sexta-feira, 11 de maio de 2012

O que é o "sistema" - Parte II

Descrevi no anterior post o que é o sistema na sua face mais visível: o poder do futebol, que, através da posição consolidada durante 30 anos de Pinto da Costa, do Presidente da Federação, Fernando Gomes, ex-Administrador da Porto SAD e de Joaquim Oliveira, patrão da Controlinveste, está totalmente desequilibrado em favor do Porto. Da influência de Joaquim Oliveira convém ainda aqui reiterar que, através do seu controlo da TSF, JN, DN, "O Jogo" e Sporttv, ele se exerce de forma tripla:

  1. quer influenciando os clubes e impondo os nomes daqueles que lhe são próximos para cargos dirigentes;
  2. quer através da opinião que vai modelando no público do futebol, através da cobertura tendenciosa e pró-porto que os seus órgãos de comunicação social promovem (sobretudo o seu "Tribunal" d' "O Jogo" mas também as análises de Freitas Lobo que "não fala de arbitragens" e até, em muitos casos, os relatos da TSF, para não falar do caso caricato do JN);
  3. quer ainda através da criteriosa selecção dos lances de "dúvida" que a Sporttv faz e que são utilizadas pela Comissão de Análise da Liga para avaliar os árbitros.
Pretendo agora referir-me à outra peça, mais oculta e talvez ainda mais perniciosa do "sistema" (absolutamente corrusiva para a verdade desportiva e o futebol português): a avaliação e classificação dos árbitros.

Em Portugal existem 25 árbitros de primeira categoria e 9 internacionais.
Só os árbitros de primeira categoria podem apitar jogos profissionais. Só os internacionais podem apitar jogos organizados pela UEFA e a FIFA.

Para perceber a importância disto, há que entender que , ao contrário do que se pode pensar, a arbitragem é bem paga:
1.272 euros por cada jogo na I Liga, 890 na Honra, a que acrescem 118 euros se o jogo for durante a semana e 400 euros mensais de "subsídio de treino". Ou seja, um árbitro pode facturar uma média de 3.700 euros mensais (brutos). Isto fora jogos europeus. Para um trabalho em part-time, não está mal.
Mas, para alcançar tal estatuto, o árbitro precisa de uma coisa: boas avaliações. Isto mesmo nos dizem os regulamentos da Liga:
"Ao atingir o 3ª escalão nacional, o árbitro passa a ser promovido em função do relatório dos observadores. Na 2ª categoria a passagem para o escalão mais elevado requer, além de relatórios positivos dos observadores, a realização de testes físicos e escritos."

Chegamos então a estas personagens centrais do nosso futebol, aqueles a quem os destinos das competições estão em última análise confiados: os misteriosos observadores.

Com efeito, é com base nas avaliações feitas por eles que é elaborada a classificação dos árbitros. No final de cada jogo, o observador faz um relatório, onde assinala os "casos" e atribui uma nota à arbitragem.

E é aqui que está o busilis da questão.
Os árbitros portugueses não estão preocupado em realizar boas arbitragens, em ser imparciais e justos. OS ÁRBITROS PORTUGUESES, SE QUISEREM TER BOAS CARREIRAS, TÊM ANTES DE MAIS NADA DE AGRADAR AOS OBSERVADORES.

E quem nomeia e controla os observadores? Nominalmente é o Conselho de Arbitragem, que por sua vez depende de Fernando Gomes... Mas, como se isto não bastasse, há ainda que referir que a Comissão de Análise (órgão do Conselho de Arbitragem que pode rever o rigor dos relatórios dos observadores) se baseia ... nas imagens das televisões, SPORTTV sobretudo. A qual é controlada por... Joaquim Oliveira.

Todos sabem onde está o poder e todos compreendem qual o seu lugar neste sistema. Há eminências pardas a quem ninguém quer desagradar. Para que o haveriam aliás de fazer? Para verem as suas carreiras conhecerem um final antecipado?

Mas há ainda outros aspectos do secreto mundo dos observadores que devem ser denunciados.

