quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Difícil para Mourinho (e o Benfica)

 Já escrevi o que penso sobre Mourinho, mas neste momento ele é treinador do Benfica e obviamente não estarei aqui a fazer campanha contra ele sem lhe dar sequer a oportunidade de mostrar que eu estou errado. Dito de outra forma, tem o meu apoio, pelo menos para já.

A questão é que este Benfica tem, mais uma vez, um plantel curto e desequilibrado, mesmo para a realidade portuguesa. 

As carências mais óbvias estão no meio campo e nas laterais. 

Em primeiro lugar, estou longe de estar convencido de que ficámos a ganhar com a troca de Florentino por Enzo, em segundo que Ríos traga algum valor acrescentado. 

Depois, se a ideia é jogar em 4-3-3 ou 4-2-3-1 (e já teria de o ser com Lage porque Sudakov veio para ser titular), quem é o substituto do ucraniano e quem são os extremos (já para nem falar dos seus substitutos)?

Em relação ao primeiro, é evidente que não há outro jogador no plantel com as suas características. Em relação aos extremos, temos Lubebakio. Ponto. Schjelderup é um projeto de jogador e Aursnes não é um desequilibrador nato (pelo contrário, é um jogador para equilibrar a equipa). Considerando que Dahl não tem tido capacidade para trazer perigo à ala esquerda e que Dedic começou muito bem mas neste momento está algo fatigado, o Benfica não tem dinâmica e não consegue abrir as defesas adversárias. Além disso a equipa está fisicamente em baixo, o que é perfeitamente normal considerando o Mundial de Clubes e a supertaça / pré-eliminatórias da Champions.

Temos de ser honestos: quer o Porto quer o Sporting são, neste momento, muito mais fortes. O Porto com uma dinâmica forte, velocidade e um modelo bem definido (com bons executantes), o Sporting com uma equipa de qualidade muito superior à do Benfica. Vi ontem grande parte do jogo do Sporting e as oportunidades de golo sucediam-se. O guarda-redes do Moreirense fez uma mão cheia de defesas quase impossíveis. Claro que a arbitragem foi amiga: não pelos penalties em si, mas por ter sido caseira como há muito não via - o apito do árbitro só funcionava quando a infração era do Moreirense, ao passo que os jogadores do Sporting podiam fazer basicamente tudo. Ajudou a empurrar o Moreirense para trás. Mas isso é mesmo assim: os árbitros estão sempre do lado de quem está mais poderoso e neste momento o Benfica é o patinho feio, a gata borralheira.

A tarefa de Mourinho é tão mais difícil que o nosso treinador terá jogos de derrota quase certa na Liga dos Campeões (praticamente todos, aliás) e uma deslocação ao Porto em breve. Se as coisas correrem pelo pior, conseguirá um Mourinho já sem a energia do passado dar a volta à situação e construir algo no Benfica? 

A situação é muito difícil. 

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Navegação à vista

 Quando escrevi o último post estava muito longe de imaginar que dois dias depois Lage deixaria de ser o treinador do Benfica.

Claro que também não imaginava perder em casa com o Qarabag, uma equipa da quarta divisão do futebol europeu, um resultado que é realmente escandaloso e inaceitável.

No entanto como é que um presidente explica que ainda há duas semanas (a fazer fé nas declarações de Lage) estivesse a contratar os jogadores que este desejava e agora o demita? 

Se, como tudo indica, o sucessor for Mourinho, como explicar a venda de Akturkoglu que foi aparentemente um pedido do então treinador do Fenerbaçe?? 

Nada disto faz sentido. 

Mais: Lage eliminou Mourinho e foi tacticamente mais astuto nessa eliminatória do que o seu conterrâneo setubalense. 

E a um mês das eleições Costa vai fazer um contrato (provavelmente de valores elevados) que vai vincular o próximo presidente do Benfica - o que não é ilegal mas coloca questões muito sérias em termos de deontologia. 

É a navegação à vista, sem rumo estratégico. É verdade que o futebol são resultados e os "projectos" são normalmente uma ilusão porque se não existe sucesso o "projecto" é sempre abandonado e se contrata um novo treinador que necessariamente terá as suas ideias próprias, mas há que ter pelo menos uma visão e um rumo. 

Há uns anos contratou-se Schmidt porque se queria (e bem) um futebol atacante e atraente. Agora escolhe-se Mourinho, um treinador defensivo e resultadista. Onde está a coerência? 

Como já escrevi anteriormente, não acredito em Mourinho. Acho que está desactualizado, que o seu melhor período já passou, que não tem ideias inovadoras e que as suas equipas jogam um futebol feio que não empolga minimamente. 

Pode-se dizer que no United e na Roma fez melhor do que os que lhe sucederam. É um facto. Mas isso parece-me um fraco argumento, insuficiente para um treinador do Benfica. 

Temo que o futebol do Benfica se torne defensivo, negativo, mais preocupado em não perder do que em ganhar.

Um futebol defensivo como o de Mourinho só é aceitável se a equipa tiver bons resultados. Mas no Benfica bons resultados é ganhar sempre a nível nacional e ter prestações razoáveis na Europa. Será Mourinho capaz de alcançar tais resultados? O que acontecerá se começar a ter empates na Liga portuguesa e a perder na Liga dos Campeões (como é previsível face aos adversários que enfrentaremos)?

Antevejo tempos conturbados para o Benfica. Espero estar enganado.

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Fim da linha para Amorim. E Lage?

 Eu sei que muitos benfiquistas estão nervosos com o empate com o Santa Clara. Também me debruçarei o nosso momento neste post, mas para já quero analisar a situação de Amorim, até porque acho que há ilações importantes a retirar da mesma.

