sábado, 24 de fevereiro de 2024

6 defesas esquerdos numa época

 Isto parece mentira mas é a realidade. O Benfica já utilizou 6 (SEIS) jogadores na posição de defesa ou lateral esquerdo esta época: Ristic, Jurasek, Morato, Aursnes, Bernat e Carreras. Tão ou mais incrível do que isso é que (a avaliação é minha, obviamente) tem vindo (quase) sempre a piorar.

Sinceramente não percebi a dispensa de Ristic. Nunca o vi a comprometer. Foi um jogador dedicado e tinha um pontapé poderoso. Mas Jurasek também me pareceu razoável. Acima de tudo, poucas oportunidades tiveram de ganhar ritmo e rotina (algo importante na posição) e se adaptar aos colegas. A paciência / insistência que Schmidt tem para com outros jogadores contrasta sobremaneira com a forma como lidou com estes. 

Mas adiante, já não estão. O problema é que os que ficaram são "soluções" muito piores. Morato é esforçado, é um bom central mas qualquer pessoa vê que será sempre uma solução de recurso, uma adaptação e que a equipa fica coxa com ele. Carreras pelo que vi (confirmando a minha primeira impressão) não está minimamente preparado para jogar a este nível. E Bernat que em teoria possuiria os recursos técnicos necessários é a repetição do que já vimos com Draxler.

Na minha opinião e com os regressos de Bah e Neres, Aursnes é o jogador que mais garantias dá para a lateral esquerda e aquele que deveria assumir já o lugar, até para estabilizar mais o 11. Sobretudo na defesa as rotinas são importantes e estar a mudar a cada jogo não é recomendável. O Benfica precisa de estabilidade, não é possível andar em permanentes experiências quando se está a entrar na fase de decisões da época. 

Aursnes é um bom jogador tecnicamente, rotativo, com visão e inteligência. Na frente será difícil jogar face às opções existentes. No miolo não recupera bolas suficientes, é um pouco macio e não tira o lugar a João Neves nem a Florentino (que deveria ser o titular para o que resta da época). Sendo um jogador de muita entrega e espírito de equipa que "pensa como um médio", numa equipa ofensiva e que se quer pressionante como o Benfica, Aursnes deve assumir o lugar de lateral esquerdo que neste momento é o calcanhar de Aquiles do 11 do Benfica. Quanto mais cedo Schmidt assumir essa opção melhor. 

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

A importância da condição física (e mental)

 Uma coisa que tem faltado ao Benfica esta época é frescura. Isso reflete-se em duas coisas: incapacidade de pressionar (o que muitas vezes leva a equipa a "partir-se") e falta de alegria.

A pressão é muito importante para o futebol de Schmidt, ela tira o oxigénio ao adversário. Sem ela permitimos aos nossos oponentes pensar mais o jogo e marcar os seus ritmos.

Contra o Vizela o Benfica pressionou mais e teve o jogo mais tranquilo da época, marcando 6 golos e dominando totalmente. E isto mesmo tendo abrandado muito na segunda parte.

Isto aconteceu por duas razões: (1) jogaram jogadores mais frescos que, além disso, (2) são mais eficazes a pressionar. Di Maria e Arthur Cabral têm pouca capacidade de pressão. Um pela idade, o outro pela morfologia, chegam normalmente tarde ao portador da bola. A pressão eficaz é aquela que impede o adversário de sair a jogar e força o seu erro. Aquela que "cai em cima" do adversário e o abafa. Para resultar toda a equipa tem de participar nela. Com dois jogadores da frente a não participarem ou participarem mal, só desgasta a equipa, porque faz correr atrás da bola, sem ganhos, dando até confiança ao adversário.

Não me interpretem mal: não estou a dizer que os referidos jogadores são os únicos culpados (a falta de frescura física - deles e de outros - é algo que cabe ao treinador identificar e remediar) ou que não devam ser titulares. Agora que o este factor deve ser pesado na altura de escalar o 11, sem dúvida. 

