quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Confrangedor, mas é preciso dar tempo

 A exibição do Benfica ontem corroborou as piores expectativas acerca de Mourinho: um treinador de tracção atrás, demasiado preocupado em defender e não sofrer golos, sem rasgo na frente. Pior do que isso, mesmo esse objectivo pouco ambicioso fracassou por completo e estivemos à beira de ser goleados.

A equipa foi demasiado curta: com excepção de três boas jogadas de Lukebakio, em duas delas a centimetros de marcar, o Benfica foi inofensivo. A equipa foi demasiado frágil: em momentos pareceu homens contra rapazes. Ríos voltou a ser, pior do que uma nulidade, um elemento negativo para a nossa própria equipa, dado que perdeu bolas que criaram situações perigosas para a nossa baliza.

E o fim foi penoso, parecia tiro ao boneco, com Trubin a fazer várias grandes defesas e a evitar a goleada. 

Se nos últimos jogos se viram alguns sinais positivos, ontem tudo descambou e voltámos a ser uma equipa desgovernada, perdida em campo, a cometer erros atrás de erros (sobretudo no fim).

Se fosse Lage ou Schmidt imagino que se estaria já a exigir o despedimento. Como é Mourinho isso não acontece - e bem, note-se. 

Quando se acredita num treinador deve-se prosseguir o caminho, mesmo que por vezes os resultados e as próprias exibições não correspondam ao esperado. Rúben Amorim teve más épocas no Sporting, mas o clube acreditou nele e manteve-o mesmo nos períodos difíceis, com os resultados que se conhecem. No United também já podia ter sido despedido (em Portugal não teria sequer começado esta época) e eu pensei que o seu tempo em Manchester estava a acabar, mas Ratcliffe, o accionista que controla de facto o clube, já disse que Amorim tem três anos para o seu projeto. Veremos, mas para já isso trouxe tranquilidade ao clube.

Isto para dizer que por vezes é preciso tempo para um treinador passar a sua mensagem à equipa e começar a obter os resultados desejados. E nem sempre o progresso é linear. A questão é, repito, se existe uma visão de futuro sobre o que se pretende alcançar e qual o caminho, bem como confiança em quem lidera tecnicamente esse projecto. 

Outro ponto a considerar é que o plantel do Benfica é fraquíssimo. Comentei aqui no início da época que se Akturkoglu saísse era preciso contratar dois extremos. Mas depois disso ainda saiu Tiago Gouveia! Acresce que também Carreras foi vendido, ele que era um dos principais desequilibradores e dava muita profundidade à asa esquerda. Ou seja, saíram Di Maria, Akturkoglu, Amdouni, Tiago Gouveia e Bruma lesionou-se com gravidade e o Benfica contratou... um jogador para os substituir a todos. Isto é inconcebível. Neste momento temos dois extremos no plantel principal e Mourinho já se viu que não acredita em Schjeldrup (que aliás dá poucas razões para que alguém confie nele). 

O resto do plantel não é muito melhor: Ríos tem tido um rendimento desastroso mas não tem substituto (ainda que no actual quadro até Barreiro seria uma melhor opção, para mim), o mesmo sendo válido para Enzo (não o rendimento, que, sendo fraco, não é tão mau como o de Ríos, mas a falta de alternativa). E nas laterais a situação é tão má que ontem acabámos o jogo com dois adaptados... Imagine-se. 

Mourinho não escolheu além disso os jogadores, pelo que o plantel também não tem necessariamente jogadores com as características que precisa para aplicar melhor as suas ideias.

Note-se que não sou "mourinhista", tanto que cheguei a escrever aqui que não o desejava no Benfica, mas ele é o nosso treinador e além disso é o treinador português mais titulado de sempre. Alguma coisa de futebol há-de saber. Há por isso que lhe dar tempo para desenvolver o seu trabalho, assim como recursos no próximo mercado. 

O Benfica está num momento complicado e é preciso estabilidade para as coisas não piorarem mais ainda.