A participação do Benfica no Mundial de clubes teve um saldo neutro e correspondeu ao expectável: uma goleada a um clube de amadores, um empate com um um grande da Argentina, uma vitória inesperada (a primeira de sempre) com um Bayern em modo poupança e uma derrota por 4-1 perante um Chelsea com argumentos superiores aos nossos. A goleada com o Chelsea é um pouco atenuada pelo facto dos golos terem surgido quase todos no fim, quando jogávamos com 10. Mas por outro lado o Benfica foi uma sombra de si mesmo nesse jogo: sempre demasiado encolhido e defensivo, sem capacidade de ser incisivo no ataque.
No final, o saldo é "normal": tínhamos uma secreta esperança de chegar longe e quem sabe ganhar a competição, fazendo jus à história do Benfica e tirando partido do facto da competição surgir no final de época, com as equipas a não terem o mesmo rendimento que alcançam na Liga dos Campeões, mas no fim a lógica imperou e alcançámos o que é habitual na competição continental - passar a fase de grupos e perder na primeira ronda a eliminar.
Perder com o Chelsea não é desprestigiante, mas o nível que apresentámos fica abaixo, na minha opinião, dos mínimos. Lage tentou aplicar a mesma receita que funcionou com o Bayern, mas sem sucesso desta vez. É verdade que a Grécia foi campeã da Europa a jogar assim, mas isso acontece uma vez a cada 50 anos. Acho que o Benfica poderia ter assumido o jogo de outra forma.
De resto a competição vai avançando para a fase final de acordo com o que seria expectável: as equipas mais fracas vão desaparecendo e os gigantes europeus posicionam-se. Houve algumas surpresas, como acontece sempre: o Inter foi eliminado pelo Fluminense e o City pelo Al Hilal. Mas nas meias finais estarão Paris Saint Germain, Real Madrid e Chelsea e um dos dois primeiros deverá levantar o troféu.
Quando o Benfica foi eliminado li dezenas dos milhares de comentários feitos por brasileiros dirigidos ao nosso clube e aos portugueses, todos eles insultuosos. Fiquei admirado, não sei o que é que lhes fizemos para justificar tanta hostilidade. Os brasileiros, sobretudo adeptos do Flamengo, recordavam a vitória da sua equipa sobre o Chelsea na fase de grupos e gozavam com o Benfica chamando-nos equipa pequena e assegurando que no campeonato brasileiro lutaríamos pela manutenção. Mas via-se ali muito ódio, muito ressentimento.
Tais adeptos esqueceram-se de duas coisas:
1) as equipas europeias estão no "pós-época", com muitas dezenas de jogos nas pernas, separados desta competição por uma pausa competitiva de semanas, física e mentalmente cansados, ao passo que as sul americanas estão no início da época, com os índices físicos e motivacionais no máximo;
2) iam jogar com o Bayern de Munique, que o Benfica tinha vencido, a seguir (e, claro, perderam). Além disso perderam qualquer simpatia que os portugueses poderiam ter pelas equipas brasileiras.
E fico-me por aqui para não extrapolar do futebol para outras situações, porque os brasileiros que trabalham arduamente em Portugal (centenas de milhares) não têm culpa dos comentários de alguns idiotas.