Nesse sentido, a rotação promovida por Schmidt foi uma excelente decisão. Mas atenção, foi um risco considerável: se as coisas não tivessem corrido bem, todos estariam hoje a criticar (e muitos a insultar) o treinador.

E a verdade é que nos primeiros minutos a equipa parecia desorganizada e não conseguiu fazer qualquer remate à baliza. Mas com a primeira perda de bola do Vizela em zona perigosa, o Benfica começou a ganhar confiança e a crescer, tendo em meia hora desmantelado por completo um Vizela muito limitado.

Neres, Tengstedt e Tiago Gouveia estiveram bastante activos. Sobre Neres, nenhuma surpresa: como já aqui escrevi várias vezes, é dos melhores jogadores do Benfica e do futebol português. Mesmo assim surpreendeu pelo rendimento que apresentou depois de lesão tão prolongada. Tengstedt, não sendo um predestinado, é um jogador bastante trabalhador e de equipa - e convém não esquecer que foi o autor do 2-1 frente ao Sporting. Gouveia marcou e esteve sempre disponível para a pressão, mostrando a tal frescura física que tem faltado noutros jogos.

Entrámos na fase decisiva da época. O "aparecimento" destes jogadores é muito importante para a enfrentar. 

domingo, 11 de fevereiro de 2024

Quando não se ganha...

... é muito importante não perder. 

A frase é da velha raposa, Giovanni Trapattoni que sabia muito bem como se ganham campeonatos e como cada ponto pode ser decisivo.

Claro que no Benfica queremos ganhar todos os jogos e não ganhar tem quase sempre sabor a derrota. Mas também é importante sermos realistas. Nenhuma equipa vence todos os jogos numa época e é nesses momentos - e em jogos como este - que a máxima entra em jogo: é fundamental não os perder.

O Benfica vinha de várias vitórias seguidas e sabia-se que esta seria uma partida difícil. Com as condições meteorológicas e o estado do relvado as coisas tornaram-se ainda mais complicadas. E claro, estar em desvantagem não ajuda. Primeiro sofremos num penalti de azar: o jogador do Guimarães vem de trás de Kokçu que não o vê. E na segunda parte  até tínhamos entrado melhor, com vontade de dar a volta ao resultado. As incidências do jogo (com excepção da expulsão) não nos foram favoráveis. 

Mas acima de tudo temos de reconhecer que o Guimarães fez um grande jogo. 

Di Maria tem uma certa razão quando se refere ao tempo de descontos, nomeadamente em comparação com o que acontece nos jogos dos rivais. Mas contra isso pouco ou nada se pode fazer. O que podemos e temos obrigação de fazer é dar tudo até ao fim e aí não se pode apontar nada.

Falta muito campeonato e o Sporting vai perder pontos, eventualmente até connosco. Se for preciso ganhar esse jogo para os ultrapassar, acredito que o faremos. Agora claro que nada será fácil e não há garantias de coisa nenhuma. O futebol é mesmo assim. 

Também acho que Schmidt mexeu bem, não apenas hoje mas nos últimos jogos. Não tem sido dogmático e tem procurado mexer e fazer alterações que dêem mais rendimento. A opção de não começar com um ponta de lança é discutível mas não foi por aí que não ganhámos: o resultado nas duas partes foi igual (1-1). Depois disso mexeu bem a meu ver. A única questão é uma eventual entrada de Neres mais cedo. 

O ciclo de jogos que aí vem é exigente e este resultado não pode de forma nenhuma abalar a equipa. Pelo contrário é preciso dar continuidade às melhoras das últimas semanas. É isso que espero que aconteça. 


quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Derrota justa

Os lugares comuns de que o futebol é uma caixinha de surpresas e de que não há vencedores antecipados são sempre recordados nestes momentos. Roger Schmidt teve o lapso de dizer que íamos ter dois jogos para disputar na Taça da Liga e foi aí, não tenho dúvidas, que começámos a perder esta meia final. Não tenho dúvidas porque se o Estoril já estaria sempre motivado para poder alcançar uma final, essa declaração infeliz do treinador do Benfica veio dar ainda mais ânimo aos canarinhos. É impossível não recordar aqui a época em que festejámos na Madeira um campeonato que ainda não tínhamos vencido, convencidos de que o jogo em casa com o Estoril seriam favas contadas. Pois bem, empatámos esse jogo e o resto é uma história, como se costuma dizer.
Schmidt errou ao falar em "dois jogos" (foi um lapso, como é óbvio), mas errou igualmente no 11, na lleitura do jogo e nas substituições. 
Relativamente ao 11 esperava francamente algumas mudanças para trazer mais frescura e também para salvaguardar o que aí vem. Schmidt apostou em Musa (bem), mas de resto manteve todas as outras peças. Este era um jogo para dar minutos a jogadores importantes, como Florentino, por exemplo (no lugar de Koksu). A meu ver manter praticamente todos os titulares foi uma má decisão. Olhando para o resultado final então, foi péssima, pois perdemos na mesma (o pior que poderia ter acontecido ao mexer muito na equipa era um menor rendimento colectivo) e os habituais titulares ficaram com mais um jogo nas pernas (e ainda por cima uma derrota, o que "cansa mais"). 
Depois, a cada vez que Schmidt mexeu a equipa piorou. A única melhora terá sido a substituição de Morato por Carreras. Acima de tudo parecia-me óbvio que um jogo destes pedia a entrada de Neres, não a de Marcos Leonardo. E João Mário no meio tirou fluidez à equipa numa altura da partida em que precisávamos de velocidade e aceleração. 
Claro que tivemos mais volume de jogo e oportunidades e poderíamos ter ganho, mas a verdade é que o desfecho não é chocante. O Estoril conseguiu quase sempre sair com perigo e ter os seus avançados muitas vezes a conduzir a bola de frente para os nossos defesas. Um erro numa dessas situações teria facilmente dado golo para o Estoril.
Ou seja, considero que o treinador do Estoril foi mais astuto nesta partida, na forma como conseguiu que o jogo se desenrolasse nos moldes que lhe eram mais favoráveis e por isso mereceu, ele e os seus jogadores, a vitória.
Como parecia que estava a antecipar, escrevi há dias que este Benfica ainda era uma incógnita. As vitórias consecutivas não me iludiram porque via que alguns dos fundamentais não estavam lá. 
Penso que este jogo mostra que o equilíbrio necessário ainda não existe. E tenho muitas dúvidas de que as presentes contratações venham resolver algo sob esse ponto de vista. (Já agora, quando é que Bah regressa?)

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Este Benfica (ainda) é uma incógnita

 O Benfica venceu até agora todos os clássicos em que esteve envolvido. Isso deixa-nos obviamente  satisfeitos mas nada importará no fim da época se não se refletir em (mais) títulos (uma da vitórias já deu a Supertaça), nomeadamente o Campeonato.

Este Benfica é ainda uma incógnita porque, temos de admitir, essas vitórias foram felizes (contra o Sporting e Porto contámos com mais um jogador durante muito tempo dos jogos), mas também porque a Liga dos Campeões foi o que foi e mesmo em vários jogos internos temos tido imensas dificuldades.

O jogo com o Rio Ave foi quase incrível: o Benfica foi praticamente sempre dominado enquanto as equipas estiveram 11 para 11. Depois veio a expulsão com um amarelo indiscutível (o primeiro poderia ou não ter sido, mas isso acontece em todos os jogos) e então aí o Benfica assumiu o jogo e partiu para a vitória. É quase inexplicável como nos deixámos dominar em casa contra uma equipa que apesar de ter jogadores razoáveis está quase na zona de descida de divisão.

Esta época o Benfica tem sido inconstante. É verdade que vem melhorando mas nota-se que ainda não é aquela equipa consistente que nos dá segurança. 


Sabemos desde o início da época que há muita qualidade no plantel do Benfica. A começar na defesa (com três centrais de grande nível) e a acabar em Rafa e Di Maria, temos uma equipa como a meu ver não tínhamos desde 2009. Um meio campo para o qual temos Florentino, João Neves, Koksu, Aursnes e João Mário é sem dúvida qualidade acima da média para o futebol português - e, a meu ver, acima dos rivais. 