Vejamos. Existem 30 observadores da primeira categoria. Porém, não deixa de ser curioso que, desses 30, apenas um seja de Lisboa.
Já do Porto existem 3, assim como de Braga. Também de Leiria (onde, como sabemos, há uma paixão enorme pelo futebol, conseguindo o clube local assistências de 300 e 500 pessoas por jogo...) são oriundos 3 observadores. Um pouco mais a norte, em Coimbra, o número passa para 6. Será impressão minha ou há aqui algo que não bate certo?

Havendo várias explicações possíveis para isto - não especularei sobre as razões - o que salta à evidência é que mais uma vez, no capítulo chave dos observadores o poder inclina-se para o Norte.

Mas mais importante ainda do que a Associação de onde são oriundos é, a meu ver, a questão dos relatórios continuarem a ser confidenciais. Porquê? A quem aproveita essa falta de transparência?

No entanto, os regulamentos são absolutamente claros sobre este ponto (artigo 19º da Arbitragem):

"1. Os relatórios dos observadores serão dados a conhecer aos respectivos árbitros e árbitros assistentes no prazo máximo de cinco dias úteis após a realização do jogo, obrigando-se os mesmos a guardar confidencialidade.
2. Os relatórios dos observadores serão, igualmente, dados a conhecer aos Clubes, a pedido destes e com referência aos jogos em que tenham participado, no prazo máximo de cinco dias úteis após a realização dos jogos a que disserem respeito, obrigando-se os mesmos a guardar a inerente confidencialidade."


Curiosamente, quando o Sporting ou o Porto são alegadamente prejudicados pelas arbitragens, à segunda-feira já todos sabemos que os árbitros em causa tiveram avaliações negativas, às vezes as piores da época. Já quando, semana após semana, o Benfica é autenticamente espoliado de pontos, nada se sabe.

Isto, meus amigos, é o sistema. Considero que o meu trabalho, está, sobre esta temática e pelo momento, concluído. Gostava que o meu clube estivesse atento a estas situações e fizesse também o seu. Por exemplo: quantas vezes foram solicitados os relatórios dos observadores? Talvez se o Benfica estivesse mais activo nestas matérias, os seus adeptos tivessem menos desgostos.

Dar entrevistas na praça pública é importante e pode ter algum efeito, mas se não se mexer nestes meandros nada se conseguirá. O Benfica tem que iniciar uma luta sem descanso pela transparência no futebol português. É preciso que pessoas como Proença, Olegário, Soares Dias e outros não voltem a apitar, sobretudo jogos do Benfica. E que os que os substituirem não tragam a mesma atitude, a mesma vontade de agradar a quem manda, a custo dos nossos resultados e dos nossos sucessos desportivos.

Os observadores têm que ser nomeados de forma isenta, às claras e os seus relatórios têm que ser tornados públicos! O mesmo tem que suceder com as regras para as transmissões televisivas.

É preciso transparência, coerência e equidade no futebol. É tempo de o EXIGIR.



3 comentários:

  1. Dá para perceber como é que certos benfiquistas continuam a comprar consultar os sites dos jornais JN, DN e o jogo? Não podemos deixar a luta só para a direcção! Todos os benfiquistas têm o dever de lutar contra esta vergonha!

    Os árbitros agora nem precisam de receber luvas. O pagamento é continuarem a arbitrar e no fundo são pagos é com observações favoráveis!

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  2. Caro benfiquista 7, é verdade e um dos pontos que eu quis precisamente fazer foi o de que hoje já não é preciso corromper. Ou por outra, a corrupção está instalada no próprio sistema. É uma completa desvergonha.

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  3. Proponho que envie por carta estes dois artigos à direcção do Benfica, especificamente ao Presidente LFV. Na baixa probabilidade de eles não souberem disto, passarão a saber. Se souberem, é sempre bom avivar-lhes a memória e incentivá-los a agirem! Ser benfiquista é defender o clube de todas as formas possíveis.

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