A 5 dias do fim dos Jogos Olímpicos, Portugal continua com zero medalhas e prestações modestas, quando não decepcionantes.
O cenário só não é completamente desolador porque temos o remo, onde já estivemos presentes numa final, o double skull, e a canoagem em que estaremos amanhã, quarta-feira dia 8, em mais duas: k2 1000 m masculinos às 10.16h e k4 500 m femininos às 10.44h. Jessica Augusto teve uma participação honrosa na maratona feminina e Clarisse Santos, uma amadora, alcançou um feito enorme ao estar presente na final dos 3.000 m obstáculos. Temos ainda uma cavaleira na final de saltos e um cavaleiro na final de ensino individual, em hipismo.
Para avaliar os resultados de Portugal é preciso perceber que há neste momento 70 países medalhados e que desde 92 que não voltamos dos Jogos Olímpicos sem conquistar medalhas. Que dos países da União Europeia, para além de nós, apenas os seguintes não conquistaram ainda medalhas: Áustria (8,3 milhões de habitantes), Luxemburgo (500.000), Irlanda (4,5 milhões), Bulgária (7,7 milhões), Letónia (2,3 milhões) e Malta (400.000).
Todos os outros países da União Europeia, incluindo a Lituânia (3,3 milhões de habitantes), Chipre (800.000), Estónia (1,3 milhões), Eslovénia (2 milhões), Eslováquia (5,4 milhões), conquistaram já no mínimo uma medalha.
Países de dimensão semelhante à nossa (10,6 milhões) conquistaram até ao momento:
Bélgica (10,7milhões) - 3 medalhas
Hungria (10 milhões) - 8 medalhas
República Checa (10,5 milhões) - 5 medalhas
Suécia (9,2 milhões) - 6 medalhas.
A Holanda (menos de metade do tamanho de Portugal, com uma população de 16,4 milhões), tem "apenas" 13 medalhas. A Espanha, que tem estado menos bem, tem ainda assim 6 medalhas e antevê-se que venha a conquistar mais.
Estes são os dados, objetivos e comparativos, da nossa participação. A avaliação só pode ser uma: um fracasso que só não é completo em virtude do remo e, talvez, da equitação.
O que pode explicar estes resultados embaraçosos?
Os factores serão certamente múltiplos mas para explicar tantos maus resultados alguma coisa estará a ser mal feita.
Façamos o exercício ao contrário: porque estão os resultados do remo e da canoagem (modalidades em que não temos tradição) a ser tão positivos em contraponto à triste prestação da vela?
Penso que a resposta é a mesma que noutros domínios da vida explica o sucesso: muito trabalho e organização. Sem planeamento, sem continuidade, sem saber o que se está a fazer é impossível vencer nestes patamares. Depois há o trabalho e as aptidões físicas.
E é tudo isto que está a faltar no desporto em Portugal.
Certamente não somos dos povos fisicamente mais aptos do planeta. É evidente que não temos velocistas, como dificilmente temos atletas ou ginastas que possam competir ao mais alto nível. Os nossos melhores atletas, como Naide Gomes e Nélson Évora são a excepção mas se olharmos para modalidades como o lançamento do peso, do martelo ou do dardo, apenas conseguimos pensar em Marco Fortes que é um atleta apenas médio a nível internacional. A nível da ginástica então não temos nenhum nome de relevo.
Não podemos competir com os melhores (americanos, chineses e franceses) na natação. Não temos representantes no boxe, na luta livre ou no levantamento de peso. No judo, que combina técnica e vontade com força e atleticismo, conseguimos nos últimos anos bons resultados, nas categorias mais leves.
Em suma, não somos os melhores atletas, nem o mais forte dos povos, é preciso admiti-lo. Isso não quer porém dizer que sejamos os piores ou que não possamos nunca ganhar.
Uma das razões pelas quais não somos grandes atletas é a ausência de uma cultura de desporto em Portugal. O desporto promove o desenvolvimento das aptidões físicas, ao passo que a inércia o seu definhamento. Em Portugal o desporto escolar é pouco menos do que uma anedota, especialmente quando comparado com os países desenvolvidos, nos quais existem equipas das escolas e universidades que disputam campeonatos entre si nas mais diversas modalidades.
A ausência de cultura desportiva também se reflecte na pouca adesão do público ao desporto que não o futebol. O que faz com que as modalidades, sobretudo as não colectivas, se desenvolvam quase na clandestinidade, sem apoios nem visibilidade. O que mata a alta competição.
As multidões que enchem os estádios ingleses para ver Usain Bolt, a canoagem ou a maratona transformar-se-iam em Portugal nalgumas centenas ou poucos milhares de espectadores. O português tem pouca cultura de ar livre, prefere ficar em casa a ver televisão. Tudo isto se reflete na nossa prestação nos olímpicos, pois os nossos atletas emanam do nosso país e não de uma esfera celestial.
Outro factor que se reflete nos nossos resultados internacionais é o estado geral de falsificação do desporto competitivo em Portugal. Enquanto não houver uma limpeza geral dos orgãos dirigentes do desporto português (que do futebol se transmite à generalidade das modalidades), que só acontecerá com uma intervenção do governo e das autoridades judiciais, dificilmente o desporto será limpo e são. Sem isso não há verdadeira competitividade nem verdadeiros campeões, apenas espertos que manobram o sistema em benefício próprio e para ilusão de muitos.
Por fim, tendo consciência das limitações do país, inclusivé financeiras, as autoridades deveriam provavelmente concentrar esforços nalgumas modalidades, nas quais temos mais possibilidades de vencer. A vela é um exemplo lamentável. Com costa, vento e uma tradição de séculos acabamos a fazer tristes figuras, a desprestigiar o país. Não estão em causa os atletas, que darão o seu melhor mas está certamente em causa a Federação da modalidade (uma coutada de alguns) e uma falta de aposta do governo e privados na modalidade. Também no meio fundo e no fundo temos tido grandes atletas e a aposta tem que ser renovada. No judo os maus resultados não devem levar ao desinvestimento mas antes a uma nova aposta. É um desporto e uma arte que tem tradição em Portugal e que, ao contrário de outros ditos desportos de combate, não promove a violência mas sim a disciplina, o respeito por si próprio e pelo adversário. O futebol deveria também estar nos jogos e se isso não acontece, a responsabilidade é da federação, dos clubes e dos dirigentes que não apostam devidamente na formação e no jovem jogador português.
É precisa uma reflexão de fundo. Aqui ficam algumas ideias.
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