A questão é que só jogam 11, ou seja daqueles 4 que seriam normalmente titulares (Florentino, João Neves, Kokçu e Aurnes), no miolo só jogarão dois (o que deixa em princípio Florentino de fora), ao passo que Aursnes jogará provavelmente noutra posição. Sucede que Florentino é o nosso melhor médio defensivo e que não temos outro jogador com as suas características de recuperação de bola e capacidade de dar equilíbrio à equipa. 

Isto para dizer que apesar de termos melhor plantel do que no ano passado, o nosso 11 infelizmente é pior. Isso é agora relativamente claro. Grimaldo, com quem uma parte dos adeptos embirrava, está no Leverkussen a provar que é um jogador de topo (entretanto já internacional espanhol) e infelizmente nenhuma das opções alternativas o fez esquecer (contratámos agora o terceiro lateral esquerdo da época). 

Acima de tudo, a questão é o equilíbrio. É isso que no ano passado existia e que este ano está ausente. Kokçu é um jogador mais  ofensivo do que Enzo e João Neves (neste momento o melhor médio do Benfica e do campeonato) é menos posicional do que Florentino. Isto traduz-se numa vocação mais ofensiva da equipa, a qual se acentua ainda mais com Di Maria. O ano passado jogámos muitas vezes com dois "extremos" que eram João Mário e Aursnes (jogadores de equilíbrio e de apoios). Este ano jogamos com Di Maria e, até à lesão, muitas vezes com Neres (jogadores de desequilíbrio e de vertigem). São assim vários jogadores a defender menos, a correr menos para trás, a pressionar menos para a recuperação da bola. Di Maria é um talento extraordinário, quase sem paralelo em Portugal, mas claro que não defende (o jogo com o Boavista, só para me contrariar, até foi um pouco a excepção...).

Schmidt procura um equilíbio na equipa que desde a saída de Enzo tem tardado e com as saídas de Ramos (o nosso "primeiro defesa" e primeiro a pressionar) e Grimaldo (a construir jogo desde trás e a fazer todo o flanco), assim como as entradas de Kokçu e Di Maria (mais ofensivos face aos que jogavam naquelas posições), se agravou. Schmidt tentou uma defesa a três e agora tem utilizado Morato na esquerda.

As adaptações de centrais a laterais não são incomuns. Os resultados podem ser positivos ou negativos. Por exemplo em 1991, num jogo decisivo contra o Porto (uma autêntica "final do campeonato"), Sven-Goran Eriksson colocou Paulo Madeira à direita, a fim de fechar o flanco. Quando o Benfica defendia Vitor Paneira recuava para lateral e Paulo Madeira jogava quase como terceiro central pela direita. Correu bem e o Benfica venceu por 2-0 nas Antas com os célebres golos de César Brito.

Já a adaptação de David Luiz à mesma posição, também num jogo contra o Porto teve efeitos desastrosos. 

Morato tem feito o lugar com grande dedicação e concentração mas notam-se as limitações a atacar. Por outro lado é um jogador importante a defender, nomeadamente nas bolas paradas. Dá um pouco do tal equilíbrio a que me referi. Veremos o que significa a contratação do jovem espanhol.

Uma nota também para Musa que acho o jogador mais injustiçado deste plantel. Vemos algumas melhoras em Cabral, esforço e talvez uma capacidade técnica superior ao croata mas sinceramente acho Musa muito mais perigoso para as equipas adversárias: é mais rápido e mais acutilante em relação à baliza. Considero inexplicável que praticamente não jogue. Por exemplo, a seguir ao seu espectacular golo contra o Arouca que até internacionalmente teve destaque jogou... 3 minutos. É injusto e não me agrada nada. Pior, o seu espaço fica agora ainda mais reduzido com a chegada de Marcos Leonardo (que parece muito bom jogador). Considerando que há ainda Tengstedt e que jogamos apenas com um ponta de lança, há avançados a mais.