Em Portugal, Amorim tornou o Sporting uma equipa dominadora, quase hegemónica. Começou por ir buscar uma série de jogadores a equipas médias e aos poucos construiu uma equipa compacta e muito difícil de bater. Teve uma "filosofia" e um "sistema" que foi aprimorando.

Mas a Premier League não é a Liga Betclic. Ali estão os melhores dos melhores, quer jogadores, quer treinadores. Cada jogo é um desafio físico e táctico sério. Enquanto que em Portugal há três equipas decentes, três ou quatro médias e as restantes são fracas, em Inglaterra o panorama é completamente diferente. 

Primeiro há o "big six" (Arsenal, Chelsea, Liverpool, Man City, Man United e Tottenham), equipas que além das competições internas competem por títulos europeus. Depois há equipas como o Newcastle, Aston Villa, Crystal Palace, Brighton, Nottingham Forest ou West Ham que têm orçamentos maiores do que o Benfica.

Em Inglaterra quase todas as equipas são muito evoluídas física, técnica e tacticamente. O problema de Amorim é que o seu sistema pura e simplesmente não funciona em Inglaterra. Porquê? Porque os dois médios centro do United estão constantemente em inferioridade numérica face aos três ou quatro médios que as outras equipas apresentam. Acresce que os dois médios do United são normalmente desadequados para jogar neste sistema. Já foi referido por analistas que apenas o Chelsea conseguiu vencer a jogar neste sistema e os seus médios eram "apenas" Kanté e Matic, dois box-to-box com uma capacidade física incrível. Com Amorim, um dos médios é Bruno Fernandes e o outro é Casemiro ou Ugarte. Não há milagres. Depois os três defesas também têm dificuldade em encaixar quando o adversário joga apenas com um avançado e ainda mais quando este deriva para outras zonas do campo, deixando os defesas sem referências. No Sporting era fácil: o bloco subia. Em Inglaterra as coisas não são tão fáceis porque as outras equipas têm muita qualidade e velocidade para explorar o espaço nas costas da defesa.

O fracasso de Amorim está a ser espectacular: em 31 jogos da Premier League tem... 8 vitórias. Mas Amorim é teimoso e não muda. Continua a bater contra uma parede: as performances e os resultados são desastrosos, mas continua a insistir. Todos os treinadores já sabem como o Man United joga, quais as suas fragilidades e como os anular. 

É verdade que Amorim conseguiu resultados na Europa enquanto treinador do Sporting (embora nunca tenha ido longe em nenhuma competição). Não lhe retiro mérito, mas a confiança é um factor muito importante e também tinha jogadores adaptados ao seu sistema, ao contrário de agora (os avançados baixavam para apoiar os centro campistas, a equipa era mais compacta, os defesas mais capazes e teve Gyokeres que era capaz de correr quase meio campo e marcar). O que é incrível é que Amorim continua a jogar com os mesmos médios centro do ano passado (com os resultados que seriam de esperar - derrota atrás de derrota). Por outro lado, não resolveu ainda o problema do guarda-redes (no Sporting foi o mesmo). Agora vem o Chelsea e os adeptos estão completamente saturados. Depois de o acolherem cheios de entusiasmo, agora consideram que já não há esperança. Amorim está por um fio.

Que lição se retira daqui? Creio que mais do que uma. A primeira, evidente, é que a Premier League é o topo dos campeonatos e que ser "o maior da sua rua" significa pouco ali. A segunda é que um bom treinador tem de ser capaz de fazer correções e adaptações, por muito que acredite no seu modelo. Amorim não está a demonstrar essa capacidade. Em Portugal, na Grécia, talvez na Turquia, Amorim tem uma elevada probabilidade de sucesso, em Inglaterra, tem uma elevada probabilidade de fracasso. A confirmar-se o descalabro, será um falhanço embaraçoso, com um custo de muitos milhões para o clube, mas na verdade apenas mais um fracasso no já grande cemitério de treinadores em Old Trafford.

Face aos números atrozes de Amorim (pelo meio ainda eliminado da Taça da Liga por uma equipa da quarta divisão), o empate do Benfica com o Santa Clara torna-se mais relativo. 

O problema é que em Portugal qualquer empate pode ter consequências muito prejudiciais tal o desnível  dos três grandes para os outros e, ainda mais importante,  o nível de jogo medíocre do Benfica é preocupante nesta altura. 

No entanto temos de reconhecer que há vários factores atenuantes: a quase ausência de pré-época, muitas entradas e saídas, grande número de jogos de exigência elevada logo em Agosto (o jogo ter sido na sexta-feira também foi um disparate). E estamos ainda no início. É possível que com a adaptação dos jogadores recém-chegados e o seu entrosamento com os colegas, o rendimento individual e colectivo aumente. Não apenas é possível, é mesmo exigível.

Temos de mantter calma e não entrar em histeria. Lage é um treinador razoável para a nossa realidade. Não vamos ter Klop, nem Tushel, nem Guardiola, nem Marco Silva. Para vir um Anselmi ou um Borges (ou um Mourinho já sem a energia nem a confiança de outros tempos) não vale a pena mudar. Claro que se não houver melhoria na qualidade de jogo e por outro lado houver mais resultados negativos, a pressão aumentará, como acontece sempre, e terá de se pensar em alternativas. Mas ainda é cedo. O jogo com o Porto será para mim o momento para fazer uma avaliação mais fundamentada. 

A seu tempo escreverei também sobre as contratações e o plantel do Benfica.