quarta-feira, 30 de maio de 2012

Eduardo Barroso e a violência no desporto

Eduardo Barroso é uma figura importante da sociedade portuguesa. Não apenas é sobrinho de Soares; é também um dos maiores cirugiões que temos. Por isso mesmo deveria poupar-se às figuras tristes que faz nos programas e nas crónicas que escreve sobre futebol.
Vem a isto a propósito da sua última crónica onde apelida de "comportamento vergonhoso" e de "impensável provocação" os alegados gestos de Carlos Lisboa no pavilhão do "dragão", considerando que ele "devia ser demitido e severamente castigado". Em relação ao que se passou com os adeptos, Barroso tem palavras de compreensão e desculpabilização: "também não aprovo" mas... "como reagiria qualquer claque naquelas circunstâncias?"; se no Jamor tivesse havido uma situação semelhante "penso que seria difícil evitar uma invasão de campo" e Barroso nessas circunstâncias saberia "identificar o culpado": o agente provocador.

Volto a dizer, Barroso é uma pessoa com tremendos méritos e que deve ser reconhecida no seu campo da medicina. O que diz sobre o desporto (onde aliás tem um cargo dirigente) é porém absolutamente inqualificável, porventura mesmo (como o próprio aliás admite na mesma crónica) digno de um "troglodita". Porquê?

Em primeiro lugar, está por demonstrar que os gestos de Lisboa, no calor dos festejos, significassem o que lhes foi atribuido e tivessem sido dirigidos para os adeptos do Porto. Em segundo lugar está por demonstrar que, mesmo que esse fosse o caso, os adeptos tivessem visto esses gestos e que o seu comportamento subsequente tivesse sido por eles (gestos) motivados. Em terceiro lugar porque jogadores e técnicos do Porto têm habitualmente gestos e palavras insultuosos para com o Benfica na Luz sem que se tenha alguma visto Eduardo Barroso ficar com isso incomodado. Em quarto lugar, porque durante esse mesmo jogo o Benfica e os seus atletas foram continuamente insultados e provocados pelas bancadas, pelo que, seguindo uma "lógica da provocação" teria que se apurar quem começou. Em quinto lugar porque nenhuma provocação, real ou virtual, pode justificar tentativas de agressão e de invasão do campo.

Muito diferente desta posição é a de Daniel Oliveira, que é Sportinguista e escreve no Record e soube ver nestes incidentes o que eles são: um acto de mau perder por parte de quem acha que vale tudo no desporto. Notável aliás a sua leitura da atitude de Pinto da Costa no fim do jogo: "Perante isto, o que fez Pinto da Costa? Pôs-se, como faz sempre, do lado da violência. Indignado por a polícia ter impedindo que os jogadores do Benfica fossem atacados pela multidão em fúria, dirigiu às forças da ordem a sua ira de mau perdedor. Compreendo que tenha saudades do guarda Abel e da conivência das forças de segurança com a sua falta de escrúpulos. Compreendo que ameaças sobre jornalistas seja a ideia que tem do que deve ser a segurança pública. Entendo, por isso, a sua estupefação por a polícia ter defendido os jogadores em risco."

Vergonha senhor Dr. Barroso são todos os comportamento de violência de qualquer adepto ou claques de qualquer clube e isso é que devia ter liminarmente condenado. Foi pena que a sua crónica não tivesse sido sobre a dedução de acusação contra 18 adeptos, 16 do seu clube e 2 do Benfica. O que se passou foi isto: "tudo começou quando 4 elementos da Juve Leo esperaram junto do Estádio a passagem de adeptos do Benfica - a quem lançaram pedras por entre os carros que passavam, lançando o pânico no trânsito. Dois elementos do "grupo ilegal" No Name Boys reagiram com garrafas e engenhos pirotécnicos e estão também acusados por isso". Dentro do estádio, os adeptos da Juve Leo envolveram-se em confrontos com a polícia e lançaram cadeiras e "bolas incendiárias", tendo um deles "incendiado um agente da PSP", ao passo que outro "agredindo com pontapés nas costas um agente o fez cair desamparado nas bancadas tendo logo a seguir festejado este "feito" com outros elementos da claque e ainda tentou fotografar". (As citações são retiradas do "Correio da Manhã de hoje, que por sua vez se baseou na acusação do DIAP). Eu acrescento que após a retirada ou fuga da políciada multidão em fúria, grande parte do estádio de Alvalade irrompeu em aplausos e começou a gritar "Sporting, Sporting".

Tal como, para concluir, são graves e lamentáveis as imagens inqualificáveis de adeptos ucranianos a agredirem barbaramente outros adeptos (aparentemente até do seu próprio clube) apenas porque estes últimos eram asiáticos, que surgiram recentemente na TV inglesa.

Isto Dr. Eduardo Barroso é que são vergonhas. Isto é que são comportamentos graves e muito perigosos. Isto é que o devia preocupar. Mas o que faz o senhor, cujo nível de instrução está muito acima da média e é visto por milhões de pessoas? Ignora isto, desculpa isto, dizendo que o grave, grave é o que fez ou não fez Carlos Lisboa. Que até se compreende a reacção das claques. Que os culpados não são os autores da violência mas os outros, que "provocaram". Que "não se revê" (foi incapaz de condenar) nos incêndios do Estádio da Luz mas que a "jaula", de que andou falando semanas "incendiando" o ambiente, é que era algo de gravíssimo.

Tenha vergonha Dr. Barroso e deixe de actuar como um irresponsável. Dedique-se à medicina onde salva vidas e deixe o futebol onde declarações desse tipo podem contribuir para que um dia elas se percam.

4 comentários:

  1. Esse Dr. perde toda a credibilidade quando fala de desporto!

    Abraço.

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  2. Isso é personagem a quem não dou qualquer crédito. É um pintinho com uma verbosidade apenas menos requintada.

    P.S. Rectifique lá o nome da besta. Alfredo Barroso também é lagarto mas tem outra capacidade de análise que o médico não tem.

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