Voltando ao início e para concluir a minha ideia, estes jogos da Taça da Liga (Schmidt teve um lapso ao dizer "os jogos" no plural, dando como certa a vitória sobre o Estoril - e realmente será difícil admitir outro resultado que não a vitória face a uma equipa que levou duas goleadas de Porto e Sporting numa semana e vai em 4 derrotas seguidas, mas no futebol tudo é possível), estes jogos, dizia serão importantes, principalmente se jogarmos contra o Sporting, para termos uma melhor ideia do nível de solidez da equipa.


PS - em relação ao futsal não há palavras para descrever o comportamento do jogador do Sporting. Isto parece que se está a jogar na escola e mesmo assim não num torneio "oficial". Incrível também como aparentemente isso dá apenas um cartão amarelo. Vale a pena. Não era uma oportunidade de golo flagrante mas mesmo assim é um comportamento anti-desportivo vergonhoso. 

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Noite mágica: (h)à Benfica!

Impossible? Parecia, mas houve Benfica. 


 O futebol é imprevisível e essa é uma das razões pelas quais o adoramos. Outra é o Benfica em si, porque quem ama o futebol, ama o Benfica.

Foi uma noite mágica na qual o Benfica ganha na raça, encarnada em João Neves. 

O resultado é surpreendente e a forma como a ele se chegou inacreditável, mas já lá irei. 

Excelente arbitragem de Soares Dias que eu já aqui critiquei duramente várias vezes. 


Depois do amasso que sofremos em San Sebastián, onde o resultado poderia ter sido muito mais embaraçoso, naquela que foi a 5a derrota da época, ninguém sabia como iria reagir a equipa.

Eu escrevi aqui há dias que Roger Schmidt andava desorientado e podia ter já perdido o balneário. Também escrevi que se o Benfica tinha renovado no ano passado, ainda antes da conquista do título, então era porque estava seguro de que ele era o homem certo para liderar o nosso futebol no futuro próximo. Nesse sentido não se percebia porque não lhe tinha sido dado outro tipo de apoio quando se começou a ver que ele estava a ter dificuldades.

Pois bem, houve duas coisas desde o jogo com a Real Sociedad que Schmidt fez bem. A primeira foi assumir a responsabilidade total pela péssima exibição (Di Maria também esteve bem ao dizer que a culpa era dos jogadores, pois isso, apesar de não ser verdade porque a táctica e a estratégia foram erradas, deu o sinal de solidariedade interna). A segunda foi, na conferência de antevisão do derby, assumir a má fase da equipa e dizer o que eu aqui disse uns dias antes: se o Benfica tinha um contrato longo consigo era porque confiava nele. Depois acrescentou uma coisa em sentido contrário ao que eu disse, mas na realidade é ele que tem razão: disse que essa confiança não pode ser posta em causa por uma má fase.

Eu concordo (claro que se tivéssemos perdido com o Sporting a disposição de todos era outra) mas a minha maior preocupação nem eram os resultados. Eram os problemas disciplinares mas também a questão da mudança de sistema. Não se muda de sistema a meio da época, isso não dá resultado, nem se joga uma partida decisiva a nível europeu com uma táctica colada com cuspo.

Mas Roger fez uma terceira coisa bem feita que foi regressar à linha de 4 defesas e fazer João Neves regressar ao centro do terreno. 

O jogo foi muito bem disputado e bastante equilibrado na primeira parte. Após uns minutos de ascendente do Benfica, o Sporting até estava a começar a controlar o jogo, mas as principais oportunidades foram inicialmente nossas, duas por Rafa mais a bola de João Mário a que Florentino não conseguiu chegar, perante a baliza vazia. Depois o Sporting tem duas bolas que eram golos quase certos e que Trubin tira. Um cabeceamento de Diomandé e uma bola de Gonçalves na cara do golo. Nesta última é um facto que o jogador do Sporting remata quase à figura mas a verdade é que Trubin cresceu na baliza (e ele já é bem grande).

 E quando se pensava que o intervalo chegaria sem golos, um mau passe para João Mário fez este perder a bola dando azo a um contra ataque letal do Sporting. Foi um grande golo - apesar da bola entrar entre Trubin e o poste ela levava fogo.

