitória - a diferença entre vencer e perder

No rescaldo do jogo de ontem, Nuno André Coelho, que passou pelo Porto, pelo Sporting e agora está no Braga, dizia na RTP que seria muito difícil o Porto perder a final de ontem, pelo espírito de conquista que se vive naquele clube.
Já tenho aqui abordado esta questão e tenciono voltar a fazê-lo. Se por um lado é um facto indesmentível que o Porto beneficiou nos últimos anos de várias ajudas do sistema do futebol português, não podemos porém, sob pena de não mudarmos de vida e continuarmos a perder, ignorar que falta no Benfica uma cultura de vitória e de conquista.

E isto vem de há vários anos e não tem que ver nem com Jesus, nem com Vieira. Tem que ver com a história e com uma mentalidade que importa primeiro perceber e depois modificar.

Não é nenhuma novidade e tem sido amplamente referido que Pinto da Costa e Pedroto forjaram há 30 anos uma estratégia que passava antes de mais pelos seguintes vetores: ataque ao "centralismo" de Lisboa, promoção de uma "cultura do Norte" de afirmação bairrista, definição de um modelo de jogo e de um jogador "à Porto", ambição e cultura de vitória. Esquecendo por agora as questões de arbitragem e sistema (como qualquer boa estratégia, a do Porto foi implementada a diversos níveis e naturalmente passou pela conquista do poder dos bastidores do futebol, através da Associação de Futebol do Porto e do Conselho de Arbitragem - lideradas por Adriano Pinto e Pinto de Sousa - que com Pinto da Costa fizeram formaram o triunvirato dos três Pintos), há que reconhecer que esta estratégia foi coroada de sucesso e que de um clube perdedor e com pouca dimensão, Pinto da Costa e Pedroto conseguiram fazer um colosso europeu.

A estratégia tinha portanto várias vertentes, desde a identidade (foi até "inventado" o emblema do dragão) à afirmação regional como bandeira de um "povo" supostamente mal tratado, a um modelo de jogo e cultura desportiva de ambição e vitória.

Inversamente, no Benfica, depois dos gloriosos anos 60, atravessou-se, sobretudo a partir da década de 80 um período de descaracterização. Havia o que por vezes se chama na gíria um cansaço competitivo e de vitórias. Instalou-se alguma acomodação, algum comodismo.
Uma geração de jogadores brilhantes chegava ao fim e abriu-se a porta aos jogadores estrangeiros. A cultura de Benfica - a mística - que significava uma raça muito grande, uma grande abnegação, humildade, um grande desportivismo e uma grande  ambição aliadas à confiança de todos em si mesmo e nos companheiros, levaram o Benfica a ser surpreendido por um Porto que não tinha os mesmos valores desportivos (de lealdade, de ética, de respeito pelo adversário) mas um grande espírito competitivo e de conquista.

Passados 30 anos, já seria tempo do Benfica ter criado um antídoto para esta estratégia portista, mas a verdade é que isso não acontece. Tendo o clube vivido em situação de estabilidade e continuidade dirigente nos últimos anos (ao contrário do que se verificou desde Damásio a Vilarinho), e até no plano do treinador, com Jesus a completar 3 épocas no comando da equipa, há então que identificar as causas da continuada falta de sucesso.

Há que perceber por exemplo, porque continua o Benfica a perder na maioria das vezes os jogos decisivos, nomeadamente com o seu rival Porto, por vezes de forma inexplicável.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

O Benfica precisa de uma estrutura - parte II

No anterior post viajei sucintamente pelos últimos 30 anos de futebol em Portugal em busca das causas da hegemonia portista e do declínio do Benfica.
Considerei que sobretudo nos falta identidade e estrutura organizativa. Desenvolverei agora mais estas ideias.
Antes porém, uma rápida conclusão da panorâmica histórica que no anterior post esbocei.
Depois de João Santos e Jorge de Brito chega ao Benfica Manuel Damásio. Se Jorge de Brito terá (apesar de todo o dinheiro que injectou no clube) deixado dívidas, Damásio deixou atrás de si o deserto.
Com este Presidente o Benfica entrou numa nova fase de descaracterização: a devastação completa da cultura clubística e a depauperação da qualidade futebolística do plantel. Com Artur Jorge ao comando, foi realizada uma destruição completa do plantel do Benfica campeão (vencedor por 6-3 em Alvalade) onde constavam Rui Costa, João Pinto, Rui Águas, Isaías, Vitor Paneira, César Brito, Mozer, Schwartz, Veloso, Kulkov, Mostovoi entre outros.
Com Damásio o Benfica passou a entreposto de jogadores (até da Parmalat...), situação que se prolongou durante o mandato de Vale e Azevedo. Só com Vieira na presidência, Camacho primeiro, Fernando Santos depois e finalmente Jesus reconstruíram uma base de jogadores com alguma coerência entre si e alguma identidade como equipa.
Mas continuamos a falhar. Porquê?
Em primeiro lugar, porque a hegemonia do Porto é de tal ordem que o Porto ganha quase por inércia. Para vencer, sobretudo pelo facto das arbitragens serem o que são, o Benfica tem que ser consideravelmente superior ao seu rival.
Em segundo lugar, porque, para além de identidade (algo que Jesus conseguiu até certo ponto) e cultura de vitórias (que se vai construindo com estabilidade e espírito vencedor), o Benfica carece de  organização.
Uma organização que dê condições de estabilidade mental aos seus jogadores e técnicos, escudando-os  das polémicas e do ruído lateral e poupando-os ao desgaste desnecessário que nesta altura todos evidenciam. Que incuta os valores e o espírito do clube. Que permita um maior equilíbrio nos plantéis (com jogadores à Benfica, mais jogadores portugueses e soluções para as diferentes posições - não é admissível não haver hoje um substituto para Maxi). Que assegure que existe uma continuidade entre diferentes treinadores.

O Benfica não tem neste momento um director para o futebol. Rui Costa é um grande benfiquista mas está desaparecido em parte incerta. Luis Filipe Vieira não pode, nem sabe, desempenhar esse papel. No Porto, para além de Pinto da Costa, existe um Reinaldo Teles. No Sporting um Luis Duque (e um Carlos Freitas). No Benfica para além de Rui Costa existem António Carraça, Shéu e Lourenço Pereira Coelho. Nenhum deles tem perfil para desempenhar as funções necessárias para dar estabilidade ao futebol do Benfica e o tornar vencedor numa base regular.
Caso contrário, as vitórias serão sempre episódicas e acontecerão mais por demérito dos adversários do que por mérito próprio. Pior, arriscamo-nos, como neste ano, a que mesmo quando o adversário não mantém a qualidade habitual não sejamos capazes de ganhar.
A saída de Veiga, com todos os seus defeitos, não foi compensada. Naquele ano houve uma equipa vencedora - Veiga, Trapattoni, Álvaro Magalhães. No primeiro ano de Jesus houve muito futebol e jogadores excepcionais (como se vê pelos clubes para onde sairam, Real Madrid e Chelsea), o que permitiu disfarçar as deficiências. Que agora estão à vista de todos.
Com um Director para o futebol competente, o Benfica seria nesta altura campeão. Assim arrisca-se a demitir o treinador no fim da época e a voltar a partir do zero - sem resolver o problema de base.