segunda-feira, 21 de maio de 2012

Cultura de vitória - a diferença entre vencer e perder

No rescaldo do jogo de ontem, Nuno André Coelho, que passou pelo Porto, pelo Sporting e agora está no Braga, dizia na RTP que seria muito difícil o Porto perder a final de ontem, pelo espírito de conquista que se vive naquele clube.
Já tenho aqui abordado esta questão e tenciono voltar a fazê-lo. Se por um lado é um facto indesmentível que o Porto beneficiou nos últimos anos de várias ajudas do sistema do futebol português, não podemos porém, sob pena de não mudarmos de vida e continuarmos a perder, ignorar que falta no Benfica uma cultura de vitória e de conquista.

E isto vem de há vários anos e não tem que ver nem com Jesus, nem com Vieira. Tem que ver com a história e com uma mentalidade que importa primeiro perceber e depois modificar.

Não é nenhuma novidade e tem sido amplamente referido que Pinto da Costa e Pedroto forjaram há 30 anos uma estratégia que passava antes de mais pelos seguintes vetores: ataque ao "centralismo" de Lisboa, promoção de uma "cultura do Norte" de afirmação bairrista, definição de um modelo de jogo e de um jogador "à Porto", ambição e cultura de vitória. Esquecendo por agora as questões de arbitragem e sistema (como qualquer boa estratégia, a do Porto foi implementada a diversos níveis e naturalmente passou pela conquista do poder dos bastidores do futebol, através da Associação de Futebol do Porto e do Conselho de Arbitragem - lideradas por Adriano Pinto e Pinto de Sousa - que com Pinto da Costa fizeram formaram o triunvirato dos três Pintos), há que reconhecer que esta estratégia foi coroada de sucesso e que de um clube perdedor e com pouca dimensão, Pinto da Costa e Pedroto conseguiram fazer um colosso europeu.

A estratégia tinha portanto várias vertentes, desde a identidade (foi até "inventado" o emblema do dragão) à afirmação regional como bandeira de um "povo" supostamente mal tratado, a um modelo de jogo e cultura desportiva de ambição e vitória.

Inversamente, no Benfica, depois dos gloriosos anos 60, atravessou-se, sobretudo a partir da década de 80 um período de descaracterização. Havia o que por vezes se chama na gíria um cansaço competitivo e de vitórias. Instalou-se alguma acomodação, algum comodismo.
Uma geração de jogadores brilhantes chegava ao fim e abriu-se a porta aos jogadores estrangeiros. A cultura de Benfica - a mística - que significava uma raça muito grande, uma grande abnegação, humildade, um grande desportivismo e uma grande  ambição aliadas à confiança de todos em si mesmo e nos companheiros, levaram o Benfica a ser surpreendido por um Porto que não tinha os mesmos valores desportivos (de lealdade, de ética, de respeito pelo adversário) mas um grande espírito competitivo e de conquista.

Passados 30 anos, já seria tempo do Benfica ter criado um antídoto para esta estratégia portista, mas a verdade é que isso não acontece. Tendo o clube vivido em situação de estabilidade e continuidade dirigente nos últimos anos (ao contrário do que se verificou desde Damásio a Vilarinho), e até no plano do treinador, com Jesus a completar 3 épocas no comando da equipa, há então que identificar as causas da continuada falta de sucesso.

Há que perceber por exemplo, porque continua o Benfica a perder na maioria das vezes os jogos decisivos, nomeadamente com o seu rival Porto, por vezes de forma inexplicável.

1 comentário:

  1. Plenamente de acordo com o post, e o pior é que não é só no futebol profissinal, também nos escalões de formação e nas modalidades amadoras.Vejam o que se passou na formação á 2 semanas estavamos á frente em tudo e só ganhamos nos iniciados, já pra não falar do voleibol, ou ontem no basquetebol tinhamos tudo pra ser campeões e agora?Carrega Benfica.

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