Foi uma machadada dura, para uma equipa que vinha de um péssimo jogo e da previsível mas sempre dolorosa eliminação da Champions. 

Na segunda parte o Sporting entrou a querer dominar mas logo muito cedo surge a expulsão de Gonçalo Inácio. Percebeu-se que as coisas mudariam.

No entanto, apesar de curtos períodos em que o Benfica conseguiu jogar no meio campo do Sporting e recuperar rapidamente a bola fazendo uma sequência de ataques, estes acabavam quase sempre em centros que não davam em nada. A verdade é que o Benfica quase não conseguia rematar à baliza. Uma das excepções foi um tiro de Di Maria aos 76 minutos que Adam desviou para a barra.

Schmidt mexera já na equipa mas as substituições não pareceram melhorar a equipa. Talvez se possa dizer que Cabral terá eventualmente mais poder de choque na área, mas a verdade é que parece chegar sempre atrasado. Talvez seja azar, mas o brasileiro parece mesmo desfazado em relação à equipa. 

A remar contra a maré esteve sempre, desde o início, Neves que ora recuperava bolas atrás, ora levava a equipa para a frente. É um esgravulha com imenso talento, um pequeno enorme jogador. Rafa e Di Maria também tentavam de todas as formas. 

Ainda sobre as substituições também não se percebia por que razão, precisando de marcar, Schmidt não tirou Morato para colocar Jurasek ou porque esperou até aos 85 minutos para lançar Guedes. 

Mas o futebol é sortilégio e no final o que conta são os resultados. Quem poderia adivinhar que, a perder aos 93, noventa e três (!!!) minutos, o que o colocaria a 6 pontos do Sporting, o Benfica acabaria o jogo na liderança?? 

Há dias eu escrevi que apesar do mau momento, essa era uma possibilidade, mas nunca poderia imaginar um jogo destes. Os últimos minutos foram mágicos! 

A chave desta vitória não esteve sobretudo no talento (embora sem grande qualidade individual ela não pudesse ter acontecido) mas sim na raça, na crença, no querer benfiquista. O empate surge com Trubin já na área do Sporting! Desde o livre que antecedeu o canto!!! 

Neves personalizou-o como ninguém (repetindo um golo fundamental ao Sporting, à semelhança da época passada), mas Aurnes (assistência para o segundo) foi também um batalhador incansável que tentou sempre, dando tudo. Mas todos os jogadores fizeram o que estava ao seu alcance, nunca baixando os braços e acreditando literalmente até ao último minuto. Foi incrível, ainda para mais com o suspense da avaliação da posição de Rafa pelo VAR.

Foi uma vitória não sei se justa, porque é difícil dizer que o Sporting mereceu perder, mas que os jogadores do Benfica conquistaram com todo o mérito. Schmidt teve nova frase lapidar: "mais bonito do que isto é impossível". 

A festa foi espectacular, só lamento um (não sei se houve algum outro) adepto que entrou em campo e fez gestos obscenos para os jogadores do Sporting. Totalmente injustificado e lamentável. O que diríamos se nos fizessem isso a nós em Alvalade? As pessoas têm de parar com este tipo de comportamentos. A festa tem de ser por nós e de forma positiva, não a insultar ou atacar os outros. Picardias, claro, rivalidade sempre, mas dentro do espírito de desportivismo e decência. 

Mas voltando ao jogo, o mais incrível e improvável é que os dois golos resultam de cruzamentos (que muitas vezes se diz que não resultam - e antes disso não estavam realmente a resultar); o primeiro, num canto, é Morato, que possivelmente deveria ter cedido o seu lugar a Jurasek, a fazer a assistência; o segundo é marcado por Tengstedt, um herói improvável, por quem a maioria não dá muito... 

Agora note-se ainda o seguinte: Amorim, que tem feito quase milagres no Sporting e tem sido um excelente treinador, com fama de ler bem o jogo e fazer bem as substituições, substituiu Morita por Paulinho aos 85 minutos; Schmidt, que estava sob enorme pressão (e via-se na sua expressão facial) e não tem acertado muito nas substituições, lançou Tengstedt que viria a decidir o jogo e manteve Morato que iniciou a reviravolta com a sua assistência (para um golo espectacular de João Neves, diga-se). 

Será esta vitória o "clique" que se sentia que estava a faltar desde o início da época? 

O momento em que João Neves arma o remate; uma excelente execução técnica. 

António Silva e Otamendi apressam os companheiros para o centro do terreno: ainda acreditavam na vitória. 
Tengstedt vai fazer golo aos 96':21"
Imagem curiosa: havia três jogadores em frente à baliza para finalizar. 
António Silva e Trubin à espera da decisão do VAR. 
Aursnes saúda Tengstedt após a confirmação do golo 





quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Vergonha. Só falta perder com o Sporting

 Uma exibição vergonhosa, a fazer lembrar Vigo. Curiosamente o treinador do Benfica na altura era também alemão.

Schmidt está perdido e é duvidoso que se volte a reencontrar. A sua saída parece uma questão de tempo. 

E pode acontecer já no Domingo. Uma derrota em casa com o Sporting, com tudo o que de humilhante isso teria (terá?), poderá ser o gatilho para esse acontecimento. 

E pelo que vemos da forma como jogam as duas equipas, a derrota será o desfecho previsível. Realisticamente, o Sporting tem uma equipa que, com as suas limitações, tem uma ideia de jogo clara e intérpretes adequados ao sistema. Já o Benfica não tem nem um 11 base nem um modelo de jogo claro. Os jogadores estão desligados uns dos outros e os equívocos são mais que muitos.

Artur Cabral é uma nulidade, não há alternativa a Bah, João Mário não adianta nem atrasa, Tensteg não é jogador para o Benfica e a troca de Vlachodimos por Trubin foi, até ver, uma péssima ideia. A importância de Grimaldo é agora bem evidente, provando o quão errados estavam alguns adeptos.

Por falar em adeptos, o comportamento de alguns deles foi também, mais uma vez, deplorável. Infelizmente, como clube muito grande que é, existe no interior do Benfica muita gente que não presta. Já o sabíamos mas mostrar isso ao Mundo é envergonhar todos e a história centenária deste clube. Há que identificar estas pessoas, bani-los para sempre e entregá-los às autoridades. Aliás, o Benfica tem de pensar muito bem em acabar com esta claque. Uma claque com um histórico de crimes graves.

Hoje é um dia triste para o Benfica, em que passámos uma dupla humilhação. Uma em campo, em que o resultado de 3-1 acaba por ser o melhor o jogo, pois podíamos facilmente ter perdido por 5 ou 6 e outra nas bancadas nas quais aqueles adeptos se voltaram a comportar como selvagens. Uma imagem triste do Benfica e também de Portugal.

Voltando ao lado puramente futebolístico, infelizmente o que está a acontecer não é surpreendente. Há muito que alerto para a necessidade da estrutura aparecer e apoiar o treinador - praticamente não tenho escrito sobre outra coisa. Se o ano passado quiseram renovar com tanta pressa é porque estavam plenamente convencidos da competência do treinador alemão. Por isso teriam tido que o apoiar quando surgiram os primeiros problemas e sinais de que Schmidt estava algo perdido. Digo "teriam tido" porque agora já me parece tarde. 

O que aconteceu na primeira parte deste jogo é sinal de total desorientação. A linguagem corporal de treinador e jogadores após a partida é ilustrativa de desânimo e resignação. 

Veremos o que acontece Domingo. No futebol há muitas surpresas. Vencendo o derbi, o Benfica assumiria a liderança do campeonato. No entanto não sei se isso seria suficiente para reverter o mau momento e o ciclo negativo em que Schmidt entrou. Perdendo acho que se acaba o crédito do alemão. Ser eliminado da Europa e praticamente perder o campeonato em novembro é (ou deveria ser) impensável no Benfica, especialmente com um orçamento destes. Custa a perceber como Schmidt mudou tanto em menos de